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Entrevista Especial

- Publicada em 16 de Janeiro de 2022 às 11:00

Simoni diz que o PDT terá candidato ao governo gaúcho, mesmo sem Bolzan

 Banrisul é um banco que sempre deu lucro; não há necessidade de privatizar, afirma o presidente do PDT, Ciro Simoni

Banrisul é um banco que sempre deu lucro; não há necessidade de privatizar, afirma o presidente do PDT, Ciro Simoni


fotos: ANDRESSA PUFAL/JC
O presidente do PDT gaúcho, Ciro Simoni, assegura que a legenda terá representante na disputa ao Palácio Piratini nas eleições de outubro, ainda que Romildo Bolzan Júnior mantenha a posição de não concorrer. Presidente do Grêmio, ex-presidente do PDT gaúcho e ex-prefeito de Osório, Bolzan é o nome preferido dos correligionários para encabeçar a candidatura pedetista ao governo do Estado.
O presidente do PDT gaúcho, Ciro Simoni, assegura que a legenda terá representante na disputa ao Palácio Piratini nas eleições de outubro, ainda que Romildo Bolzan Júnior mantenha a posição de não concorrer. Presidente do Grêmio, ex-presidente do PDT gaúcho e ex-prefeito de Osório, Bolzan é o nome preferido dos correligionários para encabeçar a candidatura pedetista ao governo do Estado.
Simoni, no entanto, garante que vai respeitar a decisão de Bolzan de se dedicar ao comando do time de futebol, que foi rebaixado na última temporada e que tem como prioridade o retorno à primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o presidente do PDT estadual avalia o governo de Eduardo Leite (PSDB) e recorda a trajetória do ex-governador Leonel Brizola, que completaria 100 anos no próximo sábado, dia 22 de janeiro.
Jornal do Comércio - Estamos entrando no último ano do governo de Eduardo Leite, que já disse que não irá disputar a reeleição. O PDT fez oposição à atual gestão. Como avalia a gestão Leite?
Ciro Simoni - O governador Eduardo Leite já adiantou que não concorrerá à reeleição. As posições tomadas por Eduardo Leite, durante o mandato como governador, muitas delas foram diretamente opostas àquilo que o PDT pensa. Em relação às privatizações, as posições tomadas por Eduardo Leite são diferentes do perfil do PDT.
JC - Qual é a sua avaliação específica sobre a pauta de privatizações?
Simoni - As privatizações não fazem parte do nosso perfil. No governo Leite, faltam coisas conclusivas, além das privatizações - além do processo de não pagar a dívida em todo este período. O Estado do Rio Grande do Sul se manteve com uma liminar e que foi conseguida lá no governo José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018). Então, o governo não pagou a dívida (com a União), e ela acumulou. E aí vende o patrimônio. Qual foi a diferença que Eduardo Leite fez para o Estado? O Estado melhorou economicamente? As indústrias ficaram mais fortes? Nada disso aconteceu. É um governo que vai passar e será lembrado pelas privatizações. Eduardo Leite vai ser lembrado porque vendeu parte do patrimônio do Estado. Ele vai ser lembrado porque não pagou a dívida ou porque vai assinar esse convênio com o governo federal (Regime de Recuperação Fiscal). Uma briga que deveria ser feita e não foi feita. Nós temos a Lei Kandir para ser cumprida e que não foi cumprida nunca. Foi cumprida uma pequena parte. Os estados ficaram sem esses recursos, quer dizer, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é um imposto estadual, e o governo federal se apropria dele - retira a possibilidade de cobrança desse imposto nas exportações, mas deveria ter uma forma de compensar os estados em um mesmo nível e não compensou. Só isso aí já dava para ir pagando a dívida e não precisava todo esse processo (RRF). Agora estamos com uma dívida enorme, que continua se ampliando, e termina o Estado em uma situação em que vai ter de entrar em um processo inevitável. E como vai pagar essa dívida? Termina se condicionando, aceitando uma proposta que não é das melhores, como não foi a do Antonio Britto (MDB, 1995-1998). Na hora parece boa. No final da história, termina vendo que a vantagem não foi do Estado.
JC - O Banrisul deve ser privatizado na próxima gestão?
Simoni - O PDT é contrário à privatização. Tem a nossa oposição, assim como por exemplo, a privatização da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que foi feita. A CEEE foi esmagada por um período longo. Foi mal administrada, talvez até de forma meio que deliberada para chegar aonde chegou, e aí vende-se. E se vê o valor que tinha o patrimônio da CEEE. Ela vale muito mais do que toda essa dívida, porém, foi entregue por meia dúzia de tostões. E agora estão vendendo um pouco mais cara, aquilo que sempre deu lucro, que é a transmissão e a geração de energia (CEEE-T e CEEE-G), grande filão que todo mundo quer. Além da distribuição (CEEE-D). Com relação à Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento), água é um patrimônio, um bem público e que não pode ser privatizado. Existem exemplos no País de onde não tem nenhum saneamento básico. Onde não existe esgoto sanitário. (Atualmente) tem um percentual muito pequeno de esgoto - (então) privatiza o esgoto. E cobra depois, mas (o Estado) não tem a necessidade de privatizar a água. Então, somos contra a privatização da Corsan. E quando chega na questão do Banrisul, é um banco que tem demonstrado, em diversas dificuldades no Estado, seja na agricultura, até mesmo o Estado o usou para pagar o 13º salário do funcionalismo público; então, é um banco de socorro. É um banco que dá lucro e sempre deu lucro. Não há necessidade de vender o banco. É por causa do interesse dos grandes bancos que estão por trás; querem tomar conta desse bem que é gaúcho. Estão falando seriamente em privatizar. Somos contra. Não vai haver privatização do Banrisul nem da Corsan se nós chegarmos a tempo (no governo).
JC - E a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal?
Simoni - É o tipo de coisa que leva ao esgotamento. A proposta, por pior que seja, (o Estado) acaba tendo de aceitar, porque é o que sobra. Então, o que o governo está fazendo é justamente isto - a adesão a este programa. E (ele) que não pode ampliar o orçamento, (ele) não pode fazer nada. Mesmo que o Estado recupere sua arrecadação, não vai ter a possibilidade de fazer concursos ou de fazer nada. O Estado fica amarrado de uma forma muito prejudicial.
JC - Como o PDT está se preparando para a eleição de 2022 no RS. Terá candidato ao governo?
Simoni - O PDT vai ter candidato ao governo do Estado. É uma coisa que já foi determinada. Já foi discutida na executiva e tem sido discutida intensamente entre membros políticos do PDT, sejam deputados, sejam membros do diretório e da executiva.
JC - O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, que era o principal nome, já disse que não irá, pois pretende trabalhar para levar o Grêmio de volta à primeira divisão. O PDT tem outros nomes?
Simoni - O PDT não tem pressa para decidir quem serão os seus candidatos. Tem diversos nomes, e Romildo Bolzan era a preferência de 99% dos filiados; era não, é a preferência. Sempre respeitamos muito o Romildo e não colocamos o carro na frente dos bois. A decisão depende dele. Bom, se ele diz que não pode ser candidato, vamos saber compreender a sua posição, mas ele não deixa de ser o nosso preferencial. E temos outros nomes dentro do partido. Tem os deputados estaduais; tem dois nomes, inclusive, a Juliana Brizola, que é um nome importante; tem o Eduardo Loureiro, que foi ex-prefeito de Santo Ângelo. Temos os deputados federais, Pompeo de Mattos e Afonso Motta, que são nomes fortes. Pompeo, inclusive, já concorreu ao cargo de vice-governador. Temos Vieira da Cunha, que já concorreu a governador e hoje é procurador de Justiça, mas, ele pode se licenciar para concorrer. Por que não? Tenho falado em outro nome e que é um companheiro nosso, saindo da reitoria da Universidade Federal de Santa Maria, Paulo Burmann, e que é uma pessoa do nosso círculo partidário. Ele é competentíssimo e está pronto. As nossas convenções vão acontecer em julho. Então, até lá, vamos discutir muito fortemente. Uma coisa que está definida é que vamos ter candidatura. Estamos conversando com todos os partidos e falando de todas as outras possibilidades de candidaturas, e o jogo está muito em aberto em relação à candidatura no Estado.
JC - Existe a possibilidade de apoiar outro partido ou está descartado, considerando que Ciro Gomes precisará de um palanque aqui?
Simoni - Em relação à (eleição) federal, Ciro Gomes é o nosso candidato. Em nível federal, acontece uma coisa importante. Aqui o governador disse que não era candidato e lá o presidente da República (Jair Bolsonaro, PL) não nega nunca que é candidato, e o objetivo dele é a reeleição. E acaba fazendo todas essas ações para agradar aquele público dele. Agrada o público dele, porém, desagrada o Brasil inteiro.
JC - E a polarização política?
Simoni - A polarização é o grande mal deste País; então, só se tem a possibilidade da esquerda ou da direita. Tem a exposição, que é boa para os dois (candidatos), mas ruim para o País, então, temos que ter aqui a possibilidade de incluir neste meio Ciro Gomes. Acreditamos que o Ciro Gomes pode entrar como uma terceira via. E que ele possa, de fato, fazer um governo diferente deste ou daquele, mas fazer as coisas melhores pelo País.
JC - O PDT também é oposição a Bolsonaro. Como avalia a sua gestão?
Simoni - O governo do Bolsonaro é péssimo. Ele é um presidente que não governa e se preocupa só com o atrito, com a discussão e está sempre procurando alguém para brigar. De todas as ações que ele fez, a que consegue ser mais positiva é o auxílio emergencial. Agora, ele aumentou recursos financeiros repassados às pessoas mais pobres. É meio eleitoreiro neste momento, mas, faz bem para as pessoas. As pessoas precisam. Existe uma desigualdade tão grande no País; desemprego tal e pessoas passando fome. O Brasil precisa ter um outro rumo, precisa caminhar no sentido inverso do que está caminhando. O País necessita de uma economia que favoreça os empresários, mas que também consiga, de fato, fazer com que eles produzam e criem trabalho.
JC - Quais as prioridades do Brasil neste ano?
Simoni - Bem, precisamos resolver no Brasil a questão desta diferença que existe e que é muito grande. Hoje, temos um número significativo de pessoas na faixa da pobreza e elas estão com dificuldades e precisando de trabalho. A (discussão sobre a) questão educacional é algo que precisava ter ocorrido lá atrás e com uma visão diferente. Passa governo e vem governo é tudo uma balela e não se assume de fato essa bandeira. Precisamos de uma mudança significativa. E tem essa questão econômica. Precisamos de um presidente que tenha governança, conhecimento e abertura para poder discutir essas questões.
JC - Qual deveria ser o principal tema em debate na eleição ao governo do Estado?
Simoni - O Estado do Rio Grande do Sul vive e tem vivido essa questão do agronegócio, que agora com esta seca pode de novo, como já aconteceu lá nos anos 2000, na época do governo Germano Rigotto (MDB, 2003-2006), tivemos também um problema seríssimo. Uma crise (no setor do agronegócio) e o Brasil vai para o fundo do poço, porque outras opções estão muito enfraquecidas (outros setores da economia). Falta estímulo para outras áreas. Temos que ter cada vez mais estímulo para modernidade em relação ao processo de evolução, que estamos vivendo pelo mundo. Não é só nesta questão (em âmbito econômico), mas a questão educacional está esquecida também no Estado. Estamos com índices cada vez menores e perdendo para outros estados do País, que sempre estiveram depois de nós. Então, a educação é uma questão que o Estado precisa se preocupar de fato. E de outras questões, como pequenas e médias empresas que ofereçam um maior número de empregos. Essas precisam ser priorizadas para que possam se desenvolver e criar riqueza no Estado.
JC - No próximo dia 22 de janeiro é comemorado o centenário de nascimento de Leonel Brizola. O que está sendo preparado?
Simoni - Estamos todos com uma programação extensa, não para esse dia, mas para o ano todo. Tínhamos feito os preparativos para, no dia 22, fazer a grande homenagem ao Brizola, mas em função do que estamos vivendo, com o novo crescimento da pandemia, estamos suspendendo tudo para evitar a contaminação. O ano vai ser de lembrar todas aquelas coisas que foram construídas com muita eficiência e que este Estado mostrou para o País do quanto era capaz. Da educação todo mundo fala, mas quem efetivamente fez foi Brizola. E sem deixar por menos, aqui, o ex-governador Alceu Collares - no seu período - fez os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) por todo o Rio Grande do Sul. Tinha preocupação com escolas de turno integral. Tudo isso é fundamental para que um estado, um país se diferencie. Hoje, temos políticas desta forma no Ceará, que iniciaram com Ciro Gomes. Lá tem projeto de educação, inclusive de escolas de turno integral. É fundamental que a gente possa seguir esses pensamentos do Brizola. Os países no mundo se libertam através da educação.

Perfil

Ciro Carlos Emerim Simoni, 70 anos, é natural de Porto Alegre. Médico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) em 1976, tem especialização em Radiologia. Foi vice-prefeito do município de Osório, cargo que exerceu entre 1985 a 1988. Na sequência, foi prefeito de Osório, entre 1989 e 1992. E a partir de 1994, foi deputado estadual. Participou de todas as eleições até 2014 e decidiu não concorrer na eleição de 2018. Ao todo, foram seis mandatos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Durante este período, ocupou diversos espaços no Parlamento gaúcho. Desde 2019, assumiu o cargo de presidente do PDT no Rio Grande do Sul e, neste ano, a sua prioridade é coordenar a participação do partido nas eleições de 2022.