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Publicada em 02 de Abril de 2024 às 18:21

Workshop internacional discute produção sustentável de arroz

Uruguai planta cerca de 150 mil hectares de arroz e colhe 9 mil quilos por hectare, diz Braulio Cantera

Uruguai planta cerca de 150 mil hectares de arroz e colhe 9 mil quilos por hectare, diz Braulio Cantera

Sérgio Pereira/Irga/Divulgação/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia
Representantes de Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Uruguai e Costa Rica participam, até quinta-feira (4), no Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) de um workshop com ênfase na produção sustentável da cultura. A ação faz parte do projeto Global Methane Hub, desenvolvido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Representantes de Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Uruguai e Costa Rica participam, até quinta-feira (4), no Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) de um workshop com ênfase na produção sustentável da cultura. A ação faz parte do projeto Global Methane Hub, desenvolvido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Durante o encontro, iniciado nesta terça-feira, as delegações compartilham conhecimentos, experiências, valências e fraquezas da atividade em seus respectivos ambientes e contextos, buscando melhorar performances e, claro, mitigar a produção de gás metano no processo de cultivo. No primeiro dia, foi possível acompanhar, por exemplo, depoimentos de pesquisadores dos seis países. Da experiência equatoriana sobre o modelo de produção no país e a adoção do Sistema de Intensificação de Arroz (SRI, na sigla em inglês), que não utiliza venenos químicos, eleva a produtividade e evita o desperdício de água, ao cultivo em terras uruguaias, onde a produtividade média é de 9 mil quilos por hectare, mas o custo de produção chega a US$ 2,2 mil na mesma área, conforme relatou o agrônomo Braulio Cantera.

Leia mais: Arroz mantém margem positiva de preço ao produtor mesmo em plena safra

Apesar de ser o maior produtor do continente, o Brasil foi o último a ingressar no projeto, a partir de demanda do Irga, que recentemente obteve R$ 1,5 milhão junto ao IICA para pesquisa, extensão e transferência de conhecimento aos produtores, durante dois anos. A autarquia, com anuência do Ministério da Agricultura, também aguarda a aprovação de outra iniciativa, orçada em US$ 50 milhões, encaminhada ao Fundo Verde para o Clima, capitaneado pelo IICA.
Sérgio Pereira/Irga/Divulgação/JC
Mara Grohs, do Irga, destaca que práticas integradas podem reduzir emissão de gases do efeito estufa nas lavouras
Os recursos seriam investidos ao longo de cinco anos, no financiamento de pesquisas e atividades de redução da emissão de gases do efeito estufa (GEE) nas lavouras de arroz do Sul do Brasil. O Irga receberia US$ 30 milhões e entraria com contrapartida de US$ 20 milhões em estrutura, veículos, profissionais e serviços, por exemplo, conta a engenheira agrônoma Mara Grohs, coordenadora da Estação Regional da Pesquisa da Região Central, em Cachoeira do Sul.
Depois da pecuária, o arroz é a segunda maior fonte de emissão gases do efeito estufa, como metano e CO2 no solo. Na verdade, a presença da planta atua como um canal de transferência para a atmosfera.
“Mas as últimas pesquisas do Irga indicam que, quando se utiliza práticas integradas, como cultivares de alto potencial produtivo, preparo mínimo do solo e rotação de culturas, a emissão de dióxido de carbono (CO2) por quilo de arroz baixa para 380 gramas, enquanto no continente asiático esse índice ultrapassa 1 quilo de CO2 por quilo de arroz produzido. Em 1960, por exemplo, eram 118 gramas de metano, e hoje atingimos a marca de 27 gramas de metano”, diz a pesquisadora.
Trabalhos como esse, desenvolvido pelo Irga, e tantos outros com sede no Brasil, por meio de universidades, da Embrapa, da Epagri, de Santa Catarina, e outras instituições de pesquisa é que dão sustentação à entrada do País no bloco que discute a produção sustentável da cultura. E não é à toa. O Brasil colhe cerca de 40% das cerca de 30 milhões de toneladas de arroz produzidas na América Latina e no Caribe, sendo 70% no Rio Grande do Sul, fruto de pesquisas, tecnologias e manejos que asseguram produtividade e, com gestão adequada, rentabilidade.
O Brasil hoje é o 10º produtor mundial de arroz, o único fora da Ásia. Contribuímos muito com a produção da cultura, mas estamos em uma área de alta vulnerabilidade climática, nas regiões litorânea, Central e Fronteira Oeste, por diferentes fatores, como aumento do nível do mar, enchentes ou estiagens e chuvas em excesso, por exemplo. Temos de fortalecer essa região”, alerta Mara.
Mas há também produto de qualidade, genética e práticas mitigatórias. A ideia, com a aproximação entre Irga e IICA é fomentar a pesquisa e a transferência de tecnologia aos produtores inseridos no Global Methane Hub.
Um dos objetivos é melhorar o levantamento de dados junto aos produtores. “Já sabemos que na rotação com a cultura da soja, quando o arroz volta, reduz 60% a emissão dos gases. Mas quanto isso representa no estado de regulação? Então, já sabendo disso, nós temos como modificar esses parâmetros. Primeiro, quanto mais carbono disponível dentro do solo, mais metano será emitido. Se modificarmos a planta geneticamente, podemos mudar esse padrão de emissão”, pontua a pesquisadora.
A forma como é feita a irrigação também interfere nesse processo, uma vez que o metano só começa a ser produzido após a implantação da lâmina d’água, asfixiando o ambiente. Enquanto China e Estados Unidos adotam uma irrigação intermitente - colocando água, deixando a lavoura secar, a entrada de oxigênio e a interrupção da produção de metano -, no Brasil é diferente.
Em contrapartida, temos a rotação de culturas que poucos países têm em terras baixas, que nos entreguem, inclusive, resultados melhores. Temos o aumento da produtividade numa mesma área, menos emissão de gases por quilo de alimento produzido, nós temos rotação com culturas de sequeiro. E temos um grande avanço pela frente, que é a adoção de um plantio direto ou, no mínimo, um preparo antecipado”.
Mara explica que quando o produtor deixa de preparar o solo próximo à nova safra, ele está disponibilizando menos carbono no solo disponível, meio que o microrganismo vai transformar em metano. Ao antecipar o preparo do solo para logo após a colheita, diminui a concentração de carbono prontamente disponível para o microrganismo. E entre 60% e 70% dos produtores do Rio Grande do Sul fazem seu preparo de forma antecipada, reduzindo em 25% a emissão de gases na safra do arroz.
De acordo com ela, 10% das lavouras gaúchas de arroz são em plantio direto, que vai oportunizar que o produtor deixe de ser um emissor para alcançar balanço zero ou negativo, com sequestro de carbono em maior volume do que emite.
“Então, através da adoção de todas as práticas, mais o plantio direto, vamos ter um sistema que gere créditos de carbono, por exemplo, no futuro próximo. Um dos objetivos que temos com esse recurso que vamos receber é usar em unidades demonstrativas, em produtores-chave, para mostrar o plantio direto aos demais. É a forma mais efetiva de transmitir as informações”, finaliza.

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