O bloqueio atmosférico que está atuando sobre o Rio Grande do Sul desde a semana passada impede a passagem de sistemas meteorológicos que trazem chuva. Nesta semana, essa condição se mantém até hoje, com previsão apenas de pancadas de chuva rápidas, sem volumes significativos.
Somado a isso, as temperaturas se elevam progressivamente, o que também contribui para o agravamento da estiagem no Estado. Na quinta e na sexta-feira desta semana, as instabilidades voltam a atuar em praticamente todas as regiões, no entanto, os acumulados ainda serão pouco expressivos.
O cenário descrito pela Sala de Situação do Governo do Estado, monitorada pela Defesa Civil, reforça que não deve haver mudanças no quadro de escassez hídrica para salvar lavouras de milho e soja na Metade Norte, já comprometidas. O abastecimento para consumo humano e animal, bem como nas demais atividades nas cidades e nos campos segue sob risco.
Ainda que pancadas esparsas e precipitações de até 75 milímetros em algumas áreas possam amenizar situações pontuais, a possibilidade de temporais e granizo também representam perigo às culturas. Ontem, 58 prefeituras já haviam declarado situação de emergência.
Com chuvas irregulares e um clima causticante, os produtores de leite do Rio Grande do Sul iniciam o quarto ano com muitas dificuldades. Desde perdas na cultura do milho, principal alimento para o rebanho, até a baixa remuneração pelo leite produzido, 2023 se mostra severo e a esperança é de que os novos gestores, no estado e no governo federal, adotem medidas eficazes para socorrer os produtores.
Conforme o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, a estiagem já causa grande perdas nas lavouras de milho. O principal alimento para o gado leiteiro está com lavouras secas. "Em vez de ensilar milho com grão, os produtores estão ensilando palha com espiga que tem praticamente só sabugo", conta o dirigente.
A consequência dessa realidade, acrescenta, é o aumento do custo da produção de leite. Tang também lamenta o que pode ser a tendência para este verão: o preço do litro pago ao produtor abaixo do custo na propriedade. O preço de referência está na casa dos R$ 2,20, conforme o dirigente, que compara a produção leiteira à agricultura.
"Nossa atividade é de médio a longo prazo. Não podemos deixar de plantar num ano e voltar no outro. Uma terneira que nasce agora, só vai dar retorno em 2025", explica. Para o presidente da Gadolando, não será em 2023 que o produtor irá se recuperar. "Estamos afundando mais, e quando se vê o preço do leite tão baixo e as taxas de importações recordes, alguma coisa precisa ser feita", pede.
Segundo o dirigente, os novos nomes à frente da Secretaria Estadual da Agricultura e do Ministério da Agricultura devem, de imediato, tomar uma providência e socorrer o produtor de leite "sob pena de mais e mais pararem". Tang ressalta que uma das reivindicações do setor é quanto à previsibilidade no preço do leite. "Nós queremos vender nosso produto e não entregar", afirma.
Marcos Lodi, produtor de leite no município de Anta Gorda (RS), tem cerca de 70 vacas em ordenha e, para alimentá-las, planta 32 hectares de milho, em duas etapas. "O da primeira etapa estaria pronto para pendoar, e o da segunda etapa recebeu ureia 15 dias atrás. Se não vier uma chuva considerável, em uma semana, boa parte disso estará comprometida", relata.
Lodi conta, ainda, que nos últimos três anos, por conta da estiagem, foi preciso comprar silagem para alimentar o rebanho. A esperança do produtor é de que ainda possa salvar o milho da segunda etapa, se as precipitações forem mais regulares.