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Publicada em 17 de Novembro de 2025 às 16:19

Corte de tarifa dos EUA traz pouco benefício às exportações gaúchas

EUA ocupam o 2º lugar entre os destinos da carne bovina do Brasil

EUA ocupam o 2º lugar entre os destinos da carne bovina do Brasil

RONALDO SCHEMIDT/AFP/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
A decisão dos Estados Unidos de retirar a tarifa recíproca de 10% sobre parte das importações agrícolas brasileiras — anunciada na semana passada — tem efeito direto limitado para o Rio Grande do Sul. Entre os 238 produtos contemplados, apenas a carne bovina possui peso significativo na pauta do Estado. Em 2024, o RS exportou US$ 61 milhões do produto ao mercado americano, cerca de 16% das vendas externas do abate de bovinos. Ainda assim, a China permaneceu como principal destino, com US$ 71 milhões embarcados, seguida por Reino Unido, Cuba e Uruguai.
A decisão dos Estados Unidos de retirar a tarifa recíproca de 10% sobre parte das importações agrícolas brasileiras — anunciada na semana passada — tem efeito direto limitado para o Rio Grande do Sul. Entre os 238 produtos contemplados, apenas a carne bovina possui peso significativo na pauta do Estado. Em 2024, o RS exportou US$ 61 milhões do produto ao mercado americano, cerca de 16% das vendas externas do abate de bovinos. Ainda assim, a China permaneceu como principal destino, com US$ 71 milhões embarcados, seguida por Reino Unido, Cuba e Uruguai.
O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, afirma que, apesar do impacto imediato ser concentrado em um único item, a medida reforça a necessidade de ampliar o diálogo bilateral.
Embora o impacto imediato seja concentrado apenas na carne bovina, seguimos defendendo avanços mais amplos, que eliminem desigualdades tarifárias e permitam que a indústria gaúcha dispute o mercado norte-americano em condições justas."
Para o setor produtivo local, entretanto, o alívio tarifário ainda não resolve o principal obstáculo. O presidente-executivo do Sindicato da Indústria da Carne e Derivados do RS (Sicadergs), Ronei Lauxen, lembra que permanece em vigor a sobretaxa de 40% imposta em 6 de agosto. “O setor permanece na expectativa de uma nova redução das taxas, o que poderia significar a retomada das exportações para os Estados Unidos”. As exportações gaúchas respondem por 3,7% do total brasileiro de carne bovina enviado ao mercado americano, o que coloca o Estado na sétima posição entre os principais exportadores.
Em âmbito nacional, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a decisão dos EUA beneficia 80 itens do agronegócio exportados pelo Brasil, que somaram US$ 4,6 bilhões em 2024 — cerca de 11% das exportações brasileiras para aquele mercado. Apenas quatro produtos, porém, ficaram totalmente isentos de taxas (três tipos de suco de laranja e a castanha-do-pará). Os outros 76 terão redução parcial, mas seguirão submetidos à tarifa de 40%.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, defende que a negociação avance agora para eliminar essa sobretaxa adicional. “Países que não enfrentam essa sobretaxa terão mais vantagens que o Brasil para vender aos americanos. É muito importante negociar o quanto antes um acordo para que o produto brasileiro volte a competir em condições melhores no principal destino das exportações industriais brasileiras”, observa.
Entre os produtos beneficiados pela retirada do imposto de 10% estão carne bovina, café, suco de laranja, frutas tropicais e cítricas, hortaliças, castanha-do-pará, fertilizantes, químicos de uso agrícola e cera de carnaúba. O objetivo declarado do governo americano é reduzir preços ao consumidor local.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) classificou como “muito positiva” a decisão dos EUA sobre a carne bovina. A entidade afirma que a medida reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países e reconhece a importância do produto brasileiro — marcado pela qualidade, regularidade e contribuição à segurança alimentar. Segundo a Abiec, a redução devolve previsibilidade ao setor e fortalece a relação com o que é hoje o segundo maior mercado da carne bovina do Brasil: “A decisão norte-americana fortalece essa relação e abre espaço para uma retomada mais equilibrada e estável das vendas”, diz a entidade, em nota.
Apesar do ajuste tarifário, o diagnóstico entre entidades gaúchas e nacionais converge: a retirada do imposto de 10% melhora o ambiente de diálogo, mas não altera por completo a competitividade brasileira — especialmente enquanto persistir a tarifa de 40%, que segue como principal entrave à plena retomada das exportações.

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