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Reportagem Especial

- Publicada em 31 de Julho de 2022 às 18:51

Tecnologia marca volta da Construsul

Maior feira da construção e arquitetura do sul do Brasil retorna a Porto Alegre

Maior feira da construção e arquitetura do sul do Brasil retorna a Porto Alegre


CONSTrusul/DIVULGAÇÃO/JC
Eduardo Torres, especial para o JC*
Eduardo Torres, especial para o JC*
Depois de um hiato de dois anos em função das restrições necessárias para conter a expansão da pandemia de Covid-19, a Construsul, maior feira da construção e arquitetura do sul do Brasil, retorna a Porto Alegre com expectativa de mais de 30 mil visitantes e até R$ 2 bilhões projetados em negócios. Quem percorrer os pavilhões da Fiergs encontrará o que há de mais atual no segmento, com produtos, serviços e iniciativas que estão transformando os canteiros de obras.
"A Construsul é um momento de troca de conhecimentos de forma presencial. Por mais que tenhamos cada vez mais informações e avanços digitais, é diferente ter contato direto entre todos os setores da cadeia produtiva da construção", avalia a presidente do Sindicato das Indústrias da Construção - Novo Hamburgo (Sinduscon-NH), Anelise Luvizon.

A entidade organizará um dos eventos paralelos da Construsul, o Seminário de Inovação e Tecnologia na Construção Civil, que contará, no dia de abertura do evento, com dois ciclos de palestras direcionados à aplicação da tecnologia à realidade da construção. A estimativa é de que a feira conte, assim como na última edição, com pelo menos 90 horas de encontros, seminários e eventos paralelos entre os pavilhões da Fiergs.

De acordo com os organizadores, a maior parte dessas horas, além da circulação normal pelos corredores e estandes da feira, ficará por conta das quase 50 entidades apoiadoras. São elas que desembarcam na Fiergs com delegações e grupos dispostos a formalizarem novos negócios em encontros com outros atores deste mercado.

Uma feira em evolução traz novos horizontes para a construção civil

A estimativa de negócios gerados a partir da feira, apontam os organizadores, é bastante extensa: entre R$ 300 mil e R$ 2 bilhões

A estimativa de negócios gerados a partir da feira, apontam os organizadores, é bastante extensa: entre R$ 300 mil e R$ 2 bilhões


/rawpixel/br.freepik/divulgação/jc
E se o construtor ou o fornecedor de materiais de construção conseguir ter acesso, com um clique, a um mapa atualizado de onde há obras licenciadas em algum lugar do Brasil? E se, a partir deste recurso, ele puder direcionar possíveis novos negócios?
O empreendedor Luís Antônio Zucco, que desenvolveu esta ideia na startup Obra.ai, sabe que já foi o tempo em que a execução de um projeto em construção civil se limitava ao canteiro de obra. E este novo cenário estará entre os corredores da Fiergs desta terça, dia 2 de agosto, até sexta, dia 5, na retomada, após dois anos de hiato, da Construsul, em sua 23ª edição.
Depois de tanto tempo sem poder reunir todas as peças da construção civil e arquitetura na maior feira do setor na região sul do Brasil, a estimativa de negócios gerados a partir da feira, apontam os organizadores, é bastante extensa: entre R$ 300 mil e R$ 2 bilhões.
"Toda a economia foi afetada pela pandemia, mas a construção civil nunca parou. O que mudou foi a forma como o setor passou a se relacionar. Percebemos que todos os setores envolvidos na feira estão muito engajados para retomar algo que é fundamental no ambiente de negócios, que é esta possibilidade de ter contato direto com novos produtos, novas ideias e negociações com fornecedores e parceiros", explica o diretor da Sul Eventos, organizadora da feira, Ricardo Richter.
As construtechs, como é o caso da startup liderada por Zucco, terão um espaço reservado feira. Chegam com a missão de se prestarem como ferramenta de resposta a construtores e fornecedores diante do quadro de incerteza econômica de 2022, em que, além da evolução tecnológica de materiais como cimento, aço, revestimentos ou esquadrias é necessário haver conectividade e um verdadeiro pacote de big data e inteligência artificial para garantir a toda a cadeia produtiva da construção especialmente eficiência nos custos, no tempo e na qualidade _ e ainda assim seguir atendendo à demanda, que não reduziu, do mercado imobiliário.
A expectativa é de cerca de 32 mil pessoas circulem na Construsul. Em virtude do grande engajamento que a ausência de eventos em 2020 e 2021 provocou, quase um mês antes do evento, já estavam confirmados os 300 expositores estabelecidos como meta para o ano.
 

Fique por dentro

  • A Construsul inicia neste dia 2 de agosto e vai até sexta, dia 5 de agosto
  • Serão 300 expositores
  • A área dos expositores estará dividida entre os pavilhões 1, 2 e 3 da Fiergs
  • No Pavilhão 2, haverá um espaço reservado à apresentação das Construtechs
  • Os seminários e palestras acontecem nos auditórios do segundo andar do Pavilhão 2
Eventos paralelos confirmados:
2 de agosto
  • 14h às 18h30min: 8° Seminário de Inovação e Tecnologia na Construção Civil (organizado pelo Sinduscon-NH)
  • 16h às 17h: Apresentação - Instalações de gás com sistema Multicamada (organizado pela Maygas)
  • 17h30min às 19h: Apresentação - Tire todas as suas dúvidas sobre lixadeiras elétricas (organizado pela Pincéis Atlas)
  • 19h30min às 21h: Sistemas de Vedação de Fachadas em Light Steel Frame (organizado pela MasterWall Sistemas Construtivos)
Quarta (3 de agosto)
  • 14h às 16h: A construção dos trechos da nova Orla do Guaíba: o que já foi feito pela cidade e o que está por vir (organizado pela Porto Alegre Convention & Visitors Bureau)
  • 14h30min às 15h30min: Apresentação - Âncora - Muito mais que fixação: Soluções para construção a seco (organizado pela Âncora/Enhell)
  • 16h às 17h: Apresentação - Projeto de gás com sistema BIM (organizado pela Maygas)
  • 17h30min às 19h: Fóruns Técnicos Inovação, tecnologia e Desempenho na Construção Civil (organizado pelo Sinduscon-RS)
Quinta (4 de agosto)
  • 14h às 17h: Soluções para sistemas de fachadas (organizado pelo ITT Performance)
  • 16h às 17h: Apresentação - Instalações de gás com sistema Multicamada (organizado pela Maygas)
  • 19h30min às 20h30min: Power X-Change: Soluções sem fio (organizado pela Âncora/Enhell)
  • 19h às 20h30min: Fórum - Ambientes Instagramáveis (organizado pelo Sindividros)
Sexta (5 de agosto)
  • 13h30min às 15h50min: Os 10 Mandamentos do Concreto Seco (organizado pela EKW Concretos)
  • 16h às 17h: Apresentação - Projeto de gás com sistema BIM (organizado pela Maygas)
  • 17h30min às 19h30min: Parâmetros técnicos para sistemas de tratamento de esgoto sanitário (organizado pela Torri)
 

O palco para novos negócios

Teitelbaum lembra que a tradição da feira é estreitar o contato direto de toda a cadeia produtiva

Teitelbaum lembra que a tradição da feira é estreitar o contato direto de toda a cadeia produtiva


Luiza Prado/JC
Quem for à Fiergs terá a oportunidade não apenas de observar a evolução no mundo construtivo, mas da própria feira. Para que se tenha uma ideia, em 1998, quando a Construsul foi criada por Cláudio Richter - pai de Ricardo Richter -, a feira ocupava 3 mil m², na Pucrs. Já na terceira edição, o evento aconteceu em um espaço de 6 mil m², na Fiergs, com 180 expositores e 15 mil visitantes. Neste ano, serão 20 mil m² e mais do que o dobro de visitantes.
"A nossa estimativa de 32 mil visitantes é conservadora, levando em conta os números da última feira, em 2019, mas possivelmente iremos ultrapassar esta marca", avalia Ricardo Richter. Se em 1998 o desafio era criar um ambiente próprio para a construção civil da região ter uma vitrine, agora essa vitrine tem a inovação no papel principal.
"Em 2019, já tivemos uma edição marcada pela demonstração do que viria pela frente em relação à tecnologia na construção. Com a pandemia, este processo só se acelerou. Mesmo em um setor tradicionalmente conservador como a construção, o investimento em tecnologia se mostra como a saída mais viável e econômica. Recomendo uma atenção especial ao espaço de construtechs e de startups do setor", diz o diretor do evento.
A estimativa de negócios que podem chegar à cifra bilionária dos organizadores do evento é compartilhada pelo presidente do Sinduscon-RS, Cláudio Teitelbaum. Ele lembra que a tradição da Construsul é justamente a de servir como palco para estreitar o contato direto de toda a cadeia produtiva da construção.
"Depois de dois anos sem o evento, sem dúvida, esta relação estará reforçada pela possibilidade de rodadas de negociação e, muito provavelmente, pelo primeiro contato de futuros grande negócios, que talvez nem se concretizem durante a feira, mas que resultem em excelentes resultados daqui talvez um ano", aponta Teitelbaum.
Ele lembra a máxima usada no setor de que: "em construção, a venda de hoje é o emprego garantido de amanhã"
O momento, diz o dirigente, é de crescimento na construção, especialmente em Porto Alegre, ano após ano, mas a preocupação está em manter o ritmo.
"Para conseguirmos isso, é importante pesarmos todos os fatores, como a alta muito grande ainda neste momento nos valores de materiais. A feira é uma oportunidade de se conseguir negociações mais flexibilizadas e audaciosas", diz.
Em 2021, informa Cláudio Teitelbaum, foram R$ 4 bilhões movimentados em vendas pela construção civil na Capital. Neste ano, já foram R$ 2,5 bilhões no primeiro semestre. Ou, como valoriza o representante do Sinduscon, são dois anos garantidos de alta nos empregos do setor.
"Este aquecimento, por outro lado, aumenta a demanda e provoca, neste momento de crise global, escassez nos materiais, combustíveis, energia e reflete no custo da obra. O empreendedor vai para a Construsul especialmente com dois objetivos: encontrar negócios mais facilitados em relação a estes fornecedores e também conhecer processos de inovação que garantam mais eficiência e economia nos canteiros de obras", explica.
 

Entre o campus e a construção

Dos laboratórios para o mercado, Sinduscon-RS estimula parcerias para desenvolver inovações para o setor

Dos laboratórios para o mercado, Sinduscon-RS estimula parcerias para desenvolver inovações para o setor


/MARCO QUINTANA/arquivo/JC
Se entre as principais pautas desta edição da Construsul figura a tecnologia envolvida no setor da construção civil, nada melhor do que estar dentro das universidades. É o que o Sinduscon-RS tem desenvolvido nos últimos oito anos, a partir da sua Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat).
A entidade tem parcerias com laboratórios e com a produção acadêmica da Unisinos, Pucrs e Ufrgs. E tudo isso poderá ser acompanhado no segundo dia da feira, em três fóruns organizados pelo Sinduscon-RS - cada um apresentando o que é desenvolvido por cada universidade.
"A relação da universidade com toda a cadeia produtiva da construção é muito importante. Além de formar os novos profissionais, que quando têm este contato com o setor, sabem qual direção seguir, a universidade tem a prioridade no desenvolvimento de pesquisas em novas tecnologias", avalia o vice-presidente do Sinduscon-RS e coordenador do Comat, Roberto Sukster.
Há algumas semanas, por exemplo, uma das universidades parceiras do Sinduscon-RS teve seu laboratório como local para ensaios de quatro fornecedores de materiais com novas tecnologias de desempenho acústico. Meses atrás, houve ensaios com novas selagens corta-fogo. "Quem participa desta troca de experiências, tanto fornecedores como construtores, tem ganhos no custo da obra, mas é mais do que isso. Eles têm oportunidade de melhoria no desempenho da obra, ganhos nos prazos, e isso gera um ganho futuro difícil de mensurar", conta Sukster.
A experiência iniciou em 2014, a partir de uma exigência nova na construção, que era a norma de desempenho. Resultou na criação de um fórum de inovação com a Unisinos. A universidade conta com um dos principais laboratórios do Brasil para ensaios de novos materiais e processos - o laboratório ITT - por parte das incorporadoras. Três anos atrás, foi constatada a necessidade de avançar em relação ao chamado Building Information Model (BIM), para o desenvolvimento de projetos em 3D, com a criação de um fórum específico em parceria com a Pucrs. O mais recente fórum reforça a qualificação na pesquisa, criando um link entre trabalhos científicos da academia e as incorporadoras, com a parceria da Ufrgs.
"É um sistema interdependente, com a possibilidade de criar e aplicar os materiais que resultem melhor desempenho na obra, o desenvolvimento de todas as etapas, incluindo o de materiais até o canteiro de obra propriamente dito, aproveitando a tecnologia 3D, e o alinhamento entre o que a academia desenvolve em termos de inovações e ideias com o que o mercado demanda", resume o coordenador.
Os fóruns reúnem-se mensalmente, mas agora eles estão muito menos estanques. Dentro de cada uma das linhas em cada parceria, são oferecidos cursos de formação para os associados do Sinduscon-RS. Durante a Construsul, além do evento marcado para o final da tarde do segundo dia da feira, será lançado um novo curso de desenvolvimento de fachadas.
"Com a Ufrgs, por exemplo, nós levamos às incorporadoras 50 trabalhos científicos recentes e o mercado deu a sua resposta. E a aceitação de todos os nós fóruns pelo setor tem sido muito boa. Com os acréscimos do aprendizado e das melhorias, queremos subir a régua do setor", diz Sukster.
 

Quando os cliques entram no canteiro de obras

Hoje, 1.200 canteiros de obras já são gerenciados pelas imagens da Construct IN

Hoje, 1.200 canteiros de obras já são gerenciados pelas imagens da Construct IN


/freepik/divulgação/jc
A startup Obra.ai surgiu com o nome de UrbanPlan, em 2019, com uma proposta de mapear onde havia obras ou novidades em termos de planos diretores e possibilidades construtivas nos mais diversos municípios brasileiros. Hoje, de acordo com o criador da startup, Luís Antônio Zucco, a empresa, que recebeu no final do último ano investimento da iMaps Data Group, conta com mais de 650 obras ativas cadastradas no seu sistema de big data.
Em média, segundo Zucco, a permanência de clientes no sistema chega a 10 meses, que é o período para estruturarem novos negócios a partir das informações fornecidas pelo Obra.ai. Na Construsul, temos como objetivo não só mostrar o nosso conteúdo aos expositores, e tradicionais construtores, mas para o público em geral e, especialmente, fornecedores menores. É uma oportunidade para potencializar negócios e vendas em grandes volumes", explica Zucco.
Com experiência de 25 anos em TI, e também formado em arquitetura, o empreendedor logo percebeu a oportunidade no mercado da construção para o desenvolvimento de novas tecnologias. E os números comprovam a constatação de Zucco. Conforme o Mapa das Construtechs e Proptechs no Brasil, no final de 2021, havia 839 startups atuando em todas as etapas da construção civil. Um crescimento de 235% em cinco anos.
"O nosso objetivo sempre foi termos um modelo que abasteça o setor com dados práticos e de maneira muito acessível. Iniciamos trabalhando com grandes indústrias da construção e aos poucos estamos potencializando o projeto aos menores. A feira é a oportunidade para afirmarmos ainda mais esta posição", diz. Quem também estará na Construsul será a Construct IN, que apresenta a proposta de acompanhamento remoto das obras com imagens em 360°. De acordo com o CEO da empresa, Tales Silva, o objetivo é otimizar os processos e eliminar desperdícios nas obras.
"Nosso papel é fornecer os dados necessários para melhorar a tomada de decisão e otimizar processos. Quando tratamos da gestão remota de obras, os principais benefícios são o registro completo da evolução das obras, a comunicação ágil com todos stakeholders, a redução de até 50% dos custos com deslocamento e a otimização em 80% do tempo das vistorias", diz. Segundo Silva, hoje, 1.200 canteiros de obras já são gerenciados pelas imagens da Construct IN. No espaço das construtechs da Construsul, a empresa pretende apresentar novas funcionalidades do seu software.
 

Oportunidade para negociações e troca de experiências une toda cadeia da construção

Para que se tenha uma ideia, insumos como aço, PVC e cimento estabilizaram, outros, como a madeira, em 12 meses, apresentaram variação de até 80% no preço. E para prospectar novos e melhores negócios, um grupo de construtoras gaúchas estará bastante ativo com a Coopercon-RS. É a cooperativa da construção civil, criada 15 anos, e que tem reforçado o seu papel na busca de compras coletivas e, por consequência, com preços melhores para construtoras menores do Estado.
Do outro lado deste balcão estão as indústrias de materiais de construção e o setor de comércio destes materiais, também com expectativa de ver na Construsul condições de negociação mais atraentes em um cenário de incerteza em relação aos preços futuros.
"A Construsul é uma vitrine de lançamentos e oportunidades. É quando a indústria nos apresenta tabelas com preços diferenciados. Estávamos precisando muito deste retorno da feira no Rio Grande do Sul. Desde o ano passado estivemos em feiras em São Paulo e o retorno tem sido muito positivo. Agora, mais próximo dos nossos estabelecimentos, a tendência é refletir também mais diretamente em novos negócios para o setor", explica o presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção (Acomac) Porto Alegre, Genesvile Zanotelli.
Segundo ele, o setor vive agora um momento de estabilidade, com expectativa de melhora para o segundo semestre. Na feira, Genesvile acredita que será possível ampliar, e principalmente, renovar o mix de produtos no comércio de materiais de construção.
"Espero ver muitas novidades principalmente em relação a processos construtivo e automação das casas. A parte eletrônica sempre costuma evoluir muito, e tem na feira essa oportunidade de demonstrar ao mercado", afirma.
 

ONG que transforma o canteiro de obras estreia na feira

ONG Mulher em Construção apresentará o trabalho que tem realizado nos últimos 16 anos durante a Construsul

ONG Mulher em Construção apresentará o trabalho que tem realizado nos últimos 16 anos durante a Construsul


/ONG MULHER EM CONSTRUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
A inovação não depende apenas de sistemas, dados ou materiais. Para revolucionar o canteiro de obras, é preciso também transformar as relações entre as pessoas envolvidas em uma construção. Pois a ONG Mulher em Construção apresentará o trabalho que tem realizado nos últimos 16 anos. Como bem define a presidente da ONG, Bia Kern, o empoderamento feminino é a essência do seu trabalho, mas ele resulta em mudança de todo o ambiente no setor construtivo.
"A partir do nosso trabalho, conseguimos trazer à tona das dores que os homens também sentem. Estamos trabalhando para o futuro, eu tenho consciência. Demonstrando que as mulheres podem e devem ganhar oportunidades, mas não para tomar o lugar de ninguém, e sim para sermos companheiras dos homens no ambiente de trabalho. Essa visão que contraria o machismo institucional tão marcado na construção civil desenvolve, no final, mais respeito àquele que chamam de peão em uma obra", resume a Bia.
A ONG iniciou com um curso de pintura predial, que formou 19 mulheres, e hoje já formou cinco mil delas em cursos de qualificação na área da construção civil no Rio Grande do Sul e em São Paulo. A estimativa é de que pelo menos 40% delas segue trabalhando no setor.
Na Construsul, elas terão um espaço nobre no estande das Lojas TaQI, onde apresentará o projeto Divas da Construção Civil, lançado no último dia 18 de julho, com o apoio da rede de lojas, na reforma de uma casa em Novo Hamburgo 100% desenvolvida por mulheres em todas as suas etapas.
"O nome Diva é uma homenagem ao apelido da minha mãe, que desde pequenas nos ensinou e ergueu conosco a nossa casa. Era algo normal no meu dia a dia, mas quando eu atuava na área que tive formação, em gestão pública, eu notei que havia muito preconceito e eu precisava fazer a minha parte para provocar uma revolução. Estamos falando de mulheres em construção, mas é uma afirmação para qualquer setor, para qualquer lugar que a mulher queira ocupar", conta a líder deste movimento.
Instaladas na Vila Flores, que foi toda transformada a partir de obras e reparos feitos por 89 mulheres, em Porto Alegre, no começo de julho elas inauguraram mais uma sede, em Taboão da Serra, São Paulo.
De acordo com Bia, à medida em que o trabalho da ONG ganha solidez e os resultados de cada vez mais parcerias com empresas importantes, a importância social de ter a mulher como pivô na construção civil se mostra mais adequada.
"Cada vez mais mulheres são as chefes da família, e nós temos uma realidade hoje no Brasil de pelo menos 40 milhões de moradias com problemas estruturais. Se não forem elas a executarem o que é preciso para ter a sua própria moradia com mais dignidade, quem vai fazer? É empoderamento e é a demonstração de que a é possível criar oportunidades no setor", avalia Bia Kern. Esta será a primeira participação da ONG como expositora entre um dos estandes da Construsul.
 

*Eduardo Torres é jornalista, com passagens pelos jornais Zero Hora, Diário Gaúcho e Correio de Gravataí