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Publicada em 04 de Novembro de 2025 às 16:22

Farsul vê retração inédita no crédito rural, e governo contesta

Plano Safra 2024/2025 financiou R$ 374,7 bilhões, 6,4% menos que o volume anunciado para crédito pelo governo

Plano Safra 2024/2025 financiou R$ 374,7 bilhões, 6,4% menos que o volume anunciado para crédito pelo governo

NILSON KONRAD/DIVULGA??O/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
O crédito rural no Brasil enfrenta um cenário de retração inédita, segundo levantamento da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). No primeiro trimestre da safra 2025/2026 (julho a setembro), os recursos disponíveis para custeio caíram 23% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto os destinados a investimento recuaram 44%. No Rio Grande do Sul, destaca a entidade ruralista, as quedas também foram expressivas: 25% em custeio e 39% em investimento. A premissa é contestada pelo Governo Federal.
O crédito rural no Brasil enfrenta um cenário de retração inédita, segundo levantamento da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). No primeiro trimestre da safra 2025/2026 (julho a setembro), os recursos disponíveis para custeio caíram 23% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto os destinados a investimento recuaram 44%. No Rio Grande do Sul, destaca a entidade ruralista, as quedas também foram expressivas: 25% em custeio e 39% em investimento. A premissa é contestada pelo Governo Federal.
Quem alerta para a gravidade do cenário é o economista chefe da Farsul, Antonio da Luz: “Não estamos vivendo uma crise de crédito no Rio Grande do Sul, por conta de tudo que vivemos. Estamos vivendo uma crise de crédito no Brasil, a maior da história”.
Ele observa que, embora seja comum o anúncio de Planos Safra maiores a cada ano, a situação atual é  diferente de outros momentos. “A queda é vertiginosa. Eu não estou vendo somente uma diferença entre o anúncio e o realizado. Eu estou vendo queda no realizado”.
Luz explica que, na prática, os recursos disponíveis são inferiores ao período anterior. “Antes, havia diferença entre o anúncio e o disponível. O anúncio era muito maior que a realidade, mas crescia efetivamente. Agora, não. Agora há uma queda grande no valor liberado. E isto é a primeira vez que estamos experimentando”.
O Jornal do Comércio questionou os Ministérios da Agricultura e da Fazenda, o BNDES, o Banco do Brasil e o Banco Central sobre a execução do Plano Safra. Até a publicação desta reportagem, o Banco Central não havia respondido.
O Ministério da Agricultura destaca que o Plano Safra 2025/2026 já contabilizou R$ 160,7 bilhões efetivamente liberados, volume que corresponde a cerca de 31% dos R$ 516 bilhões programados e 3% a mais que no período anterior. Segundo o Ministério, nos últimos anos apenas a safra 2024/2025 apresentou aporte menor que o prometido, por razões ligadas a remanejamentos entre linhas e aplicação adicional de recursos livres das instituições financeiras.
Outro ponto de preocupação da Farsul é a inadimplência, que atingiu 5,14% em julho de 2025, o maior patamar já registrado, enquanto o crédito controlado está em 1,86% e o de taxas de mercado alcançou 9,35%.
Vamos aumentar mais porque ainda temos efeitos da elevação de juros anteriores. Existe uma defasagem entre a decisão do Copom (Conselho Monetário Nacional) e o que acontece na economia. Inflação, inadimplência, tudo isso tem efeito defasado”, alerta Luz.
O uso da alienação fiduciária como garantia para liberação de crédito também preocupa. Nestor Hein, diretor jurídico da Farsul, orienta cautela: “Temos alertado ao produtor que já está numa situação que não é boa, está sujeito a secas novamente. Qualquer problema, ele poderá não ter o recurso e perder a sua propriedade. Então, que ele procure sempre tomar recursos por outra modalidade”.
O jurista sugere hipoteca ou outros meios que não a alienação fiduciária, considerada ágil, mas comprometedora do patrimônio. Anderson Belloli, diretor executivo da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), reforça o alerta: “O produtor pode ser executado em 45 dias se não quitar a dívida. É uma garantia muito rápida, que aumenta o risco de perdas graves”.
Segundo especialistas em direito agrário, a alienação fiduciária transfere a propriedade do bem — imóvel ou equipamento — para o credor enquanto não quitada a dívida. Em caso de inadimplência, o bem pode ser consolidado e leiloado rapidamente, muitas vezes abaixo do valor de mercado, com cláusulas contratuais que favorecem o credor e pouco espaço para renegociação. O risco aumenta se a safra sofrer impactos climáticos ou mercadológicos, comprometendo o patrimônio do produtor.

Empréstimos com recursos equalizados cresceram 7% de julho a setembro

No contexto do Plano Safra 2025/2026, o governo federal defende que o crédito está disponível e os recursos equalizados vêm sendo pagos normalmente. De acordo com o Ministério da Fazenda, a contração de operações de crédito rural com recursos equalizados apresentou crescimento de 7% em relação ao mesmo período da safra 2024/2025. A pasta informou ainda que o limite de recursos equalizados para o ano de 2025 é de R$ 102,8 bilhões, dos quais R$ 44,6 bilhões já foram contratados entre julho e setembro. Com base no histórico de contratações em anos anteriores, a execução desta fonte está alinhada ao padrão observado em anos anteriores, conforme histórico de contratações.  
O Banco do Brasil aponta desembolsos de R$ 49,7 bilhões no primeiro trimestre do Plano Safra 2025/2026, reforçando que ajustes em investimentos são normais diante da inadimplência e da necessidade de gestão de fluxo de caixa dos produtores, e que a ampliação da alienação fiduciária visa mitigar riscos e garantir sustentabilidade do crédito.
Com o aumento da inadimplência e dos pedidos de recuperação judicial, é natural que as instituições financeiras ampliem e criem mecanismos de redução dos riscos. Porém, assim como outros processos de concessão de crédito, reavaliamos periodicamente buscando aliar a ampliação dos negócios com a sustentabilidade e melhoria de risco. Com essas reavaliações constantes, a expectativa é de retomar de forma mais intensa os desembolsos, especialmente para o custeio”, informou em nota o BB, que deverá desembolsar R$ 230 bilhões ao segmento no Plano Safra 2025/26.
Já o BNDES destacou R$ 17 bilhões aprovados até 26 de outubro, com foco em agricultura familiar, micro, pequenos e médios produtores, e lembra que esta edição do Plano Safra conta com o maior orçamento já disponibilizado pelo banco. São R$ 70 bilhões, um incremento de 5% em relação à safra anterior. 
Planos Safra: o que foi anunciado e o que foi executado
(valores em R$ bilhões)
Safra Anunciado Executado
2020/2021 R$ 236,3 R$ 271,6
2021/2022 R$ 251,2 R$ 293,4
2022/2023 R$ 340,9 R$ 350,9
2023/2024 R$ 364,2 R$ 408,2
2024/2025 R$ 400,6 R$ 374,7
2025/2026* R$ 516,2 R$ 103,5*
*Dados parciais até outubro de 2025
**Fonte: Ministério da Agricultura e Pecuária

Empréstimos com recursos equalizados cresceram 7% de julho a setembro


No contexto do Plano Safra 2025/2026, o governo federal defende que o crédito está disponível e os recursos equalizados vêm sendo pagos normalmente. De acordo com o Ministério da Fazenda, a contração de operações de crédito rural com recursos equalizados apresentou crescimento de 7% em relação ao mesmo período da safra 2024/2025. A pasta informou ainda que o limite de recursos equalizados para o ano de 2025 é de R$ 102,8 bilhões, dos quais R$ 44,6 bilhões já foram contratados entre julho e setembro. Com base no histórico de contratações em anos anteriores, a execução desta fonte está alinhada ao padrão observado em anos anteriores, conforme histórico de contratações.  
O Banco do Brasil aponta desembolsos de R$ 49,7 bilhões no primeiro trimestre do Plano Safra 2025/2026, reforçando que ajustes em investimentos são normais diante da inadimplência e da necessidade de gestão de fluxo de caixa dos produtores, e que a ampliação da alienação fiduciária visa mitigar riscos e garantir sustentabilidade do crédito.
Com o aumento da inadimplência e dos pedidos de recuperação judicial, é natural que as instituições financeiras ampliem e criem mecanismos de redução dos riscos. Porém, assim como outros processos de concessão de crédito, reavaliamos periodicamente buscando aliar a ampliação dos negócios com a sustentabilidade e melhoria de risco. Com essas reavaliações constantes, a expectativa é de retomar de forma mais intensa os desembolsos, especialmente para o custeio”, informou em nota o BB, que deverá desembolsar R$ 230 bilhões ao segmento no Plano Safra 2025/26.
Já o BNDES destacou R$ 17 bilhões aprovados até 26 de outubro, com foco em agricultura familiar, micro, pequenos e médios produtores, e lembra que esta edição do Plano Safra conta com o maior orçamento já disponibilizado pelo banco. São R$ 70 bilhões, um incremento de 5% em relação à safra anterior. 

Planos Safra: o que foi anunciado e o que foi executado (valores em R$ bilhões)

Safra  Anunciado    Executado
20/21   R$ 236,3       R$ 271,6
21/22   R$ 251,2       R$ 293,4
22/23   R$ 340,9       R$ 350,9
23/24   R$ 364,2       R$ 408,2
24/25   R$ 400,6       R$ 374,7
25/26* R$ 516,2       R$ 103,5*
*Dados parciais até outubro de 2025
**Fonte: Ministério da Agricultura e Pecuária

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