Com um aporte de R$ 480 milhões nos próximos dois anos, o governo do Estado lançou nesta terça-feira (10) dois programas que considera cruciais para resgatar a capacidade produtiva e a competitividade do agronegócio gaúcho. Serão R$ 300 milhões na Operação Terra Forte, que busca a recuperação dos solos agrícolas, após as perdas devastadoras provocadas pelas enchentes de 2024, e outros R$ 180 milhões no programa Milho 100%, para subsidiar a integralidade das 120,9 mil sacas de sementes que poderão ser adquiridas nas safras de verão 2025/2026 e 2026/2027.
As ações fazem parte do Programa de Recuperação Socioprodutiva, Ambiental e de Resiliência Climática da Agricultura Familiar Gaúcha, aprovado pela Assembleia Legislativa na semana passada e que prevê R$ 903 milhões em investimentos para este segmento. Os recursos são do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), e a expectativa é de que o Terra Forte e o Milho 100% alcancem dirá ou indiretamente mais e 150 mil famílias de agricultores familiares, disse o secretário de Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti, durante a cerimônia, no Palácio Piratini.
No primeiro, a ideia é recuperar a qualidade nutricional e de retenção de água dos solos em 15 mil propriedades rurais do Estado, que serão selecionadas pelos conselhos municipais de desenvolvimento agropecuário, por meio da elaboração de diagnósticos individualizados da situação em cada uma delas e do aporte financeiro para a adoção das medidas apontadas por técnicos da Emater/Ascar. Os locais selecionados – chamados Unidades de Referência Técnica (URT) – receberão acompanhamento e assistência dos extensionistas durante dois anos. Os produtores familiares interessados devem procurar os escritórios municipais da Emater, a partir de julho, para se inscrever no programa.
Entre as ações desenvolvidas estão a descompactação das terras, para facilitar a absorção de água, a correção da fertilidade e da acidez do solo, o uso de tecnologias para agricultura de baixo carbono e o manejo de resíduos de produção animal. A ideia é que os resultados de produtividade e enfrentamento às adversidades climáticas verificados nas URTs, a partir da implantação do programa, sejam multiplicados a partir da disseminação das técnicas por agricultores e pecuaristas familiares que visitarem os locais, em dias de campo organizados pela Emater.
“Desde 2004, o RS enfrentou seis estiagens severas. E nos anos de 2023 e 2024 tivemos mais de 10 episódios de enxurradas e inundações. Já vínhamos falando sobre a necessidade de recuperar os solos degradados, mas o episódio do ano passado tornou essa demanda obrigatória. As enchentes deixaram mais de 2,7 milhões de hectares erodidos”, lembrou o presidente da Emater, Luciano Schwerz, que detalhou o programa.
Com o Terra Forte, o governo pretende aumentar a renda dos produtores e melhorar a qualidade ambiental - uma vez que as técnicas a serem implantadas estão em consonância com o programa ABC + RS. E ainda há um olhar sobre o aspecto social, com a renovação da esperança na fixação das famílias no campo e na sucessão rural.
Já o Programa Milho 100%, que prevê o aporte de R$ 92 milhões para a compra de sementes certificadas para o plantio da próxima safra de verão e a repetição do valor para o cultivo 2026/2027, surge como um substituto ainda mais eficiente ao Programa Troca-Troca de Sementes de Milho e Sorgo. Os agricultores selecionados poderão solicitar até seis sacas de sementes, com valor 100% subsidiado pelo governo gaúcho.
Um dos objetivos é fomentar o cultivo de milho e sorgo por meio da disponibilização de sementes destinadas à produção de grãos e silagem para agricultores e pecuaristas familiares. Ainda, visa reduzir o custo de implantação das lavouras, ampliar a oferta desses insumos chaves para as cadeias de carnes e lácteos, além de reduzir a necessidade de importação de milho de outros Estados e países.
A ação é essencial para as pequenas propriedades rurais, avalia o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no RS (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva. É que o cereal é essencial como silagem para para a transformação em leite e também na produção de carne suína, de frango e ovos.
"É uma iniciativa interessante. Mas a demanda é muito maior do que essas seis sacas de sementes por família. Em muitos lugares teremos de diminuir esse volume para poder atender a um número maior de propriedades. Precisava mais. Porém, é uma iniciativa importante", ponderou o dirigente.
Silva também ressaltou a importância do Terra Forte para o segmento. O programa foi um dos pedidos feitos pela entidade ao governador ao longo da gestão, além da ampliação de recursos para projetos de irrigação e da qualificação no fornecimento de energia elétrica no campo.
"Vai melhorar a produtividade e ainda axiliar na acumulação de água no solo".
Em busca de caminhos para auxiliar o agronegócio do RS, o governador Eduardo Leite aposta alto na eficácia do Terra Forte e do Milho 100%, especialmente combinados com o Irriga + RS. E durante a solenidade, que lotou o Salão Negrinho do Pastoreio, tratou de valorizar o papel da agricultura familiar para a economia do RS.
“Não podemos falar em pequeno ou grande produtor. Todo produtor é grande. O tamanho da propriedade é que varia. Mas o trabalho desenvolvido é grandioso. Talvez não esteja sendo assimilado o poder do dia de hoje”, afirmou, dando a dimensão da abrangência do impacto positivo que pode ser alcançado com as ações.
Ele acredita no efeito direto nas propriedades e no indireto, com a difusão das técnicas para todo o Estado, multiplicando os efeitos da recuperação dos solos e, a partir disso, da produtividade e do aumento da rentabilidade.
“Ao longo dos últimos seis anos, com as estiagens recorrentes, aconteceram perdas econômicas que equivalem a 60% do PIB de um ano inteiro. Por isso, estamos trabalhando para apoiar o produtor de forma tecnicamente responsável, com programas que tiveram muito estudo e trabalho no seu desenvolvimento”, concluiu Leite.