Fundada há 36 anos, em Caxias do Sul, por José Valdocir Casarotto, com foco no desenvolvimento de software para folhas de pagamentos, a Metadados lidera o mercado gaúcho de empresas em tecnologia para gestão de pessoas e se posiciona dentre as seis maiores do Brasil. Agora sob o comando de Gustavo Casarotto, filho do fundador, e dos sócios Fernando Hansen e Robledo Luza, a empresa mira a liderança nacional e inicia forte movimento de internacionalização. Entre 2020 e 2022, a organização investiu algo próximo a R$ 20 milhões em inovação de novas soluções tecnológicas, aquisições e, mais recentemente, em contrato de terceirização que abrirá caminhos para a globalização da marca.
Empresas & Negócios (E&N) - A Metadados nasceu como desenvolvedora de software para folha de pagamentos. Como se deu a transformação para a condição atual?
Gustavo Casarotto - Meu pai deixou emprego que tinha na mesma área para abrir uma empresa para desenvolver programas para folha de pagamento. Definiu como prioridades fazer os produtos com excelência, tratar bem as pessoas e entregar o que era acertado com o cliente. Por mais de 25 anos seguimos estes pilares. Dormíamos em berço esplêndido, até porque não tínhamos grandes ambições, nem éramos consumistas. Até que veio a crise de 2015, quando meu pai já estava fora da operação. Foi o momento que resolvemos mudar.
E&N - O que mudou?
Casarotto - Já com os novos sócios decidimos que era hora de acelerar, pois a empresa tinha bom produto e capital humano de qualidade. Faltava ir ao mercado de forma estratégica. Foi o que fizemos. Ampliamos o portfólio e expandimos para outros serviços na área de recursos humanos. Pegamos o que tínhamos de bom e potencializamos, mas sempre mantendo foco no desenvolvimento de tecnologia para a gestão de pessoas. Desde então, passamos a crescer rapidamente, na casa dos dois dígitos. A cada dois anos e meio a empresa dobrava de tamanho. Crescemos, inclusive, na pandemia, ainda que em percentuais mais tímidos do que os anteriores.
E&N - Como a empresa busca se diferenciar em um mercado concorrido como é a gestão de pessoas?
Casarotto - Nos últimos três a quatro anos, especialmente, decidimos que seríamos uma grande empresa, com fortes investimentos em inovação e expansão. Buscamos entender o futuro do mercado de RH e passamos a propor soluções tecnológicas inovadoras. Também aprendemos que, de tempos em tempos, precisamos tomar decisões para matar nosso próprio negócio, senão a concorrência mata. Foi assim quando passamos da folha de pagamento em Cobol para Windows e, agora, mais recentemente para o ambiente web. Não é só uma questão de ir para o meio web, existe a necessidade da inovação para transformar boa parte dos produtos em serviços e torná-los escaláveis. Em tecnologia nada se faz sem ser escalável. Mas também é importante tratar bem as pessoas, algo que praticamos desde a fundação. São mais de 30 prêmios nacionais reconhecendo este diferencial. Com pessoas comprometidas entregamos o melhor produto e o que é acordado. Com estas mudanças, estamos nos propondo a subir de patamar. Hoje estamos entre as seis e sete maiores empresas de tecnologia para recursos humanos no Brasil, mas nos movimentando para chegar à liderança.
E&N - Como se dá o processo de inovação?
Casarotto - Desenvolvemos alguns serviços e produtos internamente, mas entendemos que não temos capacidade para atender todas as demandas. Então, decidimos partir para investimentos em aquisições. Em 2021, assumimos a Skill, startup de Caxias do Sul que usa inteligência artificial para a seleção e recrutamento. Mais recentemente, a Feedlover, startup paulista com foco em benefícios flexíveis, um serviço que queríamos oferecer, mas para o qual não tínhamos expertise, nem equipe ou tempo necessário. Mas a aquisição foi de uma forma diferente, colaborativa. A Feedlover foi acelerada pelo Grupo de Investimentos do Instituto Hélice, organismo do qual sou conselheiro e focado no desenvolvimento da inovação na Serra. O produto foi testado na Florense, empresa de Flores da Cunha, que o implementou e aprovou. Ficou muito bom e vamos iniciar um forte trabalho para colocá-lo no mercado em 2023. Um produto desenvolvido internamente é Madu Saúde, que vai trabalhar com clínicas de saúde ocupacional, o que representa um novo mercado para a empresa. Outro avanço é o Vibe, que tem o objetivo de tornar a liderança simples e acessível, baseada em relações transparentes e mais humanas. É uma ferramenta para marcas que realmente querem se destacar em relação às suas práticas e na atração e retenção de talentos. É um produto único no mercado, sem concorrentes diretos e com metodologia própria. O mercado de RH é muito grande, sendo impossível uma só empresa atender todas as necessidades. De forma colaborativa, o crescimento é infinitamente mais escalável do que o atual.
E&N - Como a empresa pretende ingressar no mercado internacional?
Casarotto - Nos últimos cinco anos iniciamos uma pesquisa global para entender os avanços na gestão de pessoas. As políticas mais inovadoras estão em empresas do Vale do Silício e da Europa. A partir desta constatação, queremos tornar os nossos produtos globais. Encontramos na Seasoned, uma empresa nacional, mas desenvolvedora de software para founders do Vale do Silício, a parceria para atingir este objetivo. Queremos criar e escalar produtos com funcionalidades inéditas que permitirão fazer a integração plena de todos os softwares de uma organização, algo que vai mudar o modelo de negócio daqui para a frente. Estamos proporcionando automações que permitem, por exemplo, que o cliente faça o download do acordo coletivo de uma atividade econômica qualquer com queda de 90% no tempo de implantação e suporte.
E&N - Esta estratégia tende a elevar muito a carteira de clientes?
Casarotto - Temos uma carteira com cerca de 1,8 mil clientes. Em dois a três anos, pretendemos alcançar 1 mil novos clientes com estas estratégias, mas podemos chegar a 10 mil pela facilidade de compra e uso, e da estratégia escalável, consolidando presença no mercado globalizado. Os produtos viabilizam novas oportunidades de negócios, o que vai desenhar o futuro da Metadados. Estamos amadurecendo produtos para ingressar no mercado global em 2024. Já sabemos quem são as empresas de referência e as fraquezas do mercado, para ver aonde poderemos atacar. Mas não iremos sozinhos, vamos ter parceiros.
E&N - Qual o valor anual que a Metadados emprega em inovação?
Casarotto - Somos uma das empresas do ramo de tecnologia que mais investe em inovação proporcionalmente à sua receita bruta. Em 2020 foram R$ 3,9 milhões; em 2021, R$ 7,3 milhões; e para 2022 deve ser de R$ 10,2 milhões. Para 2023, deve ficar igual ou até maior, porque chegou a hora de investir para fazer a empresa do futuro que queremos. Sobre a receita são valores respectivos de 13%, 19% e 20%. Grandes empresas de tecnologia listadas na Bolsa de Valores têm índices entre 9% e 17%, estamos acima da média global.
E&N – A expansão exigirá abertura de novos espaços físicos?
Casarotto – Temos escritórios em São Paulo e Porto Alegre. Mas nosso foco é trabalhar com mais canais, pulverizar de uma forma mais colaborativa e investir em parcerias. Com a pandemia, as posições geográficas ficaram menos importantes, dá para vender em todo o o Brasil, sem sair da sede. Estamos prevendo abrir mais vagas, porém em volumes menores. Em 2022 trabalhamos de forma muito arrojada; para 2023, será menos intenso. Já para os anos seguintes se espera expansão mais robusta.