Com investimentos estimados entre R$ 700 milhões e R$ 900 milhões, a Cotrijal, de Não-Me-Toque, a Cotrisal, de Sarandi, e a Cotripal, de Panambi, pretendem construir juntas uma usina para extração de óleo de soja. O anúncio oficial e o detalhamento deve ocorrer até o final de outubro, conforme antecipou o presidente da Cotrijal, Nei César Manica, em visita à Casa do Jornal do Comércio na 47ª Expointer.
O projeto consolida a mudança de rumo nos planos da Cotrijal, que há dois anos anunciou intenção de construir uma usina de etanol de trigo. O detalhamento da nova iniciativa, inclusive a estimativa de produção, deverá ser apresentado pelo presidente da Cotrisal, Walter Vontobel, escolhido para comandar o projeto no primeiro ano dos trabalhos. Em entrevista à Rádio Sarandi, no início de setembro, ele projetou o volume de recursos a ser aplicado no negócio. A ideia é a formação de uma central de cooperativas para gerir a indústria, cuja matéria-prima serão, principalmente, grãos originados pela Cotrijal, a Cotrisal e a Cotripal.
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Além do óleo, cuja destinação ainda é mantida em segredo, serão produzidos farelo e casca de soja para abastecer fábricas de rações de animais.
“O agronegócio está sempre discutindo a agregação de valor e a transformação dentro da cadeia. O projeto vai justamente industrializar grande parte da nossa produção, agregando valor e renda aos associados”, disse Manica.
A ideia é que a fábrica esteja funcionando já no final de 2025. Para isso, o grupo já está equacionando o aporte de recursos junto a instituições financeiras, bem como a definição dos incentivos fiscais com o governo do Estado. Estudos de viabilidade logística, rodovia, ferrovia e energética, além das questões ambientais, estão em andamento para que a localização do empreendimento seja definido e divulgado.
Outros movimentos pelo Estado mostram o crescimento da busca por produção de biocombustíveis. Em Passo Fundo, também no norte do Rio Grande do Sul, a Be8 segue a todo vapor com seu projeto para produção de alimento humano e animal (glúten vital e farelo), além de combustível renovável (etanol). Com capacidade de armazenar 400 mil toneladas de matéria-prima, a planta poderá operar 365 dias por ano.
O empreendimento está sendo construído ao custo de R$ 1 bilhão, sendo R$ 729,7 milhões financiados junto ao Banco Nacional de Desenvolvmento (BNDES). Conforme o presidente da companhia, Erasmo Carlos Battistella, o complexo que irá produzir 220 milhões de litros por ano, com 750 toneladas de cereais ao dia, dever começar a operar em cerca de dois anos, com a produção da safra de trigo de 2026.
“Trigo e triticale serão os carros-chefe. A indústria de carros flex pode usar sorgo, milho ou arroz, por exemplo. Mas estamos projetando fomentar o desenvolvimento das culturas de inverno. Embora a fábrica esteja sendo preparada para usar milho, a matéria-prima preferencial e cuja ideia é impulsionar a produção são mesmo trigo, triticale e centeio”, explica o empresário.
No complexo haverá uma fábrica de glúten vital – proteína muito utilizada na alimentação humana e animal e que será destinada para alimentação humana. Serão 35 mil toneladas anuais. De importador, o Brasil passará a ser exportador, projeta Battistella.
A estrutura também fabricará etanol e, no processo de fermentação, o CO2 será extraído, purificado e elevado a grau de alimento. O objetivo é abastecer as indústrias de bebidas do Rio Grande do Sul, que costumam importar o CO2 de São Paulo, e tornar o Estado auto-suficiente.
Outras 155 mil de toneladas de farelo, ou grãos secos de destilaria com solúveis - DDGS na sigla em inglês -, serão obtidos imediatamente após a fermentação no processo de produção do etanol.
“Será um parque industrial que, com trigo e triticale de baixa qualidade, vai produzir alimento humano, energia renovável e alimento animal. Isso mostra que o agronegócio produz alimento e energia renovável”, acrescenta o presidente da Be8.
O projeto já está impulsionando a expansão do cultivo de trigo. Sementes de pelo menos duas variedades de trigo específicas para etanol já estão sendo produzidas. E uma parceria com a Embrapa Trigo desenvolve a produção de variedades de triticale para o mesmo fim.
“A produção de inverno do Rio Grande do Sul nunca foi pensada para energia, e sim para alimentação. Agora vem uma nova ótica, para alimento e investimentos para a área de energia”, conclui Battistella.
Usina de etanol da CB Bioenergia deve entrar em operação até o fim do ano em Santiago
Etanol da CB Bioenergia terá o trigo como base na largada do projeto
AFP/JCMas ainda neste ano, uma nova operação deverá entrar em funcionamento Trata-se da usina de etanol da CB Bioenergia, em Santiago, na Região Central. A estrutura começará operando com o trigo como matéria-prima e depois poderá aproveitar outros elementos que contenham amido, como triticale, sorgo e milho.
Com investimento em torno de R$ 100 milhões, em sua primeira etapa, o complexo está em construção desde 2022 e deverá produzir 13 milhões de litros de etanol hidratado por ano, visando atender o mercado de aviação agrícola. Já a segunda etapa do projeto do empresário Cássio Bonotto deverá receber o aporte de mais R$ 300 milhões para alcançar uma capacidade de 50 milhões litros ao ano.
A estrutura poderá também gerar energia e produzir álcool anidro (que é adicionado na gasolina), além do hidratado, consumindo 130 mil toneladas de matéria-prima anuais. O projeto prevê ainda a produção de farelo que pode ser destinado para ração animal. Essa segunda fase está prevista para ser finalizada em 2027.
Já a 3Tentos, com sede em Santa Bárbara do Sul, opera a produção de biodiesel desde 2014. Atualmente, são cerca de 800 metros cúbicos por dia no Rio Grande do Sul, a partir do óleo de soja produzido no processo de extração.
Em outra operação, em Mato Grosso, a produção é ainda um pouco superior, conta Luiz Pedro Dumoncel, diretor de Serviços Financeiros da 3Tentos.
“O biodiesel fortalece a demanda por soja e é produto pra buscar a descarbonização do ambiente. É uma cadeia importante para produzir energia verde, que terá pegada de carbono mais eficiente que o combustível fóssil”.
Uma nova etapa da empresa está em andamento em Porto Alegre do Norte (MT), onde uma plataforma para produção de etanol a partir do milho está sendo construída. O complexo deverá entrar em operação entre o final de 2025 e o início de 2026.
O projeto faz parte do novo ciclo de crescimento da 3Tentos, cujo orçamento total chega a R$ 2 bilhões em três anos. Nesse pacote estão a fábrica de etanol, expansões nas fábricas de extração de óleo e farelo de soja e biodiesel, unidades industriais para revenda de insumos e compra de grãos, e um terminal logístico em Itaituba (PA).