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empreendedorismo

- Publicada em 17 de Novembro de 2014 às 00:00

Música & Negócios S.A.


JONATHAN HECKLER/JC
Jornal do Comércio
No início dos anos 2000, o guitarrista gaúcho Solon Fishbone percebeu que poderia incrementar sua renda para além da realização de apresentações nos palcos e da venda de álbuns. Por meio da internet, passou a comercializar guitarras usadas de marcas de maior valor agregado. Em pouco tempo, como o negócio transcorria bem, colocou uma loja em Porto Alegre, que também oferecia serviços, como aulas e reparação e manutenção de instrumentos musicais. Nascia, assim, a Guitar Garage.
No início dos anos 2000, o guitarrista gaúcho Solon Fishbone percebeu que poderia incrementar sua renda para além da realização de apresentações nos palcos e da venda de álbuns. Por meio da internet, passou a comercializar guitarras usadas de marcas de maior valor agregado. Em pouco tempo, como o negócio transcorria bem, colocou uma loja em Porto Alegre, que também oferecia serviços, como aulas e reparação e manutenção de instrumentos musicais. Nascia, assim, a Guitar Garage.
“A loja me possibilitou não precisar tanto da carreira musical como meio de subsistência a partir do momento em que deu frutos e me trouxe uma estabilidade financeira maior. Comecei a ficar mais seletivo para aceitar convites para trabalhos musicais”, lembra Fishbone, proprietário da Guitar Garage. O músico reconhece que, nos primórdios, teve algumas dificuldades para assimilar as questões burocráticas envolvendo a abertura de uma empresa, mas aos poucos foi se adaptando com a guinada ao empreendedorismo.
Em coincidência com a queda das vendas da indústria fonográfica, artistas se dedicaram a explorar novos segmentos para faturar, seja com atividades relacionadas à própria música ou até o lançamento de produtos dos mais variados tipos. O professor da Ufrgs e pesquisador em Economia da Cultura Leandro Valiati ressalta que a adoção de ações inovadoras por parte de músicos e negócios vinculados à área são cada vez mais comuns. “O mercado da música mudou de paradigma. A venda de discos já quase não existe. Então, o licenciamento de produtos e o uso do nome do artista se tornou algo representativo”, analisa.
Nesse sentido, uma das modalidades mais comuns é a autorização de uso da marca para a fabricação de produtos. A presidente da Associação Brasileira de Licenciamento (Abral), Marici Ferreira, lembra que esse mercado ainda engatinha no País, mas tem boas perspectivas. “Esse não deixa de ser um mercado forte, mas ainda é pouco explorado no Brasil. No País, o setor de licenciamentos fatura em torno de R$ 12 bilhões ao ano, e 70% disso vêm de marcas infantis”, destaca. 
No exterior, algumas bandas investem pesado em iniciativas desse tipo. O Kiss, por exemplo, possui desde produtos comuns a diversos artistas, como camisetas e pôsteres, até artigos inusitados, como cartões de crédito, caixões e preservativos com sua logomarca. No Brasil, segundo Marici, ainda é difícil calcular o impacto do meio musical nos licenciamentos. A estimativa da Abral é de que 10% da arrecadação do segmento, ou R$ 1,2 bilhão, vêm de artigos ligados a artistas e personalidades de diferentes vertentes, incluindo a música.
Em muitos casos, a veia empreendedora de um artista se faz presente até para sustentar a atividade musical. A internet se tornou ferramenta importante para vender música e também para financiar álbuns e shows. “Antigamente, eu levava os discos pessoalmente nas lojas para vendê-los. Hoje em dia, a maioria esmagadora das vendas acontece através da internet e os estrangeiros são quem mais compram”, diz o cantor Wander Wildner, que possui uma série de perfis em redes sociais destinadas à comercialização de músicas.
No entanto, alguns tentam voos mais altos por meio do crowdfunding (financiamento coletivo). A banda de hard rock Queensrÿche se inspirou na bolsa de valores e está realizando uma “oferta pública de ações”, com cotas a partir de US$ 50 mil. Apenas investidores certificados para operar nos Estados Unidos podem participar da iniciativa. Como contrapartida, o grupo promete fornecer “dividendos” da Queensrÿche Holdings, nome da empresa criada especificamente para a ação, por meio da arrecadação dos cachês dos shows e da venda de produtos.

Cerveja artesanal cai no gosto dos artistas

Wander Wildner criou a Labareda em 2012. JONATHAN HECKLER/JC
Na esteira da popularização das cervejas artesanais no Brasil, diversos artistas passaram a licenciar suas marcas para a produção da bebida. Sepultura, Ratos de Porão, Nenhum de Nós e Raimundos são alguns dos nomes que vêm apostando nesse nicho. Um dos rótulos pioneiros nesse movimento, no entanto, é gaúcho e nasceu de uma parceria de longa data. Trata-se da Labareda, cerveja criada, em 2012, pelo cantor Wander Wildner e a Cervejaria Coruja.
O gosto de Wander pelas cervejas artesanais surgiu no início dos anos 2000, quando os Replicantes, sua antiga banda, fizeram uma turnê pela Europa. Lá, descobriu diversos rótulos feitos por pequenas cervejarias. Anos depois, quando foi morar em Lajeado, ele comprou os equipamentos necessários para fabricar a própria bebida e começou a fazer experimentações. Nessa época, o músico já era amigo dos proprietários da Coruja. Mais um tempo passou e a empresa resolveu fazer uma linha de produtos ligados à cultura, chamada “fora de série”, e convidou Wander para participar da criação de um dos rótulos. “A ideia era fazer uma cerveja que tivesse a ver comigo e que tivesse a ver com rock”, explica o cantor.
Para ganhar contornos de rock n’ roll, a cerveja tem como um de seus ingredientes a pimenta. Ao contrário do modelo tradicional de licenciamento de marca, Wander e Coruja fecharam uma parceria. No início, o músico era pago em cerveja, podendo comercializar sua parte. “Eu vendia pelo meu site. Até que um dia, um cara encomendou 12 garrafas, eu embalei tudo direitinho, cheguei à agência dos Correios e uma garrafa quebrou”, recorda o músico. Desde então, ele preferiu receber em dinheiro a sua parte correspondente às vendas do produto. Os valores são mantidos em sigilo em um contrato entre as partes.
A aceitação junto ao público motivou a Coruja a tornar a linha permanente. “A Labareda sempre vendeu bem. Resolvemos colocar em linha porque a procura tem sido contínua”, destaca Rafael Rodrigues, sócio-diretor da cervejaria. O produto é fabricado trimestralmente, sendo engarrafados 2,5 mil litros por vez. A produção é realizada em uma cervejaria localizada em Santa Catarina e, de lá, é distribuída para todos os estados do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. A expansão da confecção das cervejas “fora de série” está nos planos da Coruja. Atualmente, a linha representa menos de 10% do faturamento da empresa. A perspectiva é de aumentar esse percentual a partir de 2015.

Empresas buscam se associar a artistas

O potencial de faturamento a ser obtido por meio de uma ação envolvendo o nome de um artista tem feito com que empresas de diferentes ramos busquem parcerias com o meio musical. Um dos segmentos que mais explora esse nicho é o de turismo, principalmente os cruzeiros musicais. Consolidada no exterior, a iniciativa passou a ganhar força no Brasil nos últimos anos.
Atualmente, o fretamento de navios para viagens marítimas embaladas por shows representa 5% do faturamento da MSC Cruzeiros, um dos principais players do setor. “Esse tipo de pacote sempre tem uma procura diferenciada, em função da afinidade do fã com o cantor”, comenta o diretor comercial da empresa, Adrian Ursilli. Nos últimos anos, a companhia já alugou navios para eventos com Roberto Carlos, Roupa Nova, Luan Santana, Zezé di Camargo e Luciano, entre outros.
Outras iniciativas envolvendo empresas e artistas podem parecer inusitadas à primeira vista. É o caso da fabricante de condimentos De Cabrón. A marca de Santa Cruz do Rio Pardo, no interior de São Paulo, fechou acordo com o baterista Marky Ramone para fabricar um molho de bacon com o nome do músico e distribuí-lo em todo o País. O produto foi lançado em setembro e já está sendo vendido em oito estados, incluindo o Rio Grande do Sul.
O diretor de marketing da De Cabrón, Leo Spigariol, ressalta que o molho de Marky Ramone pode fazer com que a companhia alcance voos mais altos. “Esse projeto veio para nos ajudar a abrir as portas para o mundo. Estamos adequando a fábrica para absorver um aumento de volume de produção, com o objetivo de exportar esse molho”, projeta. A expectativa é começar a vender o item com nome do ex-baterista dos Ramones no exterior a partir do primeiro trimestre de 2015. A parceria envolve o pagamento de royalties ao músico pelo uso de sua marca.

Marky Ramone investe em gastronomia e aposta no food truck e na linha de molhos

Ex-baterista  dos Ramones decidiu explorar o ramo da gastronomia. FACEBOOK/REPRODUÇÃO/JC
Ex-baterista dos Ramones, lendária banda de punk rock existente entre os anos 1970 e 1990, Marc Bell, ou Marky Ramone, também é empresário. De tanto fazer turnês ao redor do mundo, apaixonou-se pela gastronomia e resolveu montar o próprio negócio na área. Quem vai a Nova Iorque pode degustar as almôndegas e outras iguarias do Marky Ramone’s Cruisin’ Kitchen, um food truck (restaurante itinerante) fruto de uma parceria com o chef de cozinha Keith Album.
Além de ser sócio do food truck, o músico possui uma linha de molhos nos Estados Unidos e outra recém-lançada no Brasil. Em meio a uma turnê na América do Sul com sua banda atual, a Marky Ramone’s Blitzkrieg, o baterista concedeu entrevista, por e-mail, ao JC Empresas & Negócios.
JC Empresas & Negócios - O que lhe motivou a se tornar um empreendedor?
Marky Ramone – Eu gosto de desafios e gosto de me envolver com outras coisas além da música. Eu não bebo, mas gosto de gastronomia e sempre procuro visitar os melhores restaurantes no mundo. Eu sou amigo de grandes chefs de cozinha, incluindo o Henrique Fogazza, em São Paulo. Eu adoro o restaurante dele e outro bar chamado Admiral’s, que ele possui junto com o meu empresário Matthias (Prill). Um dia eu comecei a pensar em realizar negócios no Brasil também, mas eles não me deixaram ser sócio do bar (risos). De qualquer maneira, como amo gastronomia, fico feliz em ter um food truck, um molho para massas nos Estados Unidos e agora um molho apimentado no Brasil.
Empresas & Negócios - A sua experiência como músico lhe trouxe algum aprendizado na hora de virar investidor?
Marky – Como um músico que leva seu ofício a sério, você aprende como administrar sua própria carreira, seu próprio dinheiro e seu próprio destino. Várias pessoas que estão empregadas em uma empresa e que, posteriormente, tentam trabalhar por conta própria falham por não estarem acostumadas às pressões de ser um empreendedor.
Empresas & Negócios - Um dos lemas do punk rock é o “faça você mesmo”. Para ser empresário é necessário ter esse espírito também?
Marky – Sim. Ser um empresário requer muita disciplina e autocontrole, especialmente quando você é jovem e/ou se você, de alguma maneira, está envolvido no show business ou na vida noturna. Há muitas tentações lá fora que podem fazer o seu negócio afundar muito rápido.
Empresas & Negócios - Como conciliar a carreira musical com a de empresário?
Marky - Com a internet fica fácil tomar conta das coisas, enquanto se está fora. Meu empresário na América do Sul e outras pessoas nos Estados Unidos também me ajudam.
Empresas & Negócios - Que conselhos dar a quem quer se tornar um empreendedor?
Marky – Esteja preparado para trabalhar muito, para ganhar e também perder dinheiro. Esteja preparado para gastar mais tempo trabalhando do que em um trabalho “normal”, acredite no seu projeto e não se afaste desse caminho caindo em tentações.
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