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Com a Palavra

- Publicada em 20 de Junho de 2011 às 00:00

Com a Palavra: Milka Wolf


JOÃO MATTOS/JC
Jornal do Comércio
Prestes a inaugurar o Museu da Moda (MUM) em Canela, único do gênero no mundo, a estilista Milka Wolff, referência no setor no Estado, se mostra pessimista sobre a moda no Rio Grande do Sul. Com sua experiência e trajetória construída ao longo de 54 anos, a profissional aponta a dificuldade de inserção em São Paulo e Rio de Janeiro e a falta de mão de obra qualificada como limitadores da atividade. Mesmo assim, segue com seus projetos, incluindo a abertura de uma filial na Serra gaúcha e a sucessão de sua marca para a neta Yasmine Grillo.
Prestes a inaugurar o Museu da Moda (MUM) em Canela, único do gênero no mundo, a estilista Milka Wolff, referência no setor no Estado, se mostra pessimista sobre a moda no Rio Grande do Sul. Com sua experiência e trajetória construída ao longo de 54 anos, a profissional aponta a dificuldade de inserção em São Paulo e Rio de Janeiro e a falta de mão de obra qualificada como limitadores da atividade. Mesmo assim, segue com seus projetos, incluindo a abertura de uma filial na Serra gaúcha e a sucessão de sua marca para a neta Yasmine Grillo.
JC Empresas & Negócios - Há dificuldade de se fazer moda no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, longe dos principais polos de moda no País?
Milka Wolff - Faço moda há 54 anos. Para mim, nunca foi difícil fazer moda. O difícil de estar longe dos polos da moda está na divulgação da grife. Isso é uma dificuldade. Só o que se divulga no Brasil são aquelas marcas que estão em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os outros estados sempre ficam fora do circuito. Isso é uma grande realidade. Pode ser a melhor coisa feita no Brasil, se for fora de São Paulo e Rio, não se divulga nesses centros. Basta ver que nós sempre fizemos alta moda, alta qualidade, grandes eventos e isso raramente foi mostrado em grandes capitais.
Empresas & Negócios - Há alguma forma de driblar isso?
Milka - Isso a própria mídia faz. A mídia, por intermédio das redes de televisão, digamos, com suas sucursais aqui no Rio Grande do Sul, importa as coisas feitas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ao contrário, as sucursais daqui, que tem suas retransmissoras, não se importam de levar o que é feito no Rio Grande do Sul para fora do Rio Grande do Sul. É uma coisa pela qual não somos nós que devemos batalhar. Trabalhei muitos anos por intermédio da Rede Bandeirantes, fui jurada em São Paulo do programa Flávio Cavalcanti. A Band me levou para São Paulo. Hoje não fazem mais isso. As emissoras daqui não levam mais ninguém para fora, não levam artistas, não levam estilistas. Então, se tu não fores por tua conta, tu não aconteces lá fora. E é muito caro para acontecer lá fora. Ou tu vais pelos teus próprios pés ou não vais. Eu mesma fazia meu comércio lá fora, era bem-sucedida e não precisava entrar por meio da televisão para fazer meus negócios. Tinha meus clientes e não precisava da televisão para fazer minha divulgação. Eu mesma fazia meus contatos. Desde 1989, quando eu parei de fazer a venda industrial e comecei a trabalhar só com o Rio Grande do Sul, passou a me desinteressar divulgação em São Paulo e no Rio de Janeiro. Dentro do programa Flávio Cavalcanti, eu fazia meus desfiles e aí se fazia em rede nacional. Não é tão vantajoso, nem foi tão comercial, não valia tanto a pena, mas não me custava nada. Eu era convidada do Flávio Cavalcanti. Fiquei com o Flávio Cavalcanti até ele sair da Band e ir para o SBT, fiquei com ele até praticamente até o falecimento dele. Foi uma época muito legal em São Paulo.
Empresas & Negócios - Hoje a sua empresa está mais concentrada aqui. Por quê?
Milka - Temos clientes de todo o Brasil, clientes que vêm de Brasília, de São Paulo, do Rio de Janeiro. Trabalhamos comercialmente diretamente com o consumidor. Nós não temos mais interesse em vender industrialmente. E, além do mais, chegamos no momento em que no Rio Grande do Sul não temos mais profissionais na área. Hoje nós temos uma grande dificuldade em encontrar modelistas, costureiros, faxineiros. Hoje não se tem mais mão de obra em nenhum grau de qualificação. A gente está passando trabalho porque hoje se coloca anúncio e não se consegue profissionais.
Empresas & Negócios - Isso seria uma das causas para o Rio Grande do Sul estar tão atrasado em relação a São Paulo e Rio de Janeiro?
Milka - Acredito que sim. Hoje, todas as indústrias têxteis estão com dificuldade de mão de obra.
Empresas & Negócios - E o que se precisaria fazer para desenvolver mais isso?
Milka - Já é tarde. Acho que no momento em que vão começar a se mexer já está destruído o campo de trabalho. Do momento em que vão começar da estaca zero, já estamos atrasados de 10 a 15 anos. Eu acho que o trem já passou. Então, hoje estamos passando de ser uma indústria para ser um ateliê porque não temos mais uma confecção. Temos um cliente sob medida. Confeccionamos para nossa própria loja, mas não poderíamos nem retomar uma confecção industrial porque não temos mais material humano. Temos tecidos e temos maquinário, mas não retomamos porque não se tem material humano. Infelizmente, podemos colocar um anúncio que não aparece ninguém. E os que aparecem são incapacitados.
Empresas & Negócios - Essa é a realidade do Rio Grande do Sul?
Milka - Em vários setores a moda está sofrendo isso diretamente. Várias empresas no Rio Grande do Sul fecharam. Os cursos são frágeis, pobres. Não existem professores capacitados a ensinar uma pessoa a ser uma modelista, a ser uma costureira, a ser uma concertista. Não existem professores para ensinar um profissional a ser um profissional na área.
Empresas & Negócios - Como está a questão da sucessão? Ela está sendo feita empiricamente ou com ajuda de algum consultor?
Milka - Não, não. A Yasmine (Grillo, neta da estilista) já trabalha comigo há dez anos. Ela tem uma criatividade maravilhosa, gosta do trabalho e se propôs a trabalhar na moda. Ela realmente faz um belíssimo trabalho, é extremamente competente. Ela conhece tudo na empresa, tem curso, conhece o assunto e é minha sucessora. Eu acho que ela vai dar continuidade. Ela não é o meu espelho, tem a personalidade dela, a maneira dela de trabalhar. Ela vê como eu faço e tem a maneira de ser. Ela não é a Milka 2. Ela é Yasmine, tem a personalidade dela, faz o trabalho do jeito dela. Eu tenho o meu o gosto, ela tem o dela, mas a gente se entende muito bem no trabalho.
Empresas & Negócios - Qual o segredo para quem está abrindo uma empresa, seja na área de moda ou não, conseguir tantos anos de sucesso e rentabilidade?
Milka - É ter responsabilidade e persistência. Se não tiver essas duas coisas, que nem comece.
Empresas & Negócios - Qual é a equipe que trabalha na Milka?
Milka - Somos uma empresa hoje pequena, enxuta. Somos cerca de 10 pessoas e eu nem quero que a Yasmine aumente. Acho que ela tem que ficar nessa quantidade de pessoas porque hoje tem que trabalhar enxuto. Cada pessoa atua no seu departamento e se uma precisa ajudar a outra, ajuda. As pessoas não podem olhar só para um lado, é preciso fazer um pouco de cada coisa. Na Milka não tem “só faço isso”. Cada um tem que fazer, um ajudando o outro. A sucessão está acontecendo gradativamente e aí vem um sonho antigo sendo realizado.
Empresas & Negócios - Como conciliar o Museu da Moda (MUM) com a empresa?
Milka - O Museu da Moda está sendo terminado, a obra está quase no final. O irmão da Yasmine, o Jonas, vai ser o diretor do museu. Eu vou ficar me dividindo, como sempre me dividi. Um pouco aqui, um pouco ali. E a Milka vai continuar. Eu pretendo colocar uma filial em Canela porque tenho um espaço muito grande. Não dentro do museu, mas na casa localizada ao lado do prédio. Adoro meus clientes, não vou deixá-los nunca. Em Porto Alegre, a firma é muito grande. Tão grande quanto este museu. Vamos continuar trabalhando com moda. Acho que tendo trabalho, vou continuar trabalhando por muito tempo.
Empresas & Negócios - A empresa já pensou em fazer alguma franquia?
Milka - Não tenho produção para franquia e nunca pensei em franquia. Se um dia a Yasmine quiser fazer uma franquia, acho que a gente não tem material humano para isso. Infelizmente, no Brasil de hoje, com o material humano que temos, pode se esquecer de  franquia. Temos tudo para fazer filial. Tenho espaço, roupa. Não tenho pressa, tudo acontece com naturalidade. Acho que vai ser mais um presente para Canela.
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