Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Responsabilidade Social

- Publicada em 27 de Novembro de 2022 às 18:15

Falas Negras promove educação antirracista

Escola Vereador Martim Aranha é o lar do projeto Falas Negras

Escola Vereador Martim Aranha é o lar do projeto Falas Negras


ISABELLE RIEGER/JC
Foi da necessidade de construir uma educação antirracista dentro das escolas que Estela Benevenuto resolveu dar vida ao projeto Falas Negras. Criada em março, a iniciativa tem como principal objetivo estruturar uma proposta pedagógica que trabalhe as relações étnicas e raciais dentro da sala de aula para que, a partir disso, os alunos e professores possam começar a aplicar, nas diferentes áreas da vida e do conhecimento, os temas que estão relacionados com a questão das populações negra e indígena.
Foi da necessidade de construir uma educação antirracista dentro das escolas que Estela Benevenuto resolveu dar vida ao projeto Falas Negras. Criada em março, a iniciativa tem como principal objetivo estruturar uma proposta pedagógica que trabalhe as relações étnicas e raciais dentro da sala de aula para que, a partir disso, os alunos e professores possam começar a aplicar, nas diferentes áreas da vida e do conhecimento, os temas que estão relacionados com a questão das populações negra e indígena.
A Escola Martim Aranha, do bairro Santa Teresa, periferia da zona sul de Porto Alegre, é o lar do projeto. Professora de História da escola, Estela revela que o nome Falas Negras surge da problematização da falta de espaços para que pessoas consigam expressar as suas indagações e observações relacionadas à questão racial. Semanalmente, o projeto traz para a sala de aula estudos teóricos a respeito da cultura indígena e afro-brasileira, filmes, livros, exercícios práticos e saídas de campos. Nessa última atividade, a iniciativa oportunizou que 50 alunos fossem ao cinema assistir ao filme Mulher Rei.
Um dos eixos do projeto trabalha o tema da identidade e do autorreconhecimento. Para tratar sobre essa temática, foi elaborada uma atividade em que os alunos precisavam produzir um autorretrato. Nesse dia, Estela trouxe lápis de diferentes cores e tonalidades e, a partir disso, os educandos iam construindo sua identidade. "Esse movimento foi muito importante para trazer essa questão de "quem eu sou" para as crianças. Fizemos muito esse exercício de acolhimento, escuta, trazendo ferramentas que eles possam problematizar", expõe Estela.
No primeiro semestre de atuação, o Falas Negras promoveu encontros com personalidades negras de diferentes espaços da sociedade para conversar com a comunidade escolar. As vereadoras Bruna Rodrigues (PCdoB) e Daiana Santos (PCdoB) conversaram com os alunos do Martim Aranha sobre como lidam com o racismo e a sua identidade racial. Depois, os alunos receberam a visita do Rosalvo Miranda, doutor em Física e professor da UniRitter, que tratou da questão de como ele, um homem negro, está dentro desse espaço acadêmico.
"Todo esse primeiro semestre foi voltado para essa sensibilização e, nesse processo, eu sentia a necessidade de constituir um coletivo de alunos para que eles fossem multiplicadores da proposta", revela Estela. Dessa inquietação, em julho, surgiu um coletivo de estudantes. "As pessoas negras têm que saber o que vão passar na sua vida. Aprendi que vai ter obstáculos na vida por conta da minha cor de pele, mas vou ter que superar", conta Kevin Campos, 12 anos. 
No último dia 11 de novembro, a algazarra e o orgulho tomaram conta da Escola Martim Aranha. Neste dia, o Falas Negras organizou uma foto coletiva dos alunos, professores e funcionários negros da escola, que contou com a presença do ex-árbitro de futebol Márcio Chagas, e o jornalista Deivison Campos. O retrato faz parte de uma série de atividades que o projeto está promovendo ao longo do Mês da Consciência Negra.
 

Lei que obriga história da cultura afro-brasileira no currículo escolar não vem sendo cumprida

Desde 2003, a lei 10.639 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena". No entanto, a lei não é cumprida pela maior parte das escolas. Existem vários motivos para isso, entre eles a falta de livros didáticos e de investimento na formação dos professores.
Em julho deste ano, o Conselho Municipal de Educação (CME/POA) definiu, por meio da Resolução CME/POA n.º 24/2022, as bases para a criação dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, Quilombolas e Indígenas (Neabi). A Escola Vereador Martim Aranha é a escola-modelo da rede municipal de Porto Alegre para a estruturação desta proposta curricular.
Durante seus anos dentro da escola, Estela Beneven, mulher negra, presenciou e passou por muitas situações de racismo. Seja em escola pública ou privada, ela nunca teve uma educação que trabalhasse o antirracismo. Mas na família sempre teve pais que destacavam a necessidade do estudo, da autoafirmação e do orgulho da sua cor de pele, que ela carrega até os dias de hoje.