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Política

- Publicada em 16 de Junho de 2021 às 13:15

Witzel inicia depoimento na CPI acusando Bolsonaro por quadro grave da pandemia

Em depoimento, Witzel afirmou que Bolsonaro 'deixou governadores à mercê' na pandemia

Em depoimento, Witzel afirmou que Bolsonaro 'deixou governadores à mercê' na pandemia


JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO/JC
Agência Estado
Ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro, o governador cassado do Rio Wilson Witzel iniciou seu depoimento à CPI com forte artilharia contra o presidente da República e a atuação do governo federal na pandemia do coronavírus. Rompido com a família Bolsonaro, Witzel depositou na administração federal a culpa pelos mais de 490 mil mortos pela Covid-19. O ex-governador também afirmou que a gestão Bolsonaro criou uma narrativa para fragilizar os chefes locais em razão da adoção de medidas de distanciamento social.
Ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro, o governador cassado do Rio Wilson Witzel iniciou seu depoimento à CPI com forte artilharia contra o presidente da República e a atuação do governo federal na pandemia do coronavírus. Rompido com a família Bolsonaro, Witzel depositou na administração federal a culpa pelos mais de 490 mil mortos pela Covid-19. O ex-governador também afirmou que a gestão Bolsonaro criou uma narrativa para fragilizar os chefes locais em razão da adoção de medidas de distanciamento social.
"Como tem um País em que presidente da República não dialoga com governador? Ele deixou governadores à mercê. Único responsável pelas mortes tem nome e endereço e tem que ser responsabilidade, aqui e no tribunal penal internacional pelos fatos", disse Witzel nesta quarta-feira (16).
"O governo federal, para poder se livrar das consequências do que viria com a pandemia criou uma narrativa, pensada, estrategicamente pensada, os governos estaduais ficaram em situação de fragilidade. O que ficou claro que a narrativa construída foi para colocar os governadores em situação de fragilidade porque eles tomaram as medidas de isolamento social, e isso tem repercussões econômicas", afirmou Witzel, que foi alvo de impeachment por acusação de corrupção na Saúde durante a pandemia, motivo pelo qual foi chamado a depor na CPI.
Para Witzel, líderes estaduais e municipais ficaram desamparados pelo governo federal em razão da postura de Bolsonaro em se recusar a dialogar com os chefes estaduais. "Os governadores, prefeitos de grandes capitais e pequenos ficaram totalmente desamparados do apoio do governo federal, isso é realidade inequívoca documentada em várias cartas que encaminhamos ao presidente da República", afirmou o ex-governador.
Witzel disse ainda que os governadores não teriam ficado "à mercê" das alternâncias dos preços de mercados internacionais na compra de respiradores se o governo federal tivesse agido. "Não é simples chegar na CPI e falar que governos compraram respiradores superfaturados, é preciso fazer análise dos valores praticados no mercado internacional, que nós governadores ficamos desaparelhados para comprar esses equipamentos", afirmou.

Cassação do mandato

Antes mesmo de o interrogatório começar na CPI da Covid, o governador cassado do Rio Wilson Witzel tentou elaborar uma defesa diante dos integrantes da comissão. Ele negou as acusações pelas quais foi retirado do cargo, resultado de um impeachment por corrupção na Saúde durante a pandemia.
O ex-governador voltou a dizer que foi alvo de uma perseguição política, e cassado por um "tribunal de exceção". Wilson Witzel sugeriu, por exemplo, que seja quebrado o sigilo do seu vice e hoje governador do Rio, Cláudio Castro, aliado da família Bolsonaro.
"Cláudio Castro estava em Brasília na véspera de buscas, isso merece quebra de sigilo", disse Witzel, para quem é necessário investigar quem estaria por "trás" do seu processo de impeachment, apontando para uma "máfia" na área da Saúde.
Witzel afirmou que a CPI deveria aprovar a quebra de sigilo de organizações sociais de saúde do Estado, que administram UPAs e hospitais, para verificar para onde estão indo os recursos públicos. "Eu sai, mas as OS estão lá operando livremente", disse. "Empresário Edson Torres é criminoso contumaz e está solto", afirmou Witzel sobre o empresário apontado como operador econômico do escândalo envolvendo desvios de recursos na saúde do Rio.
"Fiz auditoria em organizações sociais, maior máfia no RJ é na saúde. Meu impeachment foi financiado por organizações sociais e alguém recebeu dinheiro. Quem recebeu dinheiro para meu impeachment pode ser do sistema do Judiciário", disse também o ex-governador, para quem "tudo começou" quando ele determinou uma "investigação imparcial" do caso Marielle. Witzel acrescentou ainda que espera para que o mandante do assassinato, "quem sabe, seja descoberto".
"A CPI pode deferir sob segredo de justiça, e aqui vai uma sugestão, com o Supremo Tribunal Federal, medidas cautelares de busca e apreensão de celular e documentos para sabermos quem está por trás do meu impeachment", reforçou ele, afirmando estar com a vida ameaçada. "Corro risco de vida, por causa da máfia da saúde, e tenho certeza que tem miliciano envolvido", disse Witzel.

Envio de verbas 'não foi suficiente'

O ex-governador afirmou que o envio de verbas federais para os Estados enfrentarem a pandemia não foi suficiente. Witzel também voltou a criticar a falta de cooperação pelo Ministério da Saúde durante o período. "Cooperação do Ministério da Saúde foi praticamente zero, foi uma descooperação (sic)", disse ele.
Wilson Witzel também reclamou do critério de distribuição dos recursos federais aos Estados. "Envio de verbas contra Covid prejudicou Rio e São Paulo e prestigiou Nordeste", disse ele.
O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), rebateu o ex-governador, lembrando que o formato de distribuição foi votado pelo Congresso Nacional, tendo como um dos critérios a sistemática do Fundo de Participação dos Estados (FPE). "O critério utilizado pelo Congresso pode até não ser bom para os Estados do Sul, São Paulo e Rio, mas o critério foi o fundo de participação dos Estados", disse o senador.
Witzel também fez críticas à atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em torno do controle de chegada de estrangeiros nos aeroportos brasileiros. "Anvisa não estava fazendo o controle. E eu fui duramente criticado porque tomei essa medida, fui chamado de tirano, ditador. Meu decreto proibia o ingresso de turistas no aeroporto", disse ele.

Retaliações

No depoimento, Witzel disse que foi alvo de retaliações por parte do governo federal, em razão de críticas que dirigiu ao presidente Jair Bolsonaro e sua administração. "Governo e o presidente começaram a me retaliar. Tínhamos dificuldade de falar com ministros para sermos atendidos. Vi (Paulo) Guedes em avião e ele virou a cara e saiu correndo dizendo 'não posso falar com você'", relatou o ex-governador, que afirmou ter havido contingenciamento de verbas durante processo de impeachment no Rio.
Ele contou ainda sobre um episódio com ex-ministro da Justiça Sergio Moro no qual o ex-juiz federal teria passado um "recado" de Bolsonaro a Witzel. Segundo o relato do ex-governador, Moro disse a ele para "parar de falar que quer ser presidente", a pedido de Bolsonaro. "Acho que papel de menino de recado não se espera de você que, como eu, é magistrado de carreira", afirmou Witzel sobre o que teria dito ao ex-ministro.
Segundo o governador cassado, Moro relatou a ele que a reunião entre os dois não poderia se tornar pública. "Há indícios de intervenção no RJ no caso Marielle e atos de perseguição contra mim", disse o ex-governador, segundo quem Bolsonaro o chamou de "estrume, ditador e leviano".

'Limpando a barra'

O membro bolsonarista da CPI da Covid, senador Jorginho Mello (PL-SC), criticou, em publicação no Twitter, a oitiva do governador cassado. "O depoente Witzel veio à CPI pra responder os questionamentos ou fazer discurso barato pra ver se limpa a sua barra e joga a culpa da sua gestão vexaminosa no colo do Governo Federal? Francamente. Ainda temos que ouvir que ele e Lula são vítimas de 'pau de arara moderno'", escreveu.
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