A manutenção do embargo chinês à importação de produtos avícolas oriundos do Rio Grande do Sul, mesmo após autorizar a retomada das compras do restante do País causou preocupação no governo e no setor. Por isso, o secretário adjunto da Agricultura, Márcio Madalena, irá a Brasília na próxima semana para acompanhar de perto a situação e tentar agilizar a liberação do Estado.
A determinação foi do secretário Edivilson Brum, que não esconde a apreensão. "Comemoramos a retirada da restrição ao frango brasileiro, cujas exportações representam uma importante fatia da nossa economia. Mas preocupa o fato de ainda estarmos com essa restrição, depois de termos comprovado a sanidade da cadeia", disse o titular da pasta.
A China anunciou a suspensão do embargo às importações de carne de frango do Brasil na sexta-feira. O bloqueio ao Estado teria sido mantido devido a um foco de Doença de Newcastle registrado em julho de 2024, em uma granja comercial de Anta Gorda, cujo processo de análise pelas autoridades asiáticas ainda não foi concluído. Com isso, oito frigoríficos gaúchos continuam sem acesso ao seu principal mercado.
Já a investigação relacionada à Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), que ocorreu em maio deste ano, em um estabelecimento comercial de Montenegro, também no RS, foi encerrada. E foi sobre esse episódio que acabou sendo liberada a exportação para as demais unidades da Federação.
Madalena iniciou as tratativas com o Ministério da Agricultura ainda nesta sexta-feira. Segundo ele, não há justificativa técnica para a manutenção do embargo por Newcastle se os chineses já levantaram o bloqueio pela gripe aviária. "São doenças do mesmo grupo, que atingiram aves da mesma espécie e exigem os mesmos protocolos de enfrentamento", afirmou.
O Ministério, interlocutor com a Administração Geral das Alfândegas da China (GACC), enviou e-mail pedindo esclarecimento sobre a situação. Mas pela diferença de fuso horário, a expectativa é de que a resposta chegue a partir de segunda-feira.
Em setembro, uma missão chinesa veio ao Brasil e vistoriou também a região de Anta Gorda. A expectativa do governo e do setor era de que a visita técnica contemplaria os casos de gripe aviária e de Newcastle. Agora, se a China entender ser necessária outra inspeção específica para o episódio de Newcastle, a avaliação é de que o fim do embargo pode ainda demorar.
Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) elogiaram a diplomacia brasileira ao destravar a situação sobre o aso de gripe aviária e afirmaram confiar na superação das tratativas para a ocorrência “já superada pelo setor e pelo País em relação à ocorrência de Doença de Newcastle”.
“A ABPA e a ASGAV respeitam o entendimento das autoridades chinesas em relação a este processo, ao mesmo tempo em que acreditam que, com as questões sanitárias e todas as respostas técnicas já apresentadas pelo setor e pelo Governo Brasileiro, o Estado está apto a seguir como parceiro do mercado chinês no auxílio ao suprimento de produtos avícolas com excelência. Neste sentido, o setor espera o justo restabelecimento do fluxo de exportações, respaldado pela superação das tratativas técnicas que envolvem o tema.”, diz o texto.
O Brasil recuperou o status de país livre de IAAP em 18 de junho, após a conclusão de todas as medidas sanitárias exigidas. Atualmente, apenas o Canadá mantém suspensão total das importações de carne de aves brasileiras.
Apesar da restrição gaúcha, os números nacionais indicam recuperação e resiliência do setor. As exportações brasileiras de carne de frango atingiram em outubro o segundo melhor resultado mensal da história, com 501,3 mil toneladas embarcadas — 8,2% acima do mesmo período de 2024, quando foram exportadas 463,5 mil toneladas. No acumulado de janeiro a outubro, o volume chega a 4,378 milhões de toneladas, praticamente igual ao de 2024, quando foram registradas 4,380 milhões de toneladas. As receitas de exportação em outubro somaram US$ 865,4 milhões, ligeiramente abaixo dos US$ 904,4 milhões de outubro de 2024. No acumulado do ano, o total soma US$ 8,031 bilhões, contra US$ 8,177 bilhões no mesmo período de 2024.
O desempenho do mês mostra o potencial do setor e reforça as expectativas de crescimento para 2025. “Com os expressivos embarques do mês, praticamente zeramos a diferença entre os volumes deste ano e do ano passado, revisando as projeções para um provável crescimento em toneladas embarcadas para os doze meses de 2025”, destacou o presidente da ABPA, Ricardo Santin.
Entre os principais destinos das exportações, a África do Sul liderou com 53,7 mil toneladas (+126,9%), seguida pelos Emirados Árabes Unidos (40,9 mil t, +32%), Arábia Saudita (36,63 mil t, +66,1%), Filipinas (34 mil t, +38,2%) e Japão (29,7 mil t, -25,5%). O Paraná segue como maior exportador de carne de frango, com 205,1 mil toneladas (+7,9%), seguido por Santa Catarina (111,6 mil t, +5,8%), Rio Grande do Sul (60,9 mil t, +8,8%), São Paulo (32,2 mil t, +12,3%) e Goiás (27,3 mil t, +44,4%). A reabertura da China deverá ser um fator decisivo para o resultado final do setor em 2025.