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Política

- Publicada em 05 de Maio de 2020 às 18:56

Quero apenas uma superintendência da PF, a do Rio, disse Bolsonaro a Moro segundo depoimento

(Brasília - DF, 11/06/2019) Cerimônia de Comemoração do 154º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo e imposição das condecorações da Ordem do Mérito Naval. .Foto: Marcos Corrêa/PR
na foto:  Sérgio Moro e Jair Bolsonaro

(Brasília - DF, 11/06/2019) Cerimônia de Comemoração do 154º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo e imposição das condecorações da Ordem do Mérito Naval. .Foto: Marcos Corrêa/PR na foto: Sérgio Moro e Jair Bolsonaro


MARCOS CORRÊA/PR/JC
Em depoimento à Polícia Federal, no último sábado (2), o ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro pediu no começo de março deste ano a troca do chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
Em depoimento à Polícia Federal, no último sábado (2), o ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro pediu no começo de março deste ano a troca do chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
"Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro", disse Bolsonaro a Moro, por mensagem de WhatsApp, segundo transcrição do depoimento à PF. A íntegra do depoimento foi divulgada pela CNN Brasil.
Os investigadores perguntaram a Moro se ele identificava nos fatos apresentados em sua entrevista coletiva alguma prática de crime por parte de Bolsonaro. O ex-ministro disse que os fatos narrados por ele são verdadeiros, mas não afirmou se o presidente teria cometido algum crime.
"Quem falou em crime foi a Procuradoria-Geral da República na requisição de abertura de inquérito e agora entende que essa avaliação, quanto à prática de crime, cabe às Instituições competentes", disse Moro.
Segundo Moro, o então diretor da PF, Maurício Valeixo, "declarou que estava cansado da pressão para a sua substituição e para a troca do SR/RJ". "Que por esse motivo e também para evitar conflito entre o presidente e o ministro o diretor Valeixo disse que concordaria em sair", afirmou o ex-ministro.
De acordo com Moro, em seguida o presidente Bolsonaro "passou a reclamar da indicação da Superintendente de Pernambuco". Segundo ele, "os motivos da reclamação devem ser indagados ao Presidente da República".
Segundo o ex-ministro da Justiça, "o presidente lhe relatou verbalmente no Palácio do Planalto que precisava de pessoas de sua confiança, para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência".
Moro afirmou que a pressão para substituir Valeixo "retornou com força em janeiro de 2020, quando o presidente disse que gostaria de nomear Alexandre Ramagem (diretor da Agência Brasileira de Inteligência) no cargo de Diretor Geral da Polícia Federal."
O ex-ministro disse que a cobrança foi feita verbalmente no Palácio do Planalto e "eventualmente" na presença do ministro Augusto Heleno (do Gabinete de Segurança Institucional). "Esse assunto era conhecido no Palácio do Planalto por várias pessoas", disse Moro.
Moro afirmou ainda que "cogitou" aceitar as trocas na direção-geral da PF e na superintendência do Rio, mas que "depois, porém, entendeu que também não poderia aceitar a troca do SR/RJ sem causa". "Que a partir de então cresceram as insistências do PR (Bolsonaro) para a substituição tanto do Diretor Geral quanto do SR/RJ", declarou Moro.
"Como Ramagem tinha ligações próximas com a família do presidente isso afetaria a credibilidade da Polícia Federal e do próprio Governo, prejudicando até o presidente", disse o ex-ministro.
"Essas ligações são notórias, iniciadas quando Ramagem trabalhou na organização da segurança pessoal do presidente durante a campanha eleitoral."
O ex-ministro disse que o presidente o cobrou em reunião do conselho de ministros, ocorrida em 22 de abril, a substituição da Superintendência do Rio e do diretor-geral da PF. Bolsonaro ainda teria voltado a pedir relatórios de inteligência e informação da Polícia Federal.
"O presidente lhe relatou verbalmente no Palácio do Planalto que precisava de pessoas de sua confiança, para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência", disse Moro no depoimento.
De acordo com Moro, o presidente afirmou que iria interferir em todos os ministérios, e quanto ao Ministério da Justiça, se não pudesse trocar o Superintendente do Rio de Janeiro, "trocaria o diretor geral e o próprio ministro da Justiça", relatou o ex-juiz da Lava Jato.
Moro disse ainda que a informação de que o presidente não recebia informações ou relatórios de inteligência da Polícia Federal "não era verdadeira". "Em relação ao trabalho da Polícia Federal, informava as ações realizadas, resguardado o sigilo das investigações."
"Fazia como ministros do passado e comunicava operações sensíveis da Polícia Federal, após a deflagração das operações com buscas e prisões", afirmou.
Moro ressaltou que todas as indicações feitas às superintendências da PF passavam pelo crivo da Casa Civil. E que em nenhum momento nomes indicados pelo ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo foram questionados pela pasta.

Bolsonaro não tinha o mesmo interesse em outros postos, afirmou ex-ministro

Ele explicou que Bolsonaro não tinha o mesmo interesse em mudanças de outros postos dentro do Ministério da Justiça. "O presidente não interferiu, ou interferia, ou solicitava mudanças em chefias de outras secretarias ou órgãos vinculados ao Ministério da Justiça, como, por exemplo, a Polícia Rodoviária Federal, DEPEN, Força Nacional", disse.
Moro foi questionado pelos investigadores se via relação entre as trocas solicitadas pelo presidente com a deflagração de operações policiais contra pessoas próximas a Bolsonaro e ao seu grupo político. O ex-ministro disse que "desconhecia" relação e que "não tinha acesso às investigações" em curso.
O novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando de Souza, em um de seus primeiros atos, decidiu trocar a chefia da superintendência da PF no Rio. O novo superintendente do Rio ainda não foi definido.

Depoimento pode levar a apresentação de denúncia do STF contra Bolsonaro

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, decidiu nesta segunda-feira (4) liberar a divulgação do depoimento prestado por Sergio Moro à Polícia Federal.
O depoimento é considerado um dos principais elementos do inquérito que pode levar à apresentação de denúncia contra o ex-ministro da Justiça ou contra o presidente Jair Bolsonaro.
O documento foi tornado público após a defesa de Moro informar que não se opunha à sua divulgação. O ex-juiz da Lava Jato depôs por mais de oito horas na Polícia Federal em Curitiba.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu nesta segunda-feira ao ministro Celso de Mello que três ministros do governo Jair Bolsonaro sejam ouvidos no inquérito que apura se o presidente tentou interferir indevidamente em investigações da PF.
Ele também solicitou ao STF cópia do vídeo da reunião realizada entre o presidente, o vice-presidente Hamilton Mourão e ministros de Estado, além de presidentes de bancos públicos, no último dia 22, no Palácio do Planalto.
Aras entendeu ser necessário colher os depoimentos dos ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Souza Braga Netto (Casa Civil) para o esclarecimento dos fatos.
O procurador-geral também requer a oitiva da deputada federal Carla Zambeli (PSL-SP). Moro entregou mensagens trocadas por ela, via celular, como prova de que não teria aceitado ingerência sobre o órgão de investigação.
Moro permitiu no sábado que a PF copiasse dados de seu telefone. Nesta segunda, Aras solicitou ao ministro do Supremo a elaboração de um laudo pericial da PF sobre o conteúdo, "bem como um relatório de análise das mensagens de texto e áudio, imagens e vídeos". A necessidade das diligências será analisada por Celso de Mello.

ENTENDA O CASO EM DEZ PONTOS

1. Em agosto de 2019, Bolsonaro passa a cobrar a troca do superintendente da PF no Rio
2. A troca ocorre à época, mas não a que ele queria. O nome é indicado pelo então chefe da PF, Maurício Valeixo
3. Bolsonaro volta a cobrar Moro para essa troca em março passado, segundo o ex-ministro disse à PF
4. Bolsonaro também insiste na troca da direção-geral da PF, e, por isso, Moro pede demissão
5. Em pronunciamento, Moro alega interferência de Bolsonaro, e PGR pede abertura de investigação
6. Supremo autoriza apuração em torno das declarações de Moro e de Bolsonaro sobre a PF
7. Bolsonaro troca comando da PF, mas sua primeira opção é barrada pelo STF
8. Bolsonaro então escolhe Rolando de Souza para a direção da PF
9. Em sua primeira ação, o novo chefe da PF retira do cargo o atual superintendente da PF do Rio
10. Em fala à imprensa, Bolsonaro admite a troca no Rio, mas nega interferência na PF
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