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Entrevista Especial

- Publicada em 19 de Abril de 2020 às 23:31

Busato pede apoio para receber em Canoas pacientes do Interior

Busato prevê fortalecimento das medidas de restrição após relaxamento

Busato prevê fortalecimento das medidas de restrição após relaxamento


/Jonas Reis / Prefeitura de Canoas / Divulgação / JC
Canoas preparou 932 leitos para receber pacientes contaminados pelo coronavírus de 156 cidades gaúchas, revela o prefeito do município e presidente do PTB estadual, Luiz Carlos Busato. Para ficar completamente em condições de atender os gaúchos de diferentes partes do Rio Grande do Sul, em meio a uma pandemia que tende a se agravar, a cidade espera, da mesma forma, receber reforço de profissionais da saúde desses mesmos municípios, por um lado, e investimento dos governos estadual e federal para garantir insumos e equipamentos para os leitos, por outro. O prefeito determinou, ainda, o uso de máscaras por motoristas e passageiros de ônibus, táxis e de transporte por aplicado a partir desta quarta-feira.
Canoas preparou 932 leitos para receber pacientes contaminados pelo coronavírus de 156 cidades gaúchas, revela o prefeito do município e presidente do PTB estadual, Luiz Carlos Busato. Para ficar completamente em condições de atender os gaúchos de diferentes partes do Rio Grande do Sul, em meio a uma pandemia que tende a se agravar, a cidade espera, da mesma forma, receber reforço de profissionais da saúde desses mesmos municípios, por um lado, e investimento dos governos estadual e federal para garantir insumos e equipamentos para os leitos, por outro. O prefeito determinou, ainda, o uso de máscaras por motoristas e passageiros de ônibus, táxis e de transporte por aplicado a partir desta quarta-feira.
Busato também comenta sobre os polêmicos projetos do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), para a mobilidade urbana da Capital. Entre as pautas propostas, uma previa a cobrança de uma taxa - uma espécie de pedágio - pelo ingresso de veículos emplacados fora de Porto Alegre. Evitando críticas a um gestor apoiado pelo PTB da Capital, Busato opina que uma alternativa seria adotar uma estratégia de visão metropolitana do transporte público.
Mais: prevê um colapso geral na mobilidade pública e uma "quebradeira" das empresas de transporte, em uma crise, na visão dele, iniciada com a chegada dos aplicativos e, agora, impulsionada pelo isolamento social durante a pandemia.
O presidente do PTB também comemorou a chegada do ex-prefeito da Capital, José Fortunatti, à sigla. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Busato revela os planos do PTB para a eleições municipais e afirma que o partido terá candidatos próprios às principais prefeituras no Rio Grande do Sul.
Jornal do Comércio - Como a cidade de Canoas tem enfrentado a crise do coronavírus?
Luiz Carlos Busato - Estamos fazendo um trabalho muito grande de Canoas, talvez seja a cidade que mais está preparada no Rio Grande do Sul para o enfrentamento do coronavírus. Construímos, em 10 dias, 932 leitos para o coronavírus: mais que qualquer cidade.
JC - Como foram feitos os 932 leitos em 10 dias? O que a prefeitura de Canoas tem feito de diferente?
Busato - Temos estudado a evolução da doença no mundo inteiro. Em todos os países indistintamente, a não ser o caso do Japão - que foi uma exceção, porque lá o povo tem uma educação toda especial, todo mundo usa máscara etc. -, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, todos estão dando um colapso geral. Por que no Brasil seria diferente? Então, infelizmente, as expectativas aqui são que isso venha a crescer drasticamente. Canoas, hoje, é referência de saúde para 156 municípios. Estamos nos preparando para o enfrentamento nesses 156 municípios, que representam 44% da população do Rio Grande do Sul. Essa estrutura de 932 leitos é o que estamos preparados. É suficiente? Acho que não. Mas não temos pernas para mais do que isso. Estamos fazendo aquilo que podemos, dentro da nossa capacidade.
JC - Canoas já tem pacientes de outras cidades?
Busato - Temos não sei se um ou dois pacientes canoenses em UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Mas temos 22 pacientes ao todo em UTI. Os outros 20 pacientes são de outras cidades. Agora, são vidas que temos que salvar, independentemente se é canoense, porto-alegrense Evidente que montamos outras estruturas. No hospital universitário, somos obrigados e vamos atender a todos esses municípios. Agora, as outras estruturas que montamos nos bairros são para canoenses. Montamos uma estrutura com quatro hospitais de campanha. Agora, precisamos manter essa estrutura de 932 leitos. Para manter, vamos precisar de equipamentos, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), médicos, enfermeiros. O que esperamos, agora, é a solidariedade dos 156 municípios; Precisamos de médicos, quem sabe Nova Santa Rita nos empresta um médico, nos empresta quatro enfermeiros, por exemplo. Agora, estamos contando com a ajuda dos outros municípios para podermos montar, aqui, uma estrutura que possa atender a todos.
JC - Uma via de mão dupla.
Busato - Exatamente. Conto, também, muito com a ajuda de empresas de Canoas. Por exemplo, o Zaffari tem hipermercados em Canoas, a rede Asun, enfim. Todas essas empresas que têm olhos, às vezes, só para Porto Alegre, têm que se lembrar que Canoas é o segundo polo de saúde do Estado, e, às vezes, as pessoas não percebem, acham que é só a Santa Casa que recebe ambulância do Estado inteiro, aqui também recebemos. Precisamos que tenha esse olhar tanto do governo estadual quanto do federal.
JC - Sobre isolamento social, a prefeitura tem seguido o decreto do Estado?
Busato - Sempre respeitamos as decisões do governo federal e do governo estadual. Da mesma maneira que o governador liberou, vamos liberar. Só que vamos liberar com exigências sanitárias bem rigorosas. Por exemplo, salões de beleza e barbearias, que foi o que o decreto que liberou, vai ser uso obrigatório de máscara para todos os profissionais. Eles têm que atender o dia inteiro com máscara. Têm que respeitar o número de clientes no estabelecimento. Então, com todos os rigores sanitários necessários, estamos acompanhando. Achamos que tão importante quanto o distanciamento social é a questão do emprego, da renda. Neste momento, é tudo uma questão de bom senso, saber dosar na medida certa tanto para um lado quanto para o outro. Acho que, agora, teve essa abertura, mas, daqui a pouco mais, vamos ter que voltar novamente a restringir.
JC - Houve muita pressão do setor do comércio e da indústria para reabertura nas cidades gaúchas. Isso tem ocorrido em Canoas também?
Busato - A indústria e a construção civil nós nunca proibimos, ficou liberado. O que está pegando é a questão do comércio, mesmo. Tivemos isolamento total, conforme orientação do Estado, e, agora, estamos abrindo algumas atividades, com restrições, para que possam trabalhar. Em Canoas, não houve problema nenhum. Acredito que realmente foi muito precipitado o isolamento para algumas cidades do Interior. Não tinha ainda nenhum caso da doença, poderia esperar mais para fazer o isolamento. Mas, inevitavelmente, vai chegar nesses municípios também. É só uma questão de tempo. Tudo é uma questão de bom senso neste momento. Não adianta ficarmos brigando, fazendo politicagem. Enquanto todo mundo estava discutindo se a curva ia ser grande, resolvemos construir leitos, contratamos, ainda pegamos um momento de bons preços, colocamos a estrutura toda, requisitamos leitos em vários lugares e, hoje, temos uma estrutura muito bem montada. Tenho esperança de que, agora, os governos federal e estadual enxerguem e apliquem recursos aqui. Tanto é que a União lançou uma repartição de verbas para os municípios, e Canoas foi contemplada com R$ 12 milhões. Vamos ser um local que será a saída para muitas prefeituras.
JC - Antes da pandemia, estava em pauta uma polêmica na Região Metropolitana. Como o senhor enxergou os projetos do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, para a mobilidade urbana, que incluíam ideias como pedágios na entrada da Capital?
Busato - Acho que o Marchezan colocou o bode na sala. Está na hora de uma discussão no País inteiro. Na questão do transporte urbano, nenhuma das empresas tem mais fôlego para suportar. Caiu muito o índice de passageiros em função dos aplicativos, então o transporte urbano está começando a virar um problema preocupante para todos os prefeitos do País. Nós, aqui em Canoas, estamos muito preocupados. Agora, então, com essa crise do corona, o movimento caiu 80%. Tenho a impressão de que, dentro de 30 dias, vai começar uma quebradeira geral de empresas de transportes, e esse é um problema que acaba caindo no colo de prefeitos. Acho que precisamos que o governo federal ache alternativas de isenção de taxas, de impostos sobre compra de veículos, combustível, incentivo. Como é feito com a Trensurb, por exemplo, que o governo coloca um valor todo mês para subsidiar a passagem. Está na hora de começarmos a pensar outra maneira do transporte, porque, se não, vamos ter um colapso geral.
JC - Uma possível saída não seria a integração dos transportes na Região Metropolitana?
Busato - Sim, essa é uma das propostas que a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) está preparando, a unificação de todo o sistema, como é em todos os países do mundo. Na Europa toda, compra-se uma passagem para andar em qualquer veículo de transporte, seja navio, barco, trem, ônibus e até bicicleta. A questão da integração é uma coisa essencial neste momento.
JC - Teria como os prefeitos participarem mais ativamente dessas negociações, diretamente entre as prefeituras da Região Metropolitana?
Busato - Sim. Acho que é um assunto que tem que ser discutido na Metroplan, que trabalha com a Região Metropolitana. Acho que a Granpal (Consórcio dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre) tem que se envolver nisso também. O transporte tem que ser discutido por bacias. Acho que essa é a questão: comprar uma passagem do transporte para Canoas e ela poder ser usada para o transporte em Guaíba, Cachoeirinha, Gravataí, e o sistema inteligente depois distribui para quem deva receber. Essa integração é que talvez diminua muito os custos, mas, neste momento, acho que nem isso resolve. Temos que achar uma solução trágica para este momento que estamos vivendo no País, porque, se essa pandemia do coronavírus perdurar por quatro meses - que acho que vai durar -, vai dar uma quebradeira.
JC - Qual é a expectativa do PTB para as próximas eleições municipais?
Busato - Fizemos um trabalho durante o ano passado de estruturação do partido. Para ter uma ideia, o PTB do Rio Grande do Sul foi eleito o melhor e mais organizado do País. Sempre tivemos uma bancada de três deputados federais. Agora, nossa bancada na Assembleia Legislativa aumentou, temos cinco deputados estaduais. É um trabalho que estamos desenvolvendo. Conquistamos, agora, nessa janela partidária, um ganho de quase 50 vereadores que entraram para o partido. Foi um bom crescimento. Estamos, agora, com 31 prefeitos. Conseguimos, também, a filiação do (José) Fortunati em Porto Alegre, que é um nome que tem bastante pressão e talvez venha a ser candidato à prefeitura da Capital. Dentro da Região Metropolitana, talvez, seja um dos partidos mais fortes. Como prefeitos, temos Guaíba, Taquara, Canoas, Glorinha. Agora, começa a atração de partidos para as candidaturas, e vamos dar preferência para candidaturas majoritárias.
JC - Então a pretensão do partido é ter cabeça de chapa nas principais cidades?
Busato - Sim. Abrimos mão da candidatura de governador do Estado para o Ranolfo (Vieira Júnior) ser o vice-candidato, mas, agora, já estamos pensando nas majoritárias. Essa é a nossa organização. Todo partido almeja isso, agora, amadurecemos o suficiente para pensarmos nessa possibilidade.
JC - Então o PTB da Capital não pretende apoiar a reeleição do prefeito Marchezan?
Busato - Na Capital é muito cedo ainda. O Fortunati é uma candidatura com potencial para cabeça de chapa, mas quem conduz o assunto da Capital é o diretório municipal. É claro que estamos com o governo Marchezan e, até lá, vamos apoiá-lo. Agora, no futuro, todo partido tem o direito de almejar candidatura própria. O fato de pretendermos isso não significa que estamos desprestigiando o governo Marchezan.
JC - Como o fim das coligações nas proporcionais pode afetar a estratégia do PTB nas próximas eleições?
Busato - Acho que a proibição de coligação nas proporcionais prejudica mais os partidos pequenos. Não é o caso do PTB. Acho que até favorece, inclusive, essa questão, porque acaba terminando aquelas candidaturinhas, que prejudicam, e acaba concentrando nos partidos maiores. Como o PTB, hoje, é o terceiro partido do Rio Grande do Sul, acaba nos ajudando e, por isso, essa migração grande de vereadores para o PTB. Muitos partidos pequenos acabam não tendo nominata suficiente, e os candidatos acabam migrando.
JC - O senhor irá à reeleição em Canoas?
Busato - Bom, esse é um assunto que, até agora, ainda não dei aqui o ok, mas estamos trabalhando como se fosse.

Perfil

Luiz Carlos Busato nasceu em 6 de novembro de 1948, em Caçador, Santa Catarina, mas se mudou para Canoas ainda na infância. Formado em Arquitetura, foi funcionário público municipal durante 10 anos e fundou a empresa Busato & Lottici, responsável por empreendimentos em Canoas e cidades da região. Em 2000, foi convidado a assumir como secretário municipal de Planejamento Urbano. Em 2004, Busato concorreu pela primeira vez a um cargo eletivo e foi eleito vereador. Em 2006, elegeu-se deputado federal. Sua atuação no Congresso Nacional rendeu reeleições em 2010 e 2014, tendo se licenciado parte do período para conduzir a Secretaria de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano do Estado. Em 2016, Busato venceu as eleições de segundo turno com 51,25% dos votos. Em 2005, foi eleito presidente do PTB de Canoas. Em janeiro de 2013, assumiu interinamente a presidência estadual da sigla e, em junho, venceu a convenção do partido, permanecendo até hoje no comando do diretório estadual do PTB.