Com alguns dias de atraso, começou, na semana passada, a colheita de uvas nos parreirais gaúchos da safra 2023. O início do processo, que tradicionalmente ocorre na última semana de dezembro, ficou para o início deste ano por conta de algumas temperaturas baixas registradas desde o início da brotação até meados de dezembro, atrasando a maturação das frutas encaminhadas às indústrias para produção de sucos, espumantes e vinhos.
Os diferentes microclimas da Serra, onde a altitude pode variar de 100 metros a mil metros acima do nível do mar, interferem na colheita. Os trabalhos agora se estendem até a metade de março, com pico entre meados de janeiro e todo o mês de fevereiro.
Variedades Riesling e Chardonnay, para vinhos e espumantes, já começam a sair das propriedades com destino às cooperativas de produtores e às empresas particulares. Mas as uvas Merlot e Cabernet Sauvignon, mais tardias, têm grande espaço no mercado, assim como Isabel e Carmem, para sucos.
O presidente do Comitê da Comissão Interestadual da Uva, Cedenir Postal, prevê uma safra dentro da normalidade no Rio Grande do Sul, com produção entre 600 milhões de quilos e 700 milhões de quilos neste ano. "Não tivemos grandes problemas com o clima, então a produção será dentro da normalidade, com a qualidade já conhecida".
Cerca de 30% da uva produzida no Estado é entregue nas cooperativas. O restante é negociado junto a empresas, com longas e sólidas parcerias. Responsável pelo beneficiamento de aproximadamente 10% da produção gaúcha, a Cooperativa Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves, reúne 1,1 mil produtores associados de 11 municípios e deve trabalhar, nesta safra, com 75 milhões de quilos de uvas. A empresa iniciou o recebimento das variedades Chardonnay, Pinot Noir e Malvasia Aromática, para base espumante. E a qualidade vem alta.
"A maturação da fruta e os teores de açúcar, por conta da baixa incidência de chuva, estão muito adequados. Não nos surpreende, mas, sim, confirma a tendência de que tenhamos produtos muito bons para colocar no mercado", diz o agrônomo Maurício Bonafé, gerente agrícola da Aurora.
A cooperativa começa a receber, hoje, as variedades americanas híbridas, como BRS Magna, BRS Violeta, Bordô e Concord, para produção de sucos. As primeiras análises a campo já sinalizavam também qualidade e produtividade, que deverão ser confirmadas agora, depois de colhidas.
Na Aurora, os preparativos para a safra se iniciam ainda na metade do ano anterior, com acompanhamento e correção de solo, projeção de volume e qualidade em cada variedade e, assim, planejar os destaques e prioridades de cada temporada. Afinal, são mais de 200 rótulos em produção, entre vinhos jovens e de guarda, espumantes, sucos e coolers. "O consumidor estará bem atendido, mais uma vez", garante Bonafé.
Agronegócio deve ter maior crescimento desde 2017
Após recuar em 2022, a agronegócio deve voltar a crescer e a ser o motor - talvez o único - da economia em 2023. O Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), calcula que o PIB do setor avançará 8% neste ano, depois de encolher 2% em 2022. Se o número se confirmar, será o maior crescimento do setor desde 2017, quando a alta foi de 14,2%. Já o Santander, que espera queda de 0,3% para este ano, estima expansão de 7,5% para o próximo.
Parte do resultado positivo estimado para 2023 será apenas efeito da comparação com um 2022 fraco, explicam os economistas ouvidos pela Agência Estado. Por outro lado, a safra esperada para este ano deve ser recorde, o que justifica uma projeção otimista. Dados de prognóstico de produção agrícola do IBGE apontam que a safra de grãos, cereais e leguminosas deve alcançar 293,6 milhões de toneladas em 2023, o que significará uma alta de 11,8% em relação a 2022.
Para o Ibre, o setor será o único a crescer de forma expressiva neste ano, quando o PIB do País deve ficar praticamente estagnado. "Nossa projeção de PIB está abaixo do mercado. Tem casas que apontam 1%. Nós estamos com 0,2%, isso com o agro, que é 10% do PIB, avançando 8%. Então projetamos uma queda pesada da atividade em geral", diz Marina Garrido, economista do Ibre.
A alavanca da economia, portanto, deverá ser principalmente a soja e o milho. O economista Gabriel Couto, do Santander, lembra que a safra de milho de 2021 foi comprometida pela seca e que, em 2022, o problema foi com a soja. A expectativa agora é ter safras boas de soja e de milho. O Santander não espera que a desaceleração global prevista para 2023 tenha impacto no resultado do agronegócio brasileiro por ora. "Não estamos vendo o produtor tirando o pé do acelerador. O impacto do desaquecimento da economia global tende a ser no médio prazo."
Presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho afirma que, como os produtores conseguiram plantar soja e milho na época correta, a tendência é que a colheita de 2023 seja boa e que o valor bruto da produção cresça ao menos 5%, ficando acima de R$ 1,3 trilhão.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antonio Galvan, porém, afirma que as previsões dos economistas são feitas seguindo a lógica de que o clima vai favorecer a produção, o que não ocorreu nos últimos anos. "Ter uma safra recorde, como se espera, é questão exclusiva de clima. Temos condições técnicas de fazer essa safra anunciada, só que é cedo para dizer que ela será realidade. Nos últimos anos, enfrentamos problemas de clima e tivemos perdas grandes."


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