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Conjuntura

- Publicada em 08 de Dezembro de 2022 às 18:19

Política econômica do futuro governo federal preocupa a Farsul

Presidente da Farsul, Gedeão Pereira (c) manifestou descontentamento com sinalizações do futuro governo

Presidente da Farsul, Gedeão Pereira (c) manifestou descontentamento com sinalizações do futuro governo


LUIZA PRADO/JC
A preocupação quanto à política econômica que será adotada pelo governo federal a partir de 1º de janeiro de 2023 norteou o balanço deste ano e as projeções para 2023 da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul). Nas quase duas horas do evento, nesta quinta-feira (8), os números das atividades agrícola e pecuária em 2022 e as projeções de produção para o próximo ano ficaram em segundo plano nas abordagens do presidente da Farsul, Gedeão Silveira Pereira, e do economista-chefe da entidade, Antônio da Luz.
A preocupação quanto à política econômica que será adotada pelo governo federal a partir de 1º de janeiro de 2023 norteou o balanço deste ano e as projeções para 2023 da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul). Nas quase duas horas do evento, nesta quinta-feira (8), os números das atividades agrícola e pecuária em 2022 e as projeções de produção para o próximo ano ficaram em segundo plano nas abordagens do presidente da Farsul, Gedeão Silveira Pereira, e do economista-chefe da entidade, Antônio da Luz.
Invertendo o formato tradicional do encontro, promovido anualmente pela entidade para analisar a performance do período e projetar o próximo ano, a abordagem inicial se concentrou na análise das gestões anteriores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e de sua sucessora, Dilma Rousseff (2011-2016), ambos do PT.
O economista reconheceu acertos do primeiro mandato de Lula, quando o Ministério da Fazenda conduzido por Antônio Palocci preservou o tripé macroeconômico de câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal, implantado na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1999. Mas pontuou que esses parâmetros começaram a ser deixados de lado já na segunda gestão do petista, com Guido Mantega à frente da pasta, e abandonados com Dilma, a partir da implantação da nova matriz econômica, com medidas como a redução da taxa de juros, desvalorização do real em relação ao dólar, desonerações tributárias à indústria, expansão do crédito do BNDES, e redução das tarifas de energia. O fracasso dessa estratégia é apontado como uma das causas da crise econômica de 2015 e 2016.
“Nossa preocupação se deve ao fato de que não sabemos qual será o Lula em sua terceira versão. A primeira foi boa. A segunda, não. E o que vemos até agora é uma equipe econômica de transição muito ruim”, avaliou o economista da Farsul.
Um fato que causa preocupação, sinalizado nesse período de transição, é o governo federal extrapolar o teto de gastos nos próximos anos, conforme a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, em discussão no Congresso Nacional. Antônio da Luz projeta que gastos públicos elevados, acima das receitas, trarão, além de déficits, um aumento da dívida pública, mais inflação e juros altos ao País, o que pode ter como resultado uma crise econômica e, por consequência, política. O economista pontua que ter estabilidade é fundamental para o País crescer.
O agro espera alguma sinalização diferente do futuro do governo. Segundo a Farsul, com o que foi apresentado até agora, haverá desconfiança. Do ponto de vista prático, produtores rurais já cancelaram, em alguns casos, a compra de máquinas agrícolas que haviam encomendado.
Cauteloso em relação à ideia de abrir diálogo com representantes do futuro governo, ao menos por enquanto, Gedeão Pereira justifica que não vê, no momento, “ninguém no gabinete de transição para conversar”, e aguarda a definição dos nomes do ministério.
“E se colocarem o Stédile (João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST) no Ministério da Agricultura? É melhor aguardar para ver o que virá. Temos restrição à linha ideológica do futuro governo, mas mantemos a cautela. Não fomos chamados a dialogar, mas agora não é hora, já que não sabemos quem irá assumir os ministérios”, justificou o líder ruralista. Gedeão observou  ainda que a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), entidade da qual ele é 2º vice-presidente, encaminhou ao governo sua pauta para o setor. 
Ao citar o respeito às normas ambientais do Brasil pelos produtores rurais, cuja imagem estaria sendo maculada por interesses econômicos externos, especialmente da Europa, o dirigente lembrou que o setor já enfrenta muitas dificuldades para obter licenças ambientais para implantar sistemas de irrigação. E reforçou que a eventual indicação de nomes como o dos ex-ministros Marina Silva e Carlos Minc para o Ministério do Meio Ambiente seria um sinal de que as dificuldades não deverão ser superadas.
Gedeão ainda citou a insegurança jurídica quanto ao direito à propriedade como fator crucial do descontentamento e temor dos produtores rurais frente ao futuro. “A esquerda não sabe lidar com a ideia de propriedade privada. Mas não nos preocupa o MST. O Rio Grande do Sul lida bem com eles. Porém, a flexibilização do direito à propriedade dentro do Supremo Tribunal Federal assusta muito”, ressaltou.

Entusiasmo com o Programa Duas Safras e expectativa de crescimento no RS

O potencial de ampliação da produção agrícola a partir do Programa duas Safras, que estimula a intensificação do cultivo de grãos, principalmente no inverno, foi exaltado durante a coletiva de imprensa. Iniciativa conjunta da Farsul, Senar-RS, Embrapa, Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro/RS), Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) e Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), o programa deverá promover a semeadura de 159 mil hectares a mais na safra de verão e mais de 300 mil hectares extras no inverno, estimou Antônio da Luz.
“Já fizemos diversas reuniões para tratar do assunto com produtores das diferentes regiões do Estado. E entendemos que o programa já surge como ferramenta para compensar as perdas da safra 2021-2022. Tanto que estamos colhendo agora a maior safra de trigo da história”, disse Gedeão Pereira.
A Farsul espera um crescimento real da próxima safra, isto é, não apenas uma recuperação em função do clima, mas um aumento na produção, também em função de uma área maior cultivada em solo gaúcho. Com a manutenção da produtividade, o Rio Grande do Sul teria esse salto.

Investimento em irrigação é considerado fundamental

A entidade também ressaltou a importância de investimentos em irrigação para alavancar ainda mais o potencial do agronegócio gaúcho. As sucessivas estiagens e secas vêm castigando a produção agrícola e golpeando fortemente a economia do setor. Apenas na safra 2021-2022, a perda estimada pela Farsul foi de 31% da produção gaúcha de grãos, com ênfase na soja, cuja quebra foi de 54%.
“Irrigação é fundamental. Temos tido avanços nas relações com o governo e o Ministério Público sobre questões ambientais. E também precisamos rever o mapa hidrográfico do Estado, que é bem diferente da realidade e impacta negativamente sobre a concessão de licenças e outorga para uso da água nas propriedades”, avaliou o coordenador da Comissão de meio Ambiente da Farsul, Marcelo Camardelli, ressaltando que é preciso avançar ainda mais nessa área.

Federação faz projeções para 2023 no agronegócio do RS

O Rio Grande do Sul poderá colher mais de 40 milhões de toneladas de grãos nesta safra de verão, se as condições climáticas forem favoráveis. 
A soma da produção, se confirmada, deverá ficar em torno de R$ 140 bilhões.

O Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária gaúcha deve crescer 59% no próximo ano, ante queda de 53% em 2022.
Esses são os dados projetos pela Farsul para o próximo ano