Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Política

- Publicada em 14 de Março de 2021 às 23:00

Retomada da economia e da autoestima da população é desafio de Adiló

Roberto Hunoff
Eleito com mais de 136 mil votos no segundo turno, derrotando o candidato do PT, deputado estadual Gilberto Pepe Vargas, o vereador em segundo mandato, Adiló Didomenico (PSDB), terá a tarefa de recuperar a tradição do diálogo que sempre pautou as administrações anteriores. Exceto a última, do prefeito Daniel Guerra, que sofreu processo de impeachment em dezembro de 2019, tendo como uma das principais causas o rompimento da Administração com a maioria dos setores da comunidade, incluindo o Legislativo.
Eleito com mais de 136 mil votos no segundo turno, derrotando o candidato do PT, deputado estadual Gilberto Pepe Vargas, o vereador em segundo mandato, Adiló Didomenico (PSDB), terá a tarefa de recuperar a tradição do diálogo que sempre pautou as administrações anteriores. Exceto a última, do prefeito Daniel Guerra, que sofreu processo de impeachment em dezembro de 2019, tendo como uma das principais causas o rompimento da Administração com a maioria dos setores da comunidade, incluindo o Legislativo.
A retomada deste processo deu-se ao longo do ano passado com o prefeito eleito pela Câmara de Vereadores, Flávio Cassina, juntamente com o vice Elói Frizzo. Caberá, agora, ao novo prefeito, empossado em janeiro, a consolidação deste processo para que a cidade tenha condições de retomar o desenvolvimento econômico e social, além da reinserção regional. Adiló já antecipa que sua administração terá a marca do diálogo e do entendimento, com valorização das representações comunitárias e do Poder Legislativo.
Alerta que a cidade vive seu pior momento nos últimos 50 anos, com graves dificuldades financeiras, que precisarão ser sanadas por meio de ações que elevem a receita, como atração de investimentos, regularização de loteamentos e débitos dos contribuintes. Entende que a pandemia da covid-19 precisa ser tratada com todos os cuidados, mas é contra o fechamento de atividades.
Jornal do Comércio – Com qual visão ideológica e política Caxias do Sul será conduzida nos próximos quatro anos?
Adiló Didomenico – A vida inteira me identifiquei com uma doutrina de centro-direita. Em 1984, fui um dos fundadores do PFL e fiquei filiado por dois anos. Com o ingresso do ex-governador Jair Soares, entendi que o partido inclinou demais para a direita e saí. Em 1989, me filiei ao PTB. Ajudei a reestruturar o partido e permaneci por 31 anos. O PTB, em Caxias, sempre foi muito alinhado com o MDB e demais siglas de centro. Nada contra a esquerda, mas jamais tive alinhado com esta ideologia. Entendo como necessário o contraditório na política e sempre com respeito. Com o término do processo eleitoral, é preciso esquecer as siglas e trabalhar com todos que querem o bem da cidade. É necessário apaziguar a cidade porque viemos de um período de ruptura do governo Guerra. Ele tinha ideias boas, mas se comunicou mal, rompeu demasiadamente com setores da comunidade e não conseguiu implantar o seu projeto. Nós vamos buscar o contrário, o diálogo, o entendimento. Não fazemos política com ranço. Nestes anos todos fui comerciante e a política nunca me atrapalhou, ao contrário, me ajudou a construir amizades, especialmente por respeitar quem pensa o contrário.
JC – Qual a motivação para deixar o PTB e ingressar no PSDB na janela partidária do ano passado, que já tinha candidata preferencial à Prefeitura, a vereadora Paula Ioris, que se tornou sua vice-prefeita?
Adiló – Em junho de 2019, começamos uma conversa com a vereadora Paula e o deputado Neri, o Carteiro, porque tínhamos muitas afinidades. Quando fui secretário de Obras no governo Alceu Barbosa Velho e o Neri, vereador, ajudamo-nos muito. Ele é trabalhador, incansável e sempre encaminhava as demandas com muito respeito, o que nos levou a uma identificação muito forte. Surgiu a ideia da dobradinha com a Paula, unindo PTB e PSDB. Conversamos com as executivas nacional e estadual do partido para consagrar a coligação, mas a decisão era de que em cidades com mais de 200 mil eleitores deveríamos esperar por orientações sobre coligações. Isto criou dificuldades, porque nos 31 anos em que estive no PTB, que preside por três vezes, poucas vezes o partido deve Executiva, quase sempre era comissão provisória, situação que não nos dava segurança para um projeto com a envergadura proposta. Sem o respaldo da executiva estadual, buscamos alternativa em sigla com estabilidade, porque poucas têm esta condição. Optamos pelo PSDB, que abriu as portas. Mas não houve ruptura com o PTB, que nos apoiou e tem participação no governo. A troca de partido foi, principalmente, para garantir segurança jurídica ao projeto. O PSDB deu toda a segurança para o projeto, mesmo que chapa pura não fosse ideal.
JC – O prefeito Daniel Guerra, de forma geral, desconsiderava o Poder Legislativo. Como será o relacionamento com a Câmara?
Adiló – Estaremos muito abertos ao Legislativo, porque ali as coisas acontecem. Precisamos devolver ao Parlamento a imagem que perdeu pelo desprezo do Executivo no período da administração Guerra. Vamos trabalhar muito para respeitar o espaço de cada vereador, pois eu e a Paula somos frutos dali. Sabemos da importância do Legislativo.
JC – Ao optar pelo PSDB não lhe preocupou que a situação do Estado poderia prejudicar o projeto?
Adiló – Preocupou, mas não tínhamos no momento outra sigla que desse garantia. Teve também a pandemia, que dificultou a realização de reuniões presenciais, e o tempo exíguo, porque os demais partidos mais afinados já discutiam suas coligações, inclusive definindo o nome para prefeito. No primeiro momento, o PSDB pode ter representado prejuízo, mas ao longo da campanha, levando a mensagem com simplicidade e sem ataques, enaltecendo principalmente o grupo formado por cinco partido e o projeto, conseguimos crescer. A idolatria às siglas está ficando para trás, o eleitor não se identifica mais com o partido, está mais interessado nas pessoas e propostas de governo.
JC – A ideia de concorrer a prefeito vinha sendo trabalhada desde a eleição passada...
Adiló – Em 2012 tinha sido sondado para concorrer, mas era para criar outro eixo político para fugir das mesmas siglas, que eram MDB, PT e PDT, porque se sabia que as chances eram remotas. Mas o então vice-prefeito Alceu Barbosa Velho se apresentou para liderar a chapa e decidi concorrer a vereador. Em 2016 desisti de pleitear em função de infortúnio familiar, ocorrido um ano antes, e pensei, até mesmo, em não concorrer à reeleição para cuidar da minha vida profissional. Mas em reunião familiar decidimos que eu deveria seguir na vida pública. Fui reeleito com votação superior a 5 mil votos. Em 2018, concorri à Assembleia para consolidar o partido e dar visibilidade ao nome. Fiz a terceira maior votação dos candidatos de Caxias. Os mais de 20 mil votos mostraram potencial, o que me fez, inclusive, rejeitar convite do PTB estadual para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo Eduardo Leite. Esta decisão criou dificuldades com a executiva, que não compreendeu o projeto para Caxias. Mas foi a mais correta, porque seguimos o trabalho junto aos bairros.
JC – O impeachment do prefeito Daniel Guerra teve reflexos na montagem do projeto?
Adiló – Foi o episódio que mais desgastou e trouxe problemas. Votei contra a abertura do processo, porque entendia que era ruim votar pela cassação de um prefeito eleito democraticamente. Mesmo com o surgimento de evidências, o prefeito não mudou a postura. Junto com os demais cinco vereadores que votaram contra a abertura do processo, tentamos conversar com ele e não fomos recebidos. Surgiram duas situações marcantes. Primeiro, a situação falimentar da Codeca (Companhia de Desenvolvimento de Caxias), o que poderia levar a entrega do controle da coleta e destino dos resíduos ao setor privado. Somos, no Brasil, a única cidade com mais de 10 mil habitantes que tem controle do destino dos resíduos. Fui presidente da Codeca e sei da sua importância. Em paralelo, havia licitação em andamento para terceirizar o britador, o que é um absurdo, porque tudo é propriedade do Município. Porque terceirizar uma estrutura que, durante 50 anos, foi estratégica para o setor de obras públicas? Por isso e por outras evidências que surgiram resolvi votar pelo impeachment. Isto atrapalhou e, talvez, foi o pior para superar na campanha. Éramos muito cobrados, mas à medida que o governo eleito pela Câmara, com o prefeito Flávio Cassina, ia destravando a Prefeitura, mostrando os equívocos anteriores, esta situação ficou menos preponderante.
JC – Chegou a surpreender o resultado final, com uma diferença superior a 40 mil votos?
Adiló – Nos últimos dias do segundo turno, sentimos uma reação muito forte em nosso favor, mas não se esperava a votação que fizemos. Sempre me pediam no primeiro turno qual adversário seria o mais difícil de superar e afirmava que eram os votos brancos e nulos e as abstenções. Se percebia o desencanto com a classe política e o medo de sair para votar em função da pandemia. Foi muito importante a participação do deputado Neri, que atraiu votos que eu e a Paula não conseguiríamos.
JC – Como foi montado o secretariado do governo?
Adiló – A partir de indicações de diferentes segmentos públicos e privados buscamos as pessoas certas para os lugares certos, independentemente de filiação. Montamos uma estrutura para entregar aquilo que prometemos em campanha e a população espera que entreguemos. O governo será enxuto, porque sempre defendi a ideia do estado necessário, nem mínimo, nem máximo, ainda mais agora em que o momento requer cautela e prudência pelas dificuldades financeiras do Município. Vamos nomear os cargos de confiança necessários para levar adiante o plano de governo e valorizar e motivar o servidor concursado. Desconheço algum ente público que não tenha cargos de confiança, logicamente sem exageros. Vamos ter cuidado para não inchar a máquina pública, porque senão aquilo que defendemos vai por terra.
JC – Como está a situação financeira do Município?
Adiló – A Prefeitura de Caxias passa pelo pior momento dos últimos 50 anos. Não fosse um repasse do Samae (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgotos) não teria fôlego para quitar os salários de final de ano. Também tem a Codeca em condição pré-falimentar, com prejuízo acumulado superior a R$ 20 milhões e frota sucateada. O desafio é grande, mas se sabia das dificuldades já na campanha. Teremos cautela e prudência para fazer as modificações necessárias e tornar a estrutura mais leve, principalmente, para atrair novas empresas e mantendo as atuais. Nos três anos de governo Guerra, se mandou muita empresa embora, só para a vizinha Flores da Cunha foram 37. Isto não se recupera de um dia para outro. A receita caiu e a despesa aumentou. Queremos deixar como principal marca de governo a retomada do desenvolvimento econômico e da autoestima do povo, que viveu momentos de disputa. Isto não pode continuar, todos devem ser a favor de Caxias.
JC – Para atrair investimentos, normalmente, é preciso oferecer algumas vantagens. Como montar esta equação numa situação financeira crítica?
Adiló – O empresário não quer subsídios, quer ser bem tratado no despacho de seus projetos. Quer um ambiente seguro juridicamente e facilidade nos licenciamentos, teremos de trabalhar muito nisto. Caxias está burocratizada, leva-se muito tempo para liberação de demolições de prédios velhos. Precisa mudar para ontem ou seguiremos perdendo investidores. Recuperar o crédito do trading turístico, a região ganhou e Caxias perdeu. Investir na inovação e tecnologia, aproveitando o conhecimento das faculdades. Perdemos 6 mil vagas na pandemia e Novo Hamburgo criou 4,5 mil. Não existe mágica, mas é preciso criar ambiente favorável, de respeito e segurança para investidores.
JC – Quais as prioridades do primeiro ano de governo?
Adiló – Conseguir readequar a planta tributária de Caxias, pois temos muitos loteamentos em processo de regularização, que seria fonte de arrecadação para ajudar na questão financeira. Outra medida é a adoção do Refis, que não é feito há cinco anos, para que os contribuintes possam recuperar sua adimplência. Reorganizar a questão da saúde, que é uma reclamação muito forte. Não é só questão financeira, a área precisa passar por reorganização, aprendendo com o momento da pandemia. A intenção é acabar com as filas e agendar as consultas pelos meios disponíveis.
JC – Como será a conduta do governo em relação às medidas de prevenção da pandemia?
Adiló – Caxias tem rubrica de R$ 47 milhões para compra de vacinas e estamos tratando com o governo do Estado. Somos favoráveis à abertura de todas as atividades com o devido respeito aos protocolos de saúde. Não imagino que a solução seja o fechamento de atividades. Meu ramo de atividades, o de supermercados, é um exemplo. Nos estabelecimentos circulam milhares de pessoas todos os dias. Com uso de protocolos rígidos, o índice de contaminação é baixo. A saúde é sagrada, mas não se pode dissociar da economia. Ninguém esperava um prazo longo como este da pandemia. Tivesse adotado o lockdown desde o início, estaríamos todos falidos. Fui a primeira voz na Câmara a defender a reabertura gradual e o uso obrigatório da máscara. Mas temos de ter responsabilidade com saúde. A elevação do número de casos deu-se porque o pessoal cansou, desde o feriado de Finados temos um quadro cada vez mais crítico. Até chegar a vacina teremos de ser vigilantes, mas tocando a vida.
JC – Com Daniel Guerra, Caxias perdeu liderança regional. Como recuperar isto?
Adiló – Já estamos conversando com os novos prefeitos, porque Caxias precisa dos municípios da volta. Nenhuma cidade é tão importante que não precise dos outros. Nos três anos da gestão Guerra, Caxias virou uma ilha. Estamos fazendo o contrário, buscando a reaproximação. Se nos unirmos, a Região Metropolitana da Serra será mais forte e com condições de reivindicar. Teve conquistas importantes quando agiu unida.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO