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Entrevista especial

- Publicada em 12 de Setembro de 2021 às 19:00

'Estou no jogo para ser candidata a vice', diz Silvana Covatti

Deputada licenciada no quarto mandato pelo PP, Silvana Covatti defende que o partido faça composição ao governo do RS em 2022

Deputada licenciada no quarto mandato pelo PP, Silvana Covatti defende que o partido faça composição ao governo do RS em 2022


EVANDRO OLIVEIRA/SEAPDR/DIVULGAÇÃO/JC
Primeira mulher a ocupar a pasta do setor que sustentou a economia gaúcha na pandemia, a titular da Secretaria da Agricultura do Estado, Silvana Covatti (PP), fala, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, - concedida em meio a uma rotina intensa no Parque Assis Brasil, palco da Expointer, em Esteio - sobre a retomada do evento, a relação com as entidades e lideranças masculinas, melhorias no palco da feira para 2022 e de um plano para irrigação e outras medidas para enfrentar os riscos de prejuízos caso se confirme a estiagem na próxima safra.
Primeira mulher a ocupar a pasta do setor que sustentou a economia gaúcha na pandemia, a titular da Secretaria da Agricultura do Estado, Silvana Covatti (PP), fala, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, - concedida em meio a uma rotina intensa no Parque Assis Brasil, palco da Expointer, em Esteio - sobre a retomada do evento, a relação com as entidades e lideranças masculinas, melhorias no palco da feira para 2022 e de um plano para irrigação e outras medidas para enfrentar os riscos de prejuízos caso se confirme a estiagem na próxima safra.
Na maratona de nove dias do evento, Silvana se ajustou ao barro e à rotina da feira com três aliados: muita fruta, um scarpin para dar conforto aos pés no intervalo de agendas e pontualidade. "Aprendi isso nas andanças (da política)". 
Vinda de uma família de políticos - o marido, Vilson Covatti, foi deputado estadual e federal, e o filho, Covatti Filho, a antecedeu na Agricultura e é deputado federal -, Silvana foi a primeira mulher a presidir a Assembleia Legislativa em 2016.
Com experiência no Parlamento, a deputada estadual de quarto mandato não esconde que tem pretensões políticas de alçar voo ao Executivo gaúcho. "Tô no jogo para ser candidata à vice-governadora em uma chapa majoritária." A frase é repetida com disposição e entusiasmo pela parlamentar licenciada para comandar a pasta da Agricultura. Só que para isso, o "jogo" ainda está em aberto, avalia a secretária.
Silvana não esconde a torcida para o atual governador Eduardo Leite (PSDB) rever a decisão de não disputar a reeleição, caso saia derrotado nas prévias tucanas que definirá o nome para disputar a Presidência da República. "O que ele vai fazer se não for candidato ao Palácio do Planalto? Vai ao Senado?", questiona, para, em seguida, defender que o PP esteja em uma composição com outros partidos na majoritária, o que poderia abrir espaço ao seu nome na chapa. 
Hoje o PP tem como pré-candidato ao governo o senador Luís Carlos Heinze, mas Silvana evita comentar. "Quero ser a primeira vice-governadora gaúcha", apresenta-se.
Jornal do Comércio - Quais são as percepções até agora da primeira mulher a ocupar o comando da Secretária da Agricultura no Rio Grande do Sul?
Silvana Covatti - Já tinha sido a primeira mulher da história a ocupar a presidência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em 2016, e agora na Agricultura. É um desafio grande para "nós", de mostrar dentro do contexto que é parceria. Se não sei como funciona profundamente a colheita ou a planta, me mostrem que vou atrás e chegava em casa e estudava. A economia gaúcha eu conheço muito. O mais difícil é com as entidades, e como seria a recepção. Elas estão tendo de lidar com uma mulher, e a minha dúvida era de como seria a aceitação, mas até agora está tudo certo. Talvez nos bastidores, alguns podem ter levantado: 'O que essa mulher entende de Agricultura?' Você não pode saber tudo que não tenha nada para aprender. Na Assembleia, tive testagens. Quando me elegi pela primeira vez, achavam que eu era comandada pelo meu marido. Na primeira reunião na Assembleia Legislativa, levantei a mão três vezes para falar, eles (deputados) fazem de conta que não te veem. Só consegui depois de bater na mesa, que fez barulho, e dizer: 'Quero falar'. Um dos colegas reagiu: 'A primeira mulher que bateu nessa mesa nunca mais voltou'. Avisei que voltaria sim e fui a mais votada do partido (risos). A cultura do machismo é histórica e está arraigada.
JC - Para avançar mais rápido, as mulheres precisam estar mais em postos de comando?
Silvana - Precisa sim. Muitas delas chegam e me falam: 'Tô acompanhando teu trabalho. Te vejo nas mídias. Como tu consegue?' No pavilhão da Agricultura Familiar, tem hoje 90 mulheres à frente de agroindústrias e 45 jovens entre 228 expositores. Isso não era assim há alguns anos. Mas tem muita resistência dos homens. Não pode bater de frente, tem de chegar de mansinho, ter postura, mas precisa ter habilidade para colocar as opiniões. Os resultados vêm. A direção da Associação Brasileira de Criadores da Raça Angus tinha agenda comigo e fui recebê-los na porta da minha sala aqui na administração do parque. Este é o meu jeito. A mulher de um dos dirigentes veio aqui dizendo: 'Precisava te conhecer porque só falam de ti, estão encantados'. Isso é uma construção, é uma forma de tratar as pessoas.  
JC - Como foi a Expointer da retomada das atividades na chamada pós-pandemia?
Silvana - Até a chuva veio para coroar esta edição de retomada. Não é Expointer se não tem todos os climas no parque. Fizemos dentro de possibilidades, com protocolos que tinham de ser cumpridos. O mais emocionante foi ver as pessoas se reencontrando e falando de como foi ficar dois anos longe, alguns perderam familiares para a Covid, muitos não vieram porque perderam suas vidas. O clima foi de alegria e com a mensagem: "Tô aqui vivo". Não imposta o que foi vendido e sim estar aqui. No começo teve algumas falhas, aí chamei todo mundo e pedi: "calma, calma, temos de nos ajudar". Houve solidariedade na volta da Expointer e quem veio estava seguro porque a Saúde estava no nosso pé. 
JC - Como vai ser a edição de 2022? O que precisa ser feito até mesmo na estrutura? 
Silvana - Se for feira de portões abertos, temos de trazer todos que vinham expor aqui, e muitos não vieram por receio e medo. Sobre os projetos para novos destinos do parque, a gente queria ter assinado um protocolo de intenções para ter um hotel aqui dentro, isto está em construção e já estamos tratando com o governador. Tem empreendedor interessado. As concessionárias de veículos também querem ter mais espaço, como um pavilhão semelhante ao que outros segmentos já têm porque as empresas querem realizar eventos em outros períodos do ano. O local não está definido, mas não falta espaço. Os ovinocultores querem reestruturar a área onde ficam. Este ano eles trouxeram o maior número de animais, o que dá mais autoridade para o pleito. Estamos analisando e achamos que faz sentido o que eles estão pedindo. Outros grupos que reivindicam melhor infraestrutura são os indígenas e quilombolas que ganharam pela primeira vez um espaço no parque para expor seu artesanato. Eles pedem uma casa, com banheiros e área para cozinha. Outra coisa é que eles querem colocar a  culinária deles para o Pavilhão da Agricultura Familiar. 
JC - A ideia é remodelar o parque?
Silvana - É preciso rever o planejamento atual do parque, porque a  infraestrutura também está demandando mais investimentos, até porque ficamos um ano fechados. É necessário erguer dormitórios permanentes aqui, pois a cada feira se faz a licitação e se desmonta a instalação, um dinheiro que vai fora. Em 2020, teve só o evento virtual. Este ano o sinal verde para a feira foi dado muito em cima do prazo.  A ideia de ter um shopping center aqui continua. 
JC - A expectativa é grande para uma estiagem que pode comprometer a próxima safra. Como a secretaria está se preparando para esse risco em áreas que sempre são lembradas quando há falta de chuva, como a irrigação?   
Silvana - Já montamos um projeto para ampliar linhas de recursos para áreas de irrigação e reforço de estruturas como poços nos municípios. As medidas já foram discutidas com entidades e com os deputados da Comissão da Agricultura para receber sugestões. Encaminhamos a proposta ao grupo ligado ao governador que analisa as possibilidades e a ideia é incluir no orçamento para que possa receber verbas das privatizações das estatais. O governo teria condição de aportar recursos para a irrigação. O governador me prometeu que, após a Expointer, vamos sentar para fechar a proposta e lançar. A preocupação com o agravamento da escassez hídrica e ocorrência de estiagem é muito grande. Se olharmos os números da Emater-RS sobre a safra passada, o milho colhido em área irrigada tem salto produtividade. Temos de incentivar os produtores com linhas de crédito e programas para dar condição de implantar os equipamentos.        
JC - O que vai ter no programa?
Silvana - Perfuração de poços artesianos, instalação de açudes e associar as novas estruturas com implantação de piscicultura nas propriedades. Com este projeto, vamos poder atender às demandas. As visitas de prefeitos ao meu gabinete só têm como pauta a necessidade de ter estas estruturas para garantir reservatórios de água. Estamos trabalhando o triplo para desenhar o projeto e ver os recursos. Também vamos trabalhar para agilizar licenciamentos. O projeto tem de sair com tudo afinado para colocar em prática, se não vamos ter um problema seríssimo. O programa vai ser em cima de metas de ampliação da área irrigável, além de aportes, mas estamos aguardando o aval sobre o valor. 
JC - No cenário eleitoral de 2022, o governador vai disputar as prévias do PSDB para encabeçar uma das candidaturas a presidente da República. Qual deve ser o destino do seu partido no Estado caso Eduardo Leite consiga a vaga? 
Silvana - Temos um pré-candidato da sigla ao governo gaúcho que é o senador Luis Carlos Heinze. Sobre a candidatura do governador, a grande expectativa é de como serão os desfechos nas convenções partidárias até novembro. A decisão sobre o destino do Eduardo Leite será importante. O partido compõe a base do governo estadual. Estou aqui pela coragem que o governador teve em colocar uma mulher nesta pasta, de quem sou muito grata. Ele chegou e me perguntou: 'Topa quebrar um paradigma no Estado'. Eu disse sim. Sou muito leal a ele por esse gesto. Na minha opinião, o PP tem de esperar as definições em nível nacional para decidir a condução da política para a disputa no Rio Grande do Sul. 
JC - Caso o governador não consiga a vaga no PSDB, a senhora acha que ele tem de ir à reeleição, mesmo que já tenha dito que essa não é a sua intenção?
Silvana -  Ele seria um ótimo candidato à reeleição, mesmo que diga que não quer. A gestão dele está sendo muito positiva para o Estado, com muita determinação. Mesmo os desgastes de algumas votações fazem parte do jogo político. Quando se entra no jogo da política, precisa ter posições. Para mim, o Leite deveria rever a posição de não concorrer à reeleição no Palácio Piratini. O que ele vai fazer se não for candidato ao Palácio do Planalto? Vai ao Senado?
JC -  Sobre a pré-candidatura do senador Heinze, a senhora acha que o PP deveria antes buscar composição com aliados que estão na base do governo hoje?
Silvana - O senador colocou o nomes como pré-candidato dentro de sua legitimidade. Também me coloquei à disposição como pré-candidata à vice. Com quem? Tenho o meu currículo, sou deputada há quatro mandatos, fui presidente da Assembleia Legislativa e não envergonhei ninguém, sou a primeira a ocupar a pasta da Agricultura. Sou pré-candidata. As mulheres são mais de 52% dos votos na eleição, e estamos a fim de ocupar mais espaço. Me coloquei à disposição, mas se o candidato do partido for ele (Heinze), sigo a decisão. Mas hoje não está nada definido. Se formos a uma composição, sentar em um mesa para termos um candidato da base, me coloco à disposição para ser vice. Não podemos deixar este nicho (mulheres) sem representação em uma chapa majoritária, com candidatura ao governo, vice e senador. Estou preparada para assumir a vaga.   
JC - A senhora cogita disputar a vaga ao Senado?
Silvana - Sou uma soldada do partido para compor sempre, e isso inclui o Senado. Mas temos uma estrela que é a ex-senadora Ana Amélia Lemos. Em respeito a ela, colocaria meu nome apenas para vice-governadora. Se formos compor com um candidato a governador, eu como vice e ela para senadora seria o céu. Tô no jogo para ser candidata à vice-governadora em uma chapa majoritária.

Perfil

Silvana Covatti nasceu em 8 de dezembro de 1963, em Frederico Westphalen, na Região Norte do Rio Grande do Sul. É casada com o ex-deputado federal, também pelo PP, Vilson Covatti, há 38 anos, e é mãe de Viviana, Luis Antônio, conhecido como Covatti Filho, e Francieli. Silvana começou a atuar na política na assessoria do marido. Ela disputou a primeira eleição em 2006, quando se elegeu deputada estadual. Em 2010, foi a parlamentar estadual gaúcha mais votada, com 85.604 votos. Em 2014, voltaria a renovar o mandato, desta vez o terceiro, para o período de 2015 a 2018, quando foi a mais votada entre os concorrentes do seu partido, com 89.130 votos, e quarta posição entre os parlamentares eleitos. Na legislatura, assumiu a presidência da Assembleia, sendo a primeira mulher na função. Chegou a assumir por cinco dias o governo do Estado, na ausência do então governador José Ivo Sartori (MDB) e do vice José Paulo Cairoli (PSD). Em 2018, foi novamente a parlamentar mais votada do partido, com mais de 75 mil votos. Silvana é presidente do Movimento Mulher Progressista Gaúcha e foi Procuradora da Mulher, na Assembleia em 2020.