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Publicada em 11 de Junho de 2025 às 15:45

Simulador mostra riscos da deriva e reforça boas práticas no campo

Ulisses Antuniassi defende a multiplicação de boas práticas agrícolas como ferramenta de aprimoramento nas lavouras

Ulisses Antuniassi defende a multiplicação de boas práticas agrícolas como ferramenta de aprimoramento nas lavouras

TÂNIA MEINERZ/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Um evento realizado nesta quarta-feira (11), na estação experimental do Irga, em Cachoeirinha, mostrou na prática como o uso correto de tecnologias de pulverização pode evitar prejuízos causados por defensivos agrícolas mal aplicados. A atividade integrou o Programa de Aplicação Responsável (PAR), uma parceria entre a Corteva Agriscience e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que só em 2025 já capacitou mais de 3,9 mil agricultores em todo o Brasil, incluindo 350 no Rio Grande do Sul.
Um evento realizado nesta quarta-feira (11), na estação experimental do Irga, em Cachoeirinha, mostrou na prática como o uso correto de tecnologias de pulverização pode evitar prejuízos causados por defensivos agrícolas mal aplicados. A atividade integrou o Programa de Aplicação Responsável (PAR), uma parceria entre a Corteva Agriscience e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que só em 2025 já capacitou mais de 3,9 mil agricultores em todo o Brasil, incluindo 350 no Rio Grande do Sul.
Durante o encontro, jornalistas e técnicos assistiram à demonstração do simulador de deriva, ferramenta que evidencia o quanto a escolha errada da ponta de pulverização, o vento ou até a altura da barra podem fazer com que o produto químico atinja áreas não desejadas. Essa dispersão, conhecida como deriva, é uma das principais causas de conflitos entre agricultores, especialmente em regiões onde convivem lavouras extensivas e culturas sensíveis, como videiras e hortifrúti.
É fundamental que o agricultor conheça e adote boas práticas agrícolas. Desde a escolha da ponta correta até a obediência às condições climáticas ideais, tudo interfere na segurança da aplicação”, destacou o professor Ulisses Antuniassi, especialista em tecnologia de aplicação e docente da Unesp em Botucatu (SP).
Além de evitar danos a vizinhos e ao meio ambiente, o uso correto dos defensivos preserva a saúde dos trabalhadores e contribui para a sustentabilidade do agronegócio. Por isso, o programa também reforça a importância do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), do respeito às bulas dos produtos e da adoção de parâmetros operacionais recomendados, como dose, tipo de gota e velocidade de aplicação.

Criado há cerca de 20 anos, o PAR já treinou aproximadamente 35 mil pessoas no Brasil. Em 2025, foram mais de 70 eventos realizados em diversos estados, com foco em culturas como grãos, cana-de-açúcar, arroz, hortifrúti e pastagem.
No Rio Grande do Sul, onde vigoram regras específicas da Secretaria da Agricultura para a aplicação de herbicidas hormonais, o programa também inclui treinamentos voltados para o cumprimento das Instruções Normativas estaduais, que exigem cadastro de aplicadores, registros técnicos e respeito às condições climáticas. De acordo com a pasta, há 25.777 aplicadores cadastrados e habilitados para o manejo de hormonais.
Os herbicidas hormonais são produtos químicos usados na agricultura para eliminar plantas daninhas de folhas largas. Entre os mais conhecidos está o 2,4-D, um herbicida seletivo, usado principalmente em lavouras de soja, milho, trigo e pastagens. Ele não afeta plantas gramíneas, mas é altamente tóxico para culturas de folhas largas, como uvas, tomates, feijão, hortaliças e frutas.
O 2,4-D é eficaz, barato e de fácil aplicação, por isso segue sendo bastante utilizado. Porém, seu uso exige muito cuidado, pois o produto pode evaporar ou ser levado pelo vento, atingindo áreas que não deveriam ser pulverizadas.
Desde 2019, esses treinamentos foram realizados em 80 municípios gaúchos, ampliando o alcance da informação no Estado.
Oferecer conteúdo técnico e acessível é essencial para que o produtor rural utilize os recursos disponíveis com responsabilidade e segurança”, reforça Jair Francisco Maggioni, coordenador de Boas Práticas Agrícolas da Corteva.
  • Boas práticas no campo:
    O que é deriva?
    É o deslocamento de partículas de defensivos agrícolas para fora da área de aplicação, causado por vento, temperatura alta ou aplicação inadequada.
    Quais os riscos?
    A deriva pode atingir plantações vizinhas, contaminar o solo e prejudicar a saúde humana e ambiental.
    Como evitar?
    Com uso de EPIs, escolha correta das pontas de pulverização, atenção ao clima (vento, umidade, temperatura), pressão e altura da barra do pulverizador.
    Qual o papel do PAR?
    Capacitar produtores para o uso seguro e eficaz de defensivos, respeitando a legislação e promovendo uma agricultura sustentável.

A polêmica do 2,4-D no RS

Escolha correta da ponta de pulverização é determinante para aplicação correta dos insumos na lavoura

Escolha correta da ponta de pulverização é determinante para aplicação correta dos insumos na lavoura

TÂNIA MEINERZ/JC
No RS, a aplicação do 2,4-D gera conflitos frequentes entre agricultores, especialmente entre produtores de grãos e de culturas sensíveis, como a viticultura na Serra Gaúcha. Quando o herbicida aplicado em uma lavoura de soja atinge, por exemplo, um parreiral próximo, pode causar deformações nas folhas, queda de flores e frutos, e até perda total da produção.
Diante disso, a Secretaria da Agricultura passou a adotar medidas regulatórias, como a Instrução Normativa 06/2019, que obriga o cadastro dos aplicadores, o controle detalhado das condições de aplicação (vento, temperatura, umidade) e o registro técnico da pulverização, além de prever penalidades para quem descumprir as regras. Mesmo assim, relatos de danos por deriva continuam, especialmente durante o verão, quando o clima favorece a volatilização.
A discussão não é exclusiva do RS. O uso do 2,4-D é controverso em várias partes do Brasil e do mundo, especialmente por seus efeitos colaterais quando mal aplicado. Paraná, Santa Catarina e São Paulo também registraram casos de deriva e vêm discutindo regulamentações locais.
Nos EUA, há proibições ou restrições estaduais quanto ao uso de dicamba e 2,4-D em determinadas épocas do ano, por causa da volatilidade e do impacto em plantações sensíveis. Na Europa, o uso é muito mais controlado e limitado, com restrições severas de uso em áreas próximas a culturas vulneráveis e zonas urbanas.

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