Uma comitiva do governo da Namíbia esteve no Rio Grande do Sul entre os dias 6 e 10 de outubro para conhecer de perto a experiência gaúcha na produção de arroz e avaliar oportunidades de cooperação técnica com o Estado. O grupo, formado por representantes do Ministério da Agricultura, Pesca, Água e Reforma Agrária e da Embaixada da Namíbia em Brasília, percorreu áreas de produção e beneficiamento do grão.
O objetivo da visita foi ampliar o intercâmbio de conhecimento em tecnologia agrícola e fortalecer as relações institucionais e comerciais entre os dois países. O Rio Grande do Sul, responsável por mais de 70% da produção nacional de arroz, é reconhecido internacionalmente por sua produtividade, inovação e sustentabilidade na lavoura orizícola.
Por outro lado, a Namíbia vive atualmente uma fase de retomada de sua produção de arroz. O país, que colheu suas primeiras safras após anos de inatividade, busca reduzir a dependência de importações vindas da Índia e da África do Sul. Segundo Patrick Kompeli, gerente de fazendas do Kalimbeza National Rice Project, o intercâmbio com o Rio Grande do Sul representa um passo importante rumo à autossustentabilidade.
“Viemos conhecer como o Brasil produz, processa e armazena o arroz. No nosso país, ainda estamos no começo, com apenas 150 hectares cultivados, o que representa menos da metade da nossa demanda interna”, afirmou Kompeli, em entrevista ao Jornal do Comércio. “Aprendemos muito com o que vimos aqui. A experiência gaúcha nos mostra o caminho para alcançar a segurança alimentar.”
A Namíbia já utiliza sementes desenvolvidas pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em sua produção. Durante a visita à estação experimental de Cachoeirinha, os integrantes da missão observaram, no entanto, que as variedades usadas atualmente no país não são as mais modernas e demonstraram interesse em adquirir cultivares gaúchas com tecnologia mais avançada.
Com uma área de 824 mil quilômetros quadrados – quase três vezes o tamanho do Rio Grande do Sul – e população de cerca de 3 milhões de habitantes, a Namíbia apresenta, especialmente no Norte do país, boas condições para a prática agrícola. Já o Centro e o Sul enfrentam escassez hídrica e desafios semelhantes aos vivenciados pelo Estado nos últimos anos.
A vinda ao Rio Grande do Sul também teve caráter estratégico para identificar fornecedores de maquinário e insumos agrícolas. O país africano enfrenta limitações em equipamentos e infraestrutura e busca parcerias que possam acelerar seu desenvolvimento tecnológico.
Segundo Fenny Dimitrova, primeira-secretária da Embaixada da Namíbia, o interesse em cooperação técnica com o Brasil é crescente.
“Temos um grande interesse em cooperação técnica com o Brasil. O arroz ainda é uma cultura nova para nós, e o conhecimento dos produtores gaúchos pode fazer a diferença”, destacou.
Durante a visita, os representantes namibianos discutiram a possibilidade de organizar uma missão brasileira à Namíbia. A ideia é levar representantes de diferentes segmentos, embora o tema da segurança alimentar seja prioritário para os africanos. A proposta busca aproximar empresas e instituições de pesquisa dos dois países, promovendo intercâmbio tecnológico e abertura de novos mercados.
“Ouvir é uma coisa, mas estar lá e ver de perto o potencial é outra. Queremos que o Brasil conheça o que a Namíbia tem a oferecer”, afirmou Dimitrova.
A diplomata também ressaltou a longa relação de amizade entre os dois países, recordando as visitas oficiais de chefes de Estado e a necessidade de renovar e ampliar acordos bilaterais, especialmente na área agrícola.
O país africano, localizado no sudoeste do continente, destaca-se por sua estabilidade política e econômica, além de vantagens logísticas, como o Porto de Walvis Bay, considerado estratégico para o comércio regional.
Brasil e Namíbia mantêm laços diplomáticos desde a década de 1990, com acordos de cooperação em áreas como defesa naval, agricultura e educação. A expectativa agora é que o arroz se torne um novo eixo de parceria entre as duas nações.