Após nove anos à frente do Daugherty Water for Food Global Institute (DWFI), da Universidade de Nebraska, o engenheiro Peter McCornick se prepara para deixar o cargo. Antes disso, ele lidera a equipe que receberá a missão gaúcha que viaja aos Estados Unidos para conhecer políticas e tecnologias de gestão hídrica aplicadas à produção agrícola. Em entrevista ao Jornal do Comércio, McCornick falou sobre a trajetória do instituto, o modelo de gestão de Nebraska e as lições que podem inspirar o Rio Grande do Sul.
Jornal do Comércio – O que motivou a criação do Daugherty Water for Food Global Institute e como Nebraska se tornou referência no tema da irrigação?
Peter McCornick – O instituto foi criado em 2010, com uma doação da Fundação Robert B. Daugherty, para enfrentar um desafio global: produzir mais alimentos sem comprometer os recursos hídricos. A Universidade de Nebraska já acumulava longa experiência nesse campo – o Nebraska Water Center existe desde 1964 – e o DWFI nasceu para ampliar essa atuação, conectando pesquisa, inovação e cooperação internacional. Nebraska irriga hoje mais de 9 milhões de acres, o que equivale a cerca de 3,6 milhões de hectares, e tem uma história sólida de gestão da água. O Estado conseguiu preservar o nível do aquífero High Plains, enquanto outros estados vizinhos enfrentaram forte depleção. Isso se deve, em grande parte, ao sistema local de gestão de águas subterrâneas, baseado nos Distritos de Recursos Naturais (NRDs), que dão autonomia às comunidades para administrar o uso da água.
Peter McCornick – O instituto foi criado em 2010, com uma doação da Fundação Robert B. Daugherty, para enfrentar um desafio global: produzir mais alimentos sem comprometer os recursos hídricos. A Universidade de Nebraska já acumulava longa experiência nesse campo – o Nebraska Water Center existe desde 1964 – e o DWFI nasceu para ampliar essa atuação, conectando pesquisa, inovação e cooperação internacional. Nebraska irriga hoje mais de 9 milhões de acres, o que equivale a cerca de 3,6 milhões de hectares, e tem uma história sólida de gestão da água. O Estado conseguiu preservar o nível do aquífero High Plains, enquanto outros estados vizinhos enfrentaram forte depleção. Isso se deve, em grande parte, ao sistema local de gestão de águas subterrâneas, baseado nos Distritos de Recursos Naturais (NRDs), que dão autonomia às comunidades para administrar o uso da água.
JC – Como o DWFI atua para promover o uso inteligente da água na agricultura?
McCornick – Trabalhamos em duas frentes. A primeira é a agricultura comercial de alta produtividade, onde desenvolvemos ferramentas que permitem determinar com precisão a necessidade diária de irrigação de cada cultura. Essas informações ajudam o produtor a aplicar a quantidade exata de água, no momento certo, reduzindo perdas e aumentando a produtividade. Essa tecnologia também serve de base científica para negociações interestaduais e validação de créditos de carbono.
A segunda frente é voltada aos pequenos agricultores, com o conceito de “Irrigação como Serviço”. Em vez de comprar equipamentos, o produtor paga pelo uso da irrigação. Isso amplia o acesso a tecnologias modernas, reduz riscos e melhora a renda em regiões com recursos limitados.
McCornick – Trabalhamos em duas frentes. A primeira é a agricultura comercial de alta produtividade, onde desenvolvemos ferramentas que permitem determinar com precisão a necessidade diária de irrigação de cada cultura. Essas informações ajudam o produtor a aplicar a quantidade exata de água, no momento certo, reduzindo perdas e aumentando a produtividade. Essa tecnologia também serve de base científica para negociações interestaduais e validação de créditos de carbono.
A segunda frente é voltada aos pequenos agricultores, com o conceito de “Irrigação como Serviço”. Em vez de comprar equipamentos, o produtor paga pelo uso da irrigação. Isso amplia o acesso a tecnologias modernas, reduz riscos e melhora a renda em regiões com recursos limitados.
JC – É possível medir o impacto dessas ações no cenário americano?
McCornick – É difícil quantificar, porque há muitos fatores envolvidos. Mas Nebraska é reconhecida mundialmente como modelo de gestão sustentável da água, e o DWFI teve papel importante nesse processo. Promovemos pesquisas em irrigação eficiente, governança hídrica e ferramentas digitais de monitoramento. Além disso, criamos um ambiente de troca global: a cada dois anos realizamos a Water for Food Global Conference, que reúne especialistas, produtores e formuladores de políticas públicas do mundo todo. Também mantemos projetos de cooperação com o Brasil, especialmente nos estados da Bahia, Mato Grosso e Paraná, voltados à agricultura irrigada sustentável.
McCornick – É difícil quantificar, porque há muitos fatores envolvidos. Mas Nebraska é reconhecida mundialmente como modelo de gestão sustentável da água, e o DWFI teve papel importante nesse processo. Promovemos pesquisas em irrigação eficiente, governança hídrica e ferramentas digitais de monitoramento. Além disso, criamos um ambiente de troca global: a cada dois anos realizamos a Water for Food Global Conference, que reúne especialistas, produtores e formuladores de políticas públicas do mundo todo. Também mantemos projetos de cooperação com o Brasil, especialmente nos estados da Bahia, Mato Grosso e Paraná, voltados à agricultura irrigada sustentável.
JC – O senhor acompanha a situação enfrentada pelo Rio Grande do Sul, marcada por secas recorrentes? O que pode ser feito para aumentar a resiliência da produção agrícola nesse contexto?
McCornick – Sei que o Estado é um grande produtor de soja, arroz e milho, mas tem sofrido com eventos climáticos extremos – períodos de estiagem e de excesso de chuva. O que aprendemos em Nebraska é que dados e governança local são essenciais. O uso de sensores, satélites e ferramentas digitais para medir umidade do solo e consumo de água permite um agendamento de irrigação preciso, evitando desperdício. O DWFI tem tecnologias e metodologias que podem ser adaptadas à realidade do Rio Grande do Sul, tanto em propriedades de grande escala quanto em pequenas fazendas. A chave é investir em informação, planejamento e políticas públicas que estimulem o uso eficiente da água.
McCornick – Sei que o Estado é um grande produtor de soja, arroz e milho, mas tem sofrido com eventos climáticos extremos – períodos de estiagem e de excesso de chuva. O que aprendemos em Nebraska é que dados e governança local são essenciais. O uso de sensores, satélites e ferramentas digitais para medir umidade do solo e consumo de água permite um agendamento de irrigação preciso, evitando desperdício. O DWFI tem tecnologias e metodologias que podem ser adaptadas à realidade do Rio Grande do Sul, tanto em propriedades de grande escala quanto em pequenas fazendas. A chave é investir em informação, planejamento e políticas públicas que estimulem o uso eficiente da água.
JC – Quanto tempo levou para que Nebraska implantasse esse modelo de gestão da água e o que seria necessário para algo semelhante funcionar no Brasil?
McCornick – O sistema dos Distritos de Recursos Naturais começou a ser estruturado em 1969, quando o governo estadual decidiu unificar cerca de 500 pequenas entidades em 24 distritos (hoje são 23). A lei entrou em vigor em 1972. Cada distrito corresponde a uma bacia hidrográfica e é administrado por um conselho local, eleito de forma não partidária. Eles têm poder de arrecadação e autonomia para executar projetos de conservação. O sucesso vem justamente da confiança nas decisões locais – quem vive na região conhece suas necessidades e participa diretamente das soluções. É um modelo que poderia ser adaptado em outros países, desde que haja engajamento dos produtores e um marco legal que garanta estabilidade e transparência.
McCornick – O sistema dos Distritos de Recursos Naturais começou a ser estruturado em 1969, quando o governo estadual decidiu unificar cerca de 500 pequenas entidades em 24 distritos (hoje são 23). A lei entrou em vigor em 1972. Cada distrito corresponde a uma bacia hidrográfica e é administrado por um conselho local, eleito de forma não partidária. Eles têm poder de arrecadação e autonomia para executar projetos de conservação. O sucesso vem justamente da confiança nas decisões locais – quem vive na região conhece suas necessidades e participa diretamente das soluções. É um modelo que poderia ser adaptado em outros países, desde que haja engajamento dos produtores e um marco legal que garanta estabilidade e transparência.
JC – Quais são suas expectativas para o encontro com a missão brasileira que chega à Universidade de Nebraska?
McCornick – O DWFI recebe delegações de todo o mundo, e cada visita é uma oportunidade de aprendizado mútuo. O Brasil tem uma das agriculturas mais dinâmicas do planeta, e o Rio Grande do Sul vive um momento decisivo para fortalecer sua segurança hídrica. Nosso papel é compartilhar experiências, mostrar o que funcionou em Nebraska e, ao mesmo tempo, aprender com as soluções que estão sendo desenvolvidas no Brasil. A missão gaúcha certamente será parte desse diálogo global por um futuro mais sustentável.
McCornick – O DWFI recebe delegações de todo o mundo, e cada visita é uma oportunidade de aprendizado mútuo. O Brasil tem uma das agriculturas mais dinâmicas do planeta, e o Rio Grande do Sul vive um momento decisivo para fortalecer sua segurança hídrica. Nosso papel é compartilhar experiências, mostrar o que funcionou em Nebraska e, ao mesmo tempo, aprender com as soluções que estão sendo desenvolvidas no Brasil. A missão gaúcha certamente será parte desse diálogo global por um futuro mais sustentável.