A gaúcha Capa Engenharia começa a contabilizar os resultados da parceria firmada há três anos com a paulista Rodobens Negócios Imobiliários, que gerou a marca Capamax. Com a comercialização das primeiras unidades construídas em conjunto, a empresa irá faturar R$ 250 milhões neste ano, mais que o dobro dos R$ 115 milhões registrados em 2009. Apesar do mercado promissor, o diretor-presidente da empresa, Carlos Alberto de Moraes Schettert, tem uma preocupação em particular: que os incentivos para o setor imobiliário se percam com a alternância de poder no governo federal.
JC Empresas & Negócios - Quais são as perspectivas de negócios da Capamax, que se tornou o principal braço do Grupo Capa, para este ano?
Carlos Alberto de Moraes Schettert - No primeiro semestre, teremos o início de obras de cinco mil unidades. O ano se inicia com mais de quatro mil obras já em andamento. Até 2013, entregaremos 10,8 mil unidades horizontais. A perspectiva de faturamento com a Capamax é de R$ 250 milhões em 2010 e, em 2011, de R$ 300 milhões.
Empresas & Negócios - Em qual tipo de empreendimento a empresa investe para crescer no mercado?
Schettert - Lançamos o produto Terra Nova há três anos, quando acertamos a parceria com a Rodobens. Trata-se de uma marca de imóveis com valores entre R$ 80 mil e R$ 200 mil. Já lançamos em Porto Alegre dois grandes condomínios verticais, com 2.417 unidades de apartamentos. Na Região Metropolitana e no Interior do Estado, foram 1.688 unidades de casas em condomínios horizontais fechados, nas cidades de Alvorada, Santa Cruz e Pelotas. Serão entregues em março de 2010 casas em Pelotas e em Santa Maria e iniciaremos a entrega dos verticais com 416 apartamentos em Porto Alegre, também para março de 2010.
Empresas & Negócios - E para a classe popular?
Schettert - Na faixa de R$ 60 mil até R$ 100 mil, temos um produto chamado Moradas, que surgiu com o advento do programa Minha Casa, Minha Vida (do governo federal). São condomínios horizontais fechados de dois dormitórios com subsídio de até R$ 17 mil e prestação máxima de R$ 300,00. Lançamos em Pelotas no final de 2009 o primeiro Moradas no Estado, com 714 casas e 400 unidades vendidas em 90 dias. Também lançamos o Moradas em Santa Maria, com 446 casas, tendo já vendidas 212.
Empresas & Negócios - A parceria com a Rodobens parece ter aberto um novo momento para a Capa. Como ela surgiu?
Schettert - Antes da parceria, a Capa era menor. Ao longo de nossa vida, tínhamos feito 1,9 mil unidades. Apenas neste ano, são 4,2 mil em andamento. A parceria com a Rodobens nos proporcionou outra dimensão. Atuávamos até então em um mercado onde as construtoras locais trabalhavam de acordo com a demanda existente. Quando as empresas paulistas passaram a abrir capital e buscar parcerias em outros estados, a Capa foi muito assediada pelo seu passado, sua credibilidade e seu histórico de qualidade. Escolhemos a Rodobens como parceira por entendermos que os produtos dela tinham conceito de englobar a classe média que está crescendo. Também levamos em conta a especialidade em construir condomínios horizontais, que têm apresentado grande demanda.
Empresas & Negócios - Os bons resultados podem estimular a Capa a formar novas parcerias?
Schettert - Estamos em lua de mel na atual parceria, as expectativas são promissoras. A ideia da Rodobens é criar regionais mais fortes, e aqui somos uma regional significativa. Temos nessa parceria uma ótima expectativa ao levarmos em conta o céu de brigadeiro nos próximos cinco anos que prevemos para o setor imobiliário.
Empresas & Negócios - A Capa aposta, então, em pelo menos mais cinco anos de bons negócios, independentemente da mudança no governo federal?
Schettert - Hoje a linha branca vende, vestuário vende, mobiliário vende, há boom em praticamente todos os setores. A casa é um sonho de consumo do brasileiro, e deve seguir em forte demanda. Sobre a mudança do governo, nós queremos acreditar que a política habitacional seja do País, e não do partido. Entendemos que qualquer governo que assumir perceberá o quanto esta política imobiliária tem sido importante para o Brasil.
Empresas & Negócios - O senhor acredita que o programa Minha Casa, Minha Vida pode ser alterado ou interrompido dependendo de quem assuma o poder?
Schettert - Não passa pela nossa cabeça que nós, empresários, que investimos e apostamos tão fortemente neste programa, o veremos cortado porque algum outro governo poderá vencer a eleição. Isso não está em nosso planejamento. O programa é realmente um sucesso, está erradicando o déficit habitacional e envolve toda uma cadeia produtiva direta e indiretamente. Acredito que, se houver mudança, será nos subsídios, que não devem ocorrer eternamente. Afinal, estes foram criados inicialmente para estimularem o Minha Casa, Minha Vida, mas devem ser reduzidos lenta e gradualmente.
Empresas & Negócios - Como sucede a transformação da empresa em uma holding, e em quais vantagens resulta?
Schettert - Como a Capa cresceu muito nestes últimos 25 anos, estamos transformando-a em uma holding para atender a diferentes setores. A Produ Shopping, por exemplo, será especializada em prestação de serviços na área de hotéis, shoppings e obras corporativas. A mudança está em formatação junto aos órgãos competentes. O que altera na prática é que a empresa limitada tem uma capacidade cívica e forma de atuação mais segmentada. Então vimos a oportunidade de se transformar em S/A de capital fechado.
Empresas & Negócios - A empresa tem sido reconhecida com prêmios pelas iniciativas sustentáveis. Quais as inovações nesta área?
Schettert - Temos procurado ampliar o uso de produtos e insumos dentro deste conceito. Hoje, nossas casas não usam nada de madeira, a não ser as portas, que são de matéria-prima certificada. As paredes são de concreto, o telhado é metálico e os forros, de gesso. Além disso, temos preservado áreas naturais ao redor de nossos empreendimentos. No condomínio Viva Nature, em Porto Alegre, por exemplo, fizemos um projeto inédito de educação ambiental e uma trilha com madeira certificada. O projeto envolve plaquinhas com identificação de parte das diversas espécies de árvores. Criamos um guia e um kit, com camiseta e ecobag, e um hotsite educativo. Acreditamos que as iniciativas sustentáveis trazem ganhos com comunidade, governo e clientes.
Empresas & Negócios - E nos condomínios para a baixa renda, é viável financeiramente para a construtora incorporar iniciativas ambientalmente corretas?
Schettert - Mais do que viável, é uma obrigação. Temos trabalhado para tornar isso uma realidade. Tecnologias como essas já são utilizadas nas obras do Moradas. Para isso, tivemos que reciclar nossos fornecedores, estimulá-los a adotar processos sustentáveis. Como eu tenho escala, passei a ser interessante para eles, e hoje já estou equilibrado financeiramente com os preços que eram praticados antes.