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Publicada em 14 de Agosto de 2025 às 16:12

Com safra de soja menor, exportações gaúchas do grão caem 31,8% em 2025

No ano, soja embarcada pelo RS totalizou 3,15 milhões de toneladas

No ano, soja embarcada pelo RS totalizou 3,15 milhões de toneladas

Ascom/PortoRS
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
O Rio Grande do Sul atravessa um ano desafiador para a soja, com forte impacto da quebra da safra, que registrou queda de 38,4%, de acordo com dados da Emater-RS. A colheita menor do que o esperado em solo gaúcho, em função das adversidades climáticas, também traz forte impacto sobre as exportações da oleaginosa.
O Rio Grande do Sul atravessa um ano desafiador para a soja, com forte impacto da quebra da safra, que registrou queda de 38,4%, de acordo com dados da Emater-RS. A colheita menor do que o esperado em solo gaúcho, em função das adversidades climáticas, também traz forte impacto sobre as exportações da oleaginosa.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), obtidos via plataforma Comex Stats do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), mostram que, entre janeiro e julho de 2025, o RS embarcou 2,689 milhões de toneladas do grão – queda de 31,8% frente às 3,945 milhões enviadas no mesmo período de 2024. Os números destoam dos apontados pela Portos RS, que registra saída de 3,516 milhões de toneladas do grão entre janeiro e julho deste ano somente pelo terminal do sul do Estado. Por lá, no mesmo intervalo no ano passado foram 4,457 milhões.
A receita com as exportações também recuou, afetando diretamente a renda do produtor rural gaúcho. Para Renan Hein dos Santos, assessor de Relações Internacionais da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), o cenário reflete não apenas as perdas no campo, mas também a concentração das vendas em poucos destinos.
"A China continua sendo o nosso maior comprador, respondendo por mais de 90% das exportações gaúchas de soja. Quando a produção cai, como neste ano, o efeito sobre a receita é imediato. O produtor sente isso na hora", afirma.
Ao longo de todo o ano de 2024, o Rio Grande do Sul exportou 10,599 milhões de toneladas de soja em grão, com receita de US$ 4,58 bilhões. A China respondeu por cerca de 93% desse total, movimentando US$ 1,62 bilhão entre janeiro e julho daquele ano e US$ 1 bilhão no mesmo intervalo de 2025. O peso do mercado chinês na pauta gaúcha é tão grande que variações no apetite do gigante asiático impactam diretamente a formação de preços locais.
 

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Mesmo com menos grão disponível, os preços nos portos do País seguem firmes, negociados, segundo consultorias. De acordo com a Safras & Mercado, os valores devem variar entre R$ 142 e R$ 146 por saca para embarques entre agosto e outubro no Porto de Rio Grande. A sustentação vem de uma demanda internacional robusta e de line ups (programação de embarques) mais cheios que em 2024.
Para agosto, a programação nacional indica cerca de 9 milhões de toneladas de soja, das quais aproximadamente 1,7 milhão devem passar pelo Porto de Rio Grande – pouco mais de 1 milhão já efetivamente embarcados na primeira quinzena do mês.
No front da comercialização, a leitura de Rafael Silveira, analista de soja da Safras & Mercado, é que o farmer selling no Estado está ao redor de 60%, com julho registrando avanço expressivo. "Apesar da boa evolução das vendas, a disponibilidade de soja no RS é menor, consequência direta da quebra de safra, devido às adversidades climáticas”, observa.
A produção gaúcha na safra 2024/2025 ficou próxima de 13,25 milhões de toneladas de soja, conforme os últimos dados atualizados da Ascar/Emater-RS. A soma representa uma redução de 38,4% sobre a projeção inicial, de 21,65 milhões de toneladas. No ciclo 2023/2024 o RS colheu mais de 18 milhões. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), entretanto, estima que o volume da oleaginosa colhido no RS foi de 14,28 milhões.
O pano de fundo nacional segue favorável ao escoamento do grão. A consultoria Safras & Mercado projeta que o Brasil exportará 104 milhões de toneladas de soja até o fim de 2025, superando o recorde de 98,81 milhões de 2024 (MDIC/Secex). O desempenho é puxado, principalmente, pela demanda chinesa.

 
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Produção dos EUA menor do que a projetada pode dar suporte a preços da saca

No mercado internacional, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) adiciona elementos de suporte aos preços. No último relatório, o órgão reduziu a estimativa de produção americana 2025/26 de 117,98 para 116,81 milhões de toneladas. A área plantada foi corrigida para 80,9 milhões de acres (32,7 milhões de hectares), e a colhida para 80,1 milhões (32,4 milhões de hectares).
Como consequência, os estoques finais dos EUA foram ajustados de 8,44 para 7,89 milhões de toneladas, e as exportações previstas caíram de 47,49 para 46,4 milhões de toneladas de soja. Na safra velha (2024/2025), os estoques também recuaram de 9,53 para 8,98 milhões de toneladas do grão.
No quadro global, o USDA reduziu a produção estimada de 427,68 para 426,39 milhões de toneladas de soja, e os estoques finais mundiais passaram de 126,07 para 124,9 milhões.
Para o Brasil, as projeções foram mantidas em 175 milhões de toneladas de produção e 112 milhões de toneladas de exportações de soja, com estoques finais levemente menores (62,43 milhões).
Na Argentina, a produção segue em 48,5 milhões de toneladas, com exportações ampliadas de 5 para 5,8 milhões. Para a China, o USDA manteve 21 milhões de produção e 112 milhões de toneladas de importações.
Esse conjunto de ajustes sinaliza que a oferta global não está folgada e que os Estados Unidos entram no ciclo com menor área e estoques mais baixos, o que limita quedas de preço e ajuda a sustentar prêmios nos portos brasileiros.
Em um ano de safra menor no Rio Grande do Sul, essa sustentação externa é crucial: abre janelas de comercialização em níveis remuneradores, desde que o produtor ajuste o ritmo de vendas ao fluxo de embarques e às oportunidades de prêmio e câmbio.

China já importou 58 milhões de toneladas de soja do Brasil em 2025


 
De janeiro a julho de 2025, o país asiático já importou cerca de 58 milhões de toneladas de soja brasileira, segundo dados preliminares da Secex. No Rio Grande do Sul, a relação com o mercado chinês se mantém estreita, mas a menor produção limitou o potencial de embarques do Estado neste ano.
Para Renan Santos, da Farsul, o momento é de atenção redobrada. "Precisamos trabalhar para ampliar mercados e reduzir a dependência de um só comprador, sem deixar de aproveitar as oportunidades que a China oferece. Ao mesmo tempo, é fundamental buscar políticas de apoio para mitigar os efeitos das perdas climáticas, que afetam não só o produtor, mas toda a cadeia econômica do Estado."
No campo financeiro, a menor receita pressiona o caixa, encarece o crédito e exige maior planejamento de vendas para aproveitar janelas de preço – sobretudo diante de um câmbio mais baixo, que em geral limita repasses, mas que tem sido compensado pelos prêmios FOB e pelo apetite externo.
 

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