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Publicada em 05 de Agosto de 2025 às 14:51

Bioinsumos ganham força no RS e impulsionam novo modelo de manejo

Bioinsumos movimentaram R$ 5,7 bilhões na safra 2024/2025 no mercado nacional e podem chegar a R$ 9 bilhões até 2030

Bioinsumos movimentaram R$ 5,7 bilhões na safra 2024/2025 no mercado nacional e podem chegar a R$ 9 bilhões até 2030

SATIS/DIVULGAÇÃO/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Com a crescente busca por alternativas mais sustentáveis e resilientes frente às mudanças climáticas, os bioinsumos vêm ganhando protagonismo nas lavouras do Rio Grande do Sul. De arroz irrigado a soja, milho e trigo, produtos biológicos como biofungicidas, bioestimulantes e inoculantes têm se consolidado como aliados do agricultor, complementando o manejo tradicional e fortalecendo a saúde do solo.
Com a crescente busca por alternativas mais sustentáveis e resilientes frente às mudanças climáticas, os bioinsumos vêm ganhando protagonismo nas lavouras do Rio Grande do Sul. De arroz irrigado a soja, milho e trigo, produtos biológicos como biofungicidas, bioestimulantes e inoculantes têm se consolidado como aliados do agricultor, complementando o manejo tradicional e fortalecendo a saúde do solo.
Segundo a CropLife Brasil, entidade que representa a indústria de defensivos e biotecnologia, a adoção de bioinsumos já cobre aproximadamente 5% da área agrícola gaúcha – cerca de 275 mil hectares. O RS responde por 5% do mercado nacional, que atingiu 156 milhões de hectares cultivados com produtos biológicos na safra 2024/25, um aumento de 13% em relação à temporada anterior.
No País, o setor vem crescendo em ritmo acelerado: nos últimos três anos, a taxa média de expansão anual foi de 22%, número quatro vezes superior à média global. Os bioinsumos movimentaram R$ 5,7 bilhões na safra 2024/2025 no mercado nacional. Até 2030, a estimativa é alcançar R$ 9 bilhões, com o País consolidando 16,4% de participação no mercado global, especialmente nos segmentos de bioinoculantes e biodefensivos. A previsão mundial é de crescimento anual de 13% até 2027, ultrapassando os US$ 20 bilhões e representando mais de 40% do valor total de mercado atual.
Esse avanço se apoia no desenvolvimento de tecnologias que demandam alto investimento e tempo de maturação.
O processo de inovação de um bioinsumo ou de uma semente com biotecnologia pode levar até 10 anos, envolvendo centenas de milhões de dólares em pesquisas e testes”, afirma a CropLife Brasil em nota enviada ao Jornal do Comércio.
Estimativa nacional feita pela Embrapa aponta que existem cerca de 200 empresas produtoras de bioinsumos no Brasil. O RS responde por parte relevante desse ecossistema. Entre elas estão a Bioagreen, a SoluBio, e a startup SemioCrop. Além disso, a Redeitec Bioinsumos RS, lançada pela UFSM, congrega 13 empresas do setor e 12 instituições de ensino e pesquisa, com foco no desenvolvimento local de bioinsumos.
Com sede em Araxá (MG), a Satis, que atua há 26 anos no setor de nutrição vegetal e biológicos e mantém um centro de distribuição em Marau, no norte gaúcho. A empresa lançou recentemente um biofungicida à base de Trichoderma harzianum, voltado ao controle de doenças de solo. Segundo Fabrício Porto, gerente de Inovação e Qualidade, o produto pode ser aplicado via tratamento de sementes, sulco de plantio ou pulverização.
A eficácia está acima de 85%. Ele favorece a colonização das raízes, a supressão de escleródios no solo e fortalece os mecanismos naturais de defesa das plantas”, explica.
Atualmente, os bioinsumos já respondem por mais de 10% do faturamento da empresa, com expectativa de alcançar 15% nesta nova temporada. A empresa pretende investir cerca de 10% do faturamento anual no segmento ao longo dos próximos cinco anos. O plano inclui a criação de uma linha de produção exclusiva até 2028 e a ampliação da linha de biodefensivos com novos agentes biológicos.
De olho em novos polos produtivos, a Satis encerrou o ciclo 2024/25 expandindo suas operações para culturas como cana-de-açúcar no Nordeste e Sudeste, uva no Vale do São Francisco e melão na região de Mossoró (RN). Para a temporada 2025/26, a expectativa é de retomada no mercado e crescimento de até 20% no faturamento – que se manteve em torno dos R$ 100 milhões nas duas últimas safras, sinalizando estabilidade frente às incertezas econômicas. O plano é reforçar a atuação em culturas estratégicas como soja, café, milho, feijão e hortifrúti, e consolidar a presença em regiões como Mato Grosso e Oeste da Bahia.
A companhia opera atualmente com centros logísticos no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, na Bahia, em Mato Grosso, no Pará e em Goiás. Um novo centro de distribuição com loja deve ser inaugurado até setembro, elevando a capacidade de armazenamento da empresa para mais de 600 mil litros.
A logística de resposta rápida às demandas regionais tornou-se prioridade diante do comportamento do produtor, que tem feito suas compras cada vez mais perto da aplicação”, completa o diretor executivo, Vanderlei Corral.

Produtor aposta em insumos biológicos e melhora rentabilidade

Incorporação do manejo biológico permitiu o reequilíbrio do ambiente nas lavouras de Alécio Radons

Incorporação do manejo biológico permitiu o reequilíbrio do ambiente nas lavouras de Alécio Radons

ALÉCIO RADONS/ARQUIVO PESSOAL/JC
Com origem agrícola desde a imigração do tataravô, na virada do século passado, o engenheiro agrônomo Alécio Fernando Schulz Radons, 39 anos, produz soja, milho, trigo e aveia em uma área de 60 hectares entre os municípios de Ijuí e Coronel Barros, no Noroeste do Estado. E, há cerca de 15 anos, iniciou o manejo das terras com insumos biológicos – o que, para ele, é um caminho sem volta.

A largada no processo de recomposição do solo se deu com a aplicação de inoculantes para melhorar a fixação de nitrogênio. Essa foi uma das etapas da iniciativa que buscava reequilibrar o ambiente para que a terra e as plantas tivessem melhores condições de produzir, com foco na sustentabilidade.

Aos poucos, identifiquei que o uso dos bioinsumos permitia que eu reduzisse a aplicação de produtos químicos para o enfrentamento de doenças na lavoura. E que aquele ecossistema estava melhorando sua capacidade de resiliência”, conta Radons.

Com o passar do tempo, a produtividade aumentou, o custo de produção caiu. O agrônomo ressalta que os índices de performance não são lineares, uma vez que a atividade vive às voltas com uma série de variantes climáticas com grande impacto sobre os resultados. Mas estima que, em condições normais, o ganho é significativo nas duas pontas.

Aumentar entre 5% e 15% a produtividade e reduzir até 30% o custo por hectare é bastante viável. Mesmo performances mais modestas já são importantes em uma atividade com margens tão ajustadas.

Radons observa que a evolução genética das cultivares eleva o teto produtivo, mas reduz a resistência das plantas aos ataques de pragas e doenças. Os bioinsumos são a primeira ferramenta de enfrentamento – e, quando não dão conta, aí sim o caminho é recorrer aos produtos químicos.

Mas tudo é uma construção. De um ambiente mais equilibrado, sadio, autossustentável e rentável. Um processo a médio e longo prazo, que vai assegurar a continuidade da produção com qualidade e produtividade”, completa.
Os bioinsumos têm papel complementar aos defensivos ou fertilizantes convencionais, como parte de um manejo integrado que considere as especificidades de cada cultura e região. Quando bem aplicados – com a formulação certa, em condições ambientais adequadas e respeitando a compatibilidade com outros insumos –, contribuem para uma série de ganhos agronômicos: maior equilíbrio microbiológico do solo, incremento da fertilidade, redução da compactação e estímulo ao desenvolvimento radicular.
Do ponto de vista econômico, embora alguns produtos biológicos ainda apresentem custo inicial mais elevado, o retorno costuma se manifestar a médio e longo prazo. Entre os benefícios estão a redução do número de aplicações químicas, menor incidência de doenças, maior estabilidade produtiva e resiliência frente a extremos climáticos, cada vez mais frequentes nas lavouras gaúchas.
Apesar do crescimento acelerado, o setor ainda enfrenta entraves relevantes. Um dos principais é a falta de padronização, especialmente entre produtos desenvolvidos e aplicados diretamente nas propriedades (os chamados “on farm”), cuja eficácia pode ser variável e comprometer a credibilidade do segmento.
Outro ponto crítico é a assistência técnica. Sem suporte especializado, os agricultores podem enfrentar dificuldades na adoção correta dos insumos biológicos, acarretando perdas de desempenho. Também há desafios logísticos: produtos vivos exigem cadeia de frio e armazenamento cuidadoso, o que limita o alcance em regiões mais remotas.
Além disso, a homologação de novos produtos ainda é lenta.
A morosidade dos processos regulatórios dificulta a entrada de novas tecnologias no campo, o que trava o avanço do setor e desestimula investimentos em pesquisa e inovação”, completa a CropLife.

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