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Publicada em 21 de Novembro de 2025 às 17:10

EUA encerram tarifas e indústrias projetam retomada de exportações

Volume de carne brasileira exportada aos EUA caiu 65% a partir do anúncio do tarifaço, diz Sicadergs

Volume de carne brasileira exportada aos EUA caiu 65% a partir do anúncio do tarifaço, diz Sicadergs

Bernd Dittrich/Divulgação/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Após mais de três meses de impasse e apreensão, representantes das indústrias da carne, do café e de frutas comemoraram a retirada das tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos para a importação de produtos brasileiros. A medida, divulgada nesta quinta-feira, injeta entusiasmo e expectativas quanto à recuperação parcial dos negócios perdidos, mas também evidencia desafios para setores que ficaram de fora, como a uva e o café solúvel.
Após mais de três meses de impasse e apreensão, representantes das indústrias da carne, do café e de frutas comemoraram a retirada das tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos para a importação de produtos brasileiros. A medida, divulgada nesta quinta-feira, injeta entusiasmo e expectativas quanto à recuperação parcial dos negócios perdidos, mas também evidencia desafios para setores que ficaram de fora, como a uva e o café solúvel.
É o caso da carne gaúcha, cujos embarques caíram a zero nos meses de setembro e outubro, ante uma média mensal até agosto de 1.283 toneladas, com faturamento de R$ 6,2 milhões. Para a retomada, porém, será preciso retomar contratos com clientes americanos, após a interrupção das vendas, disse o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen.
A partir de julho, quando foi anunciado o tarifaço que entrou em vigor no mês seguinte, as exportações brasileiras para os EUA caíram 65% em volume. “Os exportadores brasileiros tiveram de buscar novos mercados para colocar seus produtos. E também os importadores americanos foram buscar fornecedores. É questão de algum tempo para ajustar isso de novo. Alguma coisa, sempre se perde. Talvez em outra ponta se ganhe. Esse é um mercado muito dinâmico”.
O dirigente avaliou, entretanto, que o período de instabilidade valeu como experiência para avaliar outros mercados e que os frigoríficos podem, agora, optar para onde irão exportar, já que o produto tem alta demanda internacional. “O mercado dos EUA é estratégico, pois sua habilitação funciona como um cartão de visitas, facilitando a entrada em outros países”, disse, ressaltando que a retomada desse mercado será de grande importância. Isso porque, embora o Brasil tenha enorme potencial, não é possível atender a todos simultaneamente.
Mas o Brasil segue ampliando a lista de clientes, e o Japão surge como possibilidade valiosa. O dirigente destacou que os estados do Sul podem ter preferência nas negociações, por terem sido os primeiros a conquistarem o status de livres de febre aftosa sem vacinação. A pecuária desenvolvida na região, com produtos de raças europeias, pode também contribuir para favorecer o fechamento de contratos.
No cenário nacional, a Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) celebrou a decisão do governo de Donald Trump. Para a entidade, a reversão reforça a estabilidade do comércio internacional e mantém condições equilibradas para todos os países envolvidos. “A medida demonstra a efetividade do diálogo técnico e das negociações conduzidas pelo governo brasileiro, que contribuíram para um desfecho construtivo e positivo”, disse a Abiec em nota enviada à imprensa.
No setor de frutas, a retirada das tarifas também é comemorada, mas com ressalvas. A Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) avaliou que a medida restabelece a competitividade das frutas brasileiras no mercado norte-americano. A entidade projeta retomada do crescimento das exportações e o fortalecimento da parceria comercial. Entretanto, alguns produtos, como a uva de mesa, ficaram de fora da medida.
A justificativa é que apenas os produtos que impactavam na inflação americana foram abrangidos pela ordem executiva da Casa Branca. Além disso, os EUA estão projetando uma supersafra de uvas”, explicou o diretor-executivo Eduardo Brandão.
Em 2024, o faturamento brasileiro com a exportação de uvas aos EUA somou US$ 41 milhões. A safra brasileira, que começa em outubro, registrou queda de 73% no volume embarcado nas primeiras semanas em relação ao mesmo período do ano passado. Parte do produto foi redirecionada para a Europa.
Já os exportadores de manga foram pegos de surpresa com a imposição das tarifas poucos dias antes da janela de embarques, tradicionalmente entre agosto e dezembro. A manga é o produto mais importante da pauta da Abrafrutas com os EUA, para onde foram negociados US$ 46 milhões em 2024.
“Mas apenas 10 empresas beneficiadoras têm o tratamento hidrotérmico exigido, o que facilitou as negociações. Exportadores e importadores absorveram cada um 10% das tarifas, repassando a diferença ao consumidor. Com isso, o impacto foi menor que o esperado, com queda de 20% nos embarques do período. Nenhum contrato ficou em aberto. Houve redução de volumes, mas sem cancelamentos”, afirmou Brandão.

Setor cafeeiro considerou reversão de tarifas uma vitória histórica

Recuo dos embarques de café foi de 51,5% na vigência do tarifaço

Recuo dos embarques de café foi de 51,5% na vigência do tarifaço

Freepik/Divulgação/JC
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), com mais de 120 associados e que representam cerca de 97% das exportações do produto nacional, considerou a reversão das tarifas uma “vitória histórica”. O resultado foi atribuído à cooperação entre o setor privado brasileiro, governo federal, indústria e entidades dos EUA.
No acumulado entre agosto e o fim de outubro, os norte-americanos adquiriram 983,9 mil sacas de café, um declínio de 51,5% ante os 2,03 milhões aferidos nos mesmos três meses de 2024.
O Brasil sempre foi o produtor mais competitivo e é o principal provedor ao mercado de café dos EUA, mas a taxação de 50% tornava inviável o envio do produto para lá. Esses embarques que temos observado ainda eram de contratos antigos”, comentou Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
De acordo com ele, já é possível observar cafés com blends sem o grão brasileiro no mercado americano, o que ele entendia como um problema futuro se o cenário persistisse. “Isso muda o paladar do consumidor. Se as tarifas demorassem mais a cair, poderia ser difícil o Brasil recuperar sua fatia tradicional no mercado cafeeiro dos EUA, que é de aproximadamente um terço”, finalizou.
Enquanto isso, a indústria de base florestal, um dos segmentos mais impactados pelo tarifaço e que ainda segue sob taxas de 50%, aguarda por um acordo mais favorável ainda em 2025. Desde a entrada em vigor da medida, as exportações sofreram queda abrupta, chegando a 90% para alguns produtos. E o fechamento de postos de trabalho já é realidade.
Daniel Chies, presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), contou que o mês de outubro reduziu pelo menos 12 mil trabalhadores nas empresas. “Há funcionários desligados, empresas fechadas que não voltarão a operar, outras colocando empregados em férias, adotando lay-off, fazendo redução de turno, de produção e de equipe.”
O dirigente contou ao Jornal do Comércio que, para não perder o mercado americano, há indústrias “queimando caixa” e trabalhando com resultados negativos, esperando até a situação melhorar. “O setor tem expectativa positiva de negociações por tarifas mais adequadas, talvez entre 15% e 20%. Mas vemos dificuldade em o Brasil conseguir tudo que quer dos EUA”, concluiu Chies.

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