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Reportagem especial

- Publicada em 12 de Março de 2023 às 15:00

Região Sul está entre as maiores consumidoras de orgânicos do Brasil

Gaúchos direcionam cada vez mais um olhar cuidadoso para a alimentação

Gaúchos direcionam cada vez mais um olhar cuidadoso para a alimentação


Anna Bizon/freepik/jc
Carmen Carlet, especial para o JC *
Carmen Carlet, especial para o JC *
Os gaúchos direcionam cada vez mais um olhar cuidadoso para a alimentação. E nesta caminhada, os orgânicos ganham força. Porto Alegre já sedia a maior feira de orgânicos a céu aberto da América Latina. Em paralelo, o Rio Grande do Sul também é o maior produtor de arroz orgânico do continente e se prepara para colher uma safra recorde, com direito a comemoração em grande estilo. Nesta semana acontece a 20ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra, em Viamão. E na esteira de pioneirismos, a primeira carne orgânica começou a ser produzida neste ano em Hulha Negra. Diante de um cenário positivo, o setor se prepara para o aquecimento da produção com a retomada de programas e estima crescimento de 25% a 30% nos próximos anos.

A nutricionista Carolina observa que alimentos são ricos em nutrientes

A nutricionista Carolina observa que alimentos são ricos em nutrientes


/ARQUIVO PESSOAL/CAROLINA PECIS/DIVULGAÇÃO/JC
O ano de 2023 pode representar o marco inicial da retomada da cadeia produtiva da agroecologia no Brasil. Pelo menos esta é a expectativa apontada por representantes do setor da produção orgânica. Defensora da agricultura de base ecológica, a feirante e integrante da comissão da Feira Ecológica do Bom Fim (FEBF), Iliete Citadin, afirma que a produção tem a possibilidade de voltar a crescer de 25% a 30% nos próximos anos. Este crescimento, segundo estimativas, deve recuperar o desmonte ocorrido nos últimos anos, quando projetos importantes ficaram parados.
Um deles é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que encolheu 77,3% no período, ou mesmo a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que sempre destinou um olhar para a agricultura familiar e ecológica. Para Iliete, é inconcebível ter 43,4% da população brasileira vivendo em condições de insegurança alimentar e nada ser feito.
"Programas sociais impactam diretamente na vida das pessoas e do meio ambiente", observa, ao salientar que precisam ser projetos de Estado e não apenas de governos.
Na mesma linha, Cobi Cruz, diretor da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), acredita que é preciso retomar uma gestão ambiental forte, o que levará consequentemente à retomada de desenvolvimento da agroecologia.
Porém, mesmo com os programas governamentais parados, o setor reagiu graças à conscientização do consumidor. Motivada pela crise sanitária da pandemia, uma parcela da população mundial e brasileira passou a dirigir um olhar mais cuidadoso para sua alimentação, reduzindo os ultraprocessados e incluindo alimentos mais naturais em seu cotidiano, pois se há uma verdade absoluta e unânime esta é "ninguém quer ficar doente".
Por conta desta mudança comportamental, em 2021, 31% da população brasileira optou por colocar na mesa produtos livres de agrotóxicos, o que representou um aumento de 63% em relação a 2019. Esse dado foi apontado na pesquisa "Panorama do consumo de Orgânicos no Brasil". Colocando foco regional, o levantamento detectou que os moradores do sul são os mais cuidadosos com sua alimentação, apresentando percentual um pouco acima da média nacional e chegando a 39% - mesmo do Centro-Oeste -, o que significa um salto de 69,5% em relação ao levantamento anterior.
A pesquisa - desenvolvida pela Organis junto com a Brain Inteligência Estratégica e iniciativa Unir Orgânicos - ouviu 987 pessoas entre setembro e outubro de 2021 em todo o Brasil. O levantamento é feito a cada dois anos e deve ser atualizado no segundo semestre de 2023.
Esse desempenho referenda o que diz o nutrólogo William Rutzen, para quem "os alimentos de cultivo espontâneo, com mínimo uso de aditivos químicos são os que melhor se comunicam com o nosso organismo". Segundo o médico, o processamento e a mistura de componentes que ocorrem na industrialização alteram a velocidade de absorção e a concentração de energia com a qual nosso metabolismo está acostumado. "Isso pode culminar em desequilíbrios, que quando persistentes dão origem a doenças", avalia o nutrólogo.
Aliás, profissionais da saúde e consumidores que elegeram os orgânicos são uníssonos em apontar somente ganhos na qualidade de vida, embora, alguns ainda considerem os produtos caros. A nutricionista Carolina Pecis, por exemplo, observa que os benefícios são muitos.
"Na verdade, eles são ricos em nutrientes pois não sofrem a interferência de químicos", afirma elencando entre os benefícios causarem um índice menor de toxidade ao organismo, além da questão da durabilidade pela maior resistência no armazenamento. Outro ponto destacado por Carolina é a concentração dos nutrientes que chega a ser 20 vezes maior do que nos produtos comuns.
 

Luana considera o consumo orgânico fundamental para ser saudável

Luana considera o consumo orgânico fundamental para ser saudável


ARQUIVO PESSOAL/LUANA FLORES/DIVULGAÇÃO/JC
"Sem contar que o sabor e o aroma são mais intensos", finaliza lembrando que ao consumir orgânicos as pessoas devem ficar atentas à certificação. Um pouco mais enfática a também nutricionista Luana Flores afirma que "consumir orgânicos nos dias de hoje é a única opção para, realmente, termos saúde ao longo da vida".

A nutricionista lembra que nos últimos quatro anos foram liberados mais de 1.500 agrotóxicos potencialmente nocivos à saúde. Segundo ela, o uso de alimentos não orgânicos a longo prazo pode causar câncer, problemas degenerativos mentais, vasculares, cardíacos, baixa imunidade, aumento na acidificação do sangue, entre outras doenças. A nutricionista ensina que caso a pessoa não possa comprar apenas orgânicos, faça um bom mix em sua alimentação distribuindo o uso durante a semana.

Cresce a procura por refeições mais naturais

A influenciadora Guria Natureba enfatiza que a qualidade justifica o valor

A influenciadora Guria Natureba enfatiza que a qualidade justifica o valor


/Guria Natureba/arquivo pessoal/jc
A mudança alimentar por questões de saúde levou o aposentado João Carlos Bossa, morador de Novo Hamburgo, a mergulhar profundo no mundo orgânico. Em 2015, por indicação médica, ele a esposa Regina Scherer (falecida em 2019, vítima de câncer) promoveram uma revolução que resultou em melhores hábitos de consumo, acabando com tudo que poderia causar inflamação no organismo.
As novas práticas resultaram em melhora na qualidade de vida de Regina que, contrariando o diagnóstico inicial do oncologista, teve uma sobrevida de dois anos. "A alimentação fez toda a diferença e aumentou sua longevidade", explica Bossa.
Ilza Maria Tourinho Girardi, coordenadora do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, conta que a opção pelos orgânicos se deu no início dos anos 1980. Hoje praticamente todos os vegetais consumidos pela sua família são cultivados organicamente.
"A única carne que ainda consumo é a de frango criado de forma orgânica", conta. Essa mudança, conforme a jornalista, se deu por uma opção política e pela saúde, que também é política. Para ela é uma escolha coerente com o movimento pela reforma agrária e produção de alimentos para a multiplicação da vida saudável. "O que eu compro não é um simples produto. É um alimento e como tal é preparado por quem tem compromisso com a vida e com a comunidade".
Mariana Cenci Weckerle, a influenciadora Guria Natureba, gosta de utilizar os alimentos na sua integridade. "Sabemos que em muitas frutas, vegetais e legumes, as cascas estão repletas de agrotóxicos", diz a criadora de conteúdo digital que defende e ensina nas redes sociais como preparar alimentos saudáveis.
Conforme observa, algumas pessoas acabam não comprando orgânicos, pois o valor tende a ser um pouco mais alto. Mas, vale destacar que não é muito mais caro". Ela lembra que o a agricultor pode ter uma perda muito significativa na plantação optando por este tipo de cultivo: "Só isso já justificaria o valor", enfatiza.

Consumo consciente amplia a oferta de produtos

Marfrig passou a
processar carne 
orgânica no 
Rio Grande do Sul

Marfrig passou a processar carne orgânica no Rio Grande do Sul


/MARFRIG/DIVULGAÇÃO/JC
Se já somos os maiores produtores de arroz orgânico, vamos adicionar mais um produto saído de terras gaúchas para o prato do brasileiro. A Marfrig - uma das maiores empresas de carne bovina do mundo - passou a processar carne orgânica no Rio Grande do Sul, mais especificamente na unidade de Hulha Negra, a partir de matéria-prima originada no Uruguai.
A carne orgânica é proveniente de animais alimentados exclusivamente com pastos livres de fertilizantes sintéticos, hormônios anabolizantes e estimulantes de crescimento. Segundo os fabricantes, o produto também apresenta um menor nível de gordura intramuscular e de colesterol, contribuindo para uma alimentação mais saudável.
"Iniciamos o desenvolvimento deste projeto em meados de 2021 após identificarmos a demanda por carne orgânica e entendermos quais os requisitos sensoriais e de qualidade necessários para os testes. Este é um marco na história da unidade e da Marfrig como um todo, pois temos um produto diferenciado", diz Durval Cavalcanti, diretor-geral de Industrializados da empresa no Brasil.
No início de 2022, a unidade gaúcha recebeu a certificação USDA Organic, da empresa IBD - maior certificadora de produtos orgânicos e sustentáveis da América Latina. Atualmente, a planta de Hulha Negra é a única da Marfrig no Brasil com certificação orgânica para produtos processados. 
O Rio Grande do Sul é referência na produção de uvas orgânicas no Brasil e nada mais natural que a produção de vinhos orgânicos provenientes da agricultura familiar venha ganhando corpo. Segundo dados da empresa de pesquisa Wine Intelligence, a comercialização de rótulos orgânicos cresceu 20%, em média, nos últimos cinco anos.
Esse dado é atestado pelo vitivinicultor Daniel De Cezaro, da vinícola De Cezaro, localizada em Farroupilha, que produz em média 70 mil garrafas/ano e escoa a produção, principalmente pelo e-commerce.
Segundo ele, o principal consumidor é de São Paulo, responsável por 30% das vendas. Os gaúchos, conta o produtor, ainda não descobriram totalmente as potencialidades deste consumo saudável, sendo responsável por 10% das compras. Já, a Orgânicos Mariani, de Garibaldi, que tem o vinho de mesa como carro-chefe identifica a região sul como principal consumidora, seguida do interior paulista.
Salete Arruda, empreendedora, observa que seu principal cliente é aquele que se preocupa com a saudabilidade e sustentabilidade. E, de olho neste público a família tem investido em turismo rural, levando as pessoas para mais perto da agricultura familiar e produção sem agroquímicos.

Feirinha da Redenção é a maior da América Latina

Feira reúne quase uma centena de bancas de diferentes produtos na José Bonifácio, junto ao Parque da Redenção

Feira reúne quase uma centena de bancas de diferentes produtos na José Bonifácio, junto ao Parque da Redenção


/Lais Escher/Divulgação/JC
Porto Alegre é uma das cidades brasileiras onde se encontra com mais facilidade locais para comprar produtos orgânicos. A capital dos gaúchos, por exemplo, detém o título de ter o maior espaço a céu aberto para a comercialização de orgânicos da América Latina.
Essa qualificação diz respeito à carinhosamente chamada "Feirinha da Redenção" - que é a soma da Feira Ecológica do Bom Fim (FEBF) e da Feira de Agricultores Ecologistas (FAE) totalizando quase uma centena de bancas entre produtores, processadores e atividades diversas voltadas para educação ambiental e engajamento sustentável.
Nascida em 1989, a FAE -com suas 44 bancas - ocupa a primeira quadra da avenida José Bonifácio, no bairro Farroupilha, e engloba cerca de 250 famílias. Na quadra subsequente se acomodam as 54 barracas da FEBF envolvendo cerca de 300 pessoas na venda direta ao consumidor final.
As grandes estrelas das feiras são os hortifrutis - frutas, legumes e verduras - acompanhados da agroindústria e laticínios. Elson Schoroeder, assessor de comunicação da FAE, observa que uma das estratégias das feiras ecológicas é oferecer um bom mix de produtos para que as pessoas consigam suprir suas necessidades em um único lugar.
Iliete Citadin, da comissão da FEBF, conta que semanalmente 15 mil pessoas circulam nas duas quadras em busca de alimentos mais saudáveis e que fortaleçam o organismo. "É importante incentivar a relação direta com o produtor", alerta a feirante lembrando que harmonia entre natureza e pessoas, onde os ciclos são respeitados, é um dos principais valores das feiras ecológicas. Analisando do ponto de vista macro, ela observa que se mais pessoas tivessem acesso a alimentos que são produzidos de forma harmônica, talvez não vivêssemos a urgência climática de hoje.
O Empresas & Negócios fez um levantamento comparativo de preços entre a Feira do Mercadão Olímpico e a FEBF a fim de detectar se realmente "orgânicos são mais caros".

Lojas se especializam para suprir novo nicho

Camila, da Bendita Horta, acredita que consumidor está mais consciente quanto aos cuidados necessários com a  saúde

Camila, da Bendita Horta, acredita que consumidor está mais consciente quanto aos cuidados necessários com a saúde


/ARQUIVO PESSOAL/CAMILA HAUCK/DIVULGAÇÃO/JC
As lojas de produtos naturais caíram no gosto daqueles que buscam um consumo consciente. De acordo com "Panorama do consumo de Orgânicos no Brasil", a pandemia fez com que uma parcela significativa da população migrasse para essas lojas: era de 4% em 2019 e pulou para 11% em 2021, um salto de 175%.
Camila Hauck, da Bendita Horta, no bairro Auxiliadora, na Capital, confirma essa tendência. A loja, que existe desde dezembro de 2014, embora reúna em um único lugar várias operações como empório de produtos naturais, hortifrutiorgânicos certificados e bistrô, tem também foco na educação. "Acreditamos que as pessoas querem comer melhor, mas não sabem como. Então realizamos cursos de culinária abertos ao público, palestras relacionadas à saúde, encontros com nutricionistas, entre outros".
Camila consome orgânicos desde 2010 porque considera melhor para a saúde e para o planeta, além de incentivar a agricultura familiar, fazendo a economia local crescer. Aumento, inclusive, confirmado pelo desempenho da empresa. A empreendedora conta que quase dobrou o faturamento comparando 2020/2019, e manteve-se em 2021 e 2022. "Este crescimento se deu muito pela preocupação dos clientes com a imunidade e saúde e continua em alta em função dessa consciência", afirma. 

Tosi, da Grão Natural, observa o crescimento do mercado em todo o Estado em função da busca por novo modo de vida

Tosi, da Grão Natural, observa o crescimento do mercado em todo o Estado em função da busca por novo modo de vida


ARQUIVO PESSOAL/JUAREZ TOSI/DIVULGAÇÃO/JC
Outra referência em orgânicos na capital gaúcha é a Grão Natural que nasceu em 2006 no bairro São João e a segunda unidade veio em 2015, no coração do Bom Fim. Criada pelo jornalista Juarez Tosi e sua esposa Marcia Machado que é farmacêutica, a loja também é resultado da conscientização dos empreendedores que optaram por uma alimentação saudável para a família.

A pandemia foi um divisor de águas, pois, segundo Tosi, as pessoas começaram a pensar melhor sobre sua saúde e passaram a investir mais na alimentação orgânica. "Muitos se deram conta que a melhora na imunidade estava diretamente associada com o seu modo de vida". Tosi avalia que, desde então, várias feiras se consolidaram nos bairros de Porto Alegre e demais cidades gaúchas. "As lojas de produtos naturais, voltadas para a alimentação orgânica, também aumentaram no Estado e no país", avalia.

De olho no perfil de consumo, o empreendedor observou uma mudança ao longo dos últimos anos, tendo evoluído da aquisição de produtos integrais para alimentos que beneficiam a saúde. "A própria modificação dos alimentos, com o crescimento de produtos contaminados por agrotóxicos, tem feito com que o consumidor migre para os orgânicos", afirma ao destacar que essa caminhada inclui além da alimentação, produtos de higiene pessoal e vestimentas.

Tanara diz que o GiraSol trabalha com armazém, loja virtual e café no bairro Santana, em Porto Alegre

Tanara diz que o GiraSol trabalha com armazém, loja virtual e café no bairro Santana, em Porto Alegre


MARCO QUINTANA/ARQUIVO/JC
Com um formato um pouco diferente, o Armazém GiraSol situado no bairro Santana, em Porto Alegre foi inaugurado em fevereiro de 2020. Embora ainda novo sob o título de Armazém, o empreendimento é uma evolução da cooperativa criada em 2006. A loja/armazém só foi possível graças aos recursos da Fundação Banco do Brasil e ONU Mulheres concedidos em 2019. “A partir daí qualificamos nossa relação com os fornecedores e com o público consumidor, pois aumentou a escala de compra e oferta de alimentos agroecológicos para seis dias por semana”, explica Tanara Lucas, coordenadora geral da GiraSol, destacando que anteriormente o sistema de vendas era através de compras programadas com entregas semanais aos clientes. Hoje a cooperativa trabalha em três frentes: armazém, loja virtual e café. Além disto, se prepara para lançar outros dois modelos de negócios: serviços de coffeebreak e venda para atacado. Conforme Tanara, durante a pandemia ocorreu um aumento significativo na procura por alimentos orgânicos. “Houve uma busca grande por entregas em domicílio, já que a maioria dos nossos clientes optou por se manter seguro em casa”. Justamente por esse comportamento do consumidor, a loja virtual do empreendimento foi responsável – entre 2020 e 2022 - por dois terços do faturamento, com a venda média de 70 cestas/dia. Agora, o movimento na loja física vem aumentando gradativamente. Tendo hortifrutis como carro-chefe no Armazém, a GiraSol posiciona-se para além da simples comercialização de orgânicos. Tanara afirma que o esforço cooperativo é para que as pessoas que têm o poder de escolher o que consomem, reflitam sobre o que seus recursos estão financiando e valorizem a agroecologia e a economia solidária. “É interessante e importante esta reflexão”, afirma.

Assentamentos produzem safra recorde de arroz

Filhos de Sepé, em Viamão, comemora a colheita em 17 de março

Filhos de Sepé, em Viamão, comemora a colheita em 17 de março


/ISABELLE RIEGER/JC
Responsáveis por quase a totalidade do arroz orgânico produzido no Rio Grande do Sul, os 22 assentamentos de reforma agrária do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) plantam em uma área de 3,2 mil hectares e devem colher na safra deste ano 16.111 toneladas do produto, o que corresponde a 322.235 mil sacas de 50 quilos.
Esses números referendam 10 anos como maiores produtores de arroz orgânico do Brasil e América Latina e serão comemorados pelos agricultores na 20ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico que acontecerá no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, dia 17 de março. "Nos orgulha muito poder dividir esse momento festivo e também partilhar a nossa produção de forma solidária com a sociedade gaúcha e brasileira", pontua Marildo Mulinari, da direção Estadual do MST-RS.
O agricultor assentado Huli Marcos Zang, respondendo pela diretoria comercial da Cooperativa dos Produtores Orgânicos de Reforma Agrária de Viamão (Coperav), conta que a produção gaúcha é tocada por 352 famílias - em nove municípios da Região Metropolitana, Sul, Centro-Sul e Fronteira Oeste - que produzem, em sua maioria, as variedades agulhinha e cateto. Em Viamão, são produzidas sete variedades de cores, sabores, nutrientes e texturas, o que possibilita ao consumidor escolher entre mais de 20 apresentações diferentes do grão.
Huli destaca que o arroz orgânico é, atualmente, uma linha de produção que está bem organizada nos assentamentos, mas não é a única. Ele explica que agroecologia significa diversificação na produção de alimentos saudáveis, o que implica em maior qualidade de vida às famílias envolvidas na produção e também para quem consome esses alimentos. "Sem falar no ganho ambiental", argumenta. Quanto à comercialização da colheita, o principal canal de vendas é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Selo atesta origem


/reprodução/jc
Para facilitar a identificação e dar mais garantia aos orgânicos, a Lei nº 10.831/2003 trouxe regramento para a produção e comercialização. Segundo Ari Henrique Uriartt, engenheiro agrônomo da Emater, a partir de 2011 todos os produtos orgânicos passaram a ser garantidos pelo Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg), que dá ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) a responsabilidade por creditar e fiscalizar as entidades que verificam se os orgânicos que vão entrar no mercado estão de acordo com as normas oficiais. Assim, os produtos acompanhados e aprovados passam a utilizar o Selo visível nos rótulos. Por outro lado, o agricultor familiar que opta por não ser certificado precisa se cadastrar no MAPA para receber a Declaração de Cadastro de Produtor Vinculado a Organização de Controle Social (OCS) o que possibilita a rastreabilidade dos produtos para o caso de dúvidas. De acordo com o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, (CNPO) do MAPA, o Rio Grande do Sul possui 3.535 Unidades de Produção Certificadas (UPCs) - incluindo 206 OCS - ficando atrás do Paraná que possui 3.838 e na frente de São Paulo com 1.825 (dados de janeiro de 2023).

* Carmen Carlet, jornalista formada pela Famecos, Pucrs. Atuou como colunista, repórter e correspondente de veículos especializados em propaganda e marketing. Atualmente, trabalha com assessoria de comunicação, produção de conteúdo e conexões criativas.