Luciane Medeiros, da Ilha de Comandatuba
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O setor de franquias na Região Sul mostra recuperação, com números superiores ao período pré-pandemia. No primeiro semestre deste ano, houve expansão em faturamento, unidades abertas e geração de emprego. André Belz, diretor da Associação Brasileira de Franchsing (ABF) Regional Sul e sócio-fundador na Rockfeller Franchising, destaca o bom momento para os negócios.
Empresas & Negócios - Como está o desempenho do setor de franquias na Região Sul?
André Belz - De uma forma geral, a Região Sul vem crescendo acima da média do franchising nacional. É uma região que se recuperou mais rapidamente. No caso do Rio Grande do Sul, o faturamento cresceu 12,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Houve alta de 13,5% no número de unidades abertas, passando de 8.974, em 2021, para 10.189. São mais de mil pontos de franquias abertos de um ano para cá.
E&N - Quantas pessoas o segmento emprega atualmente no Rio Grande do Sul?
André Belz - Em termos de empregos diretos no franchising, houve alta de 17,4% no primeiro semestre. Saímos de 69 mil para 81 mil empregos diretos. São dados bastante relevantes. Vemos um crescimento e retomada.
E&N - Como os setores do franchising têm se apresentado?
Belz - Construção, entretenimento e lazer, saúde, beleza e bem-estar vêm se destacando. Eles se desenvolveram muito na pandemia e continuaram. Casa e construção, por exemplo, foi beneficiado com as reformas de casas durante a pandemia. Em saúde, beleza e bem-estar, as pessoas procuraram fazer cirurgias e outros procedimentos, em alguns porque começaram a participar de reuniões remotas e se incomodavam com a imagem. Segmentos aparentemente mais tradicionais não tiveram um crescimento muito grande porque já estavam consolidados. É o caso de educação, que teve expansão de 5%, mas é um setor que oscila pouco, mesmo no momento de crise. Os serviços educacionais puderam migrar para o mundo online e perderam menos clientes.
E&N - A ABF vem pleiteando a redução da alíquota do ISS sobre o setor de franquias em várias capitais. Há algo neste sentido envolvendo cidades gaúchas?
Belz - Estamos trabalhando com várias prefeituras. No Sul, Curitiba deu sinal verde e o projeto de lei de redução do imposto deve ser aprovado nos próximos dias. Florianópolis está no mesmo caminho e acreditamos que, até novembro, deve ser assinado. Porto Alegre é onde temos um pouco mais de dificuldade. A Secretaria da Fazenda está avaliando, mas como foi feito um Refis recentemente, o processo está mais moroso. Acredito que o cenário mudará e a capital gaúcha vai entender e aderir. Quando conversamos com a prefeitura de Porto Alegre, as outras cidades ainda não tinham aprovado seus projetos de lei. Isso acaba virando uma onda positiva e é provável que olhem as outras prefeituras e percebam que é um movimento nacional.
E&N - Qual o perfil de quem investe em uma franquia no Rio Grande do Sul?
Belz - Sabemos da história que o gaúcho é bairrista e conservador, mas acredito muito na capacidade que as pessoas têm de identificar aquilo que hoje é bom. Acho que isso já ficou um pouco para trás e se criaram algumas lendas para justificar insucessos. 'Ah, minha marca não deu certo no Rio Grande do Sul porque lá o pessoal é muito bairrista e eu sou de São Paulo'. Acaba se criando essa situação quando, as vezes, o empreendedor foi lá e não fez direito. Não acredito que exista preconceito, até porque os gaúchos exportam muita coisa para o resto do Brasil. Temos tantas franqueadoras ótimas e, principalmente, surgidas no Interior.
E&N - Pode citar alguns cases gaúchos de sucesso?
Belz - Na indústria calçadista, temos a Usaflex, Picadilly, Bibi Calçados e Jorge Bischoff. Algumas são exportadoras para dezenas de países. Outro nome é a Igui Piscinas, que começou no interior do Rio Grande do Sul e agora tem sede administrativa em São José do Rio Preto. Em Gramado, tem a Lugano, de chocolate, e a Criamigos (marca de customização de bichos de pelúcia, roupas, calçados e acessórios infantis).
E&N - Que as lições que a pandemia ensinou para as empresas?
Belz - Quem estava preparado na questão da transformação digital se saiu melhor. As empresas franqueadoras tiveram grande vantagem em relação às que não são franquias, principalmente pequenas e médias. Aquele pequeno e médio empreendedor que tem uma loja, escola ou restaurante, por exemplo, sofreu muito porque a franquia tem um poder de marca por trás, toda uma estrutura de suporte operacional, de produto e de marketing que ajudou demais. As grandes, não apenas em termos de tamanho e de estrutura, mas de fazer trabalho sério, ter proposta e se preocupar com os franqueados, tomaram ações logo que a pandemia explodiu para resolver a vidas dos franqueados.
E&N - Quais os suportes dados para as franquias no período?
Belz - Foram feitas concessões em termos de cobranças, todo um suporte jurídico que precisou ser feito porque todo dia saía um decreto diferente, houve apoio na questão tributária e em relação às linhas de crédito que foram surgindo, entre outras ações. Os dados mostram que quem tinha uma franqueadora por trás ficou acima do crescimento dos demais. As empresas que sobreviveram evoluíram em dois anos aquilo que estava previsto para ocorrer em dez anos. Foram obrigadas a mergulhar na transformação digital. As empresas de alimentação investiram em delivery, em aplicativos. As de educação no ensino a distância. O varejo tradicional, seja o ramo de perfumaria, seja sapatos, por exemplo, desenvolveram canais online.
E&N - Qual influência da pandemia na relação entre as partes?
Belz - O franchising se tornou mais flexível, colaborativo e isso está trazendo crescimento para todos, que vemos pelos resultados atingidos, inclusive no número de novas marcas franqueadoras surgidas após a pandemia.
E&N - Quais as dicas que o senhor daria ao franqueador e para quem quer entrar no ramo?
Belz - O franqueador tem que se preocupar com o cliente da ponta mas, também, em fazer o negócio ser bom para quem vai investir nele. As pessoas depositam sonhos, as reservas financeiras, o seu tempo naquele negócio que foi vendido, que foi prometido e o franqueador precisa ter essa responsabilidade de cumprir o seu papel e entregar aquilo que ele realmente promete. O negócio tem que funcionar senão a rede não vai para frente, não cresce. É um 'ganha ganha'. Se o franqueado tiver sucesso, o franqueador vai ter sucesso também. Em relação às pessoas que pretendem ou gostariam de comprar uma franquia, ela tem que se identificar com o negócio. Após achar o segmento tem que achar uma marca e fazer uma pesquisa para conhecer os franqueadores. Tem que visitar, ver a estrutura da empresa, conversar frente a frente com quem fundou a marca para ver se existe uma sinergia e aí sim investir no negócio. Precisa ainda ter planejamento financeiro e por fim coragem para abrir uma franquia.