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CONJUNTURA

- Publicada em 06 de Janeiro de 2014 às 00:00

Cenário desafiador para 2014


STOCKPHOTO/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
Depois de o Produto Interno Bruto (PIB) avançar apenas 2,3% este ano, como preveem a maioria dos analistas, no ano que vem a taxa deve ser ainda menor, perto de 2%. A inflação, que este ano deve ficar pouco acima de 5,7%, em 2014 pode ir a 6%. A avaliação é de que 2014 será de ajustes na economia, com a manutenção da taxa de juros elevada para conter a inflação. Ao mesmo tempo, um dólar mais valorizado deve ajudar a balança comercial e, em consequência, reduzir o déficit nas trocas do País com o exterior, a chamada conta-corrente.
Depois de o Produto Interno Bruto (PIB) avançar apenas 2,3% este ano, como preveem a maioria dos analistas, no ano que vem a taxa deve ser ainda menor, perto de 2%. A inflação, que este ano deve ficar pouco acima de 5,7%, em 2014 pode ir a 6%. A avaliação é de que 2014 será de ajustes na economia, com a manutenção da taxa de juros elevada para conter a inflação. Ao mesmo tempo, um dólar mais valorizado deve ajudar a balança comercial e, em consequência, reduzir o déficit nas trocas do País com o exterior, a chamada conta-corrente.
No horizonte, ainda paira algum risco do cenário chamado pelo ex-ministro Delfim Netto de “tempestade perfeita”, que combinaria um aperto na política monetária norte-americana com deterioração da situação fiscal do Brasil e redução da nota de crédito brasileira. “O Brasil tem restrições de crescimento de duas ordens: de maneira mais imediata, há a inflação e um ciclo de taxa de juros que ainda está por concluir, a elevação do risco país e as incertezas nas políticas econômica e fiscal. Mas há também a restrição colocada pela falta de competitividade da indústria e um crescimento potencial do PIB menor do que há alguns anos”, afirma o pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ Caio Prates.
O Banco Central (BC) começou a elevar a taxa básica de juros Selic em abril, para conter as pressões inflacionárias, e hoje a Selic está em 10% ao ano. Os analistas preveem que os juros chegarão ao fim de 2014 em 10,5% ou 11%. Para o economista-chefe do Santander, Maurício Molan, o cenário de 2014 será afetado pela piora na percepção sobre a saúde fiscal e a limitação da capacidade de produção do País. “A consequência disso é que precisamos de um freio para arrumar a casa e voltar a crescer de forma mais acelerada. É preciso reforçar a estrutura dos pilares, recuperar a credibilidade fiscal e ajustar a política monetária para reduzir a inflação. E isso vai significar um crescimento menor”, diz Molan, que estima expansão de 1,7% do PIB no próximo ano.
O horizonte de 2014 vai depender então, segundo Caio Prates, da UFRJ, da capacidade de o governo reverter a desconfiança, principalmente em relação à política fiscal, e de controlar a inflação, que deve sofrer a pressão de um dólar mais apreciado. “Um bom controle da inflação e bons sinais da política fiscal, mesmo tratando-se de ano eleitoral, podem permitir que se mantenha em 2014 uma taxa de crescimento da economia em 2,4%, que é a mesma que esperamos para 2013. Esses são os pressupostos para essa expansão.”
Nos 12 meses até novembro, o setor público consolidado acumulou superávit fiscal primário (economia para pagamento dos juros da dívida pública) de 2,17% do PIB. O resultado, no entanto, teve forte influência de receitas extras, como o programa de parcelamentos de dívidas tributárias (Refis) e o leilão de concessão de Libra. Para 2014, as estimativas são de um esforço fiscal menor. A projeção do Ibre/FGV é de 1% do PIB, considerando o superávit efetivo, ou seja, sem descontos ou ajustes.
O principal trunfo para a economia em 2014, segundo o pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ, virá dos investimentos em infraestrutura, e isso não apenas por causa das novas privatizações. No cenário projetado pela economista Silvia Matos, coordenadora-técnica do Boletim Macro Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), todos os setores da economia devem mostrar desaceleração em 2014. “Pela ótica da demanda, temos desaceleração de todos os componentes, com destaque para um consumo das famílias crescendo menos. E o investimento ainda terá expansão, mas aquém do valor de 2013.”
O risco de uma “tempestade perfeita” existe, admite Caio Prates, mas depende da situação fiscal. Com uma melhoria nessa área, é possível evitar o pior cenário. “Se o governo insistir com estímulos fiscais, vai colher alta do risco Brasil e menos crescimento. É uma situação paradoxal, em que estímulos fiscais vão significar menos crescimento.”

Expectativas dependem do que se desenha para a econômia mundial

Mas há quem veja um excesso de pessimismo nas projeções para 2014, como o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Para ele, a economia brasileira vai manter seu ritmo de crescimento em 2014, com uma expansão de 2,5%. A melhoria no cenário da economia internacional, que deve puxar as exportações, é a principal justificativa para tal previsão. “Os ventos da economia internacional, que foram contrários nos últimos três anos, devem voltar a ser favoráveis. Os efeitos prejudiciais do fim dos estímulos dos Estados Unidos já estão ocorrendo e o Brasil já está sofrendo o impacto de uma possível mudança no rating”, alega Borges.
Em 6 de junho, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) colocou a nota do crédito do Brasil em perspectiva negativa, o que é o primeiro passo para um corte. O cenário traçado por analistas inclui um crescimento maior da economia mundial, embora em ritmo moderado — pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a expansão global deve acelerar de 2,9% em 2013 para 3,6% em 2014 — e a continuidade da apreciação do dólar. O Boletim Focus estima que a taxa de câmbio deve encerrar 2014 em R$ 2,45. A combinação deve significar um saldo maior na balança comercial, de US$ 7,85 bilhões, embora ainda em patamar baixo, e um déficit ligeiramente menor em transações correntes, de US$ 71,30 bilhões.
“O câmbio mais valorizado deve ajudar a segurar um pouco o déficit em transações correntes e ajustar as importações. Ao mesmo tempo, o Brasil pode conseguir exportar um pouco mais, mas o cenário é desafiador, porque a competição está grande entre os produtos manufaturados”, defende Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Sua avaliação é de que haverá alguma melhora no déficit em transações correntes em 2014, mas um ajuste mais forte só é esperado para 2015. A projeção do Ibre é de déficit em transações correntes de US$ 74 bilhões em 2014, ou 3,4% do PIB.

Mercado de trabalho terá novos indicadores

Se em 2013 o mercado de trabalho brasileiro foi de difícil compreensão para os analistas — apesar do freio na economia, a taxa de desemprego baixou a nível recorde e ficou em só 4,6% em novembro — o ano de 2014 trará novos indicadores para o setor. A partir de janeiro, serão divulgados pelo IBGE, a cada trimestre, os dados de uma nova pesquisa, chamada de Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua, que engloba todo o País.
Hoje, o mercado de trabalho é avaliado principalmente sob a ótica da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), que abrange apenas as seis maiores regiões metropolitanas do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre). Nos primeiros meses da nova Pnad, porém, a atual pesquisa de emprego continuará a ser realizada. Ou seja, os dois levantamentos vão coexistir até dezembro de 2014. “A PME cobre só 30% da população que trabalha. E há um setor importante, o agropecuário, que reúne 15% dos trabalhadores, que está praticamente ausente da PME. Será muito vantajoso ter os dados do emprego nacional em vez do metropolitano”, afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
Atualmente, o levantamento do Ministério do Trabalho no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) traz dados de todo o País. Entretanto, o Caged traz informações apenas de vagas formais, com carteira de trabalho assinada. A PME, do IBGE, investiga também o trabalho por conta própria ou sem carteira assinada. Mas apenas nas metrópoles.
A nova Pnad contínua terá dados nacionais tanto do emprego formal quanto do informal. Ela vai substituir a Pnad tradicional, cuja coleta é feita todos os anos a partir de setembro, por um período de três meses, e traz dados anuais. A nova pesquisa também terá uma maior cobertura territorial: a Pnad contínua será feita em 3.464 municípios brasileiros e em 15.756 setores.

Previsões para 2013 não se concretizaram

A “bola de cristal” dos economistas saiu arranhada em 2013. O ano chega ao fim com indicadores bem diferentes dos previstos em dezembro de 2012. A maior surpresa, ou decepção, veio de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) bem abaixo do estimado. O ano deve fechar com um PIB de 2,3%, inferior ao crescimento de 3,3% que se imaginava no início de 2013. As exportações também decepcionaram. A balança comercial deve terminar o ano com saldo de só US$ 1,18 bilhão, contra US$ 15,22 bilhões previstos antes. Isso mesmo com uma alta não prevista do dólar a partir de maio.
O crescimento econômico baixo de 2013 veio depois de uma alta de só 1% do PIB em 2012. “De 2011 para cá, o crescimento do Brasil e do mundo têm frustrado as expectativas. No Brasil, apesar de o ritmo ter acelerado em 2013, frente a 2012, ainda é um crescimento baixo”, afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
Ele lembra que, enquanto os investimentos surpreenderam positivamente em 2013 — a projeção inicial da LCA era de uma expansão entre 4% e 4,5%, e agora é de 7% —, o consumo das famílias cresceu a um ritmo de 2,3%, inferior ao estimado inicialmente, de 4%.
Na avaliação da economista Silvia Matos, coordenadora-técnica do Boletim Macro Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o crescimento mais fraco da indústria, que não deslanchou mesmo com os incentivos do governo, ajuda a explicar a diferença entre o que ela projetava para 2013 e o que vê agora. “Todos os setores se recuperaram, mas foi muito pouco. Por mais que o governo tenha tentado ajudar, com desonerações e incentivos como o PSI (Programa de Sustentação do Investimento, do Bndes), a recuperação da indústria foi pequena. O que corrobora a avaliação de que há problemas estruturais que dificultam o crescimento da indústria.”
A avaliação é compartilhada pelo economista-chefe do Santander, Maurício Molan, para quem a falta de competitividade tem restringido a economia brasileira. “Não se consegue expandir a capacidade produtiva: falta mão de obra disponível e há um crescimento muito lento da produtividade. Quando se cresce o consumo, como ocorreu com as medidas de incentivo do governo, em vez de produzir mais, o país importa mais”, argumenta Molan.
Se o ritmo de crescimento da economia foi menor do que o projetado, no caso da taxa básica de juros Selic o que se viu foi o contrário: a taxa fecha 2013 em 10%, após um aperto monetário iniciado em maio. A expectativa de analistas era de que mantivesse os 7,25% com que encerrou 2012. O movimento tem relação com o dólar, que se valorizou e pressionou ainda mais a inflação.

Superávit comercial é o menor desde o ano 2000

Nunca se importou tanto no Brasil. No ano passado, segundo dados oficiais, a balança comercial registrou US$ 239,6 bilhões em importações, o maior valor desde que o governo começou a compilar esses dados, em 1993. Este resultado ajuda a explicar a notícia ruim do governo Dilma Rousseff no segundo dia de 2014: o saldo comercial (diferença entre exportações e importações) brasileiro despencou 87% entre 2012 e 2013, fechando o ano passado em US$ 2,561 bilhões, o menor valor em 13 anos.
Mesmo este magro superávit nas contas do comércio exterior brasileiro só foi atingido no último mês do ano, quando as exportações superaram as importações em US$ 2,6 bilhões. Entre janeiro e novembro de 2013, a balança comercial brasileira registrou déficit - sinal vermelho que não ocorria nas relações comerciais do País desde o ano 2000.
Boa parte do sucesso e também do fracasso registrado em 2013 foi resultado da “contabilidade criativa” no segmento de petróleo e derivados. Isso porque foram registradas importações da ordem de US$ 4,5 bilhões em 2013, mas que efetivamente ocorreram no ano anterior. Essa operação foi autorizada pelo governo à Petrobras no fim de 2012.
“Essas importações deveriam ter sido contabilizadas em 2012, mas não foram. Fato é que isso não se repetirá em 2014”, afirmou o secretário de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Daniel Godinho.
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