Muita coisa mudou no mercado de administração de imóveis, mas uma filosofia do fundador da Freire Imóveis, empresa que nasceu e cresceu no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, não muda. Ivo Freire, 81 anos, e que não quer nem ouvir falar de deixar de fazer o que mais gosta - vender imóveis -, ensina: "O melhor negócio é a seriedade. Você não ganha para o dia de hoje, mas para o de amanhã".
Os filhos, que já assumiram a operação fundada em 1978, seguem o conselho e o jeitão de administrar do patriarca à risca. E com convicção. "O pai sempre passou às pessoas confiança, um atributo muito forte neste ramo", reconhece a filha Manoela, advogada e diretora de condomínios. Outro diferencial é a relação com os clientes. O quinteto de gestores familiares que está no comando, cada um na área que mais se identifica, considera que a marca e o cartão de visita da imobiliária é justamente o atendimento.
"Por isso, as nossas salas ficam em frente à porta do elevador. O cliente chega e já nos enxerga. As pessoas querem ter essa proximidade", reforça o diretor Alexandre Freire. "Cliente antigo nem é anunciado. As pessoas entram, sentam, querem atenção", descreve Alexandre. Para os cinco irmãos - Alexandre, Manoela, Adriana e Daniela (as duas da área de contabilidade) e Adriano (corretor) -, as inovações em sistemas de gerenciamento interno e para dominar a aplicação da legislação, que é farta no setor imobiliário brasileiro, são obrigações, mas o atendimento é a permanência do negócio.
A imobiliária foi uma das pioneiras no bairro Menino Deus, com primeira sede na rua 17 de Junho, 423, em sala comercial. O fundador trocou a vida de empregado em uma fabricante de luminosos de publicidade pela de corretor. Deu tão certo que o capital de ativos imobiliários cresceu e sustentou a abertura da empresa para vender e locar unidades, entre casas e apartamentos e salas comerciais. Cerca de 50 imóveis faziam parte da carteira no começo. Nos anos seguintes, a expansão da carteira de imóveis, a atuação na administração de condomínios e a diversificação do mercado foram determinando mudanças.
Primeiro a Freire ampliou para uma segunda sala, no mesmo endereço da rua 17 de Junho. Depois, foi a vez da rua Miguel Teixeira, nos anos de 1990, abrigar a operação. Em meados de 2008, a sede atual com três andares e mil metros quadrados marcou a nova investida e com espaço para expansões de serviços.
Hoje, a Freire alcança 55 funcionários, atua com 15 corretores (a regra é trabalhar com grupo mais restrito) e soma 25 mil clientes e 2,5 mil imóveis (de aluguel). Um dos braços fortes é o de condomínios, que imprimiu avanços na operação (com mais investimento em tecnologias) e bastante jogo de cintura. "A imobiliária é uma mediadora. É o cachorro, é o barulho, é a festa", cita Manoela. Nessa área, a Freire incorporou facilidades para seus clientes, principalmente em condomínios com milhares de moradores, o que é cada vez mais comum.
Quando Ivo Freire, fundador da Imobiliária Freire, estreou na atividade, os negócios com imóveis tinham exclusividade (compra e venda). Agora, quase 100% dos interessados em adquirir ou alugar imóveis começa a busca pela internet, ficando para corretores e administradoras a tarefa de conquistar a venda. "Quem quer comprar ou locar já chega com quase tudo definido", observa o diretor da Freire Imóveis Alexandre Freire. Vale ainda mais a competência da equipe.
Outra mudança radical foi no sistema que gerava a cobrança. A entrega de boletos era feita porta à porta. "Nosso pai pegava o carro e entregávamos os boletos nas caixinhas de Correio.
Um dos clientes era o Jardim América, com 956 apartamentos!", recorda Alexandre, que datilografava as três vias de 15 mil cobranças. "Algumas cópias ficavam com erros, e muitos clientes reclamavam", lembra o hoje diretor.
Perfeccionista, o fundador tomou uma decisão, no começo dos anos de 1980, após ouvir o comentário de um dos clientes. Ele recorda como se tivesse sido hoje. "O síndico chegou e disse polidamente: 'Os recibos são uma maravilha na primeira via, mas na segunda e terceira está tudo borrado.'", conta.
Ivo diz que ficou muito chateado, pois não admitia falhas. "Saí e fui comprar um computador, desses grandões, que custava muito dinheiro, era o preço de um carro", compara Ivo.
Para rodar a máquina, foi preciso contratar um profissional para criar um sistema, e assim a Freire se tornaria, segundo os donos, a primeira imobiliária na Capital a se informatizar. "Foi uma mudança danada. Sou muito chato, se prometo entregar um contrato em duas horas para assinar, vou dar um jeito e nem que morra", garante o fundador. "A tecnologia ajudou muito."
Para os filhos, a solução que o pai rapidamente colocou em ação no episódio revela muito do empreendedor que ele era e é.
Além disso, a facilidade de comunicação e relacionamento imprimiu a marca ao negócio. "É assim até hoje. As pessoas se apaixonam por ele", declara a filha Manoela. O fundador, que considera a gestão atual mais organizada e profissional, não consegue ficar longe da empresa. Diariamente, por volta das 10h, Ivo pode ser visto na sede da Freire, na rua Mucio Teixeira, 129. A clientela agradece.