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Entrevista especial

- Publicada em 05 de Setembro de 2021 às 11:00

Mercado e Gasômetro reabrem em seis meses, projeta Schirmer

"Defendo convictamente que o muro (da Mauá) tem que ser substituído, tem que ser derrubado", afirma Cezar Schirmer

"Defendo convictamente que o muro (da Mauá) tem que ser substituído, tem que ser derrubado", afirma Cezar Schirmer


ANDRESSA PUFAL/JC
O secretário municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos, Cezar Schirmer (MDB), quer reabrir a Usina do Gasômetro e o segundo andar do Mercado Público em seis meses. A ideia é reativar esses espaços icônicos até o aniversário de 250 anos de Porto Alegre, em março de 2022. O secretário - que está à frente do programa Centro , que busca revitalizar a região central - estima que o projeto com a revisão do Plano Diretor para o Centro Histórico deve ser encaminhado à Câmara Municipal em até 20 dias.
O secretário municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos, Cezar Schirmer (MDB), quer reabrir a Usina do Gasômetro e o segundo andar do Mercado Público em seis meses. A ideia é reativar esses espaços icônicos até o aniversário de 250 anos de Porto Alegre, em março de 2022. O secretário - que está à frente do programa Centro , que busca revitalizar a região central - estima que o projeto com a revisão do Plano Diretor para o Centro Histórico deve ser encaminhado à Câmara Municipal em até 20 dias.
Entretanto, ao mencionar que a revitalização vai além do Plano Diretor, citou algumas medidas que considera centrais. A ideia mais ambiciosa talvez seja a transferência da rodoviária para os arredores da nova Ponte do Guaíba. Uma vez construída uma nova rodoviária naquela região, a estrutura atual se transformaria em um terminal de ônibus municipais e da Região Metropolitana, eliminando os 19 terminais existentes no Centro de Porto Alegre. Conforme Schirmer, depois que a licitação estadual para a concessão da rodoviária não teve interessados, a prefeitura e o Palácio Piratini estão discutindo a possibilidade de uma nova estrutura.
Já a ideia mais polêmica para o Centro, provavelmente, é a derrubada do Muro da Mauá, o que suscita debates há décadas. "Defendo convictamente que este muro tem que ser substituído, tem que ser derrubado, não serve aos interesses de Porto Alegre. Aquilo ali é uma bastilha." O secretário defende ainda o fim dos calçadões exclusivos para pedestres, como na Rua da Praia, por exemplo. Na opinião do emedebista, seria mais adequado que essas vias fossem compartilhadas entre transeuntes e veículos.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Cezar Schirmer também revela que o seu candidato ao Palácio Piratini em 2022 é o ex-governador José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018).
Jornal do Comércio - O segundo andar do Mercado Público está fechado há cerca de oito anos. Quando reabrirá?
Cezar Schirmer - Em seis meses, vamos reabrir o segundo andar. Já está tudo encaminhado. Inclusive, estamos preparando uma licitação dos espaços disponíveis lá. Antigamente, o segundo andar era ocupado por apenas três restaurantes. Vamos ocupar toda a parte de cima do Mercado Público com gastronomia, artesanato, coisas que atraiam um outro público um pouco mais diferenciado, que agregue valor ao local. Do lado de fora do mercado, vamos reativar o chafariz em três ou quatro meses. Tudo isso em parceria com a iniciativa privada.
JC - Outro espaço cultural interditado em Porto Alegre é o Gasômetro, que está fechado para obras há quatro anos. Há previsão para ser reativado?
Schirmer - Em seis meses. Queremos abri-lo no aniversário de Porto Alegre, em março de 2022. Queremos que volte ampliado, mais bonito, mais atrativo, mais amigável.
JC - O que deve constar na revisão do Plano Diretor do Centro?
Schirmer - O Plano Diretor para o Centro Histórico, com um regime urbanístico diferenciado, envolve várias questões. Por exemplo, se você tem um edifício com apartamentos residenciais e quiser transformá-lo em salas comerciais, a legislação vai permitir isso. Se você tiver um estacionamento e quiser transformá-lo em escritório, também vai permitir isso. Se você tem um edifício velho de cinco andares que não tem valor histórico, a legislação vai permitir desmanchá-lo para construir outro. E, nesse caso, a nova construção deverá respeitar o regime urbanístico da época que o prédio original foi construído. Se fossemos aplicar o regime atual, o recuo frontal e lateral reduziria muito o espaço para construção dentro do terreno. Outro aspecto importante é a situação dos prédios antigos. Inclusive, o edifício do INSS, ao lado da prefeitura, está totalmente abandonado. Alguém pode se interessar em comprá-lo e dar outro destino. Tem ainda a questão do retrofit (técnica de restauração que modifica as características dos prédios, com o objetivo de adaptá-los à realidade atual). Então, é um Plano Diretor especificamente para o Centro Histórico, flexível, estimulador de construções...
JC - Qual o objetivo desse tipo de estímulo?
Schirmer - A ideia é recuperar o adensamento do Centro, porque a região vem perdendo população. O Plano Diretor é uma parte da revitalização do Centro Histórico e do programa Centro , cujo projeto deve ser encaminhado à Câmara em 15 ou 20 dias. De qualquer forma, o novo regime urbanístico só gerará resultados daqui a três, quatro ou 10 anos.
JC - O que dá para entregar nos próximos quatro anos?
Schirmer - Do ponto de vista temporal, dividimos as ações em pequenas, médias e grandes. Estamos trabalhando em ações de curto prazo, como a retirada de cartazes, combate à pichação, serviço de manutenção das calçadas e vias públicas, melhoria da iluminação, reestruturação das placas de sinalização, limpeza urbana, recolhimento de lixo, segurança... Para isso, criamos um Gabinete de Gestão Integrado do Centro Histórico, composto por várias secretárias.
JC - Em um primeiro momento, a ideia é fazer a estrutura que já existe funcionar melhor?
Schirmer - Exatamente. É a questão da zeladoria. Além dessas ações do dia a dia, estamos trabalhando em algumas ações relevantes que sinalizam a direção que queremos ir. Por exemplo, a recuperação da Fonte Talavera (de la Reina, chafariz localizado em frente ao Paço Municipal); a revitalização do viaduto da Conceição, onde fizeram uma pintura na parte de baixo; a adoção do Muro da Mauá, com o objetivo de embelezá-lo enquanto não se dá um futuro definitivo a ele; a doação de tintas para a pintura externa do Mercado e do Paço Municipal; a adoção de várias praças do Centro Histórico e a constituição dos prefeitos das praças.
JC - E as ações de longo prazo?
Schirmer - Aí temos, por exemplo, o Muro da Mauá. O que vamos fazer com o muro e o Cais Mauá? Outro assunto é a mobilidade urbana do Centro. A rodoviária, tal qual se encontra hoje, é um fator de perturbação do Centro.
JC - Quanto ao Muro da Mauá, já se levantou várias hipóteses: a derrubada do muro, a redução da altura, a substituição por uma estrutura móvel...
Schirmer - O muro é uma chaga, uma barreira, um símbolo da decadência do Centro Histórico. Ao longo de 1.300 metros, ele separa a cidade do Guaíba, do cais. Existem mais de 200 mil metros quadrados disponíveis (no cais). Além disso, você acha que a Avenida Mauá teria tantos estacionamentos, se existisse um lugar aprazível na beira do rio, ao invés do Muro ou do Trensurb? Aliás, o Trensurb tem solução: fazer uma High Line, um parque aéreo, como tem lá em Nova York. Poderíamos permitir que quem construir na Avenida Mauá, possa fazer uma passarela sobre a avenida, desembocando nessa High Line.
JC - O senhor defende a derrubada do muro?
Schirmer - Defendo convictamente que este muro tem que ser substituído, tem que ser derrubado, não serve aos interesses de Porto Alegre. Aquilo ali é uma bastilha, no aspecto político.
JC - O muro não é importante na proteção contra cheias?
Schirmer - Não se pode construir muro como sistema de proteção. Claro que sou a favor do sistema de proteção contra as enchentes, mas quando o muro foi feito, há cerca de 50 anos, provavelmente não tinha muita alternativa. Impossível que a única solução para esse problema seja o muro, até porque outras cidades do mundo já resolveram esse assunto de forma mais amigável com a população e com o espaço urbano.
JC - Especialistas dizem que, sim, existem outras soluções, mas são obras bastante caras. Quem financiaria?
Schirmer - Quando a gente quer, sai. Quando a gente não quer, arruma desculpas. Vou dar um exemplo concreto (de como conseguir recursos para a substituição do muro). Se permitirmos a High Line em cima do Trensurb, aumentarmos o índice construtivo da avenida Mauá. Os empresários que eventualmente podem construir lá, podem ajudar na superação do Muro. Já estamos conversando sobre isso.
JC - E qual o plano para a mobilidade urbana no Centro?
Schirmer - Torcemos para que a licitação (de concessão) da rodoviária (organizada pelo governo do Estado) desse deserta, como de fato aconteceu. Não concebemos a concessão da rodoviária naquele espaço pelos próximos 25 anos. O Centro opera com 33 mil (passagens) diárias de ônibus; com 203 paradas de ônibus; e com 19 terminais. São 12 terminais de ônibus que circulam pela Capital e sete de ônibus da Região Metropolitana. Tudo isso, somado com a rodoviária (que centraliza o trânsito de ônibus intermunicipais), está localizado em uma área pequena, que é o Centro Histórico.
JC - O que o senhor propõe?
Schirmer - Deveria ser construída uma nova rodoviária no Quarto Distrito, perto da nova ponte do Guaíba, de onde vem todo transporte do Sul do estado, do Centro, da Fronteira Oeste, da fronteira sudoeste, através da BR-290 e da Rodovia do Parque. Essa rodoviária do Centro deveria se tornar um terminal de ônibus da Região Metropolitana e de Porto Alegre. Isso mudaria o perfil da mobilidade urbana do Centro.
JC - Quem construiria a nova rodoviária? Quem financiaria?
Schirmer - Acredito que há interesse privado. Já ouvi pessoas que manifestaram interesse. Mas, como saiu o edital da licitação da rodoviária, não fomos atrás desse assunto. Agora que ela deu deserta, queremos uma conversação entre o Estado e município.
JC - Nessa hipótese, a prefeitura assumiria a rodoviária de Porto Alegre, que passaria a operar como terminal de ônibus municipal e metropolitano?
Schirmer - Isso é um problema, porque a rodoviária, o transporte interestadual e o intermunicipal são do Estado. O transporte da Região Metropolitana também, através da Metroplan (Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional). Já o transporte de Porto Alegre é da prefeitura. Historicamente, esses três elementos não conversam. Isso é tão grave que, quando um ônibus de Viamão, Alvorada ou Gravataí entra em Porto Alegre, não pega nenhum passageiro na Capital. É proibido, ele tem que vir direto ao terminal. Isso é um absurdo. Por isso, estamos conversando (com o Estado). Pessoalmente, já falei com o secretário (estadual de Parcerias, Leonardo Busatto) e o secretário (estadual de Planejamento, Governança e Gestão) Claudio Gastal.
JC - A mudança da rodoviária desafogaria o trânsito no Centro...
Schirmer - Tem também algumas ruas no Centro Histórico, onde o trânsito (de carros) está proibido. Estamos estudando abrir o trânsito, porque os calçadões são da década de 1970. Mais contemporaneamente, os calçadões entraram em decadência. A (Rua dos) Andradas, a General Câmara, a (Avenida) Borges de Medeiros... Não há por que (não abrir o trânsito de veículos). Várias cidades do mundo eliminaram seus calçadões e fizeram uma convivência compartilhada entre pedestres e veículos. Claro que o pedestre tem sempre a preferência. E evidentemente não são vias de trânsito rápido. São vias para os moradores que precisam ir a um restaurante, a um consultório médico. Com o trânsito aberto, elas não precisariam caminhar cinco quadras para pegar o seu veículo ou outro tipo de transporte.
JC - O MDB deve escolher o seu candidato em dezembro. Quem seria o melhor nome?
Schirmer - O meu candidato é o (ex-)governador Sartori. Vamos votar essa possibilidade e, escolhendo ele, a questão está resolvida. Até porque ele vinha fazendo um bom governo. Ele projetou as questões que precisavam ser feitas em um segundo governo. Merece concluir o seu projeto, mudaria a face do Rio Grande do Sul.
JC - Se ele aceitar concorrer, a questão estaria resolvida dentro do MDB? O partido acataria?
Schirmer - Não posso falar pelos outros. O MDB é um partido muito complexo. Mas não tenho nenhuma dúvida que a esmagadora maioria do partido ficaria contemplada. E não só a maioria do MDB, a maioria dos gaúchos. Houve um quadro de injustiça no processo eleitoral passado.
JC - Na esfera nacional, como o MDB deve se posicionar para a disputa do Palácio do Planalto?
Schirmer - O MDB nacional está cogitando o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para concorrer à presidência da República. Eu concordo com isso, a conheço pessoalmente, é um belíssimo quadro. Ela é competente, qualificada, séria, responsável. Me atrevo a dizer que, entre os nomes que estão aí, ela é uma grande opção, se não a melhor.

Perfil

Cezar Augusto Schirmer nasceu em Santa Maria em fevereiro de 1952. Schirmer é formado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Em 1972, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), durante a ditadura militar (1964-1985). No mesmo ano, elegeu-se o vereador mais jovem de Santa Maria. Aos 22 anos, conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa. Foi reeleito em outros quatro mandatos. Em 1989, assumiu a Casa Civil do governo Pedro Simon (MDB, 1987-1990). Também foi secretário da Fazenda na gestão Simon. Em 1992, concorreu à prefeitura de Porto Alegre, sendo derrotado no segundo turno por Tarso Genro (PT). No governo Antonio Britto (MDB, 1995-1998), foi secretário da Agricultura. Elegeu-se deputado federal em três ocasiões: 1998, 2002 e 2006. Em 2000 e 2004, disputou a prefeitura de Santa Maria, sendo derrotado por Valdeci Oliveira (PT). Foi eleito prefeito em 2008. Reelegeu-se em 2012. Entre 2016 e 2018, assumiu a Segurança Pública, na gestão José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018). Em 2020, elegeu-se vereador na Capital. Licenciou-separa assumir a pasta de Planejamento e Assuntos Estratégicos no governo Sebastião Melo (MDB).