A paixão por pedalar faz parte da vida do empresário Léo Maraschin desde o final da década de 1950, mas foi em 1964 que, aos 18 anos, ele começou a trabalhar com bicicletas – na época, ajudando o negócio da família. Em 1993, após um período experimentando outros ofícios, Maraschin decidiu empreender naquilo que mais lhe dá prazer: vender bike (como é carinhosamente chamada a também conhecida – entre os amantes do esporte – como “magrela”). Para isso, abriu mão de um apartamento e injetou R$ 30 mil (na época) no ponto localizado na avenida Bento Gonçalves, onde até hoje a empresa funciona, já com o dobro de espaço original e tendo multiplicado muitas vezes os itens de estoque: atualmente 2,5 mil.
“Sempre gostei muito de bicicleta. Abri a loja quase que numa brincadeira, e, no fim, deu certo”, comenta Maraschin, destacando que gosta do contato com o público de crianças e adolescentes. “Mesmo os mais velhos têm espírito jovem, são alegres, com uma leveza e uma energia boa”, ilustra. No estabelecimento de 200 m2 funcionam a loja, uma oficina de manutenção, montagem e assistência técnica pós-venda, e o estoque. “No início, eram cerca de 500 itens”, compara o empresário. Hoje, o acervo de produtos ocupa um mezanino construído há alguns anos e parte da loja, onde também estão expostos 130 modelos de bicicletas montadas. “É muita miudeza. É difícil alguma coisa de peça ou acessório que não se encontre aqui”, garante Maraschin.
Referência em equipamentos para o ciclismo, a loja foi ampliada dez anos atrás e hoje fornece peças para bicicletarias e pequenas oficinas. Ali é possível encontrar bikes para todas as idades, a partir dos três anos. Os valores variam de acordo com o modelo e marca, e tudo que o equipamento oferece: custam a partir de R$ 299,00 (bicicleta infantil) até R$ 10 mil (no caso de bicicletas para trilhas, com pneus, quadros e amortecedores mais reforçados). “Mas as montadas no exterior, são, sem dúvida, as mais caras, por causa da taxa de importação”, explica Maraschin. Ele comemora a “onda” de ciclistas à procura de melhor mobilidade, que tem influenciado nos negócios. “Deu um incremento em torno de 10% na venda de bikes, e aumentou o fluxo de busca por peças e manutenção”, detalha. “Neste Natal, a bicicleta foi o segundo presente mais pedido pela crianças, depois do tablets.”
O empresário se emociona com o fato de que a tradição da loja anda de mãos dadas com a fidelidade da clientela. “O atendimento e a variedade de peças é o segredo do sucesso da Maraschin Cia das Bikes. Hoje, estamos vendendo já para os netos dos nossos clientes, que conheceram a loja quando crianças.” Afirmando estar satisfeito e feliz, Maraschin admite que não tem grandes ambições em termos de expansão do negócio. Não pensa em abrir uma filial, prefere aumentar o estoque e seguir reformando o espaço atual. “Mas, em breve, devemos iniciar vendas on-line, aí é praticamente como abrir uma nova empresa, com gerenciamento, equipe e estrutura diferentes”, afirma sobre a futura loja virtual. Segundo Maraschin, o projeto está no papel, em fase de estudos. A cautela está vinculada à preocupação de manter o padrão do atendimento da loja física.
Com seis funcionários, Léo Maraschin ainda conta com a ajuda de um dos dois filhos, Vinícius, que atualmente é gerente da Cia das Bikes. “Todos funcionários amam bicicleta, já chegam conhecendo, e, aos poucos, aprimoram o vocabulário das peças e se qualificam como profissionais”, elogia o empresário. No início, a loja tinha 100 m2 e Maraschin tinha apenas com dois vendedores. O estabelecimento comercializava mais eram bicicletas montadas, e bem mais simples do que as atuais. “Hoje sofisticou um pouco mais, as bikes mudaram, se multiplicaram modelos e marcas, ficaram todas mais modernas. Mas o carro chefe sempre foi a marca Caloi”, aponta o proprietário da loja, destacando que, quando o mercado brasileiro abriu para os produtos importados, aumentou a quantidade de peças e acessórios nas prateleiras.
De dentro da loja, o empresário recorda do tempo em que não havia corredor de ônibus na Bento Gonçalves: “Vinha uma gurizada lá das ruas de baixo, que atravessava uns areiões, sempre fervendo”, recorda. Era uma época em que os carros eram raros na avenida. “Hoje em dia está tudo muito veloz, o pessoal está sempre com pressa, antigamente vinha gente de tudo que era lado da cidade, com tempo. A vida era mais tranquila, a equipe concertava as bicicletas com as crianças na roda.”
Mas não foi só a modernidade que mudou nesses anos. Maraschin afirma que passou por muitos períodos difíceis, e enfrentou turbulências, como os comerciantes em geral. “Lembro da URV (Unidade Real de Valor, moeda provisória que deu origem ao real), que embaralhou o dinheiro, e do dólar a R$ 4,30; sem contar a fase da inflação disparada, de quando fecharam bancos, e da época do Plano Collor, que nos levou a poupança.” Tudo isso foi superado, com administração bem controlada. “Houve muita luta para nos mantermos. Investimentos extras, para segurar o negócio. Passamos pelas crises dos governos, como todo o comércio e estamos aí, sempre com foco no público que tem na bicicleta sua paixão, estilo de vida ou simplesmente um instrumento de transporte.”