Atualizada em 17/05/2025, às 11h15min
Dois focos ativos de Influenza Aviária (H5N1) foram identificados no Rio Grande do Sul. Um deles, em Montenegro, se constitui como primeiro caso da doença em estabelecimento comercial no País e levou à depopulação e desinfecção dos dois galpões de uma granja onde ficavam 17 mil galinhas matrizes - de ovos para produção de genética com foco em frangos para consumo de carne. O outro, no zoológico de Sapucaia do Sul, onde pelo menos 90 aves aquáticas de um dos recintos já morreram , de forma abrupta, nos últimos dias.
Na granja, cerca de 15 mil animais morreram pela doença, e e outros 2 mil foram sacrificados. Com o episódio no município do Vale do Caí, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou a suspensão das exportações de carne de frango e ovos do Brasil para a China, a Argentina, o Uruguai e a União Europeia. E avisou que os termos de acordos bilaterais com diversos países deverão balizar o tamanho e o tempo do embargo, que poderá ficar restrito somente à área afetada, ao município de Montenegro, ao RS ou mesmo travar os embarques de todo o Brasil.
A pasta ressaltou que países como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, por exemplo, já aprovaram a regionalização e que “não há, no momento, restrição generalizada da exportação de produtos de aves do Rio Grande do Sul”.
O caso é mais um golpe no setor avícola, que há quase um ano enfrentou a Doença de Newcastle em um aviário de Anta Gorda e que mantém até hoje o Rio Grande do Sul fora do roteiro de importações da China e do Chile. E faz disparar um sinal de alerta na região, cuja economia é fortemente apoiada pela atividade avícola, com centenas de estabelecimentos com produção comercial ou de subsistência.
Por isso, A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação e o Ministério da Agricultura desencadearam a execução de uma série de medidas para isolar o local infectado, eliminar a presença do vírus e fazer uma varredura nos 520 locais com criação de aves em um raio de 10 quilômetros da granja onde morreram os animais.
Tentando manter a serenidade, o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, disse em coletiva de imprensa realizada na sede da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, que confia na qualidade e na eficiência dos órgãos de controle e nas tratativas do governo federal com os países importadores para a rápida resolução do problema e a normalização das vendas.
Santos ressaltou que o consumo de carne de frango e ovos tem crescido e não coloca em risco a população e que espera pelos desdobramentos da situação para definir os próximos passos, com possível redirecionamento de produtos que iriam para destinos eventualmente sob embargo.
“Não estamos 100% protegidos. Há aves migratória que podem transportar o vírus, mas o setor atua fortemente com ações e protocolos de biossegurança e educação dos profissionais que trabalham nos estabelecimentos comerciais para reduzir os riscos. Esse é um problema não do RS, mas da avicultura brasileira. Estamos atentos aos impactos do mercado”.
O dirigente também lembrou que, por se tratar de uma granja parceira de uma grande empresa do setor - cujo nome não foi revelado -, há confiança ainda maior no manejo da situação, uma vez que a unidade deverá receber forte aparato de suporte tecnológico.
O secretário da Agricultura, Edivilson Brum, afirmou que a situação preocupa especialmente a economia de Montenegro. Mas reforçou o trabalho para o enfrentamento de enfermidades como essa. Segundo ele, o caso da Doença de Newcastle, no ano passado, assegura experiência na condução deste episódio. E completou.
“O setor produtivo primário tem sido impactado já bastante tempo. Recentemente, tivemos quatro estiagens e uma enchente. Agora estamos verificando uma nova queda na produção de grãos. Quando o Brasil tem produção recorde e o RS sofre queda, não é porque desaprendemos a plantar".
Para conter a disseminação da doença, barreiras estão sendo instaladas em locais estratégicos no entorno do local onde o foco foi identificado. Veículos que transportam animais, ração e leite serão vistoriados e desinfectados nesses pontos. Cerca de 60 profissionais participarão das ações de fiscalização e monitoramento que serão realizadas em raios de três quilômetros e sete quilômetros da granja infectada – já isolada –, para assegurar que nenhum outro caso passe despercebido.
Os estabelecimentos distantes até três quilômetros são considerados dentro da área de foco. Nesses locais, técnicos do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA) da Secretaria da Agricultura inspecionarão as aves a cada três dias. E as granjas localizadas sete quilômetros fora desse raio serão vistoriadas a cada sete dias, explicou a diretora do Departamento, Rosane Collares.
Ela acredita que as equipes deverão levar cerca de uma semana para chegar a todos os 520 criatórios dentro do perímetro afetado. As medidas serão iniciadas neste sábado. Caso não sejam identificados novos focos, o processo de encerramento do período de emergência será iniciado.
Conforme o DDA, o levantamento da interdição na granja será de pelo menos 28 dias. Esse tempo é equivalente a duas vezes o período de incubação da doença.
De acordo com a auditora fiscal federal agropecuária Taís Barnasque, responsável e coordenadora institucional do Programa Nacional de Sanidade Avícola do Ministério da Agricultura, a pasta irá fazer o rastreamento dos ovos que saíram da unidade nas últimas semanas, cujos destinos podem chegar a dezenas de 70 países e que já foram movimentados para fora do Estado. Todo o material deverá ser eliminado, para evitar a proliferação da doença.
O Brasil é o terceiro maior produtor de carne de frango e o maior exportador, com recordes de 5,294 milhões de toneladas embarcadas e de faturamento, com US$ 9,928 bilhões, em 2024. O RS, mesmo com os problemas enfrentados a partir do foco de Newcastle, em julho, exportou mais de 690 mil toneladas, respondendo por cerca de 13% das exportações nacionais desse segmento no ano passado e obtendo receita estimada em US$ 1,3 bilhão, conforme a Asgav.
Em coletiva de imprensa, órgãos e vigilância sanitária detalharam as medidas adotadas para conter a proliferação da doença
VITOR ROSA/PALÁCIO PIRATINI/DIVULGAÇÃO/JC
Pelo menos 90 aves morreram no zoológico de Sapucaia
No local onde morreram pelo menos 90 cisnes, marrecos, patos e outras aves aquáticas por Influenza Aviária (H5N1) no zoológico de Sapucaia do Sul havia cerca de 500 exemplares. As aves que sobreviveram estão sendo monitoradas, mas não serão abatidas, explicou Ananda Kowalski, coordenadora do Programa Estadual de Sanidade Avícola.
Por conta disso, o parque foi fechado já na quarta-feira e segue bloqueado para o público. Segundo ela, o caso exige atenção, porque a enfermidade é de alta letalidade entre as aves e pode também atingir outras espécies no parque. Ananda salientou, entretanto, que as formas de infecção em humanos são por inalação ou pelo contato de resíduos de animais afetados com os olhos, nariz e boca.
Outra medida adotada pelos órgãos de vigilância foi a interdição e a proibição da visitação do pavilhão das aves na Expoleite Fenasul, que ocorre até domingo no parque Assis Brasil, em Esteio. Ali, 65 exemplares que participam da mostra estão isolados desde quinta-feira em uma “bolha de proteção”, como definiu o diretor adjunto do Departamento de Vigilância Sanitária Animal, Francisco Lopes. E já estão retornando aos estabelecimentos de origem.