Nem só da busca pela ceia de Natal e por presentes para colocar embaixo do pinheirinho vive o pensamento do consumidor que sai às compras no mês de dezembro. Além de lojas, supermercados e fabricantes, diversos gêneros de serviços precisam se adequar à alta demanda gerada com o apelo da data.
O Natal está aí. A frase se repete em diversos lugares, ecoando pelas ruas. Mas não seria preciso ouvi-la para entender que algo diferente inspira as pessoas que circulam pela cidade. A maioria já inicia o mês de dezembro comprando mimos para os mais próximos, além de especiarias que nem sempre estão no cardápio, sem deixar de agendar uma série de serviços que integram os preparativos da celebração. No ranking dos mais procurados pelos clientes, o trabalho de manicures, cabeleireiros e maquiadores duplica nos salões de beleza. O mesmo acontece com as equipes de banho e tosa das pet shops, para onde muitos animais de estimação são levados a fim de passarem por tratamentos estéticos completos. “Todo mundo quer o cãozinho bacana para postar nas fotos”, argumenta o coordenador de vendas da Águia Veterinária, Marco Aurélio Gonçalves.
Mas não são só as mulheres (maioria absoluta da clientela de estéticas) e os mascotes que passam pelo upgrade no visual. A mesa de jantar natalina pode ser composta por muito mais que as tradicionais aves, frutas e especiarias e estar cheia de doces e salgados de festa, de preferência com um toque de elegância e arte. A família que comanda a confeitaria Dona Inês sabe disso. E é porque o capricho é fundamental que neste período a gerente comercial da empresa, Içara Costa, limita a aceitação de pedidos de encomendas e fortalece a loja, produzindo mais itens de balcão. Se fizesse diferente, não daria conta da quantidade de solicitações. “Nesta época, dobra o número de pedidos. Estabelecemos um limite para garantir qualidade e bom atendimento para todos”, explica a administradora.
A exemplo de outros anos, as reservas de tortas, salgadinhos e docinhos diversos, bolos, panetones, cupcakes, biscoitos, sobremesas e pães natalinos se iniciou em outubro. No Natal de 2012, foram produzidos 32 mil salgados e 11,8 mil doces somente para suprir as encomendas, contabiliza Içara. Neste ano, as reservas se esgotaram no dia 10 de dezembro. No final de novembro, já somavam 130 encomendas, todas para o dia 24 de dezembro. O atendimento só é possível graças ao auxílio de máquinas que permitem o congelamento de parte do processo, com alimentos pré-prontos, que podem ser fritos poucas horas antes de entregar. “Adiantamos tudo que podemos. Não há limitação de produtos, com exceção dos feitos com chocolate, por causa do calor intenso”, explica Içara.
Para tocar o trabalho, 11 profissionais temporários se juntaram à equipe de 45 funcionários fixos dois meses antes do final do ano. Mas não basta agregar mão de obra, é preciso capacitar. “Treinamos as pessoas, porque o produto é enfeitado. Além disso, toda a linha tradicional de receitas (de 150 itens) da fundadora da confeitaria, Ignês Brochetto, exige alta qualidade no empenho de sabor”, comenta a gerente comercial.
Apesar de todo o empenho dos profissionais, que ultrapassam o turno normal, somando quase dez horas seguidas de trabalho, a produção de Natal se consolida mesmo é na passagem do dia 23 para 24 de dezembro. Serão 56 pessoas “virando a noite” para que na véspera da data festiva todas as encomendas estejam prontas. “Se alguém termina sua tarefa, já passa para outro setor. É produto caseiro, mas tem linha de produção quase industrial, parece um exército de pessoas na cozinha”, compara Içara. No final, as entregas podem ser feitas direto para o cliente na loja ou via terceirizados, graças à parceria com uma empresa de tele-entrega com carros refrigerados. Existe planejamento para que os produtos cheguem fresquinhos.
Clubes viram palco de confraternização de empresas
As festas natalinas, que cumprem papel de confraternização de integrantes de diversas entidades e grandes corporações, são um dos motes dos setores de eventos dos clubes da Capital. Muitas vezes, a mobilização começa meses antes da chegada do final de ano, com reservas de espaços feitas um ano antes. De acordo com a gerente de eventos do Grêmio Náutico União (GNU), Cláudia Fattore, o último trimestre do ano “bomba” o trabalho do setor. “Os festejos de Natal e Réveillon representam em torno de 30% dos eventos deste período”, calcula.
“Muitas celebrações coorporativas relacionadas ao final de ano demandam os salões em dezembro”, concorda a gerente comercial da Sogipa, Verônica Nunes. “Algumas empresas preferem realizar eventos nos três primeiros dias da semana, quando a locação chega a ser 50% mais barata. E nas sextas e sábados, a média é de quatro festas por final de semana.” O valor de cada um dos dez salões vai depender do número de pessoas: o maior espaço comporta duas mil e custa R$ 13 mil. Já um evento com 450 pessoas em média sai por R$ 4 mil (com estrutura, gerador, equipe, segurança e o salão).
Em outubro, já se percebe o aumento de realização de eventos no clube. E segue a demanda, até janeiro. Neste ano, mais de cem eventos estavam programados para ocorrer nos meses de novembro e dezembro, mas foram transferidos para outros empreendimentos, devido a um incêndio que comprometeu 15% dos salões da sede social. “A média é de 160 festas no último trimestre”, diz Verônica.
A equipe fixa de 20 pessoas dá conta de montar e administrar os eventos, garante a gerente. “No final do ano, sempre gera hora extras, mas não chega a dobrar jornada de nenhum funcionário”, detalha Verônica. Somente na parte de fora da festa, o pessoal da segurança é reforçado com o dobro de profissionais. No GNU, a área de eventos significa um percentual importante na manutenção do empreendimento, valoriza a gerente. “Gira em torno de 30% da receita geral, sendo a terceira maior renda do clube.” Como na Sogipa, o segundo semestre é mais aquecido. “É quando começam as entregas de prêmios e os fechamentos de metas”, explica Cláudia.
“Temos uma equipe de atendimento (25 pessoas) que dá todo o suporte. A primeira coisa que o locatário tem à disposição é um profissional qualificado para produzir a festa”, diz a gerente do GNU. A partir daí, serviços de sonorização, registro, alimentação, entretenimento, imagem em telão e lembranças, tudo é indicado pelo clube. No dia do evento, a equipe interna, formada por montadores e higienistas, prepara o espaço para receber o decorador, os fornecedores e os convidados. Toda a infraestrutura física é cedida pelo clube. No caso do salão maior, com capacidade para 2 mil pessoas, o valor é de R$ 16 mil, enquanto que no menor, com espaço para até 600 pessoas, o preço de locação é de R$ 4 mil. Em geral, as festas de finais de ano são eventos clássicos: começam com jantar, passando pela apresentação de conjunto musical e dança. “Geralmente, os clientes são sindicatos e associações”, afirma Cláudia.
Estéticas trabalham com agendas lotadas
Se durante o ano a média de atendimentos é de 4,5 mil clientes por mês no salão de beleza Juran Peluqueria, em dezembro 10 mil pessoas passam pelas mãos dos profissionais da empresa. Aberto de terça a sábado, das 8h30min às 19h, em meses comuns, no período de Natal, o local não fecha as portas antes das 21h e ainda abre excepcionalmente às segundas-feiras. “As agendas ficam todas lotadas. E, mesmo ampliando o horário, ainda é preciso fazer diversos encaixes”, comenta o sócio-proprietário do salão, Alberto Zimmer.
Nesta época, os profissionais atendem dois clientes a cada meia hora. A demanda amplia em 40%, principalmente para os serviços de manicure, escova e maquiagem. No dia 24 de dezembro, a procura é recorde. A cliente que pintar as unhas dos pés e das mãos, escovar os cabelos e se maquiar gastará R$ 140,00. Além disso, a estética ainda conta com uma loja de roupas, calçados e bolsas para quem quiser comprar um presente de última hora.
Aplicativos ajudam a conseguir táxi nas noites de festa
Das 22h até à 2h da madrugada, é difícil conseguir táxi na noite de Natal. Mesmo que 70% da frota de 3,9 mil veículos esteja circulando, a espera de quem chama o serviço via central aumenta consideravelmente, dos habituais 10 minutos para até uma hora. Contando com 650 veículos vinculados, o atendimento da Tele Táxi Cidade não para. O coordenador de disciplina da empresa, Thiago Zenon Cigsrza, relaciona a alta demanda não somente ao fato de que as pessoas preferem não dirigir para poder consumir bebidas alcóolicas durante a ceia, como também ao aquecimento do mês de dezembro como um todo. “Melhora o poder de compra, devido ao pagamento do 13% salário. Neste período, as classes C e D acabam utilizando mais o serviço.”
A imensa procura fez com que, desde 2009, a Tele Táxi deixasse de agendar a busca de passageiros nas noites de 25 e 31 de dezembro. “Isso porque o veículo só é acionado 15 minutos antes, então dava conflito, pois qualquer demora era considerada atraso, o que é inevitável nessas duas datas”, explica Cigsrza. Ele sinaliza que a comodidade do agendamento é que na hora do pico (cinco minutos antes e cinco depois da meia-noite) não se consegue completar as ligações, devido ao excesso de busca. “Daí, tem que ir para a rua”, admite. Para evitar este problema, Cigsrza recomenda o uso do aplicativo TeleTaxiCidade ou Taxi Digital nos aparelhos com o sistema operacional Android.
Na Central, há revezamento de telefonistas, sempre com dez profissionais por turno, atendendo 32 linhas. A média é de quatro ligações por minuto para cada atendente. Cigsrza sugere que, na noite de Natal, os usuários de táxi saiam com duas horas de antecedência antes do compromisso.
Mascotes preparados para as celebrações
Por ocasião das festas de Natal e Ano Novo, a demanda na Águia Veterinária aumenta de 15% a 20% em dezembro. O coordenador de vendas da rede de pet shops, Marco Aurélio Gonçalves, revela que, para dar conta do desejo de quem quer enfeitar o cão, gato ou coelho, a rotina da loja passa a ser “uma doideira”. Às 7h30min, começam a chegar os primeiros clientes, que são recebidos por duas esteticistas. Ao longo do dia, a equipe vai aumentando. À tarde, o local de banho e tosa está cheio, e o trabalho se estende até às 22h no último mês do ano. “Próximo das datas festivas, funciona a todo vapor – a ponto de se atender a quase cem animais em apenas um sábado.” Os funcionários fixos precisam fazer hora extra e, neste período, a equipe aumenta de sete para dez profissionais especializados em banho e tosa.
Os preços variam entre R$ 40,00 – para o banho de um bichinho de até 10 kg – a até R$ 60,00 para animais que pesem mais de 10 kg. “Inclui tosa higiênica, ou seja, corte de unhas, limpeza de orelhas e escovação de dentes”, detalha Gonçalves. “Se for tosar, é o dobro do preço.” Na Cachorraria da Praça, no bairro Bela Vista, além dos serviços de banho e tosa, a demanda por vacinas e hospedagem também aumenta nos últimos dias do ano. “Muitos bichinhos tomam banho especialmente para o Natal. É bem comum lotar a agenda”, comenta a proprietária, Cristiane Maia Baruffaldi.
Dos 30 banhos diários, a média em dezembro pula para 50. Para isso, a equipe infla de três para cinco esteticistas. “Mas o horário de atendimento se mantém”, destaca Cristiane. “Recomendamos reservar horário com uma semana de antecedência neste período.” Já a virada do ano influencia no aumento de vacinas. “Muito em função de levar o bichinho para a praia e também porque, com o 13º salário, este custo se dilui melhor no orçamento”, opina a empresária.
A Cachorraria ainda oferece sistema de hospedagem para cães no Réveillon, em um sítio localizado em Viamão, com capacidade para 60 animais de porte pequeno e médio. Lá eles convivem em pátios grandes cercados, tomando sol e brincando. Já a baias internas servem para alimentação e para que durmam à noite. O valor da diária varia conforme o porte e quantidade de dias: a parir de R$ 35,00, podendo reduzir para R$ 20,00. Com todos esses serviços disponíveis e demandados com força, a receita da empresa se amplia em 20%.
Fantasias auxiliam a multiplicar a presença do Papai Noel
Em pleno 2013, ainda se vê muita gente alugando fantasia de Papai Noel e enviando cartões pelo correio. São práticas que não saem de moda, garante a gerente e gestora de marketing da loja Disfarce Fantasias, Nadia Oliveira. O perfil dos clientes que alugam ou compram roupas do bom velhinho vai desde agências de publicidade até famílias com crianças. A média de preços para alugar um traje completo é de R$ 150,00, enquanto a aquisição gira em torno de R$ 120,00. No mercado há 14 anos, a loja nunca passou uma noite de Natal com fantasia sobrando no estoque. “Nosso período de maior faturamento é o segundo semestre, quando se iniciam as festas juninas, o dia das crianças, o Hallowen, e o Natal”, resume Nadia.
Já nos Correios, em dezembro, o volume de encomendas e mensagens aumentou em torno de 30% em relação aos outros meses. Em geral, aumenta o contingente de alguns dos 20 centros de distribuição, com deslocamento de equipe e horas extras nos finais de semana. A maior demanda é por serviço de Sedex, para entrega de encomendas feitas pela internet vinculadas ao Natal. As mensagens natalinas também são volumosas. Para garantir a chegada nas caixas de correspondência, a instituição faz mutirão entre os 4 mil carteiros trabalhando em todo o Estado.