Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Política

- Publicada em 24 de Junho de 2021 às 19:49

Ato reúne artistas e políticos contra censura na Fundação Palmares

"Uma parte de nós (Brasil) é africana", disse Gilberto Gil, músico e ex-ministro da Cultura

"Uma parte de nós (Brasil) é africana", disse Gilberto Gil, músico e ex-ministro da Cultura


ALMA PRETA JORNALISMO/REPRODUÇÃO/JC
Igor Natusch
Representantes de uma série de entidades ligadas ao movimento negro promoveram, na noite de quinta-feira (24), um ato virtual de repúdio à exclusão de itens do acervo da Fundação Cultural Palmares, sinalizada pelo presidente da entidade, Sérgio Camargo, no começo do mês. Em um ato virtual, os ativistas denunciaram o que consideram um movimento de censura dentro da instituição, e denunciaram a possível retirada de livros como uma tentativa de apagamento da memória da resistência negra no Brasil.
Representantes de uma série de entidades ligadas ao movimento negro promoveram, na noite de quinta-feira (24), um ato virtual de repúdio à exclusão de itens do acervo da Fundação Cultural Palmares, sinalizada pelo presidente da entidade, Sérgio Camargo, no começo do mês. Em um ato virtual, os ativistas denunciaram o que consideram um movimento de censura dentro da instituição, e denunciaram a possível retirada de livros como uma tentativa de apagamento da memória da resistência negra no Brasil.
"Uma parte de nós (Brasil) é africana, e é preciso que reconheçamos essa presença africana em nós", disse Gilberto Gil, músico e ex-ministro da Cultura no governo Lula. "Quando se dá o nome Palmares a uma instituição de preservação da cultura, o que se busca é evocar a grandeza da presença negra entre nós. Palmares foi campo de luta, palco da história, símbolo do passado cada vez mais presente de nossos avós. A África civiliza o Brasil", frisou.
Em manifesto lido no começo do ato, os responsáveis pelo evento afirmaram que a Fundação Cultural Palmares está sendo "demolida e aviltada por uma gestão autoritária e com forte viés racista", e denunciaram a exclusão de artigos sobre negros e negras de projeção do site da entidade. Entre os milhares de livros alvos de possível exclusão, estão autores como H.G. Wells, Celso Furtado, Eric Hobsbawn, Karl Marx e Max Weber, entre outros. Em redes sociais, Camargo afirmou que todas as obras que "corrompem a missão cultural da Fundação Palmares" seriam excluídas, e qualificou os volumes como "marxistas, bandidólatras e de perversão sexual".
"(Camargo) é um homem negro que nega sua própria história, nega a sua identidade. Ele ainda não sabe que é negro, porque, se soubesse, estaria projetando as lutas que foram travadas. Como não cuidar da história do Brasil? Não vamos aturar o racismo institucional de um governo que nos odeia", afirmou a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).
O também deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA) qualificou Camargo como um "fantoche" de Jair Bolsonaro, associando-o a outras situações, como a quase paralisação das titulações de terras quilombolas. "Ele está a serviço dos que afirmam que a escravidão foi benéfica, que a Princesa Isabel é nossa heroína. Não tenho raiva: tenho é pena de um sujeito que nega a si próprio, que se automutila", acrescentou.
"Nós estamos em uma das encruzilhadas de nossa história. Tenho a impressão de que ele (Bolsonaro) censura, desmonta a Fundação Palmares e quer reescrever a história porque sabe a potência que existe na resistência de negros e negras brasileiras", afirmou a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS), bibliotecária e presidente da Frente Parlamentar do Livro, da Leitura e da Escrita da Câmara.
Ex-ministro da Cultura durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort disse que enfrentar a "tentativa de destruição" da Fundação Palmares é fazer a defesa da cultura e da identidade do povo brasileiro. "Temos a história dos negros, através da Fundação Palmares, e queremos que ela se mantenha, como elemento fundamental na construção da democracia brasileira. Querem destruir a Fundação Palmares, mas isso é impossível, porque não se pode destruir a história de um povo." 
Estavam previstas ainda, durante a noite, no decorrer da live, as participações do ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, bem como dos ex-presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.
Na quarta-feira (23), a Justiça Federal do Rio de Janeiro proibiu que a Fundação Palmares descarte ou danifique as obras. A decisão estabelece multa pessoal a Sérgio Camargo, no valor de R$ 500,00 para cada item doado, além de intimá-lo a oferecer explicações sobre a medida, no prazo de 15 dias.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO