Quem entra pelo corredor de sacos de cimento estocados na entrada da Ferragem Adelino e se depara com os milhares de ferramentas e materiais de construção da pequena loja não imagina que o lugar já foi uma fruteira. O estabelecimento, presente há 40 anos no bairro Menino Deus, leva o nome de seu fundador: Adelino de Almeida Pereira, um senhor de 66 anos que atende os consumidores pelo nome e é conhecido pela simpatia. “Eu vim para esse bairro na época dos bondes, é onde me sinto bem até hoje”, conta rapidamente, entre um atendimento e outro. Com a experiência de vendedor, ele resume em três palavras o segredo da longevidade da loja: persistência, trabalho e família.
Ter o próprio negócio era o sonho de Adelino e da esposa, Teresa, desde que trabalhavam como vendedores. No início da década de 1970, eles alugaram o prédio e compraram o ponto, que começou como armazém e fruteira. Depois de um tempo, o dono anunciou que iria vender a propriedade. Adelino, então, resolveu comprar o terreno para não perder o estabelecimento. Com três prestações mensais e dívidas para pagar, ele precisou ter persistência para fazer o trabalho prosperar.
Como não havia muitas opções de mercados e armazéns no bairro, as pessoas o procuravam em busca de produtos variados. Se Adelino ainda não tivesse o produto para vender, conseguia no dia seguinte para o freguês. “Esse é o grande mérito e a grande conquista que nós temos hoje. Os clientes sabem que aqui vendemos produtos diversos e difíceis de serem encontrados em uma ferragem normal”, garante Rodrigo, filho de Adelino, que no ano passado se tornou um dos sócios da empresa ao lado do pai e do irmão, Rogério.
A mudança de armazém para ferragem ocorreu naturalmente, com a diversificação dos artigos ofertados. Hoje, a loja oferece desde materiais básicos até os mais difíceis de serem encontrados, como a verruma – espécie de parafuso para cortar madeira – e o furador de couro. O sistema de atendimento personalizado continua ainda hoje. “Se a pessoa quer comprar uma peça de conexão para água que não vende em lugar nenhum por não ter muita demanda, por exemplo, nós vamos atrás do produto especificamente para aquele cliente”, ressalta Rodrigo. Além disso, a empresa presta serviços como pintura e instalação elétrica e hidráulica.
Nas quatro décadas de história, Adelino ganhou consumidores fiéis, que conquistou pela divulgação boca a boca, já que nunca fez nenhum tipo de publicidade. “Temos clientes de 30, 40 anos e também pessoas de longe, que vêm de Viamão, de Gravataí, até de outras cidades”, diz. Rodrigo calcula que metade da clientela seja de fora do bairro. Apesar disso, o ambiente é parecido com o de um município do interior do Estado, em que todos se conhecem pelo nome. “Nós temos um caderninho de compras, que hoje está informatizado, mas ajudou na fidelização ao longo dos anos. Uma vez, um freguês quis levar um produto para testar e eu, como setorista financeiro, tentei barrar, mas ele respondeu que conhecia meu pai desde antes de eu nascer”, conta Rodrigo.
Adelino costumava trabalhar todos os dias da semana das sete horas da manhã às nove da noite, inclusive aos domingos, sem fechar ao meio-dia. Depois que os filhos se tornaram sócios no ano passado, ele pôde tirar férias, o que não fazia há anos. “Meu pai batalhou muito para construir e manter a ferragem viva. Esse esforço lhe tirou noites de sono e horas longe da família”, relata Rodrigo. Além de permitir um descanso, a entrada dos filhos no negócio é uma forma de dar continuidade à empresa e unir a família. Formado em Administração, o filho mais novo já havia tentado uma parceria com o pai quando ainda estava na faculdade. “Eu estava cheio de ideias e teorias e tinha muita vontade de colocá-las em prática. Mas não deu muito certo, não tínhamos os mesmos objetivos.”
Em 2013, eles resolveram tentar novamente a sociedade, aliando a experiência de Adelino ao conhecimento de Rodrigo. Dessa vez, contaram com a ajuda do primogênito Rogério, que já trabalhava com serviços elétricos e hidráulicos de forma independente. O objetivo principal continua sendo o bem-estar do pai, mas Rodrigo têm planos de modernizar e ampliar a ferragem, sem perder o DNA da empresa. O próximo passo é informatizar a loja e investir na divulgação online.