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Entrevista especial

- Publicada em 10 de Abril de 2022 às 16:06

Privatização da Corsan neste ano será definida pelo mercado, diz Ranolfo

Ranolfo recebeu o JC no dia em que completava uma semana no cargo de governador

Ranolfo recebeu o JC no dia em que completava uma semana no cargo de governador


fotos: ANDRESSA PUFAL/JC
No dia em que completava uma semana no cargo de governador, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) recebeu o Jornal do Comércio no Palácio Piratini para uma entrevista sobre os nove meses de sua gestão até o fim de 2022. Para Ranolfo, o dia era especial também por estar de aniversário - completou 56 anos. Atento a datas e números, o novo chefe do Executivo fez uma retrospectiva de sua caminhada até o comando do governo gaúcho, desde o momento em que foi indicado pelo PTB para representar o partido na disputa do Piratini de 2018, passando pela aliança com Eduardo Leite (PSDB), a vitória na eleição, o governo, até o novo desafio que assumiu com a renúncia de Leite.
No dia em que completava uma semana no cargo de governador, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) recebeu o Jornal do Comércio no Palácio Piratini para uma entrevista sobre os nove meses de sua gestão até o fim de 2022. Para Ranolfo, o dia era especial também por estar de aniversário - completou 56 anos. Atento a datas e números, o novo chefe do Executivo fez uma retrospectiva de sua caminhada até o comando do governo gaúcho, desde o momento em que foi indicado pelo PTB para representar o partido na disputa do Piratini de 2018, passando pela aliança com Eduardo Leite (PSDB), a vitória na eleição, o governo, até o novo desafio que assumiu com a renúncia de Leite.
Nesta entrevista, Ranolfo conta bastidores, fala de eleição e projeta que seu governo será de continuidade. Ele pretende concluir o pacote de privatizações e prevê para o início do segundo semestre a venda da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e da CEEE-G, braço de geração de energia da CEEE. Entretanto, adverte que a decisão sobre a negociação das estatais nesse ano passa pelo mercado. "Temos um mercado global atingido pela pandemia, a guerra (na Ucrânia), fatores que não estão nas nossas mãos. Nossa projeção é essa (privatizar em 2022), mas a decisão é do mercado."
O governador prega responsabilidade fiscal, prevê um novo superávit em 2022, e diz que é possível manter o equilíbrio das contas sem fatores extraordinários, embora aponte desafios como a volta do pagamento da dívida com a União, o passivo de precatórios a ser quitado até 2029 e a perda de arrecadação com a queda da alíquota do ICMS dos combustíveis em 2024.
Jornal do Comércio - O senhor se tornou o 12º governador do Rio Grande do Sul na redemocratização. Desde quando pensava em ser governador?
Ranolfo Vieira Júnior - Tenho vida pública no Rio Grande do Sul, 35 anos de serviço público, uma história na área de segurança pública, chefe de Polícia... Em 2017, o PTB, que era meu partido, iniciou uma discussão para ter candidato a governador. E a executiva, com o apoio das bancadas, escolheu o nome do Delegado Ranolfo.
JC - Ali que o senhor passou a aspirar ao cargo de governador?
Ranolfo - Sinceramente, me sentia razoavelmente preparado, mas não era uma aspiração pessoal. Veio do partido, e aí, sim, conversei com minha família, porque a doação pública é constante, minha família deu o ok... No final de 2017, iniciamos conversas PSDB e PTB, Eduardo e Ranolfo. E em abril (de 2018) fizemos a composição político-partidária e caminhamos juntos, plano de governo, campanha, andamos o Estado... O Eduardo sempre disse que era contra a reeleição. Já tinha adotado essa postura em Pelotas, embora tivesse um governo com super aprovação, não foi à reeleição e a vice (Paula Mascarenhas) foi candidata para dar seguimento ao projeto. Então, desde um primeiro momento, isso era muito possível de acontecer.
JC - Ser sucessor de Leite...
Ranolfo - Como candidato a vice-governador, vencendo a eleição, fizemos conjuntamente a montagem de governo. Aí, me convidou para assumir a Secretaria de Segurança Pública, acumular no primeiro ano. Aceitei, mas nunca tirei o olhar do governo como um todo, participei do núcleo duro, em todas as decisões - pandemia, gabinete de crise, reformas estruturais, articulação com a Assembleia Legislativa. Isso foi aumentando meu conhecimento das áreas do governo, projetos e diretrizes. E cada vez mais legitimava a possibilidade de ser governador. Aí acontece aquela entrevista desastrosa que o presidente do PTB deu a uma rádio da Capital, dia 12 de março de 2021, em que ofende o Eduardo, a mim, o governo, as forças de segurança.
JC - Roberto Jefferson...
Ranolfo - Ali gravei um vídeo dizendo que estava saindo do PTB. Passei seis meses dialogando com vários partidos, recebi vários convites, até que decidi me filiar ao PSDB em 27 de setembro (de 2021), ainda estávamos em processo das prévias nacionais do PSDB.
JC - O senhor ficou sabendo da renúncia do governador somente no dia do anúncio?
Ranolfo - Conversávamos há muito mais tempo a respeito dessa possibilidade. Isso começou a se tornar mais plausível em uma reunião com o Gilberto Kassab, presidente do PSD. O Eduardo voltou, estávamos em agenda aqui no final de tarde (e ele): "fica um pouco que temos que conversar". E disse: "olha, te prepara que eu estou inclinado a tomar a decisão" (de disputar o Planalto). "Sei que estás preparado, mas vai te preparando". E no dia da abertura da Festa da Uva, deixou claríssimo na CIC Caxias do Sul essa possibilidade. Conversávamos quase todos os dias, o passo a passo dele. Eu, por questão ética, não conversei com secretário convidando para ficar, antes que fizesse o anúncio público da renúncia.
JC - E soube da renúncia no dia do anúncio...
Ranolfo - Na segunda-feira do anúncio da renúncia. Claro que na quinta, sexta-feira anterior, a distribuição de algumas questões internas do Palácio, (o Eduardo Leite dizia:) "já pede para tua assessoria vir para ver isso e aquilo", ou seja, estava se encaminhando. Mas por uma questão ética, jamais daria um passo sem esse anúncio. Então, hoje me sinto preparado, legitimado para dar seguimento, concluir esse governo de continuidade, um governo de nove meses.
JC - Uma das questões que terá continuidade é o pacote de privatizações? A da Corsan sai até o final do governo?
Ranolfo - Trabalhamos com a hipótese da privatização da Corsan e da CEEE-G no início do segundo semestre, mais tardar em agosto. Essa é a nossa projeção, mas concessões e privatizações não nos pertencem diretamente, a decisão é do mercado. Temos um mercado global atingido pela pandemia, temos a guerra (na Ucrânia) que influencia, então, uma série de fatores que não estão nas nossas mãos. Mas a nossa projeção é essa.
JC - Quem decide se será privatizada em 2022 é o mercado?
Ranolfo - É o mercado. Logicamente, o mesmo nas concessões. O primeiro bloco, está marcado para quarta-feira, dia 13 de abril, das estradas. É o bloco da Serra, primeiro que já está na bolsa... Também depende desse exercício de mercado.
JC - O Estado tem um grande volume de recursos para investir. É viável aplicar esses R$ 6,3 bilhões em nove meses?
Ranolfo - O Estado desaprendeu a fazer projetos ao longo do tempo todo, pela falta de possibilidade de investir. Estamos retomando com força, com parceria, convênios com municípios. Estou muito otimista de que vamos conseguir executar. Claro, não tenho como concluir todas as obras, mas dar o início, deixar o dinheiro do orçamento reservado. Não vai ser por dificuldade financeira que não vai acontecer, o recurso é para investir. Estamos equilibrados, mas temos muita coisa pela frente. A responsabilidade fiscal é fundamental.
JC - O Estado teve 11 anos consecutivos de déficit, até o superávit em 2021. O senhor projeta superávit de novo em 2022?
Ranolfo - Superávit de novo, sem dúvida, essa é a projeção, tenho segurança de que isso deve ocorrer novamente. Temos que olhar para o futuro. A redução drástica do ICMS é uma decisão do Supremo, de 25% para 17% (combustíveis deixariam de ter alíquota diferenciada do ICMS), isso representa um percentual significativo da arrecadação. Temos precatórios que, até 2029, deverão ser quitados (passivo de R$ 16 bilhões). De maneira gradativa, temos a volta do pagamento da dívida com a União. Então, não dá para dizer que estamos com tudo resolvido. Estamos equilibrados, com fluxo de caixa que garante pagar o salário do mês que vem, mas na visão de futuro, tem muito para fazer ainda.
JC - O Regime de Recuperação Fiscal sai até maio como projeta a Secretaria da Fazenda?
Ranolfo - É a nossa projeção, até maio. Mas é uma decisão que não nos pertence. A homologação ou não é do presidente da República. Vamos cumprir tudo, pareceres serão favoráveis, mas a decisão é do presidente da República. Se ele vai fazer imediatamente ou se vai demorar seis meses, não sei dizer.
JC - Especialmente em ano eleitoral também tem esse risco...
Ranolfo - Não quero nem entrar nessa discussão... O estado de Goiás, rapidamente o presidente homologou o Regime de Recuperação Fiscal. O Rio de Janeiro está em discussão porque aderiu antes da legislação vigente. O nosso (pedido de adesão ao RRF) está protocolado, aguardando. E Minas Gerais não vai conseguir porque sequer conseguiu aprovar a lei na Assembleia Legislativa.
JC - O Rio Grande do Sul teve fatores extraordinários de receita nesse ano de equilíbrio das contas: receitas de privatizações e uma arrecadação superior ao que era previsto também por conta de uma inflação superior à prevista. É possível manter esse equilíbrio fiscal sem fatores extraordinários?
Ranolfo - É importante fazermos uma correção nessa afirmativa: o equilíbrio fiscal não se deu em razão dos recursos extraordinários.
JC - Sem dinheiro de privatização, o Estado teria superávit?
Ranolfo - Os recursos extraordinários estão sendo aportados todos em investimentos, não entraram na despesa ordinária... Vou entrar em outra questão: temos um projeto de lei dando 6% de aumento aos servidores. Muitos servidores do Estados dizem: "mas pera aí, estão investindo R$ 6,3 bilhões, por que não bota (mais recurso para o reajuste)?"... Exatamente por isso, o recurso extraordinário é todo para investimento.
JC - Mas houve receita extraordinária com a inflação...
Ranolfo - A receita teve um incremento, e tiveram situações outras que nos fizeram recolocar as coisas no eixo. A redução do gasto, o que aportávamos na Previdência que deixou de ser aportado...
JC - Reformas estruturais ajudaram. Mas no projeto da lei orçamentária, o Estado previa déficit.
Ranolfo - A reforma estrutural ajudou e muito. Chegamos a aportar em 2015 e 2016, R$ 14 bilhões (para cobrir) no déficit da Previdência (estadual). Chegamos a aportar (no atual governo), mais de R$ 11 bilhões. E agora estamos com R$ 8,7 bilhões (de déficit da Previdência no ano). É muito dinheiro ainda, mas se reduziu consideravelmente.
JC - Voltando à pergunta: é viável manter o equilíbrio fiscal nos próximos anos?
Ranolfo - O Rio Grande do Sul, dá para afirmar que até o final de 2022 teremos o pagamento dos servidores em dia, pagamento de fornecedores da forma como está. A partir do próximo ano, se continuar com esse olhar de responsabilidade fiscal, dá para dizer que sim.
JC - Equilíbrio sem depender de fatores extraordinários?
Ranolfo - Sem depender de fatores extraordinários, com esse olhar de responsabilidade fiscal. Se pegar alguém que não tenha responsabilidade, se o povo gaúcho escolher um populista fiscal (na eleição), isso vai por água a baixo.
JC - Ser governador e candidato ao mesmo tempo na eleição deste ano, pode atrapalhar?
Ranolfo - O que me move não é a eleição, é concluir esse mandato com continuidade, entregas, pavimentação, saúde, segurança. Segunda questão: o projeto até aqui posto, é importante dar seguimento. Tem alguém mais legitimado a dar seguimento a esse projeto do que o governador? Acho que não.
JC - Se o projeto nacional de Eduardo Leite não se concretizar e ele quiser concorrer ao Piratini, o senhor abriria mão?
Ranolfo - Abro mão no mesmo instante. Acredito ser muito difícil, porque ele é um nome que se apresenta no cenário nacional. Mas se o Eduardo se apresentar para ser candidato à reeleição, o Ranolfo vai cumprir o mandato, fazer campanha e vou votar nele (Eduardo).
JC - O ex-governador Leite fala da importância de não pulverizar o centro, para não abrir espaço a candidaturas ao Piratini apoiadas pelo ex-presidente Lula (PT) e pelo presidente Bolsonaro (PL). O senhor participa de articulações por unidade?
Ranolfo - Tenho conversado com todos os partidos do nosso campo. É importante essa unidade, claro, embora veja a esquerda dividida em no mínimo em três (Edegar Pretto, PT; Beto Albuquerque, PSB; Pedro Ruas, PSOL), quem sabe em quatro candidaturas (se Romildo Bolzan Júnior, PDT, for candidato). E o lado da direita, me parece que vai ter duas candidaturas (Onyx Lorenzoni, PL, e Luis Carlos Henize, PP). Então, a pulverização se apresenta de um lado e de outro. Se conseguíssemos sedimentar o centro, melhor para nós.
JC - O senhor deseja ser o primeiro governador reeleito no Rio Grande do Sul?
Ranolfo - Eu tenho esse sonho.

Perfil

Ranolfo Vieira Júnior nasceu em Esteio em 7 de abril de 1966. Servidor público há mais de 30 anos, é delegado de Polícia desde 1998 e dirigiu o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) por seis anos. Entre 2011 e 2014, foi chefe de Polícia na gestão do governador Tarso Genro (PT), período em que criou o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. No período, presidiu o Conselho Nacional de Chefes de Polícia Civil do Brasil. Em 2014, concorreu à Assembleia Legislativa, ficando como suplente. Coordenou a bancada do PTB no Parlamento. Foi secretário de Segurança Pública e Cidadania de Canoas em 2017, na gestão de Luiz Carlos Busato (PTB). É formado em Direito, tem especialização em Gestão de Segurança na Sociedade Democrática e foi professor da Ulbra em Canoas e da Academia da Polícia Civil (Acadepol-RS). Eleito vice-governador em 2018, acumulou o cargo de secretário de Segurança Pública desde 2019. Em 31 de março, após a renúncia de Leite, assumiu o cargo de governador do Rio Grande do Sul.