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Publicada em 21 de Julho de 2025 às 17:21

Produtores querem seguro rural mais eficiente e previsível

Com a redução na subvenção e o encarecimento das apólices, cobertura pode cair

Com a redução na subvenção e o encarecimento das apólices, cobertura pode cair

JCOMP/FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Chegou a hora de o Brasil reformar o modelo de seguro rural. A avaliação – que após a ocorrência de eventos climáticos intensos no RS mobiliza técnicos do governo federal – é de produtores e profissionais do ramo. Para eles, as perdas acumuladas nas lavouras gaúchas tornaram visível a fragilidade dos mecanismos atuais de proteção, que não acompanharam a escalada de riscos climáticos enfrentada pelos produtores.
Chegou a hora de o Brasil reformar o modelo de seguro rural. A avaliação – que após a ocorrência de eventos climáticos intensos no RS mobiliza técnicos do governo federal – é de produtores e profissionais do ramo. Para eles, as perdas acumuladas nas lavouras gaúchas tornaram visível a fragilidade dos mecanismos atuais de proteção, que não acompanharam a escalada de riscos climáticos enfrentada pelos produtores.
Na safra 2023/2024, cerca de 85% das lavouras de soja estavam seguradas no Estado – mais que o dobro da safra anterior, quando a cobertura foi de 41%. O aumento é reflexo direto da intensificação dos eventos extremos. O cenário, porém, é de alerta. Com a redução na subvenção federal e o encarecimento das apólices, há risco de retração da cobertura nos próximos ciclos, especialmente entre produtores de culturas de inverno como o trigo, onde a sinistralidade tem sido recorrente.
A reestruturação do seguro rural desponta como uma das prioridades do Ministério da Agricultura e Pecuária após as perdas acumuladas no Rio Grande do Sul por quatro estiagens e duas enchentes em sequência. O assunto não constou das medidas anunciadas oficialmente no lançamento do Plano Safra 2025/2026 – o que gerou críticas do setor –, mas vem sendo tratado nos bastidores como estratégico pelo secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos Júnior.
O seguro atual não cobre adequadamente o produtor nem dá segurança ao agente financeiro”, resume Hamilton Jardim, engenheiro agrônomo e presidente da Câmara Setorial do Trigo do RS.
Ele lembra que os modelos vigentes – Proagro e Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) – enfrentam entraves. O Proagro, voltado à agricultura familiar, tem cobertura limitada e processos burocráticos. Já o PSR, mais abrangente, depende da liberação anual de verbas públicas, frequentemente atrasada e insuficiente.
Para Elmar Konrad, vice-presidente da Farsul e coordenador da Comissão de Grãos da entidade, o atual sistema está desequilibrado. De um lado, o governo reduziu os percentuais de subvenção. De outro, os prêmios subiram entre 15% e 20%, com menor cobertura contratada pelas seguradoras, o que transfere parte dos riscos ao produtor.
"Muitos agricultores desistiram do seguro ou reduziram sua cobertura. A alternativa tem sido recorrer ao crédito, o que amplia o passivo rural", alerta.
O dirigente ainda reforça: “Prefiro o seguro ao crédito, porque o crédito só aumenta a dívida do produtor, enquanto o seguro pode proteger contra os riscos que ele não controla.
A avaliação é compartilhada por Tiago Pasetti, diretor comercial da Pasetti Seguros, com sede em Soledade (RS). Atuando na comercialização de apólices em diversas regiões do Estado, Pasetti relata frustração recorrente de produtores que, mesmo após contratarem seguro, não conseguiram cobertura satisfatória diante de eventos climáticos severos.
Temos um modelo de seguro muito baseado em produtividade, que exige laudos, vistorias, comprovações – tudo isso quando o produtor já está no prejuízo. E às vezes, mesmo assim, não consegue indenização”, afirma.
Na avaliação do executivo, o Brasil precisa avançar na diversificação de instrumentos, entre eles o seguro paramétrico. Nesse modelo, as indenizações não dependem da comprovação de perdas na lavoura, mas do atingimento de parâmetros previamente definidos – como volume de chuva abaixo de certo limite, por exemplo.
É uma ferramenta que dá previsibilidade, reduz custos operacionais e pode ter apelo inclusive para culturas menos tradicionais”, explica.
Pasetti defende também a adoção de um sistema de resseguro com garantias públicas, como ocorre em países como Espanha e Estados Unidos, onde o Estado atua como fiador de última instância.
Falta ao Brasil uma política de Estado para o seguro rural, com orçamento plurianual e regras claras. Hoje, a subvenção é incerta e chega tarde. Isso prejudica todo o planejamento das seguradoras e das corretoras.
Como proposta de médio prazo, Konrad cita o projeto da senadora Kátia Abreu (PP-TO), que prevê a criação de um fundo de catástrofe financiado com recursos públicos e privados. A ideia é cobrir perdas decorrentes de eventos extremos, acima da capacidade de resposta das apólices tradicionais.
É uma forma de dar estabilidade ao setor e manter o produtor no campo, mesmo em anos críticos”, destaca.
No curto prazo, as lideranças concordam que é preciso garantir previsibilidade orçamentária e elevar os percentuais de subvenção federal.
Hoje, com 20% a 30% de subvenção, muitos produtores já não fecham a conta. É preciso elevar esse percentual e garantir mais previsibilidade”, defende Konrad.
O diretor da Pasetti Seguros também aponta que o modelo atual, genérico e centralizado, muitas vezes não responde à realidade local.
O Rio Grande do Sul vive uma instabilidade climática muito específica. Precisamos de produtos que se ajustem melhor a essas particularidades”, afirma.

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