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Reportagem especial

- Publicada em 26 de Junho de 2022 às 16:00

Agências de conteúdo gaúchas são referências em jornalismo

Localizada em Porto Alegre, Padrinho surgiu em 2014 por iniciativa de dois sócios

Localizada em Porto Alegre, Padrinho surgiu em 2014 por iniciativa de dois sócios


ANDRESSA PUFAL/JC
Não são poucos os segmentos de mercado que precisaram se reinventar para sobreviver em uma era de constante transformação digital. E, sem dúvida, um dos setores mais impactados por esses avanços é o da comunicação, especialmente o jornalismo. Novas plataformas de mídia surgiram e as formas como nos relacionamos mudaram; enquanto isso, o espaço da imprensa tradicional foi diminuindo e os postos de trabalho nas redações tradicionais, também perderam espaço.Isso não significa, porém, que esse mercado esteja à beira da extinção. No Rio Grande do Sul, as agências de conteúdo se tornaram uma alternativa para jornalistas que querem continuar fazendo reportagens, mas preferem gerenciar sua rotina sem vínculo com empresas tradicionais, e sim com clientes. São profissionais experientes, com passagens por grandes veículos de comunicação, que, tendo espírito empreendedor, viram na crise uma oportunidade de valorizar seu trabalho, oferecendo a jornais, revistas e sites um conteúdo que estes, em tempos de enxugamento na folha salarial, dificilmente conseguiriam produzir. Aos poucos, o Estado se consolidou como referência na área, com reportagens produzidas aqui sendo publicadas em veículos de expressão nacional e internacional.
Não são poucos os segmentos de mercado que precisaram se reinventar para sobreviver em uma era de constante transformação digital. E, sem dúvida, um dos setores mais impactados por esses avanços é o da comunicação, especialmente o jornalismo. Novas plataformas de mídia surgiram e as formas como nos relacionamos mudaram; enquanto isso, o espaço da imprensa tradicional foi diminuindo e os postos de trabalho nas redações tradicionais, também perderam espaço.

Isso não significa, porém, que esse mercado esteja à beira da extinção. No Rio Grande do Sul, as agências de conteúdo se tornaram uma alternativa para jornalistas que querem continuar fazendo reportagens, mas preferem gerenciar sua rotina sem vínculo com empresas tradicionais, e sim com clientes. São profissionais experientes, com passagens por grandes veículos de comunicação, que, tendo espírito empreendedor, viram na crise uma oportunidade de valorizar seu trabalho, oferecendo a jornais, revistas e sites um conteúdo que estes, em tempos de enxugamento na folha salarial, dificilmente conseguiriam produzir. Aos poucos, o Estado se consolidou como referência na área, com reportagens produzidas aqui sendo publicadas em veículos de expressão nacional e internacional.

Essa migração dos jornalistas - e do próprio conteúdo jornalístico - para as agências se deu de forma gradual, como observa a coordenadora do curso de Comunicação Empresarial da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Denise Pagnussat. "Não é um fenômeno exatamente recente. Há cada vez mais possibilidades de atuação na área, e essa é uma das que vêm ganhando espaço já há alguns anos. Mas não vejo como uma espécie de mercado concorrente ao da mídia tradicional, que permanece sendo relevante. São atividades diferentes e, ao mesmo tempo, complementares", pondera.
Ela alerta, no entanto, para a necessidade qualificação. "Hoje a comunicação se dá em várias plataformas. Ter um conhecimento multidisciplinar é fundamental para o jornalista, ainda mais para trabalhar com agências de conteúdo. Esse conhecimento é que vai possibilitar aos profissionais atenderem às demandas de diferentes clientes", ressalta a professora.
Professor de Jornalismo e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Marcelo Träsel acredita que uma série de fatores motivou a criação de agências focadas nesse tipo de conteúdo. Além de mais autonomia para realizar suas atividades, os jornalistas com esse perfil também buscam uma mudança de ambiente e de rotina.
"São profissionais que saíram das redações com o objetivo de encontrar melhores condições de trabalho. Não queriam mais fazer plantão no final de semana e esperavam uma remuneração melhor. No fim das contas, se criou um ecossistema que beneficia todo mundo, já que esses veículos mais tradicionais podem se valer do serviço das agências quando precisam de um reforço na mão de obra para alguma cobertura especial", afirma.
Um dos fundadores da Cartola Conteúdo, o jornalista Sebastião Ribeiro lembra que quando a agência surgiu, em 2009, o enxugamento das redações já se mostrava uma tendência. "O modelo de negócio tradicional, de ter uma equipe 100% própria, parou de fazer sentido para os veículos na medida em que começou a deixar de ser viável financeiramente. Fomos uma das primeiras agências a oferecer esse tipo de conteúdo, então prestamos serviços para muitos veículos", diz.
Fundadora da Fronteira, Sílvia Lisboa avalia que os jornais foram muito impactados pela redução das verbas de publicidade, cuja consequência imediata foi o corte de pessoal. "Com a perda de anunciantes, não era mais vantajoso para as empresas ter uma redação grande, e as vagas formais com CLT, aos poucos, foram minguando. Ao mesmo tempo, os veículos ainda precisavam de conteúdo, de reportagens aprofundadas, que não podiam ser feitas por uma equipe reduzida. É aí que nos inserimos", observa a jornalista.
Depois do boom inicial, a dúvida que fica é: esse mercado ainda tem para onde crescer? Se depender dos entrevistados para esta reportagem, a resposta é "sim".
 

Pioneira, Cartola reforça equipe para voltar a mirar no conteúdo

Rafael Santos, Marlise Brenol e Sebastião Ribeiro lideram a equipe

Rafael Santos, Marlise Brenol e Sebastião Ribeiro lideram a equipe


ANDRESSA PUFAL/JC
Quando três jornalistas se juntaram para abrir a Cartola, em 2009, não sabiam nem como definir que tipo de negócio estavam criando. O termo "agência de conteúdo" ainda era pouco conhecido, e o mercado da comunicação não ia muito além do tradicional eixo redação/assessoria de imprensa.
"No início, produzimos conteúdo para os grandes portais: MSN, iG, Terra... O próprio Jornal do Comércio foi cliente nosso, com cadernos especiais", lembra Sebastião Ribeiro, único sócio fundador remanescente da empresa. O crescimento do mercado de agências e, principalmente, do número de freelancers independentes, fez com que a Cartola reduzisse um pouco essa produção, focando em outras áreas, como gestão de mídias sociais e branded content (conteúdo de marca). "Começou a ficar difícil concorrer por preço, tendo uma empresa estruturada, com contas a pagar", diz.
As mudanças no mercado, além da saída de uma jornalista da sociedade, influenciaram no reposicionamento da empresa. "Faz uns três anos já que a gente vinha tirando o pé do conteúdo. Até pelo perfil da equipe que permaneceu, foi um movimento natural: estávamos menos preparados, com menos contatos editoriais. Mas eu sempre ficava com aquela pulga atrás da orelha: será que a parte de conteúdo diminuiu porque não tem mais mercado ou porque a gente parou de vender?", reflete.
A opção por dar um novo impulso a esse segmento veio após conversas com a jornalista Marlise Brenol, pesquisadora especializada em assuntos ligados ao jornalismo digital. Em maio, ela ingressou na Cartola como diretora editorial e também como sócia da agência, ao lado de Pinheiro e do publicitário Rafael Santos. No total, a empresa conta com 16 pessoas, sendo cinco jornalistas.
"A ideia é que essa área volte a ter mais fôlego, que a gente consiga desenvolver novos projetos de estratégia de conteúdo. O desafio é reposicionar a Cartola com essa fortaleza que é na verdade a origem da agência. Minha trajetória é focada muito no digital, então acho que juntando esses dois aspectos, o editorial com multimídia web, conseguiremos abraçar novos parceiros", avalia Marlise.
Com a reformulação, a Cartola projeta retomar seu espaço em um mercado que já foi seu principal meio de subsistência. "Teve ano em que faturamos mais ou menos R$ 1,5 milhão, sendo 80% em conteúdo. No ano passado, tivemos um faturamento na mesma monta, mas 80% era de comunicação estratégica, redes sociais, offline etc. Se eu pudesse traçar uma meta para daqui a três anos, gostaria de somar esses faturamentos, equilibrando comunicação estratégica com conteúdo. A gente já fez isso em determinado momento, ou seja, não é impossível", conclui Ribeiro.
Para alcançar esse objetivo, enfatiza Marlise, a soma de experiência dos sócios é um fator determinante, além da constante atualização sobre as demandas do mercado da comunicação. "Hoje todo mundo fala em produção de conteúdo, mas qual é o conteúdo que efetivamente se produz, e com que qualidade? Na nossa trajetória como jornalistas, aprimoramos as técnicas de texto informativo, que nos permitem produzir tanto conteúdos de reportagem como criar veículos ou canais editoriais para parceiros - uma tendência que tem sido muito aplicada, principalmente por grandes organizações. Então, a gente acredita que tem, sim, um mercado interessante e que tende à expansão."
 

Projeto de amigos de faculdade, Padrinho comemora bom momento

Sócios Carlos Ferreira e Alexandra Zanela abriram a empresa em janeiro de 2014

Sócios Carlos Ferreira e Alexandra Zanela abriram a empresa em janeiro de 2014


ANDRESSA PUFAL/JC
Fundada em janeiro de 2014, a Padrinho é fruto de uma amizade de longa data dos jornalistas Alexandra Zanela e Carlos Ferreira. Os dois se conheceram trabalhando no Diário de Santa Maria, em 2004. Depois, tomaram rumos diferentes na profissão, mas sempre cultivaram o sonho de abrir um negócio juntos. "Esse acordo acabou se concretizando quando deixamos os nossos empregos, em dezembro de 2013. Começamos a pensar a agência com meio ano de antecedência, mas não tivemos quase nenhum investimento, trabalhávamos de casa mesmo", relata Ferreira.
Alexandra considera que, mesmo com planejamento, o desafio era enorme. Afinal, a ideia de que jornalistas poderiam ser donos do próprio negócio era pouco disseminada durante a graduação. "Hoje, as universidades estão atentando para o empreendedorismo dentro da comunicação, mas quando me formei, lá em 2004, na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) - que tem um dos melhores cursos de jornalismo do país -, nem se falava nisso. Somos de uma geração em que os jornalistas eram preparados para ser funcionários", opina. "A comunicação me levou para a vida da CLT, mas, como venho de uma família de empreendedores, sempre foi disseminada em mim essa sementinha do empreendedorismo".
O faro jornalístico fez com que o primeiro cliente da Padrinho viesse em menos de uma semana de atividade: a dupla soube que a seleção do Equador iria se concentrar em Viamão durante a Copa do Mundo no Brasil e conseguiu vender a pauta para o jornal El Comercio, de Guayaquil. Semanas depois, os sócios se desdobram em esforços para fazer a cobertura de um ano do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, para o site da revista Veja.
Aos poucos, a Padrinho foi fazendo seu nome, crescendo - atualmente, são 11 pessoas trabalhando na agência - e atraindo novos clientes. Entre eles, está o Grupo RBS, para o qual a empresa produz diversos cadernos especiais. "É uma demanda mensal, com frequência fixa mesmo, mas ficamos em permanente stand by porque (a demanda) é variável. Recentemente, por exemplo, fizemos um caderno de 32 páginas sobre o South Summit para a Zero Hora, com toda a edição e diagramação, em apenas quatro dias. Isso é uma coisa que a gente trouxe do jornalismo: o senso de urgência e a capacidade de trabalhar sob pressão, com prazo curto", afirma.
Embora tenha uma produção regular, a Padrinho não atua apenas nesse segmento. "Desde o início, tínhamos essa ideia de conteúdo, de atender veículos, mas, com o passar do tempo,vimos que só isso não seria suficiente. Precisávamos garantir que a coisa fosse sustentável", explica Ferreira. "Hoje procuramos clientes dentro de quatro pilares: produção de conteúdo, seja em texto, impresso ou digital; podcasts; assessoria de imprensa; e redes sociais. A produção de podcasts é um braço muito forte nosso, e, em alguns casos vai pro lado jornalístico, como os boletins que fizemos para o Sebrae, que faz a distribuição para disparo gratuito para emissoras de rádio", completa.
Trabalhar com plataformas tão diversas daquelas que inicialmente haviam projetado é algo que não incomoda os jornalistas. Pelo contrário: para eles, tudo é comunicação. "Nunca tivemos tantas vagas abertas nesse mercado. O que mudou foi a forma. É preciso entender os conceitos, porque as ferramentas acabam. O Facebook está aí capengando, mas, se pararmos para pensar, aprendemos o conceito dele lá atrás, com o Orkut. É um excelente momento para a comunicação, se a gente aprender a olhar para as oportunidades que estão surgindo", conclui Alexandra.
 

República completa 10 anos apostando em múltiplas plataformas

Emanuel Neves, Leonardo Pujol e Ricardo Lacerda na sede da agência

Emanuel Neves, Leonardo Pujol e Ricardo Lacerda na sede da agência


LUIZA PRADO/JC
Com 10 anos completados em abril, a República surgiu a partir de uma percepção que o jornalista Ricardo Lacerda, junto com mais dois sócios, teve a partir de sua experiência em redação. Na época, ele e um colega trabalhavam na revista Amanhã, que contava com uma equipe interna, mas contratava freelancers para produzir conteúdo especial. Foi aí que veio o insight: por que não somar esforços e oferecer esse serviço à publicação eles mesmos?
"Deixamos a revista e propusemos abraçar os freelancers que ela contratava, ou seja, em vez de chamar freelas 'soltos', a Amanhã passou a contratar uma agência de conteúdo", explica Lacerda, único sócio fundador remanescente da empresa. O jornalista lembra que, na mesma época, o enxugamento ocorreu em outras publicações, como a revista Voto, que, durante alguns anos, também foi feita pela redação da República.
Hoje, a empresa mantém clientes de prestígio, como Superinteressante, piauí e BBC, para os quais realiza trabalhos eventuais, além de parcerias fixas com publicações segmentadas como HSM management e MIT Sloan Management Review Brasil, entre outras. No entanto, precisou ampliar seus serviços para se adequar às necessidades do mercado - e da própria agência.
"No momento que você começa a estruturar uma empresa, com custos, folha salarial, aluguel, vai botando na ponta do lápis e percebe que talvez não faça tanto sentido investir esforços somente em um tipo de conteúdo. Trabalhar com marketing de conteúdo, portais, newsletters, e-books, acaba sendo mais negócio", pondera Leonardo Pujol, que começou na República como estagiário e acabou se tornando sócio em 2017. "Essa migração, que vem acontecendo ao longo do tempo, não foi projetada, simplesmente fomos notando que as coisas iam por esse caminho. Nos consideramos reativos, porque o mercado vem nos buscar", complementa Emanuel Neves, que ingressou na sociedade em 2018, mas também já trabalhava para a agência.
Embora a necessidade de pagar as contas fale mais alto, a verve jornalística jamais foi deixada de lado. Lacerda ressalta que o time fixo da República praticamente dobrou no decorrer dos anos, chegando aos atuais 15 colaboradores. Desses, quase todos são jornalistas ou estudantes de jornalismo (há uma pessoa na área de design).
"Muitas vezes as empresas se intitulam agências de conteúdo, mas o escopo envolve assessoria de imprensa, estratégia de comunicação, que não é o nosso caso. O termo agência de conteúdo dá margem para que quem nos busca imagine que a gente faça áudio, vídeo - que também é conteúdo, claro - mas a gente sempre procurou focar na produção textual. De uns tempos pra cá, passamos a atender social media porque alguns clientes tinham essa demanda, mas não queremos nos posicionar como uma agência de marketing digital, até porque já existem várias. Focamos na entrega de conteúdo, e um conteúdo de muita qualidade."
 

Fronteira mantém o foco no jornalismo

Ao contrário da maioria das agências, que oferecem uma gama de serviços cada vez mais variados para atrair novos clientes, a Fronteira prefere manter seu foco exclusivamente no conteúdo jornalístico. Criada em outubro de 2011 pelo casal de jornalistas Alexandre de Santi e Sílvia Lisboa, a empresa sempre trabalhou com a produção de textos, da publicação em grandes veículos, como Marie Claire, Folha de S.Paulo, G1 e Superinteressante, à edição de livros e e-books, passando pela produção de conteúdo para sites corporativos. “Não queríamos nos afastar do que era nossa prioridade, que é o jornalismo aprofundado, investigativo, que nos permite contar histórias interessantes”, explica Sílvia.
Nos últimos anos, a agência passou por algumas mudanças na gestão. De Santi, que também foi um dos fundadores da Cartola, deixou de atuar na Fronteira em 2019, quando o casal se mudou para o Rio de Janeiro. Lá, assumiu como editor do The Intercept Brasil, mas permaneceu como “sócio consultor”, sem se envolver no cotidiano da agência.
O Intercept, aliás, se tornou um dos principais clientes da Fronteira, que faz checagem e revisão para o site. Em Porto Alegre, a agência é responsável pelas reportagens do Grupo Matinal Jornalismo. Ou seja, trabalho não falta, o que Sílvia considera um reconhecimento aos esforços da equipe em entregar um conteúdo caprichado a seus clientes. “Nossas matérias geralmente são assinadas por várias pessoas: uma apura, outra redige e, quem não participa dessas etapas, ajuda na revisão. Só com esse trabalho coletivo é que podemos garantir a qualidade do material”, avalia.
Para dar conta da demanda, ela conta com dois sócios atuando na Capital: os jornalistas Maurício Brum, que já era colaborador de longa data da empresa, e Juan Ortiz, que começou na Fronteira como estagiário. No total, a equipe da agência é formada por seis pessoas. Brum, que ingressou na sociedade em 2017, demonstra otimismo. Ao mesmo tempo, considera o momento “desafiador”, por conta das mudanças, cada vez mais aceleradas. “Constantemente temos que nos atualizar sobre coisas com as quais nunca tínhamos trabalhado”, afirma. “Esse é um desafio constante, mas faz parte da profissão”.
Ele lembra que, por muito tempo, a Fronteira manteve uma parceria prolífica com as revistas da editora Abril e do grupo Globo, “algo que diminuiu porque as próprias revistas têm diminuído”. “É curioso, porque vem mudando o perfil do cliente que você pode ter: se, por um lado, perdemos um pouco as revistas, de outro, existe um potencial que não se sabe ainda até onde vai, com diferentes veículos online, fundações que bancam iniciativas na internet. Temos até projetos próprios, como o Giro Latino, com noticiário da América Latina. Então, de uma forma ou de outra, seguimos mantendo nosso foco no jornalismo. Ao longo de toda a existência da Fronteira, a gente nunca deixou de produzir conteúdo”, finaliza.

Referência nacional

Revista é produzida por mão de obra gaúcha

Revista é produzida por mão de obra gaúcha


reprodução
A revista Superinteressante é, provavelmente, o melhor exemplo de como as agências do Rio Grande do Sul se tornaram referência nesse segmento de mercado. Com reportagens sobre ciência, história e cultura, entre outros temas, a tradicional publicação da editora Abril é uma das pioneiras na terceirização de conteúdo, o qual já foi produzido por jornalistas da Cartola, da Fronteira e da República.
Em maio, a reportagem principal, sobre psicobióticos (medicamentos feitos com bactérias que prometem ajudar no tratamento da ansiedade e da depressão), teve como coautores Maurício Brum e Sílvia Lisboa, da Fronteira, que dividiram o trabalho com Bruno Garattoni, editor da revista. A próxima capa deve ser assinada pela República.
“Temos uma parceria bem longeva com a Superinteressante. A produção diminuiu um pouco porque não tem mais o Dossiê Super, que era uma coisa que pegava a revista inteira. É uma baita marca, que chancela o nosso trabalho”, diz Leonardo Pujol.
Para Marcelo Träsel, professor de Jornalismo e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Ufrgs, a procura pelo trabalho das agências gaúchas mostra a consolidação do Estado como referência nesse nicho. “Eu já me perguntei algumas vezes porque que deu tão certo esse mercado no Rio Grande do Sul. Em primeiro lugar, acho que pelo pioneirismo, que fez com que se criasse aqui uma mão de obra especializada: algumas pessoas que trabalhavam em uma agência acabaram abrindo a sua própria e isso foi se multiplicando”, afirma. “Além disso, há de se reconhecer a qualidade dos jornalistas formados no Estado. Ao observar o expediente de grandes jornais, como Folha, Globo e Estadão, sempre vemos o nome de grandes jornalistas que começaram a carreira por aqui.”

Pandemia foi ‘ponto de virada’ para as agências

Além de vitimar milhões de pessoas mundo afora, a pandemia de coronavírus provocou mudanças – algumas irreversíveis – no mercado de trabalho. Uma das consequências do isolamento social foi a aceleração do processo de migração para o mundo digital, que acabou beneficiando as agências de conteúdo.
“É complicado falar isso, porque foi um momento muito delicado, mas, sim, a pandemia foi um ponto de virada no nosso crescimento. Surgiram mais demandas, conseguimos nos adaptar bem à questão da distância. Nosso faturamento cresceu cerca de 50% de dois anos para cá”, revela Ricardo Lacerda, da agência República.
“As empresas se viram sem muita possibilidade de realizar suas atividades no formato presencial e foram buscar uma forma de se manter onde as pessoas estavam. E todo mundo estava na internet”, reflete Emanuel Neves.
Já Carlos Ferreira, da Padrinho, vê um aquecimento do mercado com o arrefecimento da pandemia. “Conseguimos crescer bem em relação ao ano passado. Pela última projeção que a gente fez, em agosto já conseguiremos superar o faturamento de 2021. Este é um ano de metamorfose, com sala nova, equipe maior. É um momento bastante positivo”, comemora.
Ele cita como exemplo bem-sucedido de transição para o online pensado durante esse período o portal Educação em Revista, que antes era uma publicação impressa do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe-RS). “Já fazíamos matérias para o Sinepe há uns quatro anos, depois passamos a editar a revista inteira. Com a pandemia, veio essa aceleração da digitalização e a ideia de fazer um site editorial, com matérias de fôlego, analíticas. Não é a simples transposição da revista em PDF, é um site, do zero, do layout à organização. É um trabalho que nos dá muito orgulho”, diz Ferreira.
Na Fronteira, o fato de a equipe já estar trabalhando a distância facilitou a adaptação aos tempos mais severos da pandemia. Tanto que a agência segue em home office.
“Como já estávamos divididos entre Rio e Porto Alegre, o impacto, nesse aspecto, foi um pouco menor. Não sentimos dificuldade de adaptação para o trabalho remoto”, ressalta Sílvia Lisboa.
Embora não goste de usar o termo “oportunidade” nessas circunstâncias, Maurício Brum considera que a experiência dos jornalistas em áreas que tiveram grande demanda no período crítico da pandemia favoreceu a agência. “Estávamos bem posicionados para produzir o tipo de conteúdo que o momento exigia, com muita coisa relacionada a saúde e ciência”, destaca.
Marlise Brenol, da Cartola, considera que o momento ajudou as empresas a perceberem a importância de se comunicar com mais eficácia com seu público. “A gente enxerga que tem esse papel, de facilitar essa relação. Não basta simplesmente publicar, tem que publicar com estratégia. Para ser encontrada, a empresa precisa usar técnicas de SEO, definir quais os canais por meio dos quais se comunica. Estamos num ponto de virada porque as grandes organizações, inclusive as jornalísticas, passaram por esse processo de autoanálise e nesse momento elas precisam se comunicar”, argumenta.

*Daniel Sanes é jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Já foi repórter e editor no Jornal do Comércio. Hoje, atua como freelancer.