O prédio que exibe a numeração 341 no coração da avenida Voluntários da Pátria, no Centro, guarda uma parcela significativa da história e do desenvolvimento do comércio na capital gaúcha. Escolhida em razão da localização privilegiada, para aproveitar a proximidade dos desembarques de produtos que chegavam a Porto Alegre pelo Cais Mauá, a edificação que ainda abriga o Empório de Sedas atravessou planos econômicos, conjunturas políticas e readequações de estratégias por mais de sete décadas.
Hoje, a empresa é a única remanescente de uma geração de atacados que se instalou na região. Com o passar dos anos, o Empório, que nasceu com foco na venda de tecidos nobres, passou a diversificar a oferta. O ramo de atuação também migrou, naturalmente, do atacado para o varejo, acompanhando as mudanças que transformavam o bairro do Centro em um grande comércio de vestuário, nos meados da década de 1950.
Firme nos objetivos que nortearam a administração iniciada pelo avô e fundador, Lídio Belmiro Nunes, desde 1943, a terceira geração da família assumiu as rédeas de um negócio que encontra na tradição um de seus principais aliados competitivos. Daniel Nunes, aos 18 anos, puxou a fila ao demonstrar interesse na loja e trocar a faculdade de Economia pela de Administração. A partir de 2004, após concluir o Ensino Superior, neto e avô passaram a trocar experiências de gestão, em uma convivência diária que ainda deixa saudades. “Tive o privilégio de ter trabalhado com o meu avô por quase 15 anos. Isso não tem preço”, comenta Daniel.
Mais tarde, em 2010, já graduado em Direto, Artur Nunes se juntou ao irmão mais velho à frente do Empório de Sedas. Lídio, falecido em 2010, aos 93 anos, trabalhou até os seus últimos dias no empreendimento que conserva vivos alguns de seus principais ensinamentos. “Produto caro é aquele que não vende”, costumava afirmar o avô, sempre que precisava tomar decisões a respeito de alguma reformulação no mix de produtos. A frase resume um dos pontos mais críticos de um negócio que vendeu cerca de 560 mil metros de tecidos em 2013.
Independentemente de ser um pano de fraldas, de R$ 2,00, ou uma textura, de R$ 2 mil – algumas rendas francesas chegam a custar R$ 2 mil, o metro - os ativos armazenados contam com três mil itens. Cada um dos artigos possui cerca de 10 opções de cores e estampas, o que eleva o número de peças para algo próximo de 30 mil. A referência leva em consideração a quantia regular necessária para atender a uma demanda projetada em 12 meses. Para que se chegue a uma noção exata da importância do controle de estoques, o volume comercializado, em apenas um ano, equivale a 560 quilômetros de material. A medida seria suficiente para forrar, com sobras, o trajeto que separa Porto Alegre de Florianópolis, em Santa Catarina, por exemplo.
“Sempre mantivemos a tradição da pronta-entrega. Atravessamos todos os ciclos econômicos, ao contrário de algumas concorrentes, porque nunca permitimos que o negócio fosse desabastecido. Ou seja, o reinvestimento é algo constante e o principal responsável pela manutenção da saúde financeira em um negócio deste porte”, sintetiza Daniel.
Para dar conta das novas exigências de mercado, Artur e Daniel tiveram de ampliar a qualidade dos materiais e promover o equilíbrio entre as estratégias de comércio. Seja nas linhas para vestuário, decoração ou de cama mesa e banho, a divisão entre as vendas de varejo e atacado forma, atualmente, um balanço simétrico de 50%. Entre os produtos, não há um carro-chefe. No entanto, o segmento de festas, seguido pelas linhas destinadas às confecções de moda, algodões para decoração, lençóis e patchwork, costumam puxar a maior parte da procura.
Atenção às mudanças abre os caminhos para o centenário
O Empório de Sedas caminha agora para as comemorações do primeiro centenário. “Todas as nossas decisões levam em conta o histórico. Queremos dar continuidade e não fazer rupturas. Nosso pensamento é sempre de longo prazo. Hoje, aos 71 anos de Empório, a nossa principal meta é comemorar os 100 anos da empresa”, revelam os irmãos Artur e Daniel Nunes.
Segundo os jovens administradores, no Empório de Sedas “não mudar, significa evoluir”. É claro que, no ambiente atual, marcado por instabilidades econômicas e tributárias, a atenção redobrada sobre os mais variados aspectos da gestão se torna essencial. Atualizada às 13h30 do dia 2 de setembro.
Sob o comando dos irmãos, a empresa cresceu. Hoje, conta com mais de 30 funcionários. Juntos, os dois tomaram decisões que envolveram mudanças radicais no rumo do negócio e conduziram a empresa pelos novos segmentos de mercado. Ao identificar um olhar conservador nas análises de longo prazo, Artur e Daniel afirmam que existem alterações estruturais necessárias, mas a ótica impede o emprego de grandes invenções financeiras. O trabalho prioriza, sempre, a minimização dos riscos de operação. “Há planos. Entretanto, a preocupação prioritária é manter a saúde financeira de uma empresa deste porte. Isso não significa que não estejamos atentos a novas oportunidades”, resume Artur.