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Agro

Biocombustíveis

- Publicada em 05 de Maio de 2023 às 19:33

Projetos para produção de etanol ganham corpo no Rio Grande do Sul

Com o plantio de trigo, triticale, cevada e centeio, a intenção é potencializar áreas não utilizadas nos períodos de frio

Com o plantio de trigo, triticale, cevada e centeio, a intenção é potencializar áreas não utilizadas nos períodos de frio


Oleksandr GIMANOV/AFP/JC
Pelo menos R$ 4 bilhões deverão ser investidos em estruturas para produção de etanol no Rio Grande do Sul nos próximos anos. Quando as plantas dos sete projetos consolidados a partir da Lei 15.641, de dezembro de 2021, que criou o Programa Estadual de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Etanol (Pró-Etanol/RS) estiverem em operação, serão 500 milhões de litros de álcool anuais – um terço do consumo gaúcho de álcool. E a meta é duplicar o volume antes da virada da década.
Pelo menos R$ 4 bilhões deverão ser investidos em estruturas para produção de etanol no Rio Grande do Sul nos próximos anos. Quando as plantas dos sete projetos consolidados a partir da Lei 15.641, de dezembro de 2021, que criou o Programa Estadual de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Etanol (Pró-Etanol/RS) estiverem em operação, serão 500 milhões de litros de álcool anuais – um terço do consumo gaúcho de álcool. E a meta é duplicar o volume antes da virada da década.
A entrada dessa nova fonte energética na cadeia produtiva gaúcha - após décadas de ideias que não saíram do papel ou foram interrompidas no meio do caminho – tem tudo para promover uma grande transformação econômica e social, gerando alternativas de renda e trabalho, diz o coordenador do Pró-Etanol/RS, engenheiro agrônomo Valdir Zonin. Com o plantio de trigo, triticale, cevada e centeio, a intenção é potencializar áreas não utilizadas nos períodos de frio e a diversificação de culturas. Afinal, enquanto 8 milhões de hectares são semeados no verão, apenas um quarto da área é plantada no inverno.
Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Produção e Autossuficiência de Etanol na Assembleia Legislativa gaúcha, em 2019, o deputado estadual Elton Weber (PSB) foi um dos principais incentivadores do movimento que deu origem à lei estadual que institui políticas públicas de fomento à produção de etanol no RS. Atualmente liderando a Frente Parlamentar em Defesa dos Biocombustíveis, ele vê perspectivas bastante positivas para o setor.
“O Rio Grande do Sul gasta cerca de R$ 1 bilhão anualmente pagando ICMS sobre compra de álcool de outros estados para abastecer o consumo interno. Em cinco anos, estaremos produzindo dois terços do que consumimos e usar esse dinheiro no Estado, para os gaúchos. Vamos gerar emprego, renda e desenvolvimento nas regiões produtoras, ocupando espaços de lavouras para culturas de inverno, que são a principal fonte de matéria-prima para etanol, mais uma alternativa ao produtor, sem prejudicar as culturas de verão”, avalia Weber.
Com a produção de álcool anidro e hidratado em solo gaúcho, a expectativa é de que o uso nos tanques de combustível dos veículos também aumente. Isso porque custo menor e volume disponível podem derrubar o preço nas bombas dos postos.
“Em São Paulo, onde se concentram muitas indústrias de etanol, à base de cana-de-açúcar, esse combustível é uma realidade na vida dos condutores. Aqui, com produção local, a tendência é de os preços baixarem, fazendo valer a relação de consumo”, projeta Valdir Zonin.

Três plantas devem começar a operar em 2024
Das quatro obras já iniciadas – CB Bioenergia, no município de Santiago; Viadutos Biorrefinaria de Etanol (VBR), em Viadutos; BSBios, em Passo Fundo; e Vinema Biorrefinaria, em Guaíba –, a primeira deverá estar concluída no início do próximo ano. A CB Bioenergia irá produzir até 30 milhões de litros por ano. Já as plantas da VBR e da BSBios gerarão 150 e 100 milhões de litros ao ano, respectivamente, até meados de 2024. E a Vinema responderá por 200 milhões de litros/ano.
“Há, ainda, projetos não iniciados da Cotrijal, em Não-Me-Toque; da Cotricampo, em Campo Novo; e de um grupo de empresários em Júlio de Castilhos. Juntas, essas plantas deverão produzir outros 170 milhões de litros anuais”, conta Zonin, que nos últimos anos visitou e conheceu 12 experiências que não deram certo, a base de cana-de-açúcar e de amido de milho. Com produção pequena e sem escala, os projetos acabaram inviabilizados e interrompidos.
Como receita para não incorrer no mesmo erro, o coordenador do programa gaúcho e sócio administrador da VBR projetou a empresa para processar 1 milhão de toneladas diárias de cereais. “Serão 350 milhões de toneladas ao ano. Vamos operar 350 dias e parar por duas semanas para manutenção. Produziremos 150 milhões de litros de álcool anidro e 100 milhões de quilos de farelo destinado à alimentação animal por ano. Assim, pretendemos fazer o negócio dar certo”, diz Zonin.
Para obter a matéria-prima necessária, cerca de 10 mil produtores de grãos deverão ser cadastrados como potenciais fornecedores à VBR, modelo que deverá ser seguido pelas demais empresas. Os produtores de proteína animal, como aves, suínos, bovinos, ovos e leite, também sairão beneficiados com a oferta do farelo a um custo inferior ao pago quando precisam buscar em Mato Grosso, por exemplo, com valores de mercado mais elevados e o custo do frete.
“É um círculo virtuoso de crescimento e desenvolvimento. Os municípios-sede, claro, têm vantagem, com o giro da economia e o aumento de arrecadação. Cresce o PIB municipal, na esteira da receita da usina, que será grande, naturalmente”, analisa Zonin.
Do projeto inicialmente orçado em R$ 500 milhões pela VBR, os custos foram atualizados para R$ 650 milhões, boa parte por conta do preço do aço, bastante inflacionado no período. Ele revela que, embora o BNDES e até mesmo um fundo europeu tenham aprovado propostas de financiamento para as obras, o grupo preferiu buscar alternativas e firmou parceria com uma empresa da capital gaúcha, em condições mais favoráveis.
“Com as taxas Selic e os juros praticados atualmente, só posso acreditar que os bancos não querem fomentar a industrialização. Nesses patamares, é impossível aderir. Estaríamos apenas trabalhando para pagá-los. Nó, da VBR, optamos por recusar os empréstimos bancários, assim como os responsáveis pelos outros projetos. Alguns usam recursos próprios, outros encontram soluções diferentes. Mas todos fogem dos bancos”, completa o agrônomo.