A safra 2025/2026 de uva começa a se desenhar com otimismo e prudência no Rio Grande do Sul. Após um inverno rigoroso, com acúmulo de frio dentro da faixa ideal para o desenvolvimento dos vinhedos, o setor vitivinícola projeta uma colheita maior e de boa qualidade. A expectativa do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura (Consevitis-RS) e da Comissão Interestadual da Uva é de que o volume fique próximo aos 800 milhões de quilos, superando os 750 milhões estimados na safra anterior.
“O que se observa nos parreirais é um vigor muito bom, brotação uniforme e alta fertilidade das gemas”, afirma o presidente do Consevitis-RS, Luciano Rebellatto. “Ainda é cedo para falar em números exatos, mas se o clima seguir dentro da normalidade, deveremos ter uma safra maior e de excelente qualidade.”
A Emater/RS-Ascar, por outro lado, adota postura mais cautelosa. A instituição considera prematuro projetar a colheita neste momento, devido a oscilações climáticas registradas na primavera. O extensionista rural Thompsson Didoné destaca que, embora o inverno tenha sido favorável, “as baixas temperaturas de setembro e outubro, o excesso de dias nublados e os ventos fortes podem retardar o desenvolvimento das plantas e reduzir o número de bagas por cacho”.
Segundo o coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Ricardo Pagno, essas ocorrências são pontuais e não comprometem a boa perspectiva geral da safra. “Tivemos um inverno muito bom, com frio acumulado suficiente para uma brotação uniforme. Em algumas variedades mais tardias, o frio recente interferiu na floração, mas são casos isolados. As videiras apresentam ótima sanidade, e se o clima seguir seco até janeiro, teremos fruta de qualidade superior.”
Pagno e Rebellatto reforçam que não há relatos de perda de vigor ou danos por encharcamento do solo, problema que afetou parte das lavouras em 2024. “Os vinhedos estão normais ou até mais vigorosos, e a previsão de menor volume de chuva favorece a maturação da uva, com mais doçura e melhor padrão para vinhos e sucos”, observa o dirigente do Consevitis.
Em relatório técnico divulgado nesta semana, a Emater confirmou que o inverno trouxe condições ideais para a viticultura — Vacaria registrou 770 horas de frio, Caxias do Sul 654 horas e Veranópolis 399 horas, todas acima da média. Porém, o órgão alerta para sinais de “desavinho”, fenômeno que pode converter cachos em gavinhas e reduzir o número de bagas.
Na ponta industrial, a Cooperativa Vinícola Aurora — que reúne cerca de 1.100 associados — projeta processar 75 milhões de quilos de uva nesta safra, o equivalente a aproximadamente 10% da produção gaúcha. Segundo o gerente agrícola Maurício Bonafé, o desempenho das videiras reflete uma recuperação importante após as perdas do ciclo anterior.
“Tivemos um desenvolvimento um pouco irregular no início, mas a recuperação foi boa, e hoje observamos parreirais equilibrados, com uvas de ótima sanidade e boa regularidade. Isso nos dá confiança de que teremos uma safra de boa qualidade, tanto para vinhos quanto para sucos”, avalia.
Bonafé ressalta que a estrutura industrial da cooperativa está preparada para absorver o volume previsto e atender diferentes segmentos de produção — dos vinhos jovens aos espumantes — mantendo o foco em agregar valor e preservar a renda dos produtores.
Quanto à definição de preços, a Comissão Interestadual da Uva já concluiu o levantamento do custo de produção e apresentou os dados à Conab e às entidades do setor. As negociações para o acordo setorial que define o valor mínimo da uva industrial seguem em andamento e deverão ser concluídas nas próximas semanas.
Mesmo com as incertezas climáticas, o sentimento predominante no setor é de confiança. As condições deste ano indicam uma safra promissora, mas manter a vigilância sobre o clima é fundamental, sem deixar de garantir, ao mesmo tempo, a valorização do produtor, completa Rebellatto.