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Política

- Publicada em 01 de Julho de 2021 às 22:39

Governador Eduardo Leite assume homossexualidade em entrevista com Pedro Bial

"Não tenho nada a esconder", afirmou Leite ao se pronunciar sobre o tema

"Não tenho nada a esconder", afirmou Leite ao se pronunciar sobre o tema


FELIPE DALLA VALLE/PALÁCIO PIRATINI/DIVULGAÇÃO/JC
Carlos Villela
O governador Eduardo Leite (PSDB) falou pela primeira vez sobre sua orientação sexual a um veículo de mídia, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, na edição do programa Conversa com Bial exibida na madrugada desta sexta-feira (2). Na entrevista gravada, concedida de São Paulo, onde o governador está para uma série de reuniões, ele falou abertamente sobre o tema.
O governador Eduardo Leite (PSDB) falou pela primeira vez sobre sua orientação sexual a um veículo de mídia, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, na edição do programa Conversa com Bial exibida na madrugada desta sexta-feira (2). Na entrevista gravada, concedida de São Paulo, onde o governador está para uma série de reuniões, ele falou abertamente sobre o tema.
"Nesse Brasil, com pouca integridade neste momento, a gente precisa debater o que se é, para que fique claro e não se tenha nada a esconder. Eu sou gay, e sou um governador gay. Não sou um 'gay governador', tanto quanto Obama nos Estados Unidos não foi um 'negro presidente', foi um presidente negro. E tenho orgulho disso”, afirmou Leite a Bial sobre si, também fazendo referência à campanha de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos em 2008. “Não trouxe esse assunto, mas nunca neguei ser quem eu sou, eu nunca criei um personagem, eu nunca tentei fazer as pessoas acreditarem em algo diferente, e tenho orgulho justamente dessa integridade.”
Segundo ele, embora não considerasse sua sexualidade algo que deveria necessariamente ser trazido a público, preferiu ser aberto sobre isso para evitar imputações. “Como a minha participação nessa política nacional, nesse debate nacional começa a despertar talvez maiores ataques por conta de adversários, alguns vêm com piadas, ilações, como se eu tivesse algo a esconder. Pois bem, que fique claro, não tenho nada a esconder. Tenho orgulho dessa integridade de poder aqui dizer também sobre a minha orientação sexual, quem eu sou, embora devêssemos viver num país em que isso fosse uma não-questão, mas, se é, está aqui claro”, falou ao jornalista.
Questionado sobre como mudanças sociais sobre o tema tiraram o estigma e não fossem mais vistos como algo negativo, Leite reconheceu que uma carreira política no passado poderia ter sido destruída por algo assim, mas afirmou que tanto nas eleições municipais em Pelotas quanto na disputa ao Piratini em 2018, o tema nunca foi trazido. Somado a isso, Leite disse que ficou preocupado sobre como falar sobre isso sem parecer uma hipotética autopromoção, em respeito à militância LGBT+, a qual ele afirma que sempre apoiou mesmo não falando publicamente sobre sua orientação sexual.
“Não quero nem de longe comparar algum tipo de sofrimento que eu tenha tido sobre esse tema com aquilo que sofrem efetivamente outras pessoas gays, transsexuais, pobres, negros e na periferia que não conseguem se inserir no mercado de trabalho. Essas pessoas sim têm um nível de sofrimento por conta, além de tudo, de sua orientação sexual, e que merecem o acolhimento de toda a sociedade”.
Ele disse que se sente privilegiado por ter uma família que o apoia, e que falou para eles que iria falar publicamente sobre isso, e os preparou para a repercussão de publicizar sua orientação sexual. “Nunca parei para ter a conversa com eles, aquele papo cabeça ‘ó, vamos sentar, preciso contar uma coisa para vocês’, as coisas aconteceram com naturalidade. Apresentei um namorado no passado que tive para eles, e foi absolutamente tranquilo”, relembrou.
Leite também respondeu a Bial que está em um relacionamento há nove meses. O namorado do governador é um médico pediatra do Espírito Santo, que atuou em hospitais de campanha no tratamento de internados por decorrências da Covid-19. “Tenho enorme admiração e amor por ele”, disse. “Algumas pessoas falam sobre coragem que eu possa ter sobre assumir isso publicamente, acho que há alguma coragem certamente, mas coragem tem mesmo quem vai para um hospital de campanha, se oferece para trabalhar na linha de frente da pandemia, gente que está fazendo tanto para superar esse quadro que a gente tem no Brasil e no mundo. Tem tantos outros exemplos de coragem que a minha fica pequenininha diante deles”, disse.
Bial mencionou a queixa-crime movida pelo governador contra o presidente Jair Bolsonaro, que em março questionou a gestão da verba federal repassada ao Rio Grande do Sul para combate à pandemia de Covid-19 em entrevistas à Rádio Bandeirantes, com uma escolha de palavras interpretada como insinuações a respeito da sexualidade do governador gaúcho. “Onde ele enfiou essa grana? Eu não vou responder pra ele né... Mas eu acho que é feio onde ele botou essa grana toda aí”, falou Bolsonaro à época.
O governador afirmou que, após entrar com interpelação exigindo explicações do presidente sobre quando e quais seriam os valores repassados pela União que, de acordo com sua acusação, teriam sido desviados de seu destino. “Ele apresentou as explicações em juízo e agora estamos avaliando a partir dessas explicações as providências que devem ser tomadas”, disse.
No fim da entrevista, Bial perguntou ao governador como ele se sentia após falar sobre sua sexualidade pela primeira vez, e segundo ele foi um alívio. “Fico mais tranquilo. Nunca escondi, nunca condicionei a minha vida. Saio com meu namorado para jantar fora, não escondo isso de ninguém, mas sempre ficava algum burburinho, algum tipo de ilação, tá aí a piadinha que o presidente fez, ataques feitos por outros políticos, isso não é justo, não é correto, não é tolerável”.
No programa, ele também respondeu perguntas sobre a campanha eleitoral de 2022 e suas ambições políticas. Leite se definiu como um "pré-candidato a pré-candidato", porque depende da escolha das prévias tucanas para que pudesse ser definido propriamente pré-candidato à Presidência. Ele afirmou que a disputa com os outros pré-candidatos – o governador de São Paulo João Doria, o senador cearense Tasso Jereissati e o prefeito de Manaus Arthur Virgílio são lideranças que apresentam suas trajetórias ao partido, para que o partido decida o que quer apresentar à sociedade no pleito de 2022.
Leite, que na tarde de quinta-feira (1°) participou de um debate de presidenciáveis com ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta (DEM) promovido pelo jornal Estado de S. Paulo, mostrou-se aberto na entrevista a uma composição partidária que permita a construção de uma terceira via. Para ele, o PSDB deve estar como protagonista do debate pelo que ele define como tradição tucana no centro democrático desde 1989, mas que não é um protagonismo “automático”, e que por isso o partido deve estar aberto a conversar com outras agremiações e fazer uma avaliação sobre qual candidato melhor se “conecte” à população. O partido deve realizar as prévias em novembro deste ano.
A conta oficial do PSDB no Twitter elogiou a atitude do governador gaúcho.
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