Muita coisa, evidentemente, mudou de 1970 para cá. A lista nem precisa ser feita, pois envolveria uma infinidade de itens, mas um deles, que provavelmente passe despercebido, diz respeito ao consumo de meias. Principalmente em relação às meias-calças, o produto tinha tanto prestígio naquele ano que foi responsável pelo surgimento da Pé de Meia, em Porto Alegre, hoje com oito lojas e cuja constante adaptação aos novos costumes, expandindo a atuação para outros itens, conquistou e mantém o seu espaço no mercado.
No Rio de Janeiro, por exemplo, outra rede especializada em meias, a Casas Olga, tinha tanto fluxo que, em 1970, mantinha quase uma dezena de lojas apenas em Copacabana. Ao voltar de viagem à capital fluminense, Esther Gitz não teve dúvidas em criar, junto a outra sócia, Ieda Castiel, um negócio semelhante, dando origem à Pé de Meia, na esquina da rua Ramiro Barcelos com a avenida Independência.
"Essa meia-calça normal, que a mulher jovem praticamente já não usa mais, naquele tempo era moda, usavam o tempo todo. Só o fluxo de meia-calça já sustentava a loja", relembra Luiz Airton Gitz, filho de Esther, que logo entrou na sociedade, que vendia também meias de lã, masculinas e infantis, entre outros tipos. A procura era tanta que, em 1978, a pequena loja foi deixada para trás em substituição a outra três vezes maior, também na Independência, onde até hoje está localizada a matriz da rede.
A diminuição no uso da meia-calça, porém, acabou fazendo a loja buscar outros caminhos. Segundo Gitz, em 1970, eram 11 as grandes fábricas que forneciam as meias. Hoje, são três - ou quatro, se levarmos em conta também as meias masculinas. Para compensar, a Pé de Meia decidiu diversificar suas prateleiras com lingeries, depois pijamas, blusas sem costura e, desde 2014, biquínis e maiôs, que surgiram como aposta para o período de menores vendas, o verão. No inverno, a peça que a rede carrega no nome continua sendo o carro-chefe, ao lado das ceroulas.
A estratégia adotada em relação aos produtos, apostando na modernização e adaptação sem perder a essência tradicional da loja, é vista também em relação à expansão iniciada em meados dos anos 1980. As duas primeiras filiais, uma na rua 24 de Outubro e outra na avenida Protásio Alves, duraram pouco - embora lucrativas, diferentes obras municipais praticamente eliminaram o tráfego em suas imediações e tornaram inviável a manutenção de ambas.
Com o problema, as filiais foram transferidas para os shoppings Praia de Belas e Iguatemi, depois seguidas por novas lojas também em outros centros de compras, como o Rua da Praia, o Total, uma segunda unidade do Iguatemi e outra no Canoas Shopping, na Região Metropolitana. Ao mesmo tempo, outra unidade surgiu na Protásio Alves, mesclando, portanto, a atuação da rede, presente tanto em shoppings quanto no comércio de rua.
Com a situação, a rede atende, atualmente, dois públicos distintos. "Temos, por exemplo, a loja da Independência e a do Shopping Total, que são muito próximas, mas, mesmo assim, não coincide a clientela. Em uma, é um público muito tradicional, e na outa, uma clientela mais nova, aquela loucura de shopping", conta Gitz. Em virtude disso, os produtos disponíveis nas lojas são diferentes, adaptando os modelos ao público de cada estabelecimento.
Mesmo com a impessoalidade trazida pela pressa comum aos centros de compras, a Pé de Meia não perdeu a sua relação com os clientes que a frequentam há décadas, principalmente na loja de bairro. "Tem gente que vem aqui desde a inauguração da loja. Atendi ela, as filhas e agora estão trazendo as netas", conta o proprietário.
Além dos oito estabelecimentos atuais, a Pé de Meia também trabalha com a ideia de abrir novos pontos no futuro próximo. Os principais alvos são municípios da Região Metropolitana, como Novo Hamburgo e São Leopoldo. "Até gostaríamos de ir a cidades mais longes, mas aí não conseguiríamos fazer o controle das lojas", argumenta o proprietário da rede, Luiz Airton Gitz, que, junto aos seus três filhos, visita todas as unidades todos os dias.
Outra novidade é que, aos poucos, a loja localizada na Protásio Alves está sendo transformada em um outlet. "Aqueles saldos e pontas que não podemos vender nas outras lojas por não ter variedade de tamanhos, por exemplo, estamos colocando lá, e está dando resultado", afirma Gitz.
Para o longo prazo, a hipótese de tornar-se uma franqueadora não está descartada. Os primeiros passos da formatação até já estariam sendo realizados. "Mas é algo mais para a gurizada fazer, porque, com 65 anos, a gente já começa a baixar a bola", brinca o proprietário.