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Entrevista especial

- Publicada em 06 de Junho de 2021 às 11:00

Presidente do IEE diz que é preciso avançar na vacinação para retomar economia

Presidente do IEE, Torres também defende a redução do tamanho do Estado, com o avanço das privatizações

Presidente do IEE, Torres também defende a redução do tamanho do Estado, com o avanço das privatizações


fotos: LUIZA PRADO/JC
Eleito em abril para presidir o Instituto de Estudos Empresariais (IEE) por um ano, o economista Gabriel Picavêa Torres entende que a primeira agenda para a retomada da economia é a aceleração da vacinação da população no País. Ele também defende a redução do tamanho do Estado, com o avanço das privatizações.
Eleito em abril para presidir o Instituto de Estudos Empresariais (IEE) por um ano, o economista Gabriel Picavêa Torres entende que a primeira agenda para a retomada da economia é a aceleração da vacinação da população no País. Ele também defende a redução do tamanho do Estado, com o avanço das privatizações.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Torres ainda fala da importância de renovar a formação de novas lideranças, a partir do novo cenário de digitalização da economia, bem como de ampliar o impacto do Fórum da Liberdade, evento realizado todos os anos pelo IEE.
Jornal do Comércio - Quais são as metas da sua gestão à frente do IEE?
Gabriel Picavêa Torres - Queremos modernizar a formação de lideranças, esse é o nosso objetivo principal. Nascemos para formar lideranças empreendedoras que gerem impacto para além de seus negócios, para a sociedade, para melhorar algum problema público, em que a iniciativa privada possa resolver através de uma organização sem fins lucrativos, como é o caso do Instituto Floresta. Ou na vida pública, indo para governos, caso do Paulo Uebel (ex-secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital no Ministério da Economia), Wagner Lenhart (ex-secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do governo federal) e Ricardo Gomes (atual vice-prefeito de Porto Alegre, DEM). Então, nossas metas para a gestão no IEE são modernizar a formação (das lideranças), para nos adaptarmos a esse momento em que o presencial não é mais tão relevante quanto ele foi no passado - ainda é relevante, mas não tem aquele centralismo de antes, há ferramentas virtuais - e também aumentar o impacto do Fórum da Liberdade, principal bandeira do IEE há mais de 20 anos.
JC - Como o IEE irá atuar na formação de lideranças empresariais na sua gestão?
Torres - Boas lideranças são pessoas com capacidade de gerar empatia, se comunicar e motivar as pessoas ao redor delas para iniciativas empreendedoras, pensando em negócios, ativismo ou vida pública. E fazem isso com base em alguns valores - a liberdade individual - para qualquer pessoa que queira prosperar. Dentro de um arcabouço de lei, de Estado e de direito democrático, utilizamos regras para garantir aqueles direitos mais básicos de qualquer pessoa - liberdade, prosperidade, propriedade, respeito à vida. Então, lideranças que promovam, através desses valores, o que precisamos para começar a mudar as instituições e garantir que sejam abertas, inclusivas, que aumentam a probabilidade de qualquer pessoa de ter uma oportunidade para chegar até onde queira.
JC - O senhor fala em fortalecimento das instituições a partir da atuação de bons líderes. Pode exemplificar?
Torres - É um fato da realidade de países que têm instituições fortes, conseguem gerar prosperidade para os seus cidadãos, oportunidades para as pessoas melhorarem de vida. Por isso, precisamos de instituições cada vez mais robustas - abertas, que permitam a qualquer pessoa participar e dar a sua contribuição, mas também sejam instituições inclusivas. São boas regras do jogo que permitem um ambiente de competição. Aí, posso estar falando desde o mercado, negócios, até as questões ligadas à educação... E que inovações não sejam bloqueadas, ou proibidas, seja por governos ou organizações que não querem que as inovações aconteçam. Um ótimo exemplo nos últimos anos foi o caso dos aplicativos de transporte. Havia uma instituição arcaica, que através de regulamentações proibia o surgimento desses aplicativos. Os aplicativos de transporte surgiram, as pessoas optaram por utilizar esses aplicativos para se locomover e, então, começou um embate entre quem utilizava regulamentações anteriores para uma reserva de mercado contra uma iniciativa de maior competição e liberdade. Devemos permitir que situações como essa (dos aplicativos) se repitam em todos os mercados, é uma garantia de mais competição e oportunidades, um mercado mais livre, onde o consumidor é soberano. E que, no final, possamos ter uma economia de mercado, pulsante e inovadora.
JC - O Fórum da Liberdade mudou de formato da pandemia. Como projeta as próximas edições do evento?
Torres - Na medida em que se tenha um avanço da vacinação, em que possamos ter atividades com grandes públicos de modo presencial, é natural que tenhamos um Fórum da Liberdade com o melhor dos dois mundos. Vamos mesclar tudo de bom que o online nos traz em termos de alcance, de flexibilidade de agenda, de permitir participação a distância, de alguém em outro lugar do mundo virtualmente. Isso é a parte boa que o online nos traz e traz a mesma coisa em termos de audiência. O fórum deixa de ser um evento apenas realizado no Rio Grande do Sul, pode atingir brasileiros de outras partes e de fora do Brasil, até mesmo estrangeiros. E trazendo também a parte boa do presencial, a possibilidade de as pessoas se conectarem aqui em Porto Alegre, com bons palestrantes, pessoas que queiram trocar ideias ou aprender mais. Conseguiremos o engajamento mais forte, o relacionamento, a proximidade e a empatia do presencial, mas também dando o alcance e as oportunidades que o online nos traz.
JC - O fórum, então, é um exemplo das transformações da pandemia que vieram para ficar?
Torres - O modelo híbrido online e presencial é o caminho nos próximos anos. O papel do fórum é levar ideias liberais para um público cada vez maior, fazendo debates maduros, que foquem em soluções reais para problemas reais.
JC - Qual é o foco do IEE na atualidade?
Torres - Preparar o associado para que se posicione. Estimulamos nossos associados a terem posições e que as divulguem na medida em que se sintam confortáveis para isso.
JC - Qual é a sua avaliação do papel das instituições públicas e privadas no Brasil?
Torres - Temos um vácuo de lideranças em geral no Brasil. Faltam pessoas que tenham equilíbrio e capacidade para exercer cargos públicos. Com raras exceções, obviamente, não quero ser leviano. É simplesmente pontuar que, muitas vezes, falta serenidade, ponderação, um pouco de empatia com posições contrárias. É muito preocupante quando as pessoas que ocupam cargos públicos começam a exacerbar as posições das instituições. Por exemplo, uma Suprema Corte que, eventualmente, até legisla sobre temas, que interpreta a Constituição de uma forma que não parece o que a Constituição está dizendo. Isso eu estranho. Pessoas que ocupam cargos executivos se posicionando de forma não ponderada e, às vezes, até cruzando um pouco a linha do bom senso e de educação. A liderança de verdade, em momento de crise, age muito mais para ajudar a encontrar uma solução e acalmar os ânimos do que acirrar os ânimos e tornar o ambiente, que já é instável por natureza, ainda mais instável.
JC - Qual é a sua avaliação sobre as privatizações em curso no Estado - CEEE, Corsan, Sulgás?
Torres - Finalmente no Rio Grande do Sul e no Brasil como um todo, a pauta da privatização deixou de ser um tabu. Está sendo percebida pelo sistema político, pelo Legislativo, Executivo e, até mesmo, pelo Judiciário, como uma pauta da sociedade. As pessoas cansaram de ver uma disputa sobre se a empresa de saneamento, por exemplo, é uma estatal ou privada. As pessoas querem o resultado. E perceberam que a iniciativa privada entrega muito mais resultado do que as estatais. É só ver o caso do saneamento, com estatais em todos os estados e em muitos municípios brasileiros. Tem município há 60 anos esperando ter cobertura total de serviço de saneamento, e isso não aconteceu.
JC - E as privatizações em nível nacional? Estão em um ritmo adequado?
Torres - Poderia ser mais rápido, podemos avançar mais. Muitas vezes, o Congresso demora para responder. Tem respondido melhor, devemos elogiar isso. É importante privatizar e deixar de ter o monopólio estatal, mas também garantir que não se caia em um monopólio privado. É preciso competição e mercados mais livres para que as inovações continuem a prosperar.
JC - O que é necessário para a economia voltar a crescer?
Torres - A primeira agenda é vacinação. As pessoas não vão sair de casa e não vai ter retomada da economia sem uma normalização. O primeiro passo é a aceleração do ritmo de vacinação. O segundo é o avanço da agenda das reformas institucionais, especialmente a tributária, simplificação dos impostos, e a reforma administrativa, em que se ataca o principal problema das contas públicas que gera todo o custo fiscal. Assim, se desfaz uma espécie de bomba relógio, que foi armada na Constituinte. A despesa pública se tornou uma despesa com crescimento vegetativo constante, independentemente de quem for o governante e do índice de produtividade.
JC - Como analisa o debate sobre as reformas no Congresso?
Torres - Nesse momento, o foco do Congresso está voltado às reformas tributária e administrativa. Se essas duas agendas avançarem, o Congresso dá uma contribuição importante para sociedade. O Brasil é um dos poucos países grandes que tem uma tributação sobre o consumo extremamente elevada. Essa tributação afeta principalmente as pessoas mais humildes e que são as que consomem a maior parte de sua renda. E não é assim nos países desenvolvidos, onde a tributação não incide, principalmente, no consumo. No Brasil, ela é pior ainda, porque é regressiva, incide em cascata e gera custo não só para os pequenos empresários, que têm dificuldade em fazer o seu negócio escalar, mas também para os cidadãos.
JC - Como avalia o Brasil neste segundo ano de pandemia?
Torres - O Brasil deixou de fazer a lição de casa. Do ponto de vista de combate à Covid-19, olhamos, por exemplo, para a Coreia do Sul, que é um país que já lida há muito tempo com pandemias e epidemias vindas da China. A Coreia do Sul tomou uma série de medidas mais razoáveis, pensando sempre em ponderar o cuidado sanitário, mas sem asfixiar a atividade econômica, desde a utilização massiva de testagem rápida e sistema de rasteio para isolar as pessoas que estivessem contaminadas e até mesmo em informar essas pessoas que elas estavam contaminadas e, portanto, era inteligente que ficassem em casa e se resguardassem por algum período; proteger as pessoas do grupo de risco, que obviamente, são as que mais sofreram ao longo desses dois anos. O Brasil não fez isso. Entramos em uma disputa política em vez de fazer um trabalho de gestão dos riscos sanitários.
JC - A aproximação das eleições de 2022 pode trazer reflexos para economia brasileira?
Torres - A campanha eleitoral já começou, já estamos discutindo as eleições do ano que vem em um ambiente polarizado, com duas candidaturas (Jair Bolsonaro, sem partido, e Luiz Inácio Lula da Silva, PT), na minha visão, populistas - de diferentes partidos, mas populistas, que não é caminho que o Brasil precisa. Precisamos do caminho da agenda de reformas. Se esses dois candidatos, ou qualquer outro candidato que venha aparecer abraçarem a agenda de reformas, ótimo, e aí podemos ter uma solução melhor.
JC - O cenário com a pandemia está servindo de algum modo para o aprimoramento das instituições públicas e privadas?
Torres - Vivemos em um ambiente dicotômico. Temos avanços e retrocessos. Nos avanços, a agenda de reformas, já aprovamos desde 2016 a reforma trabalhista, teto de gastos, reforma da Previdência, lei das estatais, marco legal das startups, marco do saneamento, uma lista de reformas em que avançamos. Mas há outras situações que causam estranheza, a Suprema Corte legislando e interpretando a Constituição de formas que surpreendem até quem é da área do Direito, restrições à criação de partidos políticos diferentes, porque isso ameaça partidos políticos tradicionais. Em outras frentes, o enfraquecimento da agenda de combate à corrupção da Operação Lava Jato, o que também não é positivo para o Brasil.
JC - Acredita na viabilidade de uma candidatura de centro para o Planalto?
Torres - No Brasil, focamos demais na candidatura do Executivo. Não adianta ter um presidente mais alinhado com as reformas se o Congresso não for. Sobre candidatura ao Executivo (de centro), existe espaço, desde que tenha algum candidato que saiba vocalizar para as pessoas uma agenda de reformas, que é o que a sociedade quer para o País avançar.

Perfil

Gabriel Picavêa Torres, 35 anos, nasceu em Porto Alegre, mas passou infância e adolescência em Uruguaiana. É o atual presidente do Instituto de Estudos Empresarias (IEE). Economista, também tem mestrado em Economia (Ufrgs), focado nas áreas de Macroeconomia e Econometria. Foi secretário-executivo adjunto de Gestão na prefeitura de São Paulo (2017-2018), sendo responsável pela implantação de projetos para a redução de despesas administrativas, desmobilização de ativos e para a melhoria de eficiência em Compras Compartilhadas e Documentos Públicos. Também atuou como economista do Sistema Fiergs - Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (2015-2016) e da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (2013-2015), onde estruturou o departamento econômico responsável por estudos na área de Varejo e Crédito. Sua última ocupação profissional foi como sócio na Liberta Investimentos, onde permaneceu até o início deste trimestre. Associado ao IEE desde 2015, também exerceu o cargo de vice-presidente na gestão 2020/2021 até ser eleito presidente para a gestão 2021/2022.