O recente encontro entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping trouxe novidades para o mercado global de soja. A China se comprometeu a comprar 12 milhões de toneladas de soja americana ainda neste ano e pelo menos 25 milhões de toneladas por ano nos próximos três anos, segundo declarações do secretário do Tesouro dos Estados Unidos.
Além disso, foram acordadas reduções tarifárias sobre o fentanil, suspensão de taxas portuárias e cooperação no combate ao tráfico da substância. Também foram alinhadas compras de energia americana, incluindo petróleo e gás do Alasca, e manutenção do fornecimento de minerais críticos e ímãs de forma livre.
O movimento contraria a expectativa de que a China deixaria de comprar soja americana, favorecendo temporariamente a demanda pelo produto brasileiro. Para o Brasil, especialistas afirmam que os efeitos devem se limitar a ajustes nos volumes e nos prêmios de exportação, sem comprometer a posição do País como maior exportador mundial do grão.
“O Brasil continuará sendo o maior exportador do mundo e o principal fornecedor de soja para a China. É possível que percamos alguns volumes de embarque, mas nada que seja extremamente negativo para os preços”, avaliou Luiz Fernando Roque, coordenador de Inteligência de Mercado da consultoria Hedgepoint.
Ele destacou ainda que os detalhes do acordo não foram formalizados e que, até o momento, as informações disponíveis vêm apenas do lado americano.
No mercado internacional, os preços da soja na Bolsa de Chicago (CBOT) subiram nos últimos dias, refletindo otimismo com o acordo, enquanto os prêmios pagos no Brasil começaram a recuar. Segundo o Radar Agro, material produzido pela Consultoria Agro do Itaú BBA, essa valorização em Chicago representa uma oportunidade para produtores travarem parte da próxima safra, cujas vendas seguem atrasadas. O relatório observa que a soja americana pode ser competitiva para embarques entre dezembro e janeiro, caso a China reduza ou elimine tarifas, mas que, a partir de fevereiro, o Brasil retoma vantagem em custo e disponibilidade.
A projeção para a safra brasileira 2025/26 é de 178 milhões de toneladas, com potencial de embarque acima de 110 milhões de toneladas.
“Independentemente do acordo EUA-China, se a safra brasileira for grande, os preços tendem a permanecer pressionados. Somente uma quebra de safra, que não está prevista, poderia alterar essa tendência”, afirmou Roque.
O Radar Agro acrescenta que o estoque mundial de soja deve permanecer confortável, com oferta elevada também na Argentina, o que limita grandes valorizações no mercado brasileiro.
O relatório do Itaú BBA aponta ainda os fatores que influenciam a formação de preços. Entre os altistas, estão o retorno das exportações americanas para a China, produtores nos EUA segurando vendas, estoques menores no mercado norte-americano e óleo de soja valorizado. Já os fatores baixistas incluem o ritmo forte de embarques brasileiros, estoques elevados na China, margens apertadas na produção de suínos e esmagamento, e projeções positivas para a safra sul-americana.
No campo, o plantio da soja no Rio Grande do Sul — segundo maior produtor do País — avança de forma lenta e desigual, de acordo com o Informativo Conjuntural da Emater/RS. Cerca de 5% da área prevista já foi semeada, com ritmo influenciado pela disponibilidade irregular de umidade no solo e pela estratégia de escalonamento dos cultivos. Nas regiões que receberam chuvas, o plantio se intensificou; em áreas mais secas, foi paralisado. As temperaturas noturnas amenas têm reduzido a velocidade de emergência das plantas, especialmente nas variedades mais precoces.
O boletim também destaca restrições de crédito e de recursos financeiros, que limitam o uso de insumos e tendem a provocar ligeira redução na área plantada em relação à safra anterior. Na Metade Sul, produtores vêm renegociando valores de arrendamento e retomando áreas para a pecuária, sobretudo em campos nativos anteriormente convertidos ao cultivo da oleaginosa.
A Emater projeta 6,7 milhões de hectares cultivados no Estado, com produtividade média estimada em 3.180 kg/ha. O preço médio pago ao produtor subiu 0,75% na última semana, passando de R$ 124,29 para R$ 125,22 por saca.
Roque reforçou que, no curto prazo, a atenção do produtor deve se voltar à evolução da safra e aos preços internos.
“Se a China começar a comprar soja americana ainda neste fim de ano, podemos ter uma antecipação da pressão sobre prêmios e preços, que hoje estão sustentados pela forte demanda chinesa. Mesmo assim, devemos atingir exportação recorde neste período”, completou o analista da Hedgepoint.