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Trabalho

- Publicada em 26 de Dezembro de 2011 às 00:00

Construção civil inova para crescer


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Um crescimento de 6,88% somente no terceiro trimestre e uma projeção de incremento de 5,07% no ano, segundo o Índice de Atividade da Construção Civil Gaúcha (IAC-RS), feito pelo Sinduscon-RS, além da grande expectativa em função das obras para a Copa de 2014. Tudo isso sob pena de falta de mão de obra. Esse é o cenário nada sustentável que enfrenta hoje a construção civil no Estado, que, além de ser desafiada pelos quesitos sociais e econômicos, com a necessidade de potencialização e da diminuição de custos, também tem sido provocada pelo advento da valorização da sustentabilidade ambiental. Para atender todos os desafios, o caminho tem sido percorrido com lentidão e cautela pela maioria das empresas, que estão aos poucos ousando nas alternativas tecnológicas.
Um crescimento de 6,88% somente no terceiro trimestre e uma projeção de incremento de 5,07% no ano, segundo o Índice de Atividade da Construção Civil Gaúcha (IAC-RS), feito pelo Sinduscon-RS, além da grande expectativa em função das obras para a Copa de 2014. Tudo isso sob pena de falta de mão de obra. Esse é o cenário nada sustentável que enfrenta hoje a construção civil no Estado, que, além de ser desafiada pelos quesitos sociais e econômicos, com a necessidade de potencialização e da diminuição de custos, também tem sido provocada pelo advento da valorização da sustentabilidade ambiental. Para atender todos os desafios, o caminho tem sido percorrido com lentidão e cautela pela maioria das empresas, que estão aos poucos ousando nas alternativas tecnológicas.
O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado (Sinduscon-RS), José Paulo Grings, afirma que sempre foi uma característica brasileira desacreditar na possibilidade de implantação de tecnologias de outros países para otimizar a mão de obra. Hoje, porém, é uma obrigação que isso seja uma realidade, visto que os altos salários já não sustentam a fama da construção civil de grande empregadora. Além da qualificação da própria força de trabalho, as inovações em máquinas e equipamento têm sido o grande segredo para manter o crescimento. Conforme Grings, no entanto, esse caminho é lento, se considerada toda a adaptação por trás de sua implementação. Os trabalhadores, ainda que em menor quantidade, devem ser mais qualificados, e a própria forma de planejar a construção precisa sofrer modificações significativas.
Nesse sentido, uma das soluções que apoia as demais é a ferramenta BIM (Building Information Modeling, ou Modelagem de Informação para Construção), que permite o diálogo entre todas as áreas no projeto. Muito utilizada nas chamadas construções verdes, esses mecanismos de planejamento otimizam a utilização dos materiais e evitam o retrabalho. Com o trabalho transversal, a obra tende a ficar mais sustentável e menos dependente da força de trabalho intensiva.
Dentre as soluções pontuais, as máquinas são as mudanças mais visíveis. O Grupo Baram é exemplo disso com a locação, procedimento que hoje ocupa cerca de 50% do mercado no País, conforme o diretor-presidente, Josely Rosa. A solução é atualmente uma das principais opções para reduzir os custos, isso porque a empresa contratante evita gastos com equipamentos para usos pontuais, desatualização e a qualificação dos técnicos para manutenção. Conforme a empresa, em 2010 havia cerca de duas mil locadoras de máquinas e equipamentos no Brasil, sendo 20% registradas nos últimos dois anos. O valor das locações pode variar de 4% a 15% por mês em relação ao valor de compra.
Outro déficit de oferta de profissionais despertou a atenção do Grupo Baram, que investiu em uma máquina para acabamento de parede. O equipamento, resultante de investimentos de R$ 4,2 milhões, dispensa a necessidade de profissional especializado, produzindo o equivalente a 400 metros de reboco por dia, enquanto um pedreiro produz de 25 a 30 metros. Além da agilidade, a promessa é de economia, visto que a média por metro quadrado de produção de um pedreiro é de R$ 7,00 a R$ 10,00, o que significa, a cada dia, um gasto de R$ 175,00 por pedreiro. Se considerada a produção diária, o equipamento se propõe a substituir em torno de 12 pedreiros, amortizando rapidamente o investimento. Lançada em março, a novidade já foi utilizada em pequenos e grandes empreendimentos, de apartamentos de luxo ao programa Minha Casa, Minha Vida.

Soluções antigas voltam a ocupar espaço

Aumentar a velocidade da mão de obra, reduzir custos, melhorar a resistência das paredes e ainda responder a um apelo ecológico. Nisso pensou a FCC ao ressuscitar uma fórmula dos anos de 1970 para criar a argamassa polimérica Dundun, inicialmente elaborada para a colagem de revestimentos cerâmicos. “A massa ficou muito tempo dormente, porque não víamos um potencial de mercado muito grande para ela no assentamento de tijolos”, relata o gerente de novos negócios da FCC, Marcelo Reichert.
Com essa escassez de profissionais, a formulação passou a ser aperfeiçoada, chegando-se ao resultado de utilização em quantidade muito menor, o que compensou o maior custo por quilo. Conforme Reichert, a economia é muito menor se combinada com a redução da mão de obra a qual se propõe. Segundo a empresa, a argamassa convencional se utiliza de 30 a 50 quilos por metro quadrado de parede construída, enquanto a inovação usa somente um quilo e meio. Além disso, a proposta é que a massa seja utilizada por qualquer pessoa, sem habilidades específicas. “O servente pode aplicá-la enquanto o pedreiro se foca em assentar os tijolos”, explica o gerente. “Alguns testes que fizemos apontaram que, para se assentar 25 metros quadrados de parede com argamassa convencional, foi necessário um pedreiro com dois assistentes trabalhando durante oito horas. Com a DunDun, o mesmo pedreiro com apenas um assistente fez o mesmo trabalho em três horas”, afirma.
Por se valer de uma composição química diferente da tradicional, que não leva cimento, cal e areia, e sim é feita à base de resinas sintéticas e agregados minerais, o fator ecologicamente sustentável orgulha a empresa. “A DunDun não passa por nenhum processo parecido ao do cimento. Ela é simplesmente processada e seu passivo ambiental se limita à utilização de energia elétrica. Além disso, evita a retirada de areia e argila do leito de rios”, explica Reichert. Além disso, a resistência de colagem é superior por ser um material polimérico, ou seja, que tem certa flexibilidade.
Conforme ele, tem sido grande a aceitação do mercado, com maiores vendas para médias construtoras e para o comércio. Pela facilidade de utilização, as obras autogeridas têm sido um dos grandes focos, embora o encantamento de cada vez mais pessoas por construir e reformar a própria casa abra os olhos da empresa para os cuidados com esse novo perfil de “construtores”. A empresa procura reunir esforços para acompanhar e dar suporte técnico para as vendas, em função de que, mesmo que as inovações tenham trazido facilidades, não há substituição para o profissionalismo da construção civil. (LF)

Construtoras reagem ao aumento das queixas no Procon

Clarisse de Freitas

Ferri Júnior destaca que o problema está praticamente estancado desde agosto.ANA PAULA APRATO/JC
O boom na construção civil tem exigido a adaptação das empresas não só na hora de investir em novas tecnologias, mas também para dar conta da crescente demanda, que tem resultado em atrasos nas entregas dos empreendimentos. Entre o segundo semestre de 2010 e a primeira metade de 2011, o Procon de Porto Alegre registrou um aumento de 156% nas queixas de consumidores em função do descumprimento dos prazos pelo setor imobiliário. Desde então, mudanças na postura das construtoras e a estabilização do mercado têm alterado o cenário. Porém, enquanto o setor aposta que os atrasos não se repetirão, o órgão municipal de defesa do consumidor prefere aguardar 2012 para confirmar a boa projeção.
“O problema está praticamente estancado desde agosto, porque conseguimos que as obras que estavam atrasadas fossem entregues. Porém, há outros empreendimentos já vendidos que registram demoras, mas ainda não entraram no período de quebra de contrato”, afirma Omar Ferri Júnior, diretor-executivo do Procon da Capital, ao lembrar que os contratos de apartamentos vendidos na planta preveem, além do prazo da obra, um período de atraso contratual. O problema jurídico existe quando esse tempo é extrapolado.
Segundo ele, apesar de volumosas, as queixas eram referentes a poucas empresas e a empreendimentos específicos. Basicamente, o problema afetou duas grandes construtoras e algumas pequenas. Porém, a maior parte das queixas (cerca de 300 registros) foi feita por clientes de uma única construtora, a Tenda, que descumpriu os contratos de dois empreendimentos construídos na avenida Juscelino Kubitschek, bairro Rubem Berta (o que motivou o Procon a pedir a cassação do alvará de vendas da empresa, tirado em maio e devolvido 24 horas depois, por liminar).
O diretor de incorporação da empresa na região Sul, Júlio Meidson, explica que, desde então, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi assinado e tomada uma série de medidas para estreitar a relação com os consumidores e firmar acordos. “O mais importante foi conseguirmos solucionar os problemas e entregar as unidades. Isso pesa mais que qualquer campanha de relacionamento. Mas, claro, foi muito importante o acordo com o Procon e a abertura de um canal direto de comunicação para os clientes que procuraram o órgão”, diz.
Meidson destaca que foi criado um canal de ligação gratuita (telefone 0800) dedicado exclusivamente a esses clientes, além de instalar em Porto Alegre um gestor para atuar diretamente com a questão. Com isso, a construtora afirma que 80% dos casos resultaram em conciliação em até 24 horas e o restante não passou de 30 dias. Os acordos, segundo o Procon, foram direcionados na maior parte à revenda das unidades, já que apesar de o TAC firmado pela construtora prever a devolução integral dos valores pagos, acrescidos de correção, muitos consumidores preferiram vender os apartamentos, que após concluídos passaram a valer até 30% mais. O diretor do Procon disse, ainda, que outras companhias fizeram uma revisão nos contratos, para que o prazo de atraso contratual (que era calculado em até 90 dias) fosse estendido para seis meses, em média.

Setor enfrenta falta de trabalhadores, material e serviços

A redução nos registros de atraso se deve sobretudo aos investimentos feitos pela empresas e pelas entidades do setor para suprir as carências que assolam a construção civil desde o crescimento vertiginoso da atividade, em 2009. “Passamos praticamente 30 anos estagnados. Faltava dinheiro para construir e para financiar a compra dos apartamentos. Chegávamos a financiar diretamente, fazendo o papel dos bancos. De uma hora para outra a demanda aqueceu e todo mundo passou a construir mais. É claro que começou a faltar material, mão de obra e serviços, como a montagem de elevadores”, afirma o vice-presidente do Sinduscon-RS, Mauro Touguinha.
Os esforços das empresas, detalhou Touguinha, incluem capacitação e valorização de trabalhadores e a adoção de novas técnicas construtivas, que tornam as obras mais rápidas e menos dependente da mão de obra escassa. Um dos principais movimentos nesse sentido, feito pela Tenda, foi a aplicação da técnica de construção por formas de concreto (que substitui a alvenaria por placas pré-moldadas e reduz o tempo de obra das torres de cinco andares de um ano para três meses), além da substituição dos empreiteiros terceirizados por funcionários contratados diretamente.
“Nossos problemas com os empreendimentos da avenida Juscelino Kubitschek começaram quando o empreiteiro, que era uma empresa de médio porte e tocava uma obra grande, decretou falência. Substituí-lo tomou tempo. E tivemos outros atrasos de caráter burocrático”, explica o diretor de incorporação da Tenda na região Sul, Júlio Meidson.
Outro fator alegado pelas construtoras para os atrasos registrados no primeiro semestre de 2011 foi a paralização dos técnicos da prefeitura. Em função dessa greve, alguns empreendimentos concluídos ficaram sem habite-se e as obras foram entregues fora do prazo previsto em contrato. “O fato é que nenhuma construtora ganha com atraso de entrega, pois estão pagando 1% de juro pelo financiamento bancário da obra e quando passam do limite contratual pagam multas e juros mensais pelo atraso. Foram muitos os fatores que tornaram essa questão problemática entre 2010 e 2011.”
A estimativa do Sinduscon-RS é que o mercado se mantenha estável no próximo ano em níveis considerados bons, mas não “insano”. Já a Tenda, que fecha 2011 com aproximadamente mil unidades habitacionais entregues, afirma que o encerramento de diversas obras no próximo ano consolida uma previsão de entregas 60% mais volumosa. “Em 2010, apesar de todos os problemas, já fomos os líderes na entrega de empreendimentos em Porto Alegre. Devemos manter a posição ou ficar muito próximos dela em 2011 e também em 2012”, projeta Meidson. (CF)
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