Depois de dois dias de inspeções em propriedades avícolas e em um frigorífico na região do Vale do Caí, a missão chinesa que avalia as condições sanitárias para exportação de carne de frango deixa o Estado nesta quarta-feira (24) e segue para outros pontos do Brasil. A visita, considerada decisiva para a retomada das vendas ao maior importador global da proteína, encerrou a etapa gaúcha do cronograma.
A comitiva é formada por sete integrantes, sendo cinco técnicos do Departamento-Geral de Aduanas da China (GACC) e dois intérpretes. No Rio Grande do Sul, eles percorreram granjas comerciais e uma unidade frigorífica, acompanhados por representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária e do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA) da Secretaria da Agricultura do Estado. Segundo a diretora do DDA, Rosane Collares, o grupo buscou verificar de perto o funcionamento das medidas de biosseguridade e os protocolos de defesa sanitária adotados pelo Brasil.
Concluída a inspeção, os técnicos elaboram um relatório que será remetido a Pequim. A expectativa é de que o documento esteja pronto em algumas semanas, mas não há prazo definido para o anúncio de decisão. “Agora eles voltam, fazem o relatório e encaminham às autoridades chinesas. Todo o processo corre no tempo deles”, explicou o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos.
O embargo chinês à carne de frango do Rio Grande do Sul está em vigor desde julho de 2024, quando foi registrado um foco isolado de doença de Newcastle em uma granja comercial de Anta Gorda, no Vale do Taquari. A retomada parecia próxima no início deste ano, mas um novo obstáculo surgiu em maio, com a confirmação de influenza aviária em outro estabelecimento de produção comercial em Montenegro, no Vale do Caí. Os dois episódios foram rapidamente controlados, e o Brasil recuperou o status sanitário junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Ainda assim, a China manteve a restrição, reforçando sua postura de rigor extremo nos critérios de importação.
O setor avalia que a vinda da missão já representa um avanço, fruto de meses de tratativas diplomáticas e empresariais. “A visita aconteceu até antes do que imaginávamos, porque normalmente esse processo leva mais tempo. A resposta rápida do Brasil aos focos de influenza aviária foi decisiva para acelerar o diálogo”, destacou José Eduardo.
Ele lembra que, em outros países, como Estados Unidos e membros da União Europeia, a doença continua a ocorrer de forma recorrente.
A importância da China para os exportadores é decisiva. O país asiático responde por cerca de 13% das compras brasileiras de carne de frango e, antes da suspensão, representava aproximadamente 10% do destino da proteína gaúcha. Para o Brasil, que ocupa a liderança mundial nas exportações do setor, a reabertura significaria recuperar espaço em um mercado de alto volume e exigência.
A retomada, porém, depende da avaliação final do GACC, sem garantias de prazo ou de desfecho. No setor, a expectativa é de que a análise leve em conta a credibilidade dos mecanismos de defesa sanitária brasileiros e o peso do fornecimento estável ao longo de anos. Como definiu José Eduardo, “será uma retomada de extrema importância para o Rio Grande do Sul e para o Brasil”.