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Entrevista Especial

- Publicada em 04 de Maio de 2020 às 03:00

Granpal tenta retomar as atividades nos municípios, diz Margarete

Margarete Ferrete, prefeita de Nova Santa Rita, é a nova presidenta da Granpal

Margarete Ferrete, prefeita de Nova Santa Rita, é a nova presidenta da Granpal


/fotos: JESIEL BOSCHETTI/PREFEITURA DE NOVA SANTA RITA/DIVULGAÇÃO/JC
Prefeita de Nova Santa Rita, Margarete Ferretti (PT) é a nova presidente da Granpal, o Consórcio dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre. Assumir a coordenação de um organismo que visa buscar soluções conjuntas para problemas comuns a 11 municípios - que concentram quase 3 milhões de gaúchos e correspondem a 25% do PIB do Rio Grande do Sul - já é, por si só, um desafio. E considerando que a região é, hoje, uma das mais atingidas pela pandemia de coronavírus no Estado, mais complexo ainda é o cenário.
Prefeita de Nova Santa Rita, Margarete Ferretti (PT) é a nova presidente da Granpal, o Consórcio dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre. Assumir a coordenação de um organismo que visa buscar soluções conjuntas para problemas comuns a 11 municípios - que concentram quase 3 milhões de gaúchos e correspondem a 25% do PIB do Rio Grande do Sul - já é, por si só, um desafio. E considerando que a região é, hoje, uma das mais atingidas pela pandemia de coronavírus no Estado, mais complexo ainda é o cenário.
Nova Santa Rita é a única cidade da Grande Porto Alegre sem registro da doença. A prefeita atribui essa condição a medidas de restrição e isolamento social, somadas à compreensão da população e ao diálogo com os setores do comércio.
No entanto, como dirigente da Granpal, Margarete precisa conciliar os interesses e peculiaridades dos demais municípios, que defendem a flexibilização de restrições em áreas que registraram poucos casos de Covid-19.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a presidente da Granpal comenta sobre a estiagem que atinge boa parte do Estado, cobra a liberação de recursos dos governos estadual e federal para a mobilidade urbana, avalia a posição do PT nas eleições municipais e explica como a Granpal pode ajudar os municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre durante a pandemia.
Jornal do Comércio - A Região Metropolitana de Porto Alegre é a área mais atingida pelo coronavírus no Estado. Como a Granpal pode ajudar no combate ao vírus?
Margarete Ferretti - Na verdade, Porto Alegre é o epicentro da contaminação. Logicamente, há municípios como São Leopoldo, Novo Hamburgo e Canoas que têm um número maior de infectados, mas claro que não chega aos pés da Capital. Temos dialogado com os prefeitos que fazem parte da Granpal, e cada município tem sua peculiaridade e sua diferença. Nós, por exemplo, em Nova Santa Rita, não temos nenhum caso de infecção de coronavírus. Acredito que pelas medidas que tomamos imediatamente, lá em março, conseguimos conter o avanço dessa curva. Ela foi progredindo, mas mais lentamente do que era a previsão, e entendemos que foi graças à medida do isolamento social. Claro que, agora, com o passar do tempo, o isolamento social começa a ficar mais difícil. As pessoas começam a cansar de ficarem fechadas em casa, o comércio começa a sentir também a necessidade de voltar ao trabalho, uma vez que começa a não ter mais recurso para cumprir com aluguel, luz, telefone, enfim. No último período, temos conseguido alcançar o nosso objetivo em relação às pessoas. Elas têm usado máscara, têm tomado cuidado ao sair na rua. Parece-me que estão preocupadas, estão vendo que a situação é grave, então, elas têm sido parceiras. O próprio comércio tem sido parceiro por meio de suas entidades representativas. Agora, o governo do Estado está pensando nesse distanciamento controlado, o que fazer para que a economia comece novamente a girar, para que as pessoas não percam seus empregos. São situações que se colocam para nós, gestores. Temos que tomar decisões sabendo que as pessoas estão angustiadas para trabalhar, para receber no fim do mês, mas também estão preocupadas com a saúde.
JC - A senhora atribui o sucesso de Nova Santa Rita em conter a disseminação do vírus a medidas de restrição e de isolamento social somadas à conscientização das pessoas e ao diálogo com o comércio?
Margarete - Perfeitamente. Suspendemos imediatamente as aulas, isso também foi importante. Por meio da conversa franca e honesta, conseguimos resolver muitas questões, e assim nós tratamos. Especificamente aqui, em Nova Santa Rita, com a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), com a Acisa (Associação Comercial, Industrial e de Serviços), que são as entidades empresariais e comerciais. No início, as pessoas não estavam acreditando muito, mas, conforme a imprensa foi divulgado, nos jornais, na TV, no rádio, as pessoas começaram a se preocupar de fato. Isso contribuiu para que conseguíssemos conter e, até hoje, não tivéssemos nenhum caso. Foi importante para todas as regiões, inclusive Porto Alegre. Imagina se Porto Alegre estivesse com o comércio e tudo liberado. Haveria muito mais pessoas infectadas. As medidas que o prefeito (Nelson Marchezan Júnior, PSDB) tomou em Porto Alegre também foram muito importantes para que a infecção fosse mais gradativa e não tão rápida.
JC - Quais são as principais demandas da Granpal para as próximas semanas?
Margarete - Encaminhamos um ofício ao governador (Eduardo Leite, PSDB) para que ele flexibilize mais alguns serviços e comércio em mais alguns municípios no início de maio. Fizemos essa solicitação baseada em estudos, com muita responsabilidade, mas que olhe para a Região Metropolitana onde é possível flexibilizar alguma coisa a mais neste momento. Essa é uma pauta importante que queremos dialogar. A pressão é grande. Aqui, que não tem nenhum caso, não tem muito sentido o comércio não abrir. Claro que com todos os cuidados.
JC - Como a senhora avalia a condução do governador do Estado nesta crise?
Margarete - O governador está muito consciente da sua responsabilidade. Ele chamou para si essa situação toda, está fazendo pesquisa, avaliando suas decisões na ciência, consultando um comitê bem técnico, e acredito que tem que ser por aí, mesmo, porque é a vida em primeiro lugar. Não é fácil em um estado tão grande como o nosso, com realidades muito diferentes em cada município, acertar em todas as decisões. Os prefeitos também têm que colaborar. A Famurs (Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul), que é nossa entidade estadual, também tem feito seu papel procurando ouvir, discutir com os prefeitos, avaliar cada realidade, cada município. Além da Covid-19, temos o problema da seca que está afetando muito violentamente os municípios do Interior, inclusive nós aqui em Nova Santa Rita. A falta de água é brutal, e, além de toda a dificuldade, com o vírus, as pessoas precisam gastar mais água para se proteger, para higienizar as mãos. É uma seca de mais de quatro meses de falta de chuva. É a hora de estarmos unidos. Imagina, as pessoas desempregadas, temos que também fazer campanha, além de oferecer água, oferecer feijão com arroz. Como as pessoas vão viver sem alimento? Os alunos não estão indo para a escola, estão ficando em casa, e é uma situação muito delicada, e temos pensado muito e agido. É hora de decisão, não de ficar parado.
JC - Quais ações a senhora está tomando em relação ao problema da seca em Nova Santa Rita?
Margarete - Compramos água da Corsan, alugamos um caminhão e estamos entregando água potável diretamente nas caixas d'água das famílias. Nova Santa Rita é formada por pequenos agricultores, agricultura familiar, temos também assentamentos. Alugamos um tanque, colocamos em cima de um caminhão e estamos pegando água não potável dos açudes que ainda têm para irrigação das plantas e para os animais. Os outros prefeitos também têm feito isso. A região está em uma situação dramática. No interior, onde há pessoas que produzem frango, por exemplo, e os frigoríficos estão sem água. Então fizemos uma reunião para tentar nos socorrer de recursos do Estado e do governo federal. Os municípios estão bancando, mas não têm condições, também, de ter tanta finança guardada para usar só nessas questões agora.
JC - Cidades que são polo para atendimento médico e recebem pacientes do Estado inteiro têm relatado dificuldade em conseguir insumos, equipamentos e recursos humanos, como médicos e enfermeiros. Como a Granpal pode ajudar nesse sentido?
Margarete - Estamos, enquanto consórcio, tentando ajudar a fazer o chamamento público com atas, com registro de preços, porque, como a quantidade fica maior, o preço também fica mais em conta. É o que podemos fazer. As prefeituras têm que ter o recurso para poder bancar, então, esse é o socorro que pedimos, que o governo federal libere as emendas parlamentares para podermos investir, neste momento, em proteção ao cidadão, e também ao governo do Estado, com o que é possível ele ajudar. Agora mesmo, estávamos com um problema gravíssimo da vacina para H1N1, que vieram poucas doses para os municípios. Nesta situação, na qual a receita vai diminuir, temos que gastar mais com a saúde e, ainda, com a seca, coisas com as quais não contávamos no nosso orçamento. Era um planejamento, digamos, normal, cotidiano, e, agora, precisamos contratar mais médicos, enfermeiros. Servidores da saúde também estão estressados, também ficam doentes. Então tem que ter mais pessoas da saúde para fazer regime de plantão, para não sobrecarregar as equipes. Tudo isso é custo para o município. São recursos que não se contava que ia gastar, então, ou o governo federal libera mais recurso, ou a coisa fica cada vez mais difícil.
JC - O presidente Jair Bolsonaro foi eleito com o slogan "Mais Brasil e menos Brasília". Esse discurso tem se aplicado na prática?
Margarete - Sinceramente, ainda não conseguimos perceber que é mais Brasil. Ainda não conseguimos perceber financeiramente. Tem vindo, logicamente, alguma coisa; mas não o suficiente para que consigamos fazer um bom investimento na saúde. Entendo que o governo federal passa por muitos problemas. Em plena pandemia, trocar um ministro que estava lutando pelo isolamento social, vinha trabalhando cientificamente, ouvindo os técnicos de saúde, parece-me um momento muito delicado para fazer essa troca. Para os municípios é muito ruim, porque gera muita insegurança na comunidade, incertezas para nós, gestores. Se estamos indo pelo lado científico, pelo que dizem os especialistas e a Organização Mundial da Saúde sobre isolamento e uso de máscaras, aí temos um presidente que vai para a rua, que cumprimenta pessoas, parece-me uma irresponsabilidade muito grande, até um desrespeito com o cidadão.
JC - Como o PT tem se posicionado para a próxima eleição municipal? Em Porto Alegre, pela primeira vez desde a redemocratização, o partido não terá candidato próprio. Haverá aposta de sucessão em Nova Santa Rita?
Margarete - Acredito que é tudo mesmo uma questão de espaço, de momento, de liderança política. Nós, do PT, sempre tivemos diálogo e sempre tivemos muitos parceiros conosco. Não precisa ser o PT na cabeça de chapa, ele pode também socializar com partidos aliados. Vejo que Porto Alegre tem o nome muito forte da Manuela (d'Ávila, PCdoB). O PT fez essa discussão. Acredito que é o momento de renovar, de colocar a juventude, a mulher. Então, acho que Porto Alegre está muito bem representada e que isso é positivo para o Partido dos Trabalhadores. Aqui, em Nova Santa Rita, estamos construindo a minha sucessão com uma candidatura que é do PT também ainda, mas temos vários parceiros que fizeram parte do governo conosco e que estamos costurando para continuar. Nos elegemos com mais de 60% dos votos e estamos, agora, com mais de 70% de aprovação no mandato. É sinal de que estamos conseguindo trabalhar pela coletividade. Vejo que, na Região Metropolitana, vamos ter algumas dificuldades para termos candidatos fortes nos municípios, mas isso faz parte da política.
JC - A senhora vê possibilidade de adiamento do processo eleitoral?
Margarete - Sinceramente, acredito que ele pode ocorrer em dezembro. Tudo depende de como e até onde vai a pandemia. Acredito que é muito difícil fazer em outubro. Como estamos no meio de uma pandemia, acredito que adiar seria o mais plausível neste momento, em respeito ao povo.

Perfil

Graduada em Letras e Literatura e pós-graduada em Psicopedagogia, Margarete Simon Ferretti (PT) é servidora pública e professora na rede estadual de ensino. Em 1992, engajou-se na comissão emancipacionista de Nova Santa Rita. Ela foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira no Legislativo da cidade, em 1993. Presidiu a Câmara Municipal por duas legislaturas e iniciou o projeto de levar as sessões legislativas para os bairros da cidade. Em 2012, pelo Partido dos Trabalhadores, elegeu-se prefeita com 55,65% dos votos no pleito daquele ano. Em sua administração, conquistou, em 2015, o Prêmio Gestor Público. Em 2016, Margarete foi reeleita com 57,10%. No dia 3 de abril deste ano, foi eleita presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) - em 33 anos, é a primeira vez que um prefeito de Nova Santa Rita lidera a entidade. A instituição, que também congrega o consórcio para compras conjuntas, representa 2,5 milhões de gaúchos e 25% do PIB do Rio Grande do Sul.